Tobias Exxel fala dos 25 anos do Edguy, da coletânea para marcar o feito e se diverte ao explicar a pronúncia do primeiro nome e do apelido Eggi
Vinte e cinco anos. As bodas de prata chegaram para o Edguy, e a banda alemã resolveu comemorar em grande estilo. Teve coletânea, claro, mas uma à altura da data: Monuments conta com 22 clássicos, cinco músicas novas e uma inédita espalhadas em dois CDs, além de um DVD com um show gravado no Brasil em 2004, durante a turnê de Hellfire Club. E teve uma miniturnê, também: treze shows de 15 de setembro a 3 de outubro, quando Tobias Sammet (vocal), Jens Ludwig e Dirk Sauer (guitarras), Tobias “Eggi” Exxel (baixo) e Felix Bohnke (bateria) encerraram o bem-sucedido giro com uma apresentação em sua cidade natal, Fulda. E a festa obviamente tinha de estar nas páginas da ROADIE CREW, por isso fomos atrás do grupo para uma conversa. Mas é bom ressaltar: o bom humor típico do Edguy se refletiu numa entrevista totalmente descontraída com o empolgadíssimo e, por isso mesmo, falante Exxel. A ponto de o papo ter começado de uma maneira, digamos, pouco comum. Assim, boa leitura!
Tobias Exxel: Oi, Daniel! Aqui é Tobias Exxel, do Edguy. Tudo bem?
Olá, Tobias. Tudo bem, e aí? Aliás, permita-me dizer que você acabou de matar uma curiosidade minha. Conheço muita gente que fala ‘Tobaias’ Exxel ou ‘Tobaias’ Sammet, ou seja, não como se escreve, que é o jeito certo confirmado agora pela própria fonte.
Tobias: (rindo bastante) Sim! E provavelmente essa é a pergunta mais interessante de todas que respondi até agora (risos). É verdade que muitos fãs falam ‘Tobaias’, mas para facilitar seria melhor dizer apenas Tobi. Mas como esse é o apelido do nosso vocalista, atendo por Eggi. Fiz essa gentileza a ele porque sou mais velho (risos).
E é bom saber que essa dúvida não é novidade para você, porque tomo como base a maneira como os fãs brasileiros pronunciam.
Tobias: Acredito que isso acontece porque não é um nome internacional, como os que são comuns nos Estados Unidos e na Inglaterra, por exemplo. Não é como os nomes que têm pronúncia diferente dependendo do inglês americano e do britânico. E você não encontra muitos Tobias ou ‘Tobaias’ por aí (risos). Não existe nem mesmo uma tradução específica, então as pessoas podem falar da maneira que acharem melhor. A partir do momento em que todos nos entendemos, não tem problema. Mas se ficar complicado, é só me chamar de Eggi… Ah! Algumas pessoas no Brasil me chamam de ‘Édi’, e eu sempre achei que era uma referência a Edguy (risos). Mas Eggi se pronuncia ‘Égui’, disso eu tenho certeza (risos), e não tem nada a ver com a pergunta que muitos me fazem, porque meu apelido não é Eggi porque pareço com um ovo (risos). Quando tinha 10 ou 11 anos, um colega no colégio surgiu com esse nome para mim, e a coisa se espalhou de tal maneira que até os professores me chamavam assim. Sempre achei engraçado, então não me incomodava. E também nunca perguntei por que ganhei esse apelido, apenas fiquei feliz por ter um. Acho que meu antigo colega queria era me irritar ao me chamar a todo instante de Eggi (N.R.: Exxel imita a voz do colega, incluindo uma risada à la Beavis & Butt-Head), mas se deu mal, porque eu gostei (risos). Pensando bem, eu deveria ter ficado irritado, assim ele poderia ter me chamado de Angry Eggi. Seria ainda mais legal, tipo Angry Birds (risos) (N.R.: referência ao famoso jogo para smartphones criado em 2009). Eu sei que a entrevista mesmo nem começou, mas todo esse lance de Tobias ou ‘Tobaias’ e Eggi ou ‘Édi’ é muito importante na história do Edguy (risos). Sério, nunca havia falado sobre isso tão profundamente, então foi bem interessante. Gostei bastante.
Acredito que os fãs também vão curtir. Talvez não como Monuments, porque o conteúdo é mesmo bem caprichado. O quanto vocês se envolveram na elaboração da coletânea?
