O último sábado de fevereiro fervilhou em São Paulo para o público de Rock e Metal em termos de shows internacionais. No estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi, o Rolling Stones fazia o segundo e último show de sua “Olé Tour 2016” pela capital. Enquanto isso, a Clash Club recebia a lendária banda de Death Metal inglesa Cancer, que pela primeira vez pisava no Brasil, para data única. Já o Inferno Club abriu espaço para o Enforcer que retornava ao país pela segunda vez para outra extensa turnê, assim como aconteceu em 2013. E a ROADIE CREW esteve presente não somente para conferir a apresentação dos suecos, como também das bandas que fariam o ‘opening act’, no caso, Axecuter, Guerreiros Headbangers, Harppia e Zumbis do Espaço.
Era modesta a fila que se formava na porta do local até as 17h, horário marcado para o começo do evento, e de vez em quando os integrantes do Enforcer apareciam do lado de fora e atendiam alguns fãs para fotos e autógrafos. Só que o ‘soundcheck’ atrasou e somente às 18h30 a primeira banda pôde entrar em cena. Diretamente de Curitiba (PR), o Axecuter, que tinha feito a abertura para o Enforcer em sua cidade e também em Sorocaba (SP) na noite anterior, surgiu no palco usando dois painéis laterais, sendo apresentado pelo vocalista e guitarrista Danmented, que alertou que o grupo iria mostrar o “verdadeiro Heavy Metal Tradicional”, antes de anunciar a primeira do set, “Raise The Axe”. Esta música em estúdio contou com a participação de Mantas e The Demoliton Man, ambos ex-integrantes do Venom. Mas o que o público pôde conferir é que o power trio paranaense, que é completado por Rascal (baixo) e Vigo (bateria), não só tem o mais puro Heavy Metal oitentista em suas veias, como também o Speed Metal alemão. Com pouco mais de cinco anos de existência, o Axecuter conta com um ‘full lenght’, três EPs e um split, dividido recentemente com a banda Hellstorm, da Malásia. Dando sequência ao show, foi a vez da música que nomeia o ‘debut’ de 2013, “Metal Is Invincible”. Veloz e com um refrão contagiante, o qual era dividido entre Danmented e Rascal, essa foi uma das melhores.
Danmented chamava a atenção não só pelos seus riffs vigorosos e solos cortantes, como também por sua voz bastante grave e imponente na hora de se comunicar com o público. O vocalista falou um pouco sobre a temática abordada na próxima, “In For The Kill”. A música fará parte do novo material da banda e contém um verso hilário que diz: “Corote we hail!”. Nessa, o som do baixo de Rascal foi corrigido ao ser aumentado. Infelizmente, devido ao atraso no cronograma do evento, Danmented antecipou que teriam que cortar “No God, No Devil (Worship Metal!)”, que seria a última, do repertório. Sendo assim, anunciou “Bangers Prevail”, dedicando-a aos headbangers que estavam no local prestigiando a banda, dizendo que sem eles não haveria sentido nem do Axecuter e muito menos do Enforcer, que veio de muito mais longe, estar ali. O show acabou sendo curto, mas o grupo conseguiu agradar com músicas honestas, um visual digno de sua proposta e refrãos de fácil assimilação que fizeram com que mesmo quem não conhecesse as músicas, os cantasse.
Não demorou muito e logo o Guerreiros Headbangers, de Osasco (SP), já estava no palco com os experientes Jhair Tormentor (vocal, Funeral Putrid, ex-Mausoleum e Lethal Curse), Márcio (guitarra), Reinaldo S. Steel (baixo, ex-baterista do Power From Hell) e Bruno (bateria, Throne e Malediction), mandando seu Death/Black Metal old school composto em português, com uma sonoridade altamente influenciada por nomes pioneiros como Venom, Hellhammer, Sarcófago, Bathory e por aí vai. A abertura se deu com “União Metal Brasil”, que deixou clara a rispidez e a velocidade com que o grupo apresenta suas músicas ao vivo. O microfone de Tormentor parecia estar com bastante reverb e isso revertia em um clima que lembrava muito o das audições dos antigos vinis de bandas brasileiras do gênero, como Vulcano, Sarcófago, Sepultura (dos primórdios) e afins. Falando em Tormentor, o vocalista possui uma presença de palco muito boa, cheia de gestuais, além de um vocal rasgado, que o tornam o tipo de ‘frontman’ ideal para o gênero.
O grupo baseou seu repertório em músicas que fazem parte de sua demo “Metal Ideologia De Vida” (2015) – único material lançado até o momento -, com outras inéditas que farão parte do EP de estreia, “Sombras Da Morte”, que está previsto para ser lançado durante o mês de maio. Sendo assim, pedradas como “De Corpo E Alma”, “Sombras Da Morte”, “Guerreiros Headbangers” e “Corpos Nus Entregues Á Orgia”, foram muito bem aceitas pelo público. O tempo era curto, mas antes de o coeso e entrosado quarteto encerrar sua participação, Jhair Tormentor discursou dizendo: “Nosso som vai contra tudo e contra todos que são opostos ao Metal”. Essa foi a deixa para apresentar a música “Metal Ideologia De Vida” e com essa mensagem o grupo cumpriu sua missão na noite. Simplesmente brutal o show dos caras!
