Seja bem-vindo! De uma maneira ou de outra, a saudação se encaixa perfeitamente no evento que reuniu Dr. Sin e X-Rated no Rio Rock & Blues, casa de shows de três andares na fervilhante Lapa. O trio paulista, o grande nome do Hard Rock no Brasil, não tinha um show para chamar de seu no Rio de Janeiro desde 2008 – o “Rock In Rio” de 2013 não entra na conta, obviamente. O quarteto carioca, que fez algum barulho no início dos anos 90, vem aqui e ali desde 2012 matando esporadicamente a saudade de quem à época olhou com atenção aquela banda que carregava parte da história do Metal nacional em três quartos da sua formação.
Para lembrar os três discos gravados por sua formação original – “Shaking Like A Bad Machine” (1990), “Animal House” (1991) e “Daresafesexdisorder” (1994) –, o X-Rated subiu ao palco e mostrou que, apesar da experiência, falta passar a segunda marcha antes de engrenar de vez. Luciano Lucky Lizard (vocal, ex-MetalMania), Marcos Dantas (guitarra, Metalmorphose e Azul Limão), Bruno Schubnel (baixo) e André Chamon (bateria, Stress) mostraram-se bem entrosados, só que mais pareciam numa sala de ensaio do que num palco diante de uma plateia. Mesmo que esta ainda não tivesse tomado o local de assalto – o Rio Rock & Blues tem dimensões modestas, mas teve uma noite abarrotada.
Claro, tudo estava redondo, e show teve bons momentos. A começar por “Animal House”, que abriu a noite com seu refrão fácil e grudento – lembremos: o álbum homônimo foi lançado pela PolyGram e levou o grupo a abrir os shows do Faith No More no Maracanãzinho, no mesmo ano. O Hard Rock mais cru, que posteriormente ganhou notas de Punk Rock, mostra força em músicas como “Kill Big Brother”, “Striptease Boogie” e “Realize It” (mais um refrão que gruda mais do que chiclete em cabelo), além de dois covers: “Kiss”, do Prince, em ótima versão; e “I Love Rock And Roll”, de Joan Jett – batido, é verdade, mas fazer o que se é um hino dos mais legais? No geral, apesar do saldo foi positivo, tem espaço para melhorar. Quem sabe com um disco de inéditas.
Depois do aperitivo, o prato principal: Dr. Sin. Com o local já tomado, o clima contribuiu para uma noite de sorrisos. A verdade é que todo mundo estava ali para ver Andria Busic (baixo e vocal), Edu Ardanuy (guitarra) e Ivan Busic (bateria e vocal), e os três trataram de retribuir com uma apresentação totalmente leve, como se estivessem na sala de estar de cada um dos presentes. “Down In The Trenches” começou a noite e mostrou por que “Brutal” (1995) é o disco favorito do Dr. Sin para a grande maioria dos fãs, mas há muito mais história para contar, incluindo o único trabalho da banda como quarteto, o excepcional “Dr. Sin II” (2000). Com o coro do público nos refrãos exemplares, Andria segurou bem a onda em “Fly Away”, “Time After Time” e, mais para frente no set, em “Miracles”, porque não é tarefa das mais fáceis assumir o que foi registrado por Michael Vescera.
“Lady Lust”, de “Animal” (2011), foi uma das seis mais recentes, isso porque o restante saiu de “Intactus” (2015). E vale tirar o chapéu pelo fato de metade do novo trabalho ter sido apresentado ao vivo – apesar o susto ao lembrar que “The Great Houdini” iria ficar fora do repertório –, afinal, não bastasse ser um ótimo disco (e seria melhor se soasse mais pesado, com mais punch), mostra que o trio nunca parou no tempo. A (quase) balada “This Is The Time” poderia ir muito além da Kiss FM, assim o grande público poderia ouvir “How Long”, “Saturday Night” e “We’re Not Alone” e descobrir o que nós sabemos há umas três décadas: como esses caras são bons!
Àquela altura o Dr. Sin já estava em casa. Já havia rolado “Fire”, com participação ativa dos fãs na paradinha no refrão e, como de hábito, nos queixos caídos durante o solo do monstro e mestre das seis cordas Ardanuy – um absurdo que nunca é demais ver e ouvir. E havia espaço para surpresa: com Bruno Sá (tecladista do Allegro, a melhor banda carioca que infelizmente nunca decolou) e o produtor do evento Rodrigo Scelza nos vocais, o Dr. Sin virou quinteto por alguns minutos e atacou com “Rising Force”, de Yngwie Malmsteen. Ok, você pode ter certeza de que o instrumental ficou perfeito, mas deixo registrado: Rodrigo mandou muito bem, surpreendendo aqueles (a maioria dos presentes, na verdade) que desconhecem seu passado de vocalista em banda cover do Iron Maiden.
Show do Dr. Sin não pode terminar sem “Emotional Catastrophe”, hino, hit e clássico que cumpriu o costumeiro papel. Mas a festa ainda não havia chegado ao fim. Com seu roadie na bateria, Ivan assumiu os vocais para “You Really Got Me” em sua versão Van Halen, depois reassumiu as baquetas para a última surpresa da noite: “Have You Ever Seen The Rain?”, cover do Creedence Clearwater Revival que o Dr., Sin tomou emprestado no primeiro disco e acrescentou um pouco da própria identidade. Lição da noite: que o Dr. Sin não leve mais sete anos para voltar ao Rio de Janeiro.
Setlist Dr. Sin
1. Down In The Trenches
2. Fly Away
3. Lady Lust
4. Time After Time
5. Fire
6. The Great Houdini
7. How Long
8. This Is The Time
9. Saturday Night
10. We’re Not Alone
11. Miracles
12. Rising Force
13. Emotional Catastrophe
Bis
14. You Really Got Me
15. Have You Ever Seen The Rain?
Setlist X-Rated
1. Animal House
2. You Got It
3. Kill Big Brother
4. Striptease Boogie
5. Kiss
6. Smashed Rhythm Of Love
7. Sextrash Superstar
8. I Love Rock And Roll
9. Face The Dog
10. Realize It
11. Blue Heart
12. I Wanna Beer