Tobias: Envolvemo-nos completamente, desde o início. Todas as músicas foram escolhidas por nós, por exemplo, e a solução mais interessante que encontramos para chegar ao track list final foi que os cinco estivessem totalmente de acordo. Temos um catálogo muito grande de canções e, no geral, estamos muito satisfeitos com ele, porque é nosso cartão de visitas. Todas as nossas músicas representam muito bem o Edguy, não importa o quão diferente sejam. Pode ser uma mais rápida, uma balada ou algo mais rock, porque acredito que fazemos uma boa mistura de estilos. Qualquer período de nossa carreira tem isso. No fim das contas, foi bem tranquilo definir quais seriam as 22 faixas de Monuments. Acredite, não houve um problema sequer em relação a isso, porque vou lhe contar um segredo: muitas vezes acabamos discutindo por causa de set list, tipo que músicas devemos tocar numa próxima turnê, sabe? Eu gostaria disso, mas Felix quer algo diferente, então Dirk aparece com outras ideias… Mas para o CD foi fácil. É o melhor do Edguy, e os fãs já têm essas canções, por isso nosso objetivo com uma compilação é maior na questão de conquistar novos fãs, apresentar a banda a quem nunca ouviu nosso trabalho. Era preciso impressioná-los com o que fizemos nos últimos 25 anos, mas também agradar àqueles que nos acompanham há tanto tempo, por isso incluímos um DVD ao vivo e material novo. Nenhuma das cinco faixas inéditas é sobra de estúdio, todas foram compostas e gravadas em fevereiro e março deste ano (N.R.: Monuments foi lançado em 14 de julho), e a edição limitada ainda vem acompanhada de um enorme livro (N.R.: 160 páginas) com várias fotos inéditas e informações realmente legais. É um pacote completo para o fã do Edguy, talvez algo que não faríamos não fosse uma ocasião tão especial, os 25 anos da banda, porque o investimento é grande. E também estamos completando vinte anos sem nenhuma alteração na formação, o que é impressionante até para nós mesmos (risos). Vemos tantos grupos mudando a todo instante que é até difícil acreditar que estamos juntos todo esse tempo. Sempre nos inspiramos no Aerosmith, que está aí com a sua formação clássica e sem nenhuma mudança há quase quarenta anos (N.R.: desde 1984), então mal posso esperar pelas entrevistas que darei daqui a 25 anos, uma delas talvez para você mesmo, para falarmos do cinquentenário do Edguy (risos).
Espero chegar lá, e tomara que a entrevista seja com você, que está tornando o meu trabalho bem mais fácil. Já matou três das minhas perguntas numa só resposta.
Tobias: (rindo bastante) Desculpe-me! Eu falo demais, né? (risos)
Não se desculpe, não, porque estou achando ótimo. Isso é um sonho de todo jornalista, então continue assim (risos).
Tobias: OK, manda a próxima que vou responder e antecipar mais algumas (risos).
Você explicou o processo de escolha das músicas de Monuments e que as cinco inéditas foram compostas especialmente para a coletânea, mas houve alguma razão para nenhuma faixa do primeiro álbum, Kingdom of Madness (1997), estar presente?
Tobias: Sim, apesar de ter sido algo inconsciente. Kingdom of Madness é um bom disco, sem dúvida, mas para nós não é uma representação de fato do nosso trabalho. É difícil explicar isso, porque não quero ofender os fãs que gostam do disco. Sabemos que é parte importante da banda e do seu desenvolvimento, porque foi um aprendizado em termos de composição, especialmente para Tobi, que começou a se encontrar como vocalista. Por outro lado, o Edguy começou mesmo a ficar mais popular a partir de Vain Glory Opera (N.R.: o disco seguinte, de 1998). Assim, como tínhamos que escolher 22 ou 23 faixas, dependendo da duração de cada uma, preferimos pinçar mais uma, duas ou três canções de Theater of Salvation (N.R.: de 1999) ou do próprio Vain Glory Opera para representar nossa fase mais antiga. Além disso, há dez ou quinze anos não tocamos nenhuma música de Kingdom of Madness ao vivo, porque há tantas outras que queremos tocar, e talvez Vain Glory Opera pudesse ter mais algumas de suas faixas em Monuments, mas ainda assim não o ignoramos (N.R.: há duas músicas dele, a faixa-título e Out of Control).De qualquer maneira, nosso primeiro disco não está fora de catálogo, então o fã pode comprar a coletânea e ele também, caso não o tenha. Ou escutá-lo no YouTube, porque hoje em dia você encontra qualquer coisa no YouTube (risos).
