Do álbum de estreia, “Discharge” (2020), ao novo disco, “2 Make U Cry & Dance”, o Electric Mob passou rapidamente do status de promessa ou revelação para a condição de realidade. E foi de maneira instantânea, mesmo, uma vez que os talentos de Renan Zonta (vocal), Ben Hur Auwarter (guitarra), Yuri Elero (baixo) e André Leister (bateria) – por questões pessoais e de logística, Leister cedeu o posto na turnê a Mateus Cestaro – dão a você o direito de afirmar, sem medo algum, estar diante da melhor banda de hard rock do Brasil na atualidade. E uma banda tão singular e cheia de personalidade quanto o visual e o bom humor do quarteto de Curitiba (confira suas redes sociais). Em um longo papo, Renan e Ben Hur passaram a limpo a trajetória do Electric Mob, da relação com o selo italiano Frontiers ao conteúdo crítico e social. Tudo sem melindres. Então, ligue o som, coloque o volume no talo, ouça os discos na sequência e mergulhe na entrevista com atenção nas palavras e, também, na música.
Vamos começar do começo, mesmo: o Electric Mob lançou “Discharge”, teve o barulho por ser uma banda brasileira assinada com a Frontiers, e mas aí veio a pandemia. Enquanto todo mundo ouvia e elogiava o disco, vocês não podiam divulgar o disco nos palcos…
Renan Zonta: Foi um choque, né? Foi um choque total porque não fazíamos ideia de como seria o lançamento, e o lançamento fez barulho para caramba. Demorou um pouco para engrenar no Brasil, mas lá fora foi um estardalhaço, que começou a vir para cá, e nós não estávamos preparados para esse tipo de reação do público. Então não sabíamos realmente o que esperar e, com o lance da pandemia, ficamos mais apreensivos ainda, tipo ‘E agora? Não tem show. Quando voltarmos, o que vamos fazer? Se voltarmos, o que vamos fazer?’, porque tudo ficou meio no ar. Quando fizemos a turnê do “Discharge”, dois anos depois do lançamento, foi a prova de que a galera estava junto com a banda. Foi um choque muito grande, pois tínhamos planejado muita coisa que não conseguimos fazer, mas aos pouquinhos estamos retomando todo esse processo.
Ben Hur Auwarter: Eu vejo de duas formas diferentes como ficamos perdidos. Nunca tínhamos feito isso, lançado um álbum, e o que havia era uma banda nova, então pegávamos o livro-texto de ‘como ter uma banda’, que diz ‘você monta a banda, você grava um álbum e você sai em turnê’, e foi aí que dissemos: ‘Ih, caralho!’ (risos). Nunca havíamos feito turnê, mas todo mundo dizia que tínhamos de fazer. Não tivemos essa experiência e, depois, precisamos nos adaptar e fazer algo que ninguém tinha feito: lançar um álbum numa pandemia. Então vou dizer a você que até agora não sabemos como funcionam as coisas, porque estamos no pós-pandemia, e quem está crescendo ainda está se estabelecendo. Os artistas que já estão estabelecidos só replicam o que fizeram no passado, e nós, como uma banda nova, somos filhos da pandemia, digamos assim, com o nosso primeiro álbum. Ficamos testando muita coisa e entendendo como funciona o mercado para a nossa situação.
De alguma maneira, as bandas tiveram de se reinventar. Algumas fizeram shows por streaming, outras compuseram um novo álbum para ser lançado depois da pandemia, quando o mundo tivesse voltado ao normal. No caso da Electric Mob, em vez de começar logo a compor o “2 Make U Cry & Dance”, a banda esperou e fez alguns shows para depois lançar um álbum. Foi bem pensado?
Ben Hur: Nós quisemos seguir a ordem natural das coisas. Olhando hoje, porém, se a pandemia tivesse vindo no segundo álbum, acredito que talvez fosse um pouco pior, porque já não teríamos a vantagem da novidade. Não fizemos uma estratégia, apenas lançamos o disco e deixamos as coisas acontecerem, porque ninguém sabia quando a pandemia iria acabar. Se alguém tivesse falado ‘olha, serão dois anos de pandemia’, talvez tivéssemos feito um plano, mas a cada mês que passava o plano era esperar o mês seguinte para ver como estaria a situação. Sabíamos que precisávamos compor o outro álbum, e tudo acabou se encaixando porque, por contrato, temos de lançar um disco a cada dois anos. Então, acabou que fizemos uma turnê, e o álbum já estava sendo composto quando rolaram os shows, e aí conseguimos engatar uma coisa na outra para, na hora de a banda voltar, voltar com várias coisas acontecendo. Não teve um plano específico. Somos uma banda que vai fazendo e vê no que dá.
Renan: Acredito que a parte mais difícil de tudo isso foi realmente nos mantermos relevantes, manter a chama da novidade acesa durante o período que não podíamos tocar ao vivo. Quando você está em turnê, está sempre se mostrando, está sempre dando o gostinho para a galera, e quando não pudemos fazer isso foi o momento de fazer live, foi o momento de lançar vídeo, foi o momento de engajar com os fãs de uma forma diferente, e logo depois engatamos na turnê com algumas músicas novas já prontas. Chegamos com uma música nova, a “4 letters”, que não tinha sido lançada na época, para trazer a galera de novo com a banda e levantar o fogo.
Ou seja, não dá nem para olhar pra trás e, digamos, se arrepender de algo que foi feito ou não foi feito.
Renan: Não, não tem como, porque… Cara, é um ‘se’ muito grande! Então, podemos pensar que talvez poderiam ter acontecido outras coisas, e que certamente teria sido diferente. Com certeza não teria o “2 Make U Cry & Dance”, por exemplo, porque seria outra parada, mas não dá para ficarmos pensando muito assim sobre isso, senão a depressão bate.
Ben Hur: E, como banda, também não temos referência. Nosso primeiro disco foi assim, não é como se fosse o segundo e falássemos ‘nossa, o primeiro foi muito melhor, olha como a pandemia nos atrapalhou, que saudades do primeiro álbum’, porque já começamos assim! As consequências não foram de uma forma ruim, e os próximos passos serão sempre em ordem. Aconteceu, não sabemos como é lançar o álbum de estreia, como é se lançar como banda sem estar numa pandemia, e creio que isso faz parte do Electric Mob, faz parte dos próximos álbuns que serão lançados. Como o Renan falou, se nada disso tivesse acontecido, o segundo disco não seria o “2 Make U Cry & Dance”.