Entre as bandas de abertura, as mais aguardadas pelo público eram as duas seguintes, Harppia e Zumbis Do Espaço, justamente os dois nomes mais veteranos de todo o evento, mais até do que a própria atração estrangeira. Principalmente o Harppia, que às 19h45 tomou conta do local com o ilustre baterista Tibério Corrêa – único remanescente da formação original -, e seus companheiros, o baixista Nando Simões, a guitarrista Aya Maki e o vocalista Eric Bruce. A banda começou seu set com uma introdução instrumental, que logo foi seguida por “Profecia”, só que, infelizmente, falhas no microfone de Eric que estava muito baixo e também na guitarra de Aya, logo começaram a dar as caras. Em “Náufrago” o vocal melhorou, mas o som da guitarra simplesmente sumia a todo instante, e isso causava certa irritação nos músicos, que não conseguiam disfarçar o semblante. Mesmo assim, compreendendo a situação, o público se empolgava com cada música executada. Algumas delas farão parte do novo disco do Harppia, sendo que “Black Angel” pareceu ser uma das mais legais, soando como uma espécie de ‘power ballad’.
O carismático Eric disse que era hora de voltar no tempo, o que por si só, fez com que os fãs ficassem eufóricos, mas não menos do que quando começaram os acordes de “A Ferro E Fogo”, música do histórico e homônimo EP de estreia, lançado em 1985. Na arrastada e pesada “Black Joe” novamente a guitarra da caristmática Aya voltou a sumir. Depois, foi a vez de relembrar o ano de 1987, mais precisamente do álbum “7”, e então veio “Na Calada Da Noite” e, a partir daí, finalmente o som melhorou. Para muita gente, estava sendo especial ver o show do Harppia, principalmente pelo fato de poder conferir o renomado ‘luthier’ Tibério Corrêa atrás dos tambores, mas vale destacar o talento vocal de Eric Bruce e a pegada de Nando.
Logicamente, a banda não poderia deixar o palco sem antes executar a sua música mais esperada, a imortal “Salém (A Cidade Das Bruxas)”, e foi ela a responsável pelo ‘grand finale’. Após tanto tempo sem um álbum inédito, algumas das músicas que foram tocadas nesta noite deixaram alguns fãs ansiosos pelo novo material que está por vir.
Após cerca de 20 minutos para arrumação do palco, o Zumbis do Espaço deu as caras pouco antes das 21h, substituindo o clima sério do Metal das bandas antecessoras, com seu Horror Punk de humor sarcástico e trevoso, que diverte seus fãs há duas décadas. Inclusive, o grupo estava aproveitando a ocasião para lançar a coletânea “Der Triumph Des Horrors”, que celebra esses seus vinte anos. O início com “Dia Dos Mortos” agitou o Inferno, literalmente. A fórmula da banda é similar a do Misfits, ou seja, poucos e simples acordes, porém, pegajosos, e também vocais de apoio que levantam qualquer defunto de tanto que empolgam. Os integrantes originais Tor (vocal) e o baterista Zumbilly, hoje contam com Rafael “Manialcöol” Romanelli (LeatherFaces) na guitarra, que no show evidenciou que sua experiência no Thrash Metal deu uma pegada a mais para o som do Zumbis, fora a sua importante colaboração nos backing vocals. E quem completou o time foi o roadie da banda e colega de Romanelli no Leatherfaces, Giovanni Soares, já que o baixista da banda, Gargoyle (também original), estava acometido pelo indesejável Zika Virus. Por conhecer a fundo as músicas, Giovanni tocou o repertório com precisão.
Com o público nas mãos do começo ao fim, o quarteto mandou uma trinca na sequência que foi aumentando o clima de diversão, até que, a partir de “Caminhando e Matando”, alguns não se contiveram e partiram para o ‘stage diving’. Como o som da casa não estava aquela maravilha, durante o set do Zumbis, por vezes o vocal de Tor ficava mais baixo do que os backings de Rafael. Mas a banda ia compensando com uma apresentação impecável. Um dos melhores momentos foi quando Tor anunciou uma das mais comemoradas pelos fãs, dedicando-a a eles: “Essa é para todos vocês que assinam ‘A Marca Dos Três Noves Invertidos’”.
Daí para frente, músicas como “Espancar E Matar”, “Satan Chegou”, entre outras, não deixaram o clima esfriar, muito pelo contrário. Antes de o Zumbis finalizar a sua apresentação, Tor comentou sobre o novo disco que está sendo produzido por Rafael Augusto Lopes (Imminent Attack, ex-Torture Squad) e que será lançado estrategicamente no dia 06 de junho de 2016 (sacou a intenção?), sob o título de “Em Uma Missão De Satanás”, e aí então anunciou o término do show com “O Mal Nunca Morre”.