E para o fã brasileiro, o DVD é um bônus mais do que especial, até porque esse show é um desejo antigo (N.R.: foi gravado no festival Rock the Planet, que contou com Timo Kotipelto, Shaman e Viper no dia 2 de outubro de 2004, no Espaço das Américas).
Tobias: Isso mesmo! Você sabe que o show completo deveria ter sido lançado oficialmente anos atrás, mas não rolou porque houve grandes problemas técnicos com algumas câmeras. Colocamos algumas músicas no DVD que acompanhou o EP Superheroes (2005), mas só agora encontramos uma equipe técnica boa o suficiente para restaurar os vídeos e deixar toda a apresentação pronta para ser lançada com a qualidade necessária. E aquele show foi maravilhoso! Quando assisti ao DVD agora, depois de tanto tempo, fiquei arrepiado com o público em canções como The Piper Never Dies, por exemplo. E o melhor de ter revisitado o show treze anos depois foi perceber como ainda temos aquela energia e aquele frescor. Ainda fazemos shows como aquele e nos divertimos no palco, tocando para pessoas que nos admiram. Sou grato por não sermos uma banda que apenas fica olhando para os instrumentos para ver se o tempo passa mais rápido no palco. Amamos tocar, tocar e tocar sem parar, e sei que para vocês, brasileiros, ter aquela apresentação finalmente em DVD é algo especial. Lembro-me que a atmosfera em São Paulo naquela noite era muito boa e guardo com carinho todas as lembranças, desde os momentos que antecederam o show até o backstage ao fim dele. Foi uma experiência maravilhosa para nós.
E uma última pergunta sobre Monuments. Vocês chegaram a pensar em regravar o baixo e bateria de Reborn in the Waste, que acabou não saindo na demo Savage Poetry (1995)? Porque assim ela teria a formação clássica do Edguy, com você e Felix Bohnke.
Tobias: Não, realmente. Preferimos manter a versão original, com o primeiro baterista, Dominik Storch, e o baixo do Tobi. Hoje em dia você pode consertar qualquer coisa em estúdio, mas Reborn in the Waste está como foi gravada naquela época. É um documento de quase 25 anos atrás, quando Tobi, Dirk e Jens tinham 14 ou 15 anos de idade, ou seja, você pode ouvir que mal sabiam tocar direito (risos). Era o comecinho da banda, e o interessante é que essa música foi finalizada, mas não registrada num estúdio profissional, e acabou sendo deixada de lado porque eles tinham canções melhores e com as quais se sentiam mais confortáveis. Até por isso ela nem mesmo foi regravada para Kingdom of Madness, o que, em minha opinião, a torna mais especial. A primeira vez que a escutei foi há um ano, quando Jens encontrou a fita original, e não pude deixar de rir. Aliás, foi divertido para todos nós porque era um cassete, e hoje você tem de explicar aos fãs mais novos o que eram as fitas cassete e como as usávamos. Hoje eles só conhecem CDs e, principalmente, MP3s (risos).
Para terminar, você está na banda desde 1998, mas sempre o considerei como parte da formação original, afinal, Tobi era responsável pelo baixo. Ou seja, não é que você tenha substituído alguém. É um ponto de vista de diferente, mas o que acha dele?
Tobias: Sabe o que é mais interessante? Não seria apenas a minha opinião a respeito, mas também as de Tobi, Jens e Dirk, e garanto a você que eles consideram a atual formação como a original. Claro, isso pode soar injusto com Dominik, mas lembra-se quando disse que nossa popularidade começou a crescer depois de Vain Glory Opera? Foi na turnê deste disco que Tobi, Jens, Dirk, Felix e eu subimos num palco pela primeira vez juntos (N.R.: Storch gravou apenas Kingdom of Madness, enquanto a bateria de Vain Glory Opera ficou a cargo de um músico de estúdio, Frank Lindenthal). Foi o line-up atual que caiu na estrada pela primeira vez, e o Edguy nunca havia tocado fora da Alemanha até estarmos os cinco na banda. Dormíamos num micro-ônibus e fazíamos tudo juntos. Incluo o Felix nesse ponto de vista, porque é um grande elogio para nós quando pensam assim. Você está certo, então, e somos gratos aos outros três por também compartilharem essa ideia.
FRASE DE DESTAQUE:
Sou grato por não sermos uma banda que apenas fica olhando para os instrumentos para ver se o tempo passa mais rápido no palco – Tobias Exxel