Antes de falar especificamente sobre os shows, quero fazer uma observação, até pela minha perspectiva do show no Rio de Janeiro, em 2022: o repertório foi “Discharge” mais uma música, não teve cover, que é algo bem incomum para uma banda nova, com apenas um álbum lançado. E essa é uma observação positiva…
Renan: Acredito que sequer consideramos essa ideia…
Ben Hur: E se consideramos, foi tipo ‘vamos fazer cover? Não!’ (risos).
Renan: Foi tipo isso mesmo. O Electric Mob começou sendo uma banda cover, e as coisas foram acontecendo bem aos pouquinhos. Inclusive, um fato curioso é que a pandemia foi o momento crucial para separarmos e realmente dividirmos as coisas, tipo não fazemos mais cover. Acabou, já era. E quando a pandemia nos liberou para voltar a fazer show e começar a turnê, estávamos com tanto sangue nos olhos de chegar e fazer o nosso que nem cogitamos essa ideia. E acredito que a galera nem estava muito a fim.
Ben Hur: Parando para pensar, nós somos um pouco… Bom, depende do ponto de vista, pode ser algo corajoso, ousado ou idiota, mas vamos de peito aberto tocando nossas músicas, falamos ‘se alguém for ao show, vai para ver o Electric Mob’. Fizemos covers por tanto tempo, e somos bons nisso, modéstia à parte, mas na hora de apresentar o nosso trabalho estávamos tão na vontade. E até hoje é assim, por isso a ideia é entreter a galera com as nossas músicas.
Renan: E eu penso, também, que ninguém esperava que fizéssemos algum cover, ninguém foi aos shows esperando ouvir música de outras bandas, porque a grande maioria das pessoas nos conheceu por causa do “Discharge”, e elas queriam ver aquilo acontecer ao vivo, então nem existia a possibilidade de fazermos cover.
Ben Hur: Gravamos alguns covers que foram lançados em vídeos, e isso foi estratégia da gravadora para apresentar a banda. Era meio que um cartão de visita para os fãs que já acompanhavam a Frontiers, que poderiam pensar ‘vamos ver do que essa banda aí é capaz’, então escolhemos três músicas e gravamos os vídeos, mas nunca pensamos em colocá-las no repertório. Por mais que sejam versões que gostamos muito, não acho que tenham espaço no show do Electric Mob. Ainda tocamos covers, mas com outro nome, porque vendemos como sendo do Renan quando é num evento fechado. Aqui na cidade, principalmente em Curitiba, o pessoal nos conheceu tocando cover, e as casas gostam muito de nós. Teve um evento que fizemos recentemente, no aniversário de uma dessas casas de shows, que um amigo meu foi ver e disse: ‘Cara, vocês não abriram com “Black Tide”, que estranho! Aí, de repente, vocês tocaram Guns n’ Roses!’, e eu expliquei que naquele dia não era o Electric Mob (risos). O pessoal dessa casa de shows, que é um bar, chegou a pedir para tocarmos nossas próprias música, e explicamos que não podíamos misturar as coisas. Além disso, fomos escalados para o Angra Fest em Curitiba e, por contrato, não poderíamos fazer show antes, então o que fizemos foi o Electric Mob Cover (risos).
A propósito, como foi o Angra Fest? A oportunidade para o Electric Mob, já que são bandas de estilos completamente diferentes…
Renan: Foi um misto de caos e muita felicidade! O dia do evento em si foi bem caótico, mas a oportunidade foi gigantesca, tanto que creio ter sido o maior show que o Electric Mob já fez. São bandas completamente diferentes, realmente, mas senti e tenho sentido que os novos fãs de Angra são mais receptivos a outros tipos de som do que a galera da época de “Carry on”. Vimos muita molecada no show, e tinha muita gente que foi para nos ver, teve uma galera que viajou para assistir ao Electric Mob, gente que falou ‘eu nem gosto de Angra, vim para ver vocês’ (risos), e ficamos superfelizes com isso. E rolou muita galera que foi convertida, também, que veio falar conosco depois: ‘Não conhecia a banda, vim mais cedo para pegar lugar e fiquei surpreso’.
Ben Hur: Aí nós demos os pêsames para eles, né? ‘Meus pêsames, mas valeu!’ (risos)
Renan: Mas foi animal, cara! Animal! A sensação foi total de dever cumprido. Fizemos um repertório curto, mas completamente desgraçado, e a galera ficou assustada. Era a intenção, e deu tudo certo.
Ben Hur: Temos recebido até hoje mensagens de pessoas dizendo que nos conheceram no Angra Fest e viraram fãs da banda, que não esperavam e tal. Teve um cara que disse ‘não conhecia, fui e nem fiquei pra ver o Angra, porque me senti saciado de rock’n’roll com vocês. Foi foda!’ Uma coisa legal do Angra Fest era que havia os headliners, que eram Angra, óbvio, e Matanza, porque os dois têm o mesmo empresário, e eu não vejo a músicas dessas bandas conversando, mas se se você conseguir juntar os fãs que gostam delas, cara, nós nos enfiamos no meio! Então, não foi uma abertura para um show do Angra, porque o lance de ser um festival fez com que o pessoal já fosse com a cabeça mais aberta, tipo ‘serão quatro bandas, e eu quero ouvir as quatro”. Isso foi muito massa!
Renan: O Angra Fest tem essa característica, né? O primeiro, em São Paulo, teve Project 46, e nessa turnê nacional que fizeram com o festival teve até o Supercombo num dos shows, então é muito massa misturar e poder conhecer uma galera diferente. E converter essa galera. Para nós, é muito importante.
Falando sobre a Frontiers, especialmente porque o Electric Mob é uma banda de personalidade própria e que se difere muito do cast da gravadora, como anda a relação?
