DREAM THEATER

As luzes ainda estavam acesas e o som ambiente rolava nos PAs – uma música que nem de longe fazia os presentes lembraram que foram a um show de Rock – quando um fã parou, olhou para a pista e soltou, com um tom de desapontamento: “Com Mike Portnoy isso não aconteceria”. As luzes já estavam apagadas e a banda já se encontrava em ação, depois de um atraso de 50 minutos, quando um outro fã, pedindo licença para passar, soltou, com um tom de satisfação: “É uma pena que a casa não esteja cheia, mas pelo menos fica mais fácil sair para comprar cerveja e ir ao banheiro”.

Guardados os devidos exageros, as duas reações se misturam bem para ilustrar o que foi a sétima passagem do Dream Theater pelo Rio de Janeiro. Mais precisamente, o resultado da turnê “The Astonishing Live”, que apresenta o novo trabalho, duplo e conceitual, na íntegra. Apenas e tão somente ele. Seja você fã ou não – e eu sou desde 1992, quando devorei “Images And Words” pela primeira vez –, tenha você gostado ou não de “The Astonishing” – e eu continuo sem gostar –, é fato que a Ópera Rock no 13º disco do quinteto foi um passo ousado.

Um passo dado por quem tem cacife suficiente para tanto, sejamos justos. Isso, no entanto, não significa que tenha sido acertado, e o sentimento “ame ou odeie” é uma dicotomia sintomática. Também explica por que o Vivo Rio, com a configuração de cadeiras exigida pela banda, estava com as suas laterais cheias de espaços vazios. E se é bastante óbvio que a música do Dream Theater não foi feita para bater cabeça ou abrir rodas de pogo, também é sintomático que a primeira reação calorosa da plateia tenha acontecido apenas em “A New Beginning”, a 19ª faixa de “The Astonishing”, consequentemente a 19ª do set list, já no fim do primeiro ato.

Isso graças a John Petrucci, que tomou o centro do palco para um solo realmente de tirar o fôlego. Resultado: todos de pé aplaudindo efusivamente. Até então, parecia que os fãs se comportavam como em uma das várias piadas que envolvem o maior nome do Prog Metal nas últimas duas décadas: assistindo ao espetáculo à espera de uma nota na trave, de uma atravessada no tempo… Em vão, claro. São todos instrumentistas acima de qualquer suspeita, e se não bastasse James LaBrie se mostrar completamente confortável cantando o novo material, Mike Mangini definitivamente entendeu que está tocando num grupo de Heavy Metal, não num de Jazz. Apesar de o extraordinário batera ter atingido a sua pegada mais pesada no momento em que o Dream Theater está mais Progressivo do que nunca – e para quem não sabe, John Myung (baixo) e Jordan Rudess (teclados) completam a formação.

Fim do primeiro ato, e os 20 minutos de intervalo serviram não apenas para muitos irem ao banheiro ou comprar uma cerveja. Rolou aquele condenável jeitinho de ir para um lugar que não é o seu, afinal, havia um monte de cadeiras vazias mais à frente. Mas se a segurança não conseguiu reprimir as mudanças voluntárias, foi quase 100% eficiente ao impedir que as pessoas sacassem o celular do bolso para passar o tempo todo assistindo ao show pela tela ou atrapalhar os outros por causa de irritantes selfies. Assim, foi possível curtir de verdade o belo cenário, principalmente a disposição dos telões que, ocupando todo o fundo do palco, contavam a história de opressão num mundo futuro sem música orgânica – quer saber mais? Dê um confere na ed. #206 da ROADIE CREW.

Visualmente o espetáculo valeu o ingresso, e é uma pena que a imprensa tenha sido liberada para fotografar apenas de longe e nas laterais da pista. Perde a banda, pela divulgação limitada, e perdem o fã e o leitor, principalmente aqueles que não puderam ir aos shows. Mas quem foi pôde, a pedido de LaBrie, levantar a bunda da cadeira em “Our New World” – que poderia estar em “Falling Into Infinity” (1997) ou representar o lado mais Pop de “Octavarium” (2005), e isso é um elogio – e continuar em pé no encerramento com “Astonishing”, no bis mais protocolar da história.

O resumo do Dream Theater no Rio de Janeiro é este. É o resumo de um show previsível, afinal, quem foi ao Vivo Rio sabia exatamente o que iria ter pela frente. Uns adoraram, outros não. Resultado de um novo trabalho – duplo, conceitual e, acrescento agora, enfadonho – tocado na íntegra. Um passo ousado que apenas um grupo como o liderado por Petrucci e Rudess poderia dar. Mas um passo em falso, infelizmente. No estúdio e no palco.

Ato 1
1. Descent Of The NOMACS
2. Dystopian Overture
3. The Gift Of Music
4. The Answer
5. A Better Life
6. Lord Nafaryus
7. A Savior In The Square
8. When Your Time Has Come
9. Act Of Faythe
10. Three Days
11. The Hovering Sojourn
12. Brother, Can You Hear Me?
13. A Life Left Behind
14. Ravenskill
15. Chosen
16. A Tempting Offer
17. Digital Discord
18. The X Aspect
19. A New Beginning
20. The Road to Revolution

Ato 2
21. 2285 Entr’acte
22. Moment of Betrayal
23. Heaven’s Cove
24. Begin Again
25. The Path That Divides
26. Machine Chatter
27. The Walking Shadow
28. My Last Farewell
29. Losing Faythe
30. Whispers On The Wind
31. Hymn Of A Thousand Voices
32. Our New World
Bis
33. Power Down
34. Astonishing
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