Bandas como a holandesa EPICA costumam deixar saudade após passarem pela sua cidade. Existe algo na música e na postura dessa banda que encantam os ouvintes, que fazem com que os fãs sempre queiram mais discos, mais clipes, mais músicas, mais shows. A coisa até poderia ser entendida como exagero, não fossem as apresentações sempre lotadas, ou melhor, entupidas de fãs, a cada nova passagem por São Paulo. Desta vez, claro que não foi diferente. Cerca de dois anos após sua última passagem por aqui, ocorrida no seu próprio festival, o EPIC METAL FEST – quando a banda foi acompanhada por TUATHA DE DANANN, PROJECT46, THE OCEAN, XANDRIA, FINNTROLL e PARADISE LOST – desta vez a banda veio para uma apresentação ‘solo’, que não contaria sequer com um ato de abertura. E, convenhamos que ninguém ficou realmente decepcionado com isso, já que o público sabia muito bem quem gostariam de ver ao vivo.
Ansiedade, empolgação, interesse e até mesmo um pouco de curiosidade. As emoções eram tão variadas quanto o próprio público, onde alguns estampavam na cara a felicidade de ‘reincidentes’ em shows do EPICA, enquanto outros mostravam aquela feição típica do triunfo dos que têm a chance de ver a sua banda do coração pela primeira vez. A entrada de Simone Simmons como sempre foi a mais comemorada, mas nada poderia superar a onda de euforia dos que presenciaram a abertura da apresentação com Edge of the Blade, que, seguindo a tradicional abertura com a intro Eidola, deu a cara do que seria este show. De The Holographic Principle (2016) para The Phantom Agony (2003) em pouco menos de cinco minutos, Sensorium comprovou que os 13 anos que separam as duas composições trouxeram muita evolução para o EPICA, e também que essa evolução em nenhum momento ‘maculou’ a sonoridade da banda, como é tão comum perceber por aí, especialmente em apresentações ao vivo, que colocam o clássico e o novo lado a lado, em um momento de decisivo julgamento dos fãs.
Menos mal para os holandeses, que seguiram sua apresentação triunfante com a nova Fight Your Demons (The Solace System, EP, 2017) e Unleashed (Design Your Universe, 2009), sempre com a mesma empolgação – quem acompanhou a movimentação do guitarrista/vocalista Mark Jansen e do tecladista Coen Janssen entenderá perfeitamente o que quero dizer – o que arrancava um misto de aplausos e berros eufóricos da plateia em cada intervalo. Até aí, tudo estava muito bom, mas o caro leitor sabe aquele momento da briga em que um dos brigões tira a camisa? Sim, o famoso momento ‘agora a porra ficou séria!’.
No caso da apresentação das apresentações do EPICA em São Paulo, isso quer dizer uma coisa: a sequência Chasing the Dragon (The Divine Conspiracy, 2007) e Storm the Sorrow (Requiem for the Indifferent, 2012) estava chegando. Difícil dizer o sentimento despertado nesse momento, realmente difícil. Muita emoção era despertada em cada verso da canção, e a banda soube usar a empatia a seu favor, entrando na mesma vibração e na mesma empolgação do público. Situação semelhante ocorreu na sempre obrigatória execução da clássica Cry for the Moon (The Phantom Agony, 2003), uma daquelas faixas que basta ouvir uma única vez na vida para sempre ouvi-la soando nos recônditos da mente, ao nos depararmos com uma situação verdadeiramente bela e emotiva.
Mas, a passagem dos holandeses por São Paulo não poderia durar para sempre, eles ainda tinham muito o que fazer. O final do show poderia ter sido triste, melancólico. Esperar mais dois anos por eles? Possivelmente. Mas ao menos, eles nos brindaram com a trinca final Sancta Terra, Beyond the Matrix e Consign to Oblivion, com a mesma maestria e genialidade atemporal que permeia toda a sua discografia, cada uma das suas apresentações. Esperar é sempre um pouco triste. Mas esperar para ver o EPICA de novo, é sempre esperar pelo melhor. Que seja sempre assim.
Fotos: Edu Lawlesss