Renan: Entre tapas e beijos! (risos)
Ben Hur: Não tem por que a gente ficar escondendo coisas, mas somos muito gratos à Frontiers, porque a banda só é o que é hoje por causa da gravadora. Ela viabilizou que tivéssemos essa exposição, mas enfrentamos alguns percalços. Se fizéssemos uma analogia com o futebol, a Frontiers é uma equipe que joga muito tático, certinho e bonitinho, mas aí meteu no time um cara que se criou no futsal e quer fazer firula, e aí ficamos ‘pô, todo mundo gosta! É o nosso estilo de jogar!’, mas tem de se adaptar! Eles não nos obrigam a essa adaptação, mas sentimos que ficamos um pouco deslocados, sim, porque é o modelo de negócio deles, são os artistas deles. A Frontiers é uma gravadora que tem fãs…
Renan: … E esses fãs nos odeiam! (risos)
Ben Hur: É, e ainda tem isso! Passamos alguns problemas por isso, porque eles têm seus fãs e precisa agradá-los, e isso significa não expor tanto o Electric Mob, porque pode incomodar uma parcela desse fã-clube. Talvez agrade a uma outra parcela, mas, no geral, nos sentimos um pouco deslocados pela Frontiers não ser uma gravadora muito abrangente em relação a vários estilos de rock. Não que eles não tenham tentado, e acredito até que tentaram, mas não da maneira mais fervorosa possível para expandir esse leque, já que não tiveram uma resposta imediata. Então preferiram seguir com o plano, que é ser a Frontiers, e hoje o Electric Mob está lá dentro, vamos dando nossos pulos. Temos um próximo álbum para fazer e não entramos em conversa com eles ainda sobre o que pensam, como veem a banda atualmente, qual é a posição da banda na gravadora. Não é uma relação empregador-empregado, mas é uma relação em que eles pagam os álbuns (risos). Precisamos nos achar nesse meio, porque tem coisas muito boas, como essa de viabilizar um disco, mas, dependendo do ponto de vista, se você for do AOR ou do hard rock melódico, nós somos o patinho feio. Se você curte os patinhos feios e acha que rock’n’roll é isso, é atitude, é diferente, aí é um ponto positivo o fato de o Electric Mob não se encaixar. Não ser Frontiers ‘stricto sensu’ pode ser tanto bom quanto ruim. Depende do gosto de cada um.
Renan: Reforçando o que o Ben Hur falou, às vezes temos uns arranca-rabos porque queremos algumas coisas e traçamos alguns planos entre nós que, nas nossas cabeças, fazem muito sentido, mas no modelo de negócios deles não fazem. E é bem diferente a forma como a Frontiers mostra uma banda ao mundo, porque é como se fosse o ‘artista Frontiers’. Eles têm uma relação com os clientes e consumidores da gravadora que é realmente de artista e fã, diferente de outros selos do mesmo porte. Nesse ponto, às vezes nos damos umas tropeçadas, mas sinto que muitas coisas, muitas conquistas se devem ao que fizemos com a Frontiers, e os próximos passos ainda serão discutidos.
Dito isso, o “Better Live Than Never” foi uma ideia da banda ou da Frontiers? Porque só saiu nas plataformas de streaming…
Ben Hur: Foi uma ideia da banda que foi transformada numa ordem da Frontiers (risos). Inicialmente, era para ser apenas uma live, mas aí eles negaram e deram uma desculpa, mas sempre entendemos as entrelinhas do business, né? (risos) Como eles queriam que fosse gravado, beleza. Acertamos com o mesmo estúdio (N.R.: Nico’s Studio, em Curitiba) onde gravamos o álbum, a captação foi no local, e a direção foi do Nico (Braganholo) e do Mizi (N.R.: José Miziara), que hoje é o nosso técnico de som. Muitas coisas boas, pessoais mesmo, vêm desses trabalhos, mas queríamos lançar somente como vídeo, e esse tinha sido todo o acordo, mas, no fim das contas, a gravadora meteu o contrato na nossa cara e disse ‘vocês assinaram aqui, e podemos usar do jeito que quisermos, então vai ser lançado digital’. Internamente, nunca quisemos lançar nesse formato, e agora falo por mim: nunca quis ser uma banda que lançou um álbum e depois soltou um ao vivo, porque quando você lança um álbum, é um álbum que está no streaming, tem físico e também está ali. Naquela caso, não teria a divulgação necessária, marketing em volta para ser um disco ao vivo, e eu acredito que dava para trabalhar melhor para que fosse lançado como áudio, porque ao assistir ao vídeo você fala ‘caramba! Legal!’, mas se você escuta só o áudio… Poderia ser melhor, porque não fizemos uma produção, fizemos realmente um show, e isso tem captação diferente, a parte técnica é um pouco diferente de quando você vai gravar um álbum ao vivo de primeiro nível. Pô, escuta o do Inglorious que saiu pela Frontiers (N.R.: “MMXXI Live at the Phoenix”, de 2022)! A captação daquele disco é um absurdo! No fim das contas, é o Electric Mob, e eu gosto, mas nem tivemos recurso para fazer uma captação digna de um álbum ao vivo. Era para ser somente vídeo, mas aí ficou como se você baixasse esse vídeo, convertesse para MP3 e transformasse num streaming de áudio.
Renan: Tanto que batemos o pé para ser lançado como um bootleg…
Ben Hur: … Isso, para colocar bootleg no nome. Era para ser ‘bootleg’, mas eles ainda decidiram chamar de ‘official bootleg’, e eu falei: ‘Caralho! Estamos fazendo de tudo para não parecer oficial, e vocês querem meter um ‘official’ no nome? Ok’ (risos).
Sobre esse lance de a Frontiers ter fãs, já faz um tempo que a fórmula Alessandro Del Vecchio cansou. Tudo soa igual porque é sempre ele que compõe e produz tudo para qualquer projeto do selo. Já houve ao menos alguma insinuação de colocá-lo como, digamos, um Desmond Child para o Electric Mob?
Renan: Não, nunca rolou. Eles nunca interferiram na composição da Electric Mob, e inclusive gostam muito do jeito que compomos, sempre elogiaram. Quanto a isso, sempre foi muito tranquilo. Eles dão alguns direcionamentos quando mandamos algumas demos, tipo ‘isso aqui pode ser trabalhado um pouco mais’ ou ‘isso aqui já está bom para caramba’, mas nunca rolou um input do tipo ‘acho que vocês precisam de um compositor’ ou ‘temos essa música aqui para vocês’. O máximo que rolou foram alguns toques de produção, quando eles querem transformar algumas coisas em outras, e aí sempre discutimos para chegar numa ideia que seja a melhor para todo mundo.