Passados os quarenta minutos do show do Zumbis do Espaço, houve bastante demora para o início do Enforcer, e isso passou a preocupar muita gente, já que a casa deveria ser entregue, a princípio, às 22h30, devido a balada que aconteceria a seguir. A “From Beyond Tour” já havia passado por Curitiba (PR) e Sorocaba (SP), e após a realização desse show, seguiria, respectivamente, para São Luís (MA), Belém (PA), Teresina (PI), Fortaleza (CE) e, por fim, Guarabira (PB). Finalmente, após meia hora de espera, o som ambiente da casa que rolava “Diamonds And Rust” do Judas Priest foi cortado pelo meio, sendo substituída pela introdução mecânica do Enforcer, que tomou o palco de assalto com “Destroyer”, música que também abre o seu quarto e mais recente álbum de estúdio, “From Beyond” (2015). A demora foi muita para o início do show, mas pelo menos foi compensada pela boa qualidade de som. Enquanto Jonas Wikstrand se encarregava da velocidade lá atrás, a linha de frente composta por seu irmão mais velho Olof Wikstrand (vocal e guitarra), Joseph Tholl (guitarra) e Tobias Lindqvist (baixo) exercia uma ótima e entrosada movimentação de palco, com todos trocando de lugares o tempo todo, mostrando bastante energia em cena. Sabendo do atraso, a banda não perdeu tempo e mandou mais uma nova, “Undying Evil”, que foi seguida por algumas dos dois álbuns antecessores, “Death By Fire” (2013) e “Diamonds” (2010). Na primeira pausa, Olof comemorou com o público: “Vocês são selvagens, e é por isso que nós amamos vocês!”. Quando a banda começou a tocar a música título de seu novo álbum, Tobias não estava presente devido a algum problema em seu baixo, retornando no decorrer para afiná-lo, voltando a tocar quase no final da música.
Como surpresa, Olof deixou o microfone para que Tholl assumisse o vocal principal no cover do Venom para “Countess Bathory”. Já em “Scream Of The Savage”, justamente a única que foi tocada do álbum de estreia, “Into The Night” (2008), foi a vez de Olof ter problemas quando uma das cordas de sua guitarra arrebentou, mas tudo foi resolvido com uma simples troca de guitarra. Após tocarem “Below The Slumber”, Olof, Tholl e Tobias deixaram Jonas sozinho para um breve solo de bateria, com direito a um pequeno tropeço em uma das viradas, que passou despercebido da maioria das pessoas. Com todos de volta, foi a vez dos bumbos duplos acelerados de Jonas evidenciarem “Run For Your Life”. Uma das mais legais foi “Take Me Out Of This Nightmare”, principalmente quando a banda ficou apenas fazendo a marcação para que o público cantasse o refrão.
Apesar do cronograma apertado, a banda conseguiu tocar seu set completo, despedindo-se dos paulistanos às 23h10, com “Midnight Vice”. Apesar de o Enforcer ser uma banda formada já nesse novo século, assistir a um show seu é uma viagem aos anos 80, o grupo é uma verdadeira ode ao Heavy e Speed Metal daquela época, desde seu visual até a construção das músicas, com aquelas inesquecíveis dobras de guitarra, vocais para lá de agudos, cozinha galopante e riffs velozes. Ao final do evento, ainda houve tempo de os integrantes tirarem fotos e darem autógrafos para mais alguns fãs.
Ainda que na cidade de São Paulo outros dois shows aconteciam na mesma noite, o Inferno Club acabou recebendo um bom público, independentemente das falhas técnicas no som de algumas das bandas, e também do atraso no cronograma, saiu de lá feliz com o que presenciou neste evento. Muito Metal de qualidade e um clima de bastante diversão, sem registrar maiores ocorrências negativas.
ENFORCER – Setlist:
Destroyer
Undying Evil
Mesmerized By Fire
Live For The Night
From Beyond
Countess Bathory (Cover do Venom)
Death Rides This Night
Scream Of The Savage
Below The Slumber
– Solo de bateria
Run For Your Life
Katana
Take Me Out Of This Nightmare
Midnight Vice
ZUMBÍS DO ESPAÇO – Setlist:
Dia Dos Mortos
Mato Por Prazer
A Última Oração
Jogos De Horror
Caminhando E Matando
O Chamado Da Estrada
A Marca Dos Três Noves Invertidos
Espancar E Matar
Satan Chegou
Que Venham Os Mortos
Vampira
O Mal Nunca Morre
HARPPIA – Setlist:
Harppia 2.0
Profecia
Náufrago
Black Angel
A Ferro E Fogo
Black Joe
Cavaleiro De Fogo
Na Calada Da Noite
Salém (A Cidade Das Bruxas)
GUERREIROS HEADBANGERS – Setlist:
União Metal Brasil
De Corpo E Alma
Sombras Da Morte
Guerreiros Headbangers
Corpos Nus Entregues A Orgia
Metal Ideologia De Vida
AXECUTER – Setlist:
Raise The Axe
Metal Is Invincible
In For The kill
Bangers Prevail