Desalmado, Circus e Gangrena Gasosa
Por Daniel Agapito
Fotos: Eddie Junior
No dia 17 de novembro, uma sexta-feira, São Paulo experimentou mais um dia escaldante, com temperaturas matinais atingindo 36,5 graus em áreas próximas ao Hangar 110, palco do primeiro Encruzapalooza. Apesar dos 28 graus por volta das 20h, o evento conseguiu atrair um público considerável para o histórico Hangar 110. O festival apresentou três bandas de renome no underground: o quinteto de grindcore paulistano Desalmado, o grupo carioca de rock/hardcore Circus, e os pioneiros do “sarava metal”, Gangrena Gasosa. O público era diversificado, incluindo punks, entusiastas de metal extremo e “macumbangers”. Apesar disso, os ingressos quase se esgotaram, indicando uma alta expectativa de energia nos shows.
O Desalmado subiu ao palco por volta das 20h, quando a casa ainda estava predominantemente vazia. No entanto, o público presente estava entusiasmado, participando ativamente com cabeçadas e rodas punk. A atmosfera em locais menores geralmente permanece elevada, facilitada pela proximidade com a banda e a sensação de irmandade entre todos, incluindo os membros das bandas, que pareciam felizes.
A performance durou cerca de 40 minutos, exibindo bem o repertório da banda. A recepção calorosa indicou uma boa qualidade sonora, com todos os instrumentos nitidamente audíveis. Infelizmente, problemas sonoros inesperados se tornariam comuns ao longo da noite.
Após o show, os membros da banda tiveram que deixar rapidamente o espaço do merchandising, pois tinham outro compromisso no Armageddon Metal Fest em Joinville no dia seguinte, ao lado de nomes como Angra, Dorsal Atlântica e Abbath.
Com a apresentação dos cariocas do Circus, o Hangar 110 estava mais cheio. Musicalmente discrepante do Desalmado, o Circus apresentou um estilo mais voltado para o hardcore melódico, com nuances de nu-metal e emo. No entanto, o público, agora consideravelmente maior, permanecia animado, com uma roda punk quase constante.
Essa animação era evidente nos cinco membros da banda, especialmente no vocalista Bernardo Tavares, que se destacou pelo entusiasmo, interagindo intensamente com os fãs. As letras abordavam temas sensíveis, como saúde mental, e o repertório variava entre músicas agressivas, introspectivas e melancólicas. A banda elogiou a casa de shows e o público, destacando a grande presença naquela sexta-feira.
Durante a última música, “O Ciclo”, Tavares incentivou uma roda punk, participando dela brevemente. Após um curto período, voltou ao palco, mas a roda persistiu. Apesar de alguns problemas sonoros, a banda continuou tocando.
Com o Gangrena Gasosa, a casa estava praticamente lotada. Quando subiram ao palco, uma vinheta falhou, resultando em uma entrada improvisada e bem-humorada. Devido ao grande número de membros, a banda mal coube no palco, mas souberam aproveitar o espaço.
Desde a primeira música, “Rei do Cemitério”, os espectadores estavam entusiasmados, criando uma atmosfera elétrica. Durante a primeira música, dois fãs pularam do palco, enfatizando o entusiasmo geral. Houve até uma “wall of death” durante a música “Black Velho”. A presença de palco do Gangrena Gasosa era notável, transformando o Hangar 110 em uma grande festa.
Durante “Gente Ruim”, o guitarrista Minoru Murakami teve problemas, mas a banda lidou profissionalmente, continuando a apresentação. O público foi encorajado a participar ativamente, inclusive subindo ao palco durante “Devorador é o Diabo”. A temperatura elevada levou Murakami a remover sua máscara característica.
Pequenos problemas sonoros persistiram, mas a banda lidou com eles de maneira profissional. O show terminou com “Centro do Pica-Pau Amarelo” e “O Saci”, incluindo uma chuva de pipoca no público. Apesar do anúncio de encerramento, a banda voltou para um bis, tocando “Se Deus é 10, Satanás é 666”. A energia permaneceu alta do início ao fim.
Mesmo com pouco espaço, todas as bandas animaram o público no histórico Hangar 110. Os problemas sonoros foram minimizados pelo clima positivo e pela energia contagiante. Parece seguro dizer que São Paulo receberia outra edição do Encruzapalooza de braços abertos.
Setlist Desalmado:
1. Mass Mental Devolution
2. Hidra
3. Unity
4. Preço da Liberdade
5. Esmague os Fascistas
6. O Pavor do Estado
7. Across the Land
8. Your God, Your Dictator
9. Bridges to a New Dawn
10. Privilege Walls
Setlist Circus:
1. O Plano
2. Aprisionado
3. Abstrações
4. Contra Cena
5. Norte da Linha
6. Tempestade
7. Não Volta Mais
8. Sem Expectativas
9. Cidadão do Bem
10. O Ciclo
Setlist Gangrena Gasosa:
1. Rei do Cemitério
2. Encosto
3. Surf Iemanjá
4. Black Velho
5. Gente Ruim
6. Kizila
7. Devorador é o Diabo
8. Chuta Que é Macumba
9. Quem Gosta de Iron Maiden Também Gosta de KLB
10. Boteco Teco
11. Terreiro do Desmanche
12. Cambonos From Hell
13. Matou a Galinha e Foi ao Cinema
14. Afirma Seu Ponto
15. Headbanger Voice
16. Darkside
17. Artimanhas de Catiço
18. Headboomer
19. Farda Preta de Caveira
20. Eu Não Entendi Matrix
21. Fiscal de Cu
22. A Supervia Deseja a Todos Uma Boa Viagem
23. Centro do Pica-Pau Amarelo
24. O Saci
25. Se Deus é 10, Satanás é 666