Ben Hur: E discutir é tipo plantarmos a sementinha na nossa cabeça, porque em 80% dos casos nós metemos o foda-se (risos).
Renan: É tipo o pai que fala ‘na volta a gente compra’ para o filho (risos).
Ben Hur: Isso. Apenas respondemos ‘é? Está bom, então. Beleza’ e continuamos fazendo do nosso jeito, só que com a seguinte ideia: queremos agradar aos caras, mas sem ceder a nossa parte. E preciso reforçar que acredito que eles gostam que o Electric Mob não seja como as bandas tradicionais do cast, gostam que tenha essa diversidade, da mesma maneira que eles têm nomes de metal mais pesado que também não se encaixam no padrão dos fãs da Frontiers. Mas, números por números, se eles mantêm a fórmula do Alessandro Del Vecchio é porque, de alguma forma, isso dá resultado para eles. Então, pelo modelo de negócio da Frontiers, e quando se tem os fãs da gravadora, é melhor ter mais bandas Del Vecchio do que bandas como a Electric Mob. Não que eles não gostem, porque eles apreciam e tal, só que é um produto diferente que eles têm para oferecer.
Renan: Mas eu sinto que essa opinião do Dutra tem sido ouvida pelos caras lá, porque muita gente tem comentado isso, de tudo parecer meio igual. Mas também, pudera, só se o cara fosse um gênio, ou seja, a mesma pessoa compondo tudo e fazendo tudo diferente! Eles têm trabalhado com outros produtores, têm envolvido outra galera, inclusive uma galera aqui do Brasil, e creio que é justamente para tentar salvar isso.
E vamos falar de coisa boa agora, justamente o “2 Make U Cry & Dance”, que não é uma continuação óbvia do disco de estreia, tem outra vida. Como foi o processo de se desligar do burburinho do “Discharge” para lançar um álbum com a personalidade da banda e, ainda, diferente do primeiro?
Renan: O lance principal foi o momento no qual ele foi criado. Não começou a compor o “2 Make U Cry & Dance” logo depois do “Discharge”, então, quando começou a trabalhar nele, dois anos já haviam passado, estávamos com outra cabeça e já tínhamos tido outras experiências. Quando saímos em turnê, já não éramos mais as mesmas pessoas que lançaram o “Discharge”, porque passamos por muita coisa ruim e boa nesse processo todo, e tudo isso influenciou para o “2 Make U Cry & Dance” ser um disco diferente e ter uma vida além do “Discharge”. O começou foi nesse contexto total de pandemia e lockdown. Eu voltei para Cascavel, minha cidade natal, e passei a pandemia lá. A banda estava toda em lugares diferentes, sendo que estávamos completamente ansiosos no mau sentido, por não saber o que iria acontecer, havia aquele lance de você começar a não focar mais nas coisas, e o disco é frenético nesse sentido, por conta desse sentimento de ansiedade absurdo que tivemos. Mas as coisas começaram a melhorar depois.
Ben Hur: Eu e Renan, principalmente, tiramos conclusões idênticas sobre o “Discharge”. Sabe quando você absorve um álbum? Na hora de compor, vamos tentar focar nessas referências aqui? Vamos! Mas nunca aplicamos isso de uma forma consciente ou manipulada, não nos forçamos a fazer algo diferente. O processo de composição do “Discharge” foi espontâneo, e o do “2 Make U Cry & Dance” também foi assim. Eles só aconteceram em momentos diferentes, e todo mundo viveu muitas coisas durante essa pausa. Entre parar de compor o “Discharge”, porque precisávamos entregar o disco, e começar a gravar o “2 Make U Cry & Dance”, individualmente todo mundo absorveu felicidades e tristezas, escutou música boa e música ruim, assistiu a filmes, viveu paixões e desgraças. Quando nos reunimos, por mais que a composição não tenha sido tipo ‘vamos trabalhar nossa composição, nós evoluímos desse jeito’, nós simplesmente nos reunimos, e o disco saiu assim. Acredito que essas conclusões e experiências individuais apareceram de forma natural na composição do segundo álbum, e será assim no terceiro, também.
Antes das músicas, eu queria falar obre a estratégia de lançamento do “2 Make U Cry & Dance”, especificamente da festa que vocês fizeram. Do lançamento da cachaça com canela, que espero experimentar em breve, à reprodução do bolo da capa, foi bem interessante…
Ben Hur: E vai experimentar! Vai, sim, senhor! (risos) Cara, quando decidimos a capa e o nome do álbum, nada é planejado. Parte de uma ideia, e falamos: ‘Opa! E isso aqui? Ah, legal! E se pegarmos essa ideia que tivemos e fizemos mais isso aqui? Ah, legal!’. Dando nome aos bois, primeiro veio a capa do bolo. ‘Vamos colocar um bolo? Vamos! E o que pode estar escrito em cima do bolo, então?’, e aí chegamos em “2 Make U Cry & Dance”. ‘Ok, massa! Mas já que vamos colocar um bolo na capa, por que não faz o ensaio fotográfico para o encarte com o bolo? Vamos comendo o bolo enquanto rolam as fotos! Pô, legal! Então, beleza.’ Aí veio o ‘vamos fazer um show acústico de lançamento? Vamos! E se nós metermos o bolo lá para a galera? Então vamos fazer o bolo igual ao da capa!’, e foi assim. Aliás, o bolo é bom para caralho (risos), e o Renan é o formiguinha da banda. Como gosta de doce! (risos)
Não tem ninguém diabético na banda, né? (risos)
Ben Hur: Não!
Renan: Por enquanto! (risos)
Ben Hur: Decidimos fazer o acústico, mas tem o lance de o André estar morando no Rio de Janeiro, e era para ele estar junto no show, só que a logística Rio de Janeiro-Curitiba-Rio de Janeiro, e acabamos fazendo em três. Era para ter uma batera reduzida ou um cajon, algo assim, mas foi legal demais! E rolou essa parceria para fazer o ‘gole’ do Electric Mob, a cachaça que lançamos no dia. As coisas vão acontecendo de acordo com o andar da carruagem.
