Por Gustavo Maiato
Fruto da nova safra do thrash metal americano, o Enforced traz no seu DNA os genes da praticidade, intuição e velocidade. Prova disso é o formidável poder de síntese que reina desde “Kill Grid”, primeiro registro do quinteto formado por Knox Colby (vocal), Will Wagstaff e Zach Monahan (guitarras), Ethan Gensurowsky (baixo) e Alex Bishop (bateria). Mais à vontade e sem abrir mão de riffs pesados e breakdowns, “War Remains” soa como uma evolução natural e Colby dá mais detalhes a seguir.
As letras de “War Remains” apresentam algum tema que as conecta ou funcionam de maneira independente?
Knox Colby: Elas são conectadas de forma sutil. Existe um tema que passa por todas. Por exemplo, elas tratam da questão dos opostos. Existem luz e escuridão; vida e morte; amor e ódio; esperança e pesar. Esses sentimentos são conectados e não são opostos da maneira que pensamos. Você não pode ter um sem que o outro exista. Acho que os assuntos das letras acabam se costurando. Dá para sacar pontos relevantes que aparecem mais de uma vez. É como se fosse uma música gigante.
O disco inteiro tem pouco mais de trinta minutos. Quais os desafios ao compor músicas e passar mensagens de forma tão rápida?
Knox: Os desafios são basicamente editar as letras para todas as músicas. Originalmente, havia muito mais versos. Esse é um problema que tivemos no nosso álbum anterior, “Kill Grid”. Eu acabo escrevendo muitas palavras e tento colocar o máximo de conteúdo possível. Não funciona dessa forma. Agora, em “War Remains”, já selecionei os trechos específicos em que desejava ter linhas vocais e decidi resumir o que eu queria expressar dentro de quatro linhas no máximo! (risos) Eu tinha apenas quatro versos e quatro parágrafos para dar meu recado e isso é muito difícil. Consegui em alguns trechos, em outros acho que nem tanto. No geral, fiquei satisfeito com o resultado.
Qual foi a música mais difícil de compor?
Knox: A produção do disco foi tranquila. A mais difícil acho que foi “Mercy Killing Fields”…
Essa tem um refrão excelente!
Knox: Obrigado! Esse refrão quase não existiu. Quando chegamos ao estúdio para gravar, pensamos que deveríamos mudar algumas coisas na música. Todos gravaram e acabou mudando muito da versão original. Achei que não poderia aproveitar nada que eu havia composto. Não contribuo muito com a parte musical – minhas ideias não costumam ser muito boas –, só que dessa vez precisei lutar para manter a estrutura antiga. O conteúdo dessa letra é muito especial para mim. O caminho que estava tomando iria arruinar o refrão e transformá-lo em algo completamente diferente. Foi a única vez em que bati o pé, sabe? Eles disseram que tudo bem. Então, gravamos e todos perceberam o porquê de eu querer manter o refrão. Fez todo sentido. Não gosto desse tipo de confronto, sabe? Mas dessa vez eu precisei me impor! (risos).
“The Quickening” tem um breakdown muito bem encaixado. Como surgiu a inspiração para essa música?
Knox: Nossos dois guitarristas Zach Monahan e Will Wagstaff e nosso baterista Alex Bishop compuseram essa. Acho que é a favorita do Alex! Quando gravamos, ele veio com essa proposta de velocidade que funcionou bem! Ficou melhor do que eu esperava. Temos um amigo, que é nosso fotógrafo, que chegou a ouvi-la nos estágios iniciais. Lembro dele falando: ‘Essa música é foda demais!’ (risos) Percebemos que ia ser uma canção boa. Estamos cada vez mais apostando na agressividade e na velocidade.
“Ultra-Violence” foi o primeiro single. Por que essa escolha?
Knox: Decidimos lançar vários singles com videoclipes, mas “Ultra-Violence” foi o primeiro. Apostamos nela porque tem velocidade e agressividade, mas é muito simples. Ela resume essa simplicidade na hora de escrever e mostra em apenas dois minutos como queremos ser vistos enquanto banda. Você pisca o olho e a música acaba. Então, você fica com vontade de escutar novamente e novamente! Mostrei para alguns amigos e eles ficaram tentando descobrir como o resto do álbum soaria. É tipo como desvendar um quebra-cabeça. É um jogo de sorte, as pessoas podem curtir e se interessar ou não. O feedback que estamos recebendo é ótimo.
Qual foi o papel do produtor Ricky Olson em “War Remains”? De que maneira a sonoridade foi afetada pelo trabalho dele?
