Uma noite de festa e celebração regada a punk rock com altas doses de música tradicional irlandesa. Este pode ser o resumo da apresentação conjunta de Dropkick Murphys e Booze & Glory na capital paulista. A primeira, grande atração do evento, desembarcou no Brasil pela segunda vez e trouxe na bagagem seu nono álbum de estúdio, ‘11 Short Stories Of Pain & Glory’, lançado no começo deste ano. A segunda, fundada há quase 10 anos em Londres e que logo se tornou um dos grandes nomes mundiais do Oi! (ou street punk), também retornava ao país – esteve por aqui em 2016.
E em meio a um desfile de vestuário tipicamente britânico do público, que incluía camisas Fred Perry e Ben Sherman, suspensórios e botas Dr. Martens, o Booze & Glory subiu ao palco às 19h para dar início a um show recheado de músicas que mais parecem cantos de torcidas organizadas. Vale destacar que os integrantes do grupo são apaixonados por futebol e principalmente pelo West Ham United, time da zona leste de Londres famoso por seus fanáticos e violentos torcedores, retratados em diversos filmes sobre hooligans.
Com quatro álbuns de estúdio lançados – ‘Always On The Wrong Side’ (2010), ‘Trouble Free’ (2011), ‘As Bold As Brass’ (2014) e ‘ Chapter IV’ (2017) – a banda liderada pelos guitarristas “Question” Mark e Liam “The Lion”, que também dividem os vocais, definiu um repertório direto e matador. A apresentação durou aproximadamente uma hora e teve como destaques as músicas “Leave The Kids Alone”, “Carry On”, “London Skinhead Crew” e “Only Fools Get Caught”. Como atração de abertura, o Booze & Glory foi uma escolha certeira.
Com orgulho de dizer que são de Boston, Massachusetts (EUA), o Dropkick Murphys subiu ao palco pontualmente às 20h30 com o tema de fundo “The Foggy Dew” da cantora irlandesa Sinéad O’Connor. A formação segue com Ken Casey (baixo, vocal), Al Barr (vocal), Matt Kelly (bateria), Tim Brennan (guitarra, acordeon, teclado) e Jeff DaRosa (banjo, mandolin, violão) – Lee Forshner (gaita de fole) está no grupo desde 2015 como músico contratado e Kevin Rheault (guitarra), que também trabalha como roadie, substitui provisoriamente James Lynch.
E para a alegria do público que lotou o Tropical Butantã, o grupo ainda se destaca pela fórmula característica que nunca falha: a sensacional mistura de punk, hardcore e a tradicional música celta – com razão são considerados um dos ícones do celtic punk. Tamanha energia e competência já saltavam à vista nas duas primeiras músicas, “The Lonesome Boatman” e “The Boys Are Back”, que também abrem os mais recentes álbuns da banda – ‘11 Short Stories Of Pain & Glory’ (2017) e ‘Signed And Sealed In Blood’ (2013), respectivamente.
Assim como tem acontecido ao longo de toda a carreira, que ultrapassa duas décadas, as novas composições parecem cair quase que automaticamente no gosto dos fãs, principalmente quando tocadas ao vivo da forma intensa como foi visto em “Rebels With A Cause” e “Blood”. Mas quando surgiu no repertório músicas do calibre de “Johnny, I Hardly Knew Ya”, “Going Out In Style” e “The State Of Massachusetts” o ambiente realmente ferveu e o clima de celebração ao melhor estilo irlandês pareceu não ter fim.
Da fase puramente street punk da banda, que remete ao álbum de estreia ‘Do Or Die’ (1998), a sequência com “Barroom Hero”, “Never Alone” e “Boys On The Docks”, além da faixa-título, foi outro ponto alto do show com direito a abertura de diversas rodas na pista comum – tarefa difícil tinham os que tentavam segurar seus copos de cerveja. Também deram às caras dois hinos do punk rock – “I Fought The Law” (The Crickets – famosa na versão do The Clash) e “If The Kids Are United” do lendário Sham 69.
Um capítulo à parte para a sempre aclamada “I’m Shipping Up The Boston”, que ficou mundialmente conhecida por fazer parte da trilha sonora do filme “Os Inflitrados” (“The Departed”, 2006), além de “Until The Next Time”, que contou com invasão em massa do palco para fechar um dos fortes candidatos a show do ano em São Paulo. Al Barr e Ken Casey ainda tiveram muita disposição e paciência para tirar fotos com o público e autografar discos. Um brinde de Guinness ao Dropkick Murphys!