Renan: E o lance era mesmo fazer uma celebração, não um show de lançamento. Queríamos nos juntar com a galera para trocar ideia, saber o que eles estavam achando do álbum, tirar foto com todo mundo, fazer um lance bem mais próximo entre artista e fã, algo que prezamos muito, também. Ter uma relação sempre muito próxima com a galera que nos acompanha.
Ben Hur: E descobrimos que o Electric Mob acústico é até legal. Por mais que seja gritaria e desespero, fica legal fazer gritaria e desespero no violão (risos).
Eu havia falado da personalidade da banda, da diferença do primeiro álbum para o segundo, e o próprio “2 Make U Cry & Dance” termina com “WATCH ME (I’m Today’s News)”, que é completamente diferente dentro do próprio disco. E é uma faixa que perfeita para fechar o trabalho. Isso foi planejado?
Renan: Nós estamos criando essa característica na banda, de que todos os lançamentos têm que ter um funk e uma música completamente esquisita no fim. Está virando meio que uma tradição, mas “WATCH ME (I’m Today’s News)”, por incrível que pareça, não é do processo de composição do “2 Make U Cry & Dance”, mas de uma época anterior ao “Discharge”, e estava guardadinha, esperando o seu momento. Sempre foi uma música de que gostamos muito, mas nunca trabalhamos nela por motivos de tempo. Lembro-me de quando eu a mostrei para o Ben Hur, que gostou para caramba dela, só que já estávamos sem tempo para colocar mais uma canção no balaio para mandar para a gravadora. Com o novo disco, sentimos a onda, e chegou o momento em que percebemos que encaixava, pela temática e pelo peso que tem, pela profundidade, pela esquisitice toda que essa música tem. Ela contrasta com o resto do álbum, mas ainda assim tem o mesmo discurso, e acredito que essa é a magia dela.
Então é por causa da temática e o conceito do álbum. Se fosse para esperar o momento certo, musicalmente falando, quando é que essa música entraria num álbum da Electric Mob? (risos)
Renan: Em um projeto paralelo! (risos)
Ben Hur: No processo de composição, fizemos 20 músicas para 11 entrarem no disco, e apenas uma das 20 nós achamos que não era boa o suficiente. Todas as outras poderiam ter entrado. Há mais duas nessa onda da “WATCH ME (I’m Today’s News)”, mais diferentonas. Tirando a que foi filho renegado, qualquer uma das 19 se encaixariam e conversaram com o álbum de uma forma legal, tanto que, quando fizemos a seleção, ficamos meio que putos olhando as que não foram escolhidas, que não entrariam, falando ‘pô, que bosta que essa aqui não vai entrar’, mas aí olhávamos para o disco e pensávamos ‘mas também não dá para tirar nenhuma dessas!’ (risos). Nós ficamos tranquilos que as músicas se conversem, porque elas foram feitas juntas e, por mais que essa seja meio diferente, as temáticas são parecidas. E é a mesma banda tocando, né?
E por temática, é preciso falar sobre “Saddest Funk Ever”. Primeiro, porque se pode imaginar ser uma música mais triste, e não é. Depois, tem a jogada do refrão e do título, e o que achei mais interessante foi a maneira como a banda abordou os quatro anos de desgraça que vivemos com o ex-presidente, colocando nas entrelinhas em vez de ir mais direto como, por exemplo, o Ratos de Porão em “Necropolítica” (2022) e “Isentön Päunokü” (2023).
Ben Hur: O Renan teve essa ideia, e lembro de quando me mostrou o refrão, e ele pode falar com mais propriedade sobre a abordagem da letra, mas estávamos gravando o videoclipe de “your ghost” quando ele me mostrou o refrão e disse: ‘Cara, eu fiz isso aqui, essa ideia de ser ‘saddest funk ever’’. Aí tocou o refrão, e eu falei: ‘Caralho! Massa para caralho!’. Não lembro o que mais desenvolvemos naquele dia, mas começou assim, e o Renan veio com a ideia dessa letra do que jeito que ela é. Só desgraça, mas com a energia lá em cima! (risos)
Renan: O “2 Make U Cry & Dance” tem letras muito mais realistas do que o “Discharge”, que é uma festa e contação de história. O novo disco tem mais lances de cotidiano e de vida pessoal, é mais introspectivo no lance das letras, e estava acontecendo tanto absurdo na época de pandemia… E desde quando tudo começou, porque era uma sequência de absurdos, e não tinha como ficar inerte, não tinha como ficar parado, então senti que precisava falar alguma coisa. Se não tivesse feito essa música para o Electric Mob, eu teria feito sozinho, guardado e esperado o momento dela. Eu precisava fazer alguma coisa com aquele discurso, só que também não queria pesar o clima total da banda total, porque era uma coisa que estava fazendo mal a todo mundo. Se fosse transformar esse sentimento em música, seria de Type O Negative para baixo, de tanta tristeza (risos). Daí eu tive essa ideia de fazer o funk mais triste do mundo, porque ninguém consegue ficar parado ouvindo funk e, também, dá para dizer coisa relevante dançando. É uma parada não só de protesto, mas de realmente botar o dedo na ferida da galera porque, incrivelmente, o rock no Brasil é uma parada esquisita, né? Cada vez mais pessoas estão se revelando. Como cantamos em inglês, às vezes a galera não pesca a ideia, então é bom falar sempre.
Ben Hur: E também foi a música mais fácil para terminar. Estávamos compondo, eu, André e o Renan, e todas as ideias que tínhamos para “Saddest Funk Ever” encaixavam na hora! O riff…
Renan: Uma sucessão de boas decisões, como diz o Amadeus (de Marchi, produtor)! (risos)
Ben Hur: Normalmente, temos ideias e depois a gente ficamos tipo ‘na hora pareceu uma boa ideia, né?’, mas essa não. Foi uma boa ideia na hora e continuou assim! Mudamos o riff umas três vezes, mas foi somando, porque começava de um jeito, alguém dava um input, e nós mudávamos, até que ficou daquele jeito. Quando começaram as estrofes para o Renan cantar em cima, tudo funcionou, as pontes, como fazer as voltas para os refrões. Foi sempre a primeira ideia a que funcionava, como a de mudar de tom na hora do solo e depois voltar um tom abaixo, depois subir o tom… Cara, foi muito divertido e muito gostoso compor essa música, porque foi um momento sinérgico da banda. Pescamos a ideia da música e conseguimos aplicá-la de uma maneira bem legal.
