Por Luiz Tosi
Fotos: Stephan Solon / divulgação
No último sábado de setembro, o Vibra São Paulo viveu uma noite de gala quando Eric Clapton presenteou pouco mais de 5 mil privilegiados com uma experiência única e intimista. A frase “Clapton Is God”, que ganhou as ruas da Inglaterra nos anos 60, nunca pareceu tão atual. Ao lado de lendas como Paul McCartney e da dupla Mick Jagger e Keith Richards, Clapton é um dos últimos deuses da música ainda em atividade, e ter a oportunidade de vê-lo em um espaço menor e fechado foi algo verdadeiramente especial.
A apresentação em São Paulo fez parte de uma turnê que incluiu passagens por Curitiba e Rio de Janeiro, culminando com um show no Allianz Parque no dia seguinte. Mas foi este show extra, anunciado de surpresa, que causou maior alvoroço entre os fãs – e também certa polêmica pelos valores dos ingressos, que chegaram a 2,4 mil reais.
A abertura ficou por conta de Gary Clark Jr., um dos principais nomes da nova geração do blues. Mesclando rock, blues e soul music, o guitarrista e vocalista americano deu um show de técnica e feeling, mostrando-se a abertura ideal para a atração principal.
Pontualmente às 21h, Eric Clapton subiu ao palco com Sunshine of Your Love, clássico dos tempos do Cream. Em segundos, ficou claro que o tempo não roubou nada do lendário guitarrista: seu timbre característico e sua voz permaneciam intactos.
O show foi dividido em três partes distintas. A primeira, elétrica e curta, ainda trouxe pérolas do blues como Key to the Highway e I’m Your Hoochie Coochie Man, além de Badge, outra do Cream. A segunda parte foi dedicada ao álbum MTV Unplugged (1992), o disco ao vivo mais vendido da história. Contudo, Clapton não se prendeu aos arranjos acústicos originais, optando por uma abordagem semiacústica que mesclava elementos elétricos, tudo com extremo bom gosto. A abertura desta seção foi uma interpretação emocionante de Kind Hearted Woman Blues, de Robert Johnson, apenas com voz e violão. Destaque para as releituras de Running on Faith, mais próxima do andamento original, e Change The World, que ganhou um arranjo mais soul e recheado de Hammond, lembrando outro MTV Unplugged de que Clapton participa, o do seu parceiro e produtor na faixa, Babyface. Após a deliciosa Nobody Knows You When You’re Down and Out, foi a vez da participação especial do violonista e guitarrista brasileiro Daniel Santiago em Lonely Stranger, Believe in Life e no ultra-mega-super sucesso Tears in Heaven trouxe um toque local à apresentação.
Na terceira e última parte, volta o set elétrico, com Got to Get Better in a Little While (Derek and the Dominos). A banda de apoio merece menção honrosa. Doyle Bramhall II (guitarra), Sonny Emory (bateria), Chris Stainton (teclados), Tim Carmon (Hammond), Nathan East (baixo) e as backing vocals Sharon White e Katie Kissoon foram o suporte perfeito para Clapton. O carismático Nathan é uma lenda, se não conhece, cheque o cara no Wikipedia. Com a segurança de quem não precisa mais provar nada, Clapton deu espaço para todos brilharem. O dueto com Tim Carmon em Old Love foi um dos pontos altos da noite, assim como os diversos solos de Doyle Bramhall II.
A paixão de Clapton pelo blues ficou evidente nas interpretações de Cross Road Blues e Little Queen of Spades, ambas de Robert Johnson. Aos 79 anos, o guitarrista se dá ao luxo de apostar mais nos clássicos do gênero do que em seus próprios hits, uma escolha que o público presente – notadamente conhecedor do assunto – pareceu apreciar. Imagine abrir mão de obras como Layla (você leu direito, não tocou), Wonderful Tonight, Bell Bottom Blues, Bad Love, White Room, After Midnight e Forever Man e ainda assim sair ovacionado! Aliás, o público merece destaque, parecendo saber e dar valor ao preço que pagou e retribuindo com muita interação, atenção e respeito, com pouco celular ou aquele falatório tradicional nas músicas mais longas ou lentas.
O encerramento não poderia ser diferente, e teve um hit: Cocaine, de J.J. Cale, levantou a plateia com um solo memorável e participações individuais de todos os membros da banda. O bis trouxe uma jam em Before You Accuse Me, com a volta de Daniel Santiago ao palco e a participação de Gary Clark Jr.
Ao final, fica a reflexão sobre o conceito de “caro” ou “barato” para uma experiência como essa. Algo muito pessoal e subjetivo. Mas, independentemente do preço dos ingressos, o que se viu no Vibra São Paulo foi uma noite única e especial, daquelas que ficarão gravadas para sempre na memória de quem teve o privilégio de estar presente. Ver um ícone como Eric Clapton em um ambiente tão íntimo é algo que transcende o valor monetário – é um investimento em história e emoção que poucos terão a chance de experimentar novamente.
Setlist
Sunshine of Your Love
Key to the Highway,
I’m Your Hoochie Coochie Man
Badge
Kind Hearted Woman Blues
Running on Faith
Change the World
Nobody Knows You When You’re Down and Out
Lonely Stranger
Believe in Life
Tears in Heaven
Electric
Got to Get Better in a Little While
Old Love
Cross Road Blues
Little Queen of Spades
Cocaine
Before You Accuse Me
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