Knox: A contribuição do Ricky foi determinante. Se fosse outra pessoa, nosso álbum seria completamente diferente. Ele ouve nossas sugestões, mas também faz um jogo mental. Tipo: ‘Vocês não vão me ouvir? Tem certeza? Então faz aí para eu ver.’ Ele mostra que a maneira dele é realmente boa e nós confiamos nisso. Depois, sempre percebemos que ele estava certo. Ele tem um jeito bastante autêntico. Tipo, se a música está com um errinho ou outro, quem se importa? A música é ótima do jeito que é. Não precisa ser perfeita, sabe? Isso é algo bom de trabalhar com ele. Apenas deixe dessa forma e vamos resolver o problema seguinte. Em algumas músicas, ele tinha esse espírito de acelerar para finalizar. Acho que ele entendeu onde queríamos chegar. Se um take que fazíamos estava bom, nós o aproveitávamos e pronto. Não rola ficar pensando muito. Se minha voz falhava por um segundo, quem se importaria, certo? (risos) Ele falava esse tipo de coisa e nós comprávamos a ideia. Ele nos deixou nesse fluxo de fazer acontecer e não nos deu tempo de ficar pensando demais, o que foi ótimo.
A arte da capa mostra um rosto com expressão de grito ou dor. De que forma esse conceito dialoga com as músicas?
Knox: Joe Petagno fez a arte da capa ainda em 2021. Quando pensamos em compor um novo álbum, ainda não tínhamos falado com ninguém a respeito e Joe me enviou um e-mail me perguntando o que eu iria querer para o próximo disco. Eu nem havia falado sobre isso com ele! Bom, falei que não tinha nem começado a escrever as letras. Tinha algumas ideias e conceitos, mas nada organizado. Ele me disse para enviar ideias, pensamentos e qualquer rascunho que eu tivesse. Fiz isso e comecei a enviar pensamentos aleatórios que eu tinha. Meses depois, ele me enviou um rascunho do que seria a capa do novo álbum. Olhei aquilo e pensei: ‘Isso é insano!’ Quanto mais olhava, mais eu via que era perturbador. Pensei: ‘Isso veio da minha cabeça!’ Eram minhas palavras influenciando a mão dele. Foi a forma que ele interpretou minha mente. Foi algo repugnante, né? (risos) Pessoalmente, fiquei me questionando: ‘Será que é assim que é o interior da minha mente?’ Não é nada bom! Com o tempo, gravamos o álbum e percebemos que aquela arte se encaixava perfeitamente no que eu escrevia. Nós somos farinhas do mesmo saco.
Quais foram as principais diferenças na hora de compor e gravar o novo álbum “War Remains” e o anterior “Kill Grid”?
Knox: Ele é mais ambicioso, agressivo e menor. Ele é doze minutos mais curto, mas são mais músicas no total. Nós nos sentimos mais confortáveis no estúdio desta vez. Foi menos estressante. Claro que tem o fato de ser um álbum lançado por uma grande gravadora e tivemos que gravar entre duas turnês, mas deu tudo certo. De maneira geral, foi muito mais fácil e muito menos estressante que “Kill Grid”.
Qual o segredo da sua técnica vocal? Você fez um baita trabalho no disco! Como você cuida da sua voz?
Knox: O segredo é não cuidar da voz! (risos) Não faço absolutamente nada! Na primeira sessão de gravação, fiz exercícios de aquecimento vocal para gravar duas músicas. O que aconteceu? Acabei com minha voz! No contexto do disco, isso foi quanto tempo? Depois de cinco minutos! Minha voz acabou. Achei aquilo inaceitável. Não consegui fazer duas músicas. Resolvi não me preocupar mais com aquecimento nem técnica. Não fiz nada. Só cheguei e pensei onde queria que minha voz estivesse. Em certos pontos, tornei mais agressiva; em outros, mais flexível. E foi basicamente isso. Acho que minha voz está melhor neste álbum porque estávamos no meio de uma turnê. Eu estava aquecido de certa forma. Quando você grava por mais tempo, tudo começa a ficar mais fácil. Os músculos relacionados ficam melhores. Todo o processo de gravação dos vocais levou três dias. Tentei ser consistente e não mudar minha voz de um dia para o outro. Estou dando o pior conselho de todos, né? (risos) Tipo, não se dê tempo para relaxar, senão você perde tudo. É um conselho terrível, mas é assim que funciona comigo. Nunca aqueço, apenas subo no palco ou entro no estúdio e grito até minha cabeça explodir. Isso nunca mudou.
“Malignance”, de “Kill Grid”, já pode ser considerada um clássico do Enforced! Quais memórias você tem dessa composição?
Knox: Cara, não faço a mínima ideia do motivo pelo qual ela estourou tanto! Essa nem era a principal música do disco, está no meio do tracklist. Nunca pensamos que seria um grande sucesso. Quando começamos aqueles acordes abertos, vimos nos shows a galera gritando de volta. Ficamos tipo: ‘Sério? Essa música?’ (risos) Você nunca sabe realmente o que será um sucesso. Agora, em “War Remains” acho que temos uma ideia melhor de quais músicas podem se tornar sucesso. Mostramos nossas músicas para a gravadora e nossa assessoria, e cada um tem sua música favorita. É bem difícil! Qualquer uma pode se tornar a nova “Malignance”. Não dá para saber até tocarmos ao vivo e ver a reação da galera.
Você tem planos para vir ao Brasil?
Knox: Já recebemos duas ofertas, mas ainda não conseguimos encaixar na nossa agenda. Estamos analisando tudo. Adoraria visitar a América Latina e fazer uma turnê de umas três semanas. Nunca tocamos aí e seria bem legal. Devagar estamos vendo as possibilidades.
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