Renan: E todos os fatos relatados na letra poderiam ser um blues, dado o nível de tristeza, mas escolheu esse lance ‘upbeat’, que eu até falo na letra, do funk justamente para chamar a atenção e fazer as pessoas olharem para a mensagem. E tem rolado. Nos shows da turnê, a música tem sido uma música muito bem recebida.
Ben Hur: E ela é uma cujo tema é antiabsurdos, vamos colocar assim. Tivemos o maior dos absurdos, que foram os últimos quatro anos no Brasil, e essa é a principal temática da banda. O Renan até fala sobre outros absurdos, como Terra plana, mas em resumo é o seguinte: não seja um cuzão! Não seja um arrombado! Se for para cair, vamos cair atirando, por isso não poderia ser um blues. Tinha que ser lá em cima! (risos)
E vamos falar sobre mais algumas músicas. “Thy Kingdom Come”, por exemplo. É impressão minha ou vocês ouviram muito Van Halen quando a compuseram?
Renan: (rindo bastante)! Tem, sim, uma leve influência do Van Halen, mas é tipo um Van Halen com AC/DC do Paraná (risos).
Ben Hur: Com Charlie Daniels, também… Foi uma mistura danada, e uma música que também veio pronta, com a estrofe e o refrão que o Renan já tinha. Depois, fomos só lapidando.
Renan: Inclusive, o Ben Hur odeia o riff dessa música. É muito difícil para ele tocar porque fui eu quem fez, e não sou guitarrista, então às vezes faço coisas sem pensar (risos). Eu estava um dia aleatório, em casa, quando começou a tocar “Beating Around the Bush”, do AC/DC, na rádio, e pensei ‘preciso fazer um riff nessa onda, tipo rockão para cacete, o tempo inteiro lá em cima’, aí peguei o violão e comecei a testar umas paradas do tipo. Mandei para o Ben Hur, que falou ‘cara, isso aí está muito legal. Vamos fazer’. Quando nos juntamos, eu tinha uma melodia de refrão ou pré-refrão, alguma coisa parecida com o que veio a ser a versão final, e começou a dar um bode quando começamos a testar o verso, porque estava indo muito para um lado clichê do rock e a não conseguíamos achar algo coisa interessante, algo que a tornasse diferente de qualquer hard rock que tem por aí. E foi o Ben Hur quem deu a ideia de contarmos uma história: ‘Em vez de cantar, por que você não fala e faz uma história bizarra aí?’. Tomei isso como verdade, e saiu!
O começo de “2 Make U Cry & Dance” é muito forte, com “Sun is Falling”, “Will Shine”, “IT’S GONNA HURT” e “By the Name (nanana)”, músicas que conquistam o ouvinte para ouvir o restante do disco. Mas tem uma que me fez interromper a audição, só que para ouvi-la mais vezes antes de continuar: “4 letters”, que só não é um hit em todo o Brasil porque sabemos como as coisas funcionam no país. Mas vocês chegaram a parar e pensar ‘porra, agora fizemos uma música que…’?
Ben Hur: Primeiro, muito obrigado! Caramba, muito, mas muito obrigado! “4 letters” foi a penúltima música a ser escrita, antes de “IT’S GONNA HURT”, que saiu sob encomenda. Tínhamos 19 faixas para o álbum, e os empresários falaram que “Sun is Falling” ficou bem legal, então perguntaram se conseguiríamos pegar a mesma mentalidade e fazer outra, aí rolou a “IT’S GONNA HURT”. Então, “4 letters” foi a última no processo de composição, mesmo. Estávamos compondo, e o Electric Mob é meio ruim… Meio ruim, não! É que escrevemos uma letra, e eu chego para o Renan e falo ‘olha só que bonitinho isso que eu fiz’…
Espera aí, ‘meio ruim’? Vocês fizeram “your ghost” no primeiro álbum e “4 letters” no segundo, mas são ‘meio ruins’? (risos)
Ben Hur: (rindo bastante) Está bem, e eu agradeço! Digo meio ruim, neste caso, porque não acontece com frequência. Eu nunca chego para o Renan e ‘olha só que bonitinho isso que eu fiz’ (risos).
Renan: É sempre uma porrada! Ele sempre chega com as porradas! (risos)
Ben Hur: Isso, tipo ‘olha essa desgraceira aqui!’, e o Renan responde ‘É! Faz aí essa desgraça! Soca prato de bateria!’ (risos). Estávamos no fim do processo, tínhamos feito uns acampamentos na casa do produtor, e um dia saímos de carro para pegar não lembro o quê. Estava tocando umas músicas mais de boa na rádio, e aí comentamos ‘por que não fazemos umas músicas nessa onda? Está faltando!’ Não havia nenhuma balada no álbum. Já estávamos nos encaminhado para finalizar várias composições e fechar a tampa do caixão, mas pensamos ‘vamos? Sim, vamos!’, e o Renan, que não se aquieta, chegou no outro dia de manhã, quando nos juntamos, catou o violão e disse: ‘Piá, escrevi umas coisas aqui ontem. Escuta aí’. Ele tocou o refrão, e eu falei: ‘Porra, vamos nessa!’ (risos). Há um negócio na banda de que sempre trazemos… Não sempre, mas na maioria das vezes alguém traz um embrião. Normalmente, o Renan traz uma melodia de pré-refrão ou refrão, principalmente, e já tem os acordes-base ali, e assim vamos destrinchando. Se não me engano, o Renan já tinha até as estrofes de “4 letters”…
Renan: … Tinha uma melodia de verso e tinha o refrão.
Ben Hur: E fomos construindo juntos, tendo as ideias, montando a estrutura da música, quando pensamos ‘cara, tinha que meter um baixo meio Dua Lippa’. Seguimos nessa pegada e aí pensamos ‘Ok, vai ter um solo de guitarra. E depois? Que melodia é para fazer?’ O Renan escreveu a letra, nós testamos umas coisas por cima, acertamos mais ou menos a letra, e o Renan disse ‘Ah, cara, eu vou improvisar’. Entendemos a ideia, soltamos a base, e ele começou a cantar em cima, então ficou uma música muito espontânea. Eu fico sem jeito com você elogiando desse jeito, porque a ideia foi ‘vamos fazer uma música um pouco menos porrada?’, e acabou saindo a “4 letters”, que é uma das minhas favoritas no álbum, definitivamente.
Renan: Eu gosto muito dela. Quando terminamos a produção dela, antes de entrarmos para gravar, mandamos para a Frontiers e para os empresários, e eu tinha certeza absoluta de que eles iam falar ‘essa é a música! Vai ser o single.’ No fim das contas, não foi muito bem isso, mas ela continua morando muito forte no meu coração. Gosto muito de “4 letters” porque é diferente do que costumamos fazer. Nunca fazemos nada tradicional, mas temos nosso modus operandi, e o jeito que ele funciona na banda é uma maluquice. Eu realmente gosto muito dessa música e creio que ela é forte candidata a estar presente no repertório do Electric Mob por muitos bons anos.
Ótimo, porque espero ouvi-la novamente no Rio…
Renan: Sim, vai ter!
Ben Hur: Eu a considero a balada do álbum, porque acredito que uma balada tem de falar de tristeza ou de amor, e a mensagem dela é linda, é sobre amor. No primeiro álbum, fizemos uma balada triste (N.R.: “your ghost”), e põe tristeza nisso, então agora falamos de um negócio mais alegre, então ficou a baladinha do álbum.
Aliás, como está o repertório? Na turnê do primeiro disco vocês já não tocavam covers, e agora a banda tem mais material próprio para apresentar. Está difícil montar o setlist?
Renan: Está difícil, sim, e por vários motivos. Difícil porque agora temos mais músicas e queremos tocar mais coisas. Consequentemente, o show está mais longo, e as músicas não são nem um pouco fáceis de cantar (risos). Então, está sendo uma maratona para mim!
Ben Hur: Cara, o Renan olhou para mim depois do primeiro show, logo de manhã, e falou ‘rapaz, está puxado! Mas vamos lá!’ (risos)
Renan: Puxado, mas vamos nessa! Testamos duas vezes o repertório, e algumas coisas já foram adaptadas porque também não sabíamos como o novo repertório iria se portar na frente da galera, como o pessoal ia receber as novas músicas. Temos adaptado algumas coisas, e está sendo bem massa, cara. Estamos felizes para caramba por estar na estrada novamente, com um trabalho novo, e sinto que a galera tem encarado o Electric Mob com um fervor maior, um olhar meio de banda consagrada, o que eu sei que não somos, mas percebo que tem olhado para nós com mais respeito ainda do que na turnê passada, então está sendo muito massa!
Mais cedo, Ben Hur falou que a banda já está pensando no próximo álbum. Considerando o ciclo de dois anos, será apenas em 2025, então? E um disco ao vivo propriamente lançado?
Ben Hur: Ainda não temos nada concreto. Por contrato, temos de lançar um álbum a cada dois anos, e o “2 Make U Cry & Dance” era para ter saído em outubro de 2022, mas aí rolaram burocracias, houve outros lançamentos da Frontiers, e às vezes nós mesmos fazemos alguns ajustes de última hora. Assim, acabou saindo em janeiro de 2023, então foram três anos desde o “Discharge”. A princípio, um novo álbum seria para 2025, mas estamos numa de que é problema para a Electric Mob do futuro, porque agora estamos focados na turnê. Tem o vídeo do “Better Live Than Never”, que lançamos no YouTube, mas não nos imagino fazendo um registro ao vivo do “2 Make U Cry & Dance”, pelo menos não agora. A não ser que isso faça sentido daqui a um ano, para fazer um elo entre lançamentos, mas indo para a parte do business, não do fã, é caro fazer algo assim. Precisa fazer sentido, e talvez faça mais sentido depois do próximo álbum, mesmo, e investir em vídeo desse material. Estou só pensando alto aqui, mas o plano concreto é focar na turnê.
E turnê lá fora? Como estão os planos para finalmente tocar no exterior?
Renan: Cara, esse plano está acontecendo desde 2020! Está sendo canetado desde então, mas sempre sofremos com alguma coisa, sempre tem alguma coisa que nos impede, e primeiro foi a pandemia. Na época do lançamento do “Discharge”, a gravadora entrou em contato conosco dizendo que tinha uma agência alemã, se não me engano, que estava interessada em produzir algumas coisas com a banda na Europa, mas não rolou por causa da pandemia. Aí, depois disso tudo, começamos a desenhar uma ida aos Estados Unidos, que foi impedida por questão burocrática de documentação. Mas temos as portas abertas em ambos, Europa e Estados Unidos. A Frontiers fica na Europa, e nossos empresários, nos EUA, então temos entrada nos dois lugares, mas o problema é justamente o que não é da nossa alçada, que é a documentação. Já estamos em modo de resolver isso para chegar lá o mais rápido possível, e o plano é ano que vem, se tudo der certo.
Para terminar, como é que vocês têm sentido a resposta dos fãs ao novo álbum?
Ben Hur: Eu até agora não encontrei ninguém… Bom, não é que não tenha alguém, mas é difícil alguém chegar, olhar para a sua cara e falar ‘olha, está uma bosta, hein? O primeiro álbum ficou melhor’ (risos). Posso estar iludido, mas sinto sinceridade no olhar, nas palavras, nos textos, e todo mundo falou que o segundo disco é ainda melhor do que o primeiro. Tem uma evolução, está mais conciso, está mais radiofônico, a produção está mais efetiva, o álbum está mais legal. Essa receptividade é algo que nos deixa felizes para caralho. Talvez no nosso inconsciente tenha um pouco de pressão, mas não fizemos no desespero tipo ‘nossa, esse álbum tem que ser melhor!’, porque já sabíamos que tínhamos de trabalhar para isso. E do mesmo jeito que as composições foram naturais, o fato de o pessoal estar achando melhor também veio de forma natural da nossa parte. Isso é legal demais e dá confiança também para um terceiro álbum, confiança de que estamos no caminho certo. Se saíram coisas legais das duas vezes que nos sentamos para compor, vamos ter de errar muito para não sair numa terceira! (risos) E nem tudo são flores, porque saímos do zero com o “Discharge”, realmente como uma novidade, para o pessoal nos conhecer. Não estou dizendo que explodimos ou algo parecido, porque sabemos o que é explodir, mas é que conseguiu ir para frente. Não demos passo para trás e não estamos patinando. Talvez não com a mesma velocidade que foi sair de zero a cem, mas ainda estamos acelerando numa crescente um pouco menor exatamente porque fomos de zero a cem, e agora, para ir de cem a 200, rapaz… (risos) Mas estamos indo para frente. Sinto isso.
Renan: Eu tenho total certeza de que o futuro será absolutamente cada vez mais interessante. Estamos vindo numa crescente, mesmo, e lógico que o primeiro ‘boom’ foi muito grande, mas agora temos trabalhado cada vez mais para crescer e continuar relevante para as pessoas que gostam de rock, que gostam de boa música, e não apenas para o mercado.
Vamos para aquele quadrinho da revista com os cinco melhores álbuns de cada um. Quais são?
Ben Hur: Tenho alguns consagrados, e quatro para mim são fáceis. “Appetite for Destruction”, do Guns n’ Roses, e isso não tem como esconder. É só olhar na minha cara para falar ‘olha aí um fã do Guns!’ (risos). “These Days”, do Bon Jovi… Inclusive, eu e Renan assistimos juntos ao episódio do Resenhando sobre a discografia do Bon Jovi, e ficamos de cara porque sei esse disco é o preferido do Renan, mas todo mundo no Resenhando cagou para o “These Days”! (risos) Esse álbum é incrível! Pau no cu do “Slippery When Wet”! (gargalhadas) Para mim, como relevância na história do Bon Jovi, o “These Days” realmente pegou a fase de ouro do Bon Jovi. É um disco que ouço até hoje quando estou triste (risos). “Slave to the Grind”, do Skid Row, é, para mim, a definição de rock’n’roll soco na cara, um álbum simplesmente absurdo. “Texas Flood”, do Stevie Ray Vaughan, e apesar de achar que hoje ele seria lado C no mundo mainstream, se você pegar alguém que mal sabe o que é Led Zeppelin e botá-lo para ouvir Stevie Ray Vaughan, esse alguém vai gostar. Não tem como não achar bom. Não tenho um imediato na cabeça para o quinto lugar, mas tenho ouvido muito o “Impera”, do Ghost, o disco que mais me cativou no último ano, mas essa posição é rotativa (risos).
Renan: Valeu, pessoal! Obrigado! (risos) Vou falar os que me vem à cabeça, mas daqui a meia hora eu vou lembrar de outros cinco, com certeza. “Holy Diver”, do DIO, um álbum muito importante para mim e que é perfeito do começo ao fim. Só tem porrada, e o bicho pega: é uma aula de voz e de riffs. Todos do KISS (risos), porque não consigo escolher apenas um… Bom, hoje vou falar que o “Rock and Roll Over” é um dos meus favoritos, mas poderia ser também o “Dressed to Kill”, o “Love Gun”, o “Alive II”. Tem o “Powerlsave”, do Iron Maiden, e o quarto do Led Zeppelin…
Ben Hur: … E o Whitesnake?
Renan: Cara, é foda! Porque Whitesnake é igual KISS e Iron Maiden para mim. Poderia escolher vários álbuns, mas acho que, talvez… Bom, talvez o “Slide it in”.
Obrigado por mais esse papo, rapaziada. E o espaço final é todo de vocês para acrescentarem o que quiser, mandar um recado para quem está lendo…
Ben Hur: Eu digo que se você está aqui, você é massa! Porque, hoje em dia, sentimos muito isso no rock: a cabeça fechada, o cara diz que escuta rock, mas que, na verdade, ouve aquelas três ou quatro bandas que conheceu e gostou quando era mais novo, então as repete. Eu não consigo! Quando escuto músicas que escutava bastante, anos atrás, eu falo ‘nossa, há quanto tempo eu não ouvia isso! É muito massa!’, mas não me vejo escutando essas coisas o tempo todo. Não digo que esse é o jeito certo de escutar música, só estou falando que se você é roqueiro, se você gosta do estilo e está aqui, e nem digo pelo Electric Mob, mas por estar consumindo e ainda acompanhando de cabeça aberta o estilo, isso é muito massa. Você é gente que soma. Ao fechar sua cabeça para certos estilos musicais, especialmente aqueles aos quais você se diz pertencente, você não soma. Na verdade, você exclui, se fecha para as coisas, e o rock nunca foi para excluir. Foi para agregar. Você nunca vai ouvir um cara que escuta sertanejo falar ‘esse Luan Santana é uma merda, eu só gosto só de Jorge & Matheus’, e olha que eu falei sobre uns caras clássicos! (risos) Muito obrigado, mesmo. Vocês são fodas! São vocês que mantêm o rock vivo, e espero que tenha um espacinho no coração de vocês e na playlist para o Electric Mob.
Renan: É isso aí, rapaziada! Muito obrigado por tudo, sempre. Muito obrigado por fazerem da minha vida essa doideira que eu amo tanto! Sou muito feliz trabalhando com o que trabalho, muito feliz com a minha banda, então muito obrigado pelo apoio e carinho com o Electric Mob. Estamos juntos demais, e nos encontramos em qualquer canto por aí!
Ben Hur: E um beijo especial para você, né, Dutra? Um cara que quem me apresentou foi o Renan, que já era fã para caramba antes de lançarmos lançar o primeiro álbum, e acredito que falamos isso em alguma outra entrevista, no Resenhando. No começo, conversamos com o Tarcísio (Chagas, assessor) que tínhamos isso entre nós: canais que gostaríamos de entrar e que nos conhecessem, e colocamos o Resenhando na lista porque seria incrível. Hoje, estamos aqui trocando essa ideia. Temos esse carinho desde 2020, então é algo incrível para nós. Estou falando do Dutra por causa do Resenhando, mas estamos na ROADIE CREW, também! Lembro-me de quando eu era criança, e acredito que o Renan até mais do que eu, porque ele foi muito mais metaleiro do que eu, porque a ROADIE CREW é o ápice, de olhar a revista e falar ‘caralho, eu queria muito estar aqui!’
Renan: Eu conheci muitas bandas por causa da revista!
Ben Hur: Ter resenha dos nossos discos na revista impressa, ter entrevista no site… É algo surreal. Se falassem para o Ben Hur e para o Renan de 13 ou 14 anos que isso um dia iria acontecer, eles falariam ‘caralho, que massa!’ Então, muito obrigado pelo espaço!