Por Marcelo Gomes
Fotos: Roberto Sant’Anna
Em clima de festa, os vocalistas americanos Eric Martin (Mr. Big) e o multibandas Jeff Scott Soto se apresentaram em São Paulo no último dia 22 de março para um público pequeno, porém muito barulhento. A dupla voltou ao Brasil pela terceira vez num espaço de um ano para apresentar hits da carreira e vários covers no palco do Stones Music Bar.
Acompanhado da competente banda Rolls Rock, formada por Edu Costa (guitarra), Mau Seliokas (baixo), Francis Rouxinol (bateria) e Cris Ribeiro (teclado), Eric Martin subiu ao palco às 20h50 com Daddy, Brother, Lover, Little Boy, de Lean To It (1992), com o refrão sendo cantado aos fãs. Empunhado de seu violão, Eric mandou em seguida Alive and Kickin’, Superfantastic e Fragile, que tem aquela pegada mais acústica. Vale destacar para os ótimos backing vocals do Rolls Rock.
“Queria abençoá-los, São Paulo! Estou voltando pela terceira vez em um ano!”, disse o vocalista antes de Francis Rouxinol iniciar o groove na bateria de Temperamental. Uma coisa facilmente notável é o carisma de Martin, sempre acenando para os fãs e brincando com os membros da banda. O vocalista esbanja simpatia a todo momento enquanto se comunica com o público. Só não dava para entender o tanto de reverb que o técnico de som colocou na voz dele. O show tinha que continuar e então era hora da empolgante Gotta Love The Ride. Com um teclado de fundo, Edu Costa começa seu solo de guitarra e, de repente, a banda toca um trecho de Black Dog do Led Zeppelin para então mandar o riff poderoso de Take A Walk, do Mr. Big. São esses momentos que a gente pode dizer que o rock ainda respira e, mais que isso, empolga quem está na plateia vivenciando tudo isso. Para manter a mesma pegada, ainda tocaram Rock & Roll Over.
A dinâmica do set list foi variada, com sons mais acústicos, outros mais pesados e até mesmo aquele hard romântico aparece em Promise Her The Moon, que faz as moças suspirarem. “Quando toco essa música, não tem como não pensar no Pat Torpey. É uma coisa espiritual, todas as vezes que eu tocá-la até o último show do Mr. Big no ano que vem, será dedicada a Pat”, disse o vocalista de forma emocionada ao anunciar Take Cover. Depois destas palavras, a música ganhou uma carga emocional ainda maior, sendo cantada por todos como um mantra. Se Pat tivesse visto a forma apaixonada que os fãs cantaram em sua homenagem, certamente ficaria tocado. É o tipo de coisa que estando lá para sentir, pois a energia foi transmitida com sucesso a Pat.
O vocalista, que sabe mexer com a emoção do público, agora pediu para que cantassem parabéns a Billy Sheehan, que havia feito aniversário há poucos dias. Claro que foi atendido de imediato. Dando sequência, escolheu Shine, da fase Richie Kotzen, para celebrar esse momento. Como se trata de um grande hit do Mr. Big, nem precisa dizer que o público foi à loucura e que o clima era total de festa. Com uma levada despretensiosa na bateria se iniciou Electrified, mais uma ótima canção da fase Kotzen.
Martin aproveitou o momento para apresentar a banda. Sempre brincando, enalteceu os excelentes companheiros de palco. Mais uma que todo mundo cantou sem medo de ser feliz foi o mega hit, To Be With You. Essa até quem não conhece nada da banda já cantou escondido em algum momento. Mas nem só de balada se faz um show de rock e um bom exemplo disso foi em Addicted To Rush. Um tapping de baixo logo de início, junto à guitarra virtuosa bem representa pelo ótimo Edu Costa, trouxeram de volta o espírito hard rock bem ao estilo Van Halen.
O show foi se aproximando do fim, não sem antes o Eric puxar mais uma balada da cartola, agora Just Take My Heart, de Lean To It (1992). Para terminar com a energia lá em cima, os latidos ecoando pelos PAs denunciam a fantástica Colorado Bulldog. Velocidade, virtuose, pedal duplo e um refrão grudento era tudo que se precisava para fechar essa apresentação sensacional com chave de ouro. O vocalista sabe explorar seu repertório de maneira a trazer o público a interagir de forma intensa. Mesclando baladas e sons mais pesados, foi interessante notar que, durante 1h30 de show, tampouco banda e fãs pareciam cansados tamanha a troca de energia.
Já estava ficando tarde, ainda mais para uma quarta-feira quando, às 22h50, Jeff Scott Soto finalmente subiu ao palco. Acompanhado da banda Spektra, que conta com Leo Mancini (guitarra), BJ (teclado, guitarra e vocal), Henrique Canale (baixo) e Edu Cominato (bateria), o show foi anunciado como um tributo ao Queen. Assim, Soto mandou logo uma sequência de três sons da banda inglesa que sempre homenageia. Começaram com One Vision e logo na segunda, Another One Bites The Dust, Jeff começou seu ritual. Para quem não sabe, quando começam a cantar “vira, vira, vira, virou…”, o vocalista vira um copo de caipiroska. Já se tornou uma tradição dos shows do Jeff no Brasil. Se isso prejudica a voz, não sei, mas o que sei é que ele continua cantando muito! Assim, seguiram com mais um clássico do Queen, I Want To Break Free.
“Quando marquei esses shows tributo ao Queen, recebi várias mensagens negativas falando que não queriam somente canções do Queen e, sim, músicas do Talisman, JSS e toda a carreira”, disse o vocalista, anunciando que tocariam várias coisas diferentes na noite. Para começar, tocaram a pesada Livin’ The Life, do Steel Dragon, que faz parte da trilha sonora do filme Rockstar (2001). Rolou até um dueto entre o Jeff e BJ mostrando que suas vozes estão em plena forma. Em certo momento, Soto cantou fora do microfone e, por incrível que pareça, deu para ouvir lá do camarote… Sensacional!
Sem perder tempo, do Talisman tocam a clássica Mysterious (This Time It’s Serious), com belos backing vocals de BJ e Leo Mancini, isso sem falar no belo trabalho que Leo fez nos solos. Depois, retomaram o repertório do Queen e transformam o Stones Bar em uma grande pista dança ao tocar Crazy Little Thing Called Love. “Eu sei que o Queen fez essa canção pensando nas brasileiras”, disse o cantor quando antes de anunciar Fat Bottomed Girls. Conforme Jeff tinha dito anteriormente, esse show eles iriam tocar coisas diferentes e, pela primeira vez na vida, tocariam Last To Know, canção de seu álbum solo Complicated (2022). Ainda de sua carreira solo, executaram 21st Century e Drowning.
Uma pausa no show para manter a tradição, público cantando o hino e o vocalista mata mais um copo de caipiroska antes de revisitar mais dois clássicos do Queen, com as fantásticas I Want It All e Stone Cold Crazy. Que noite espetacular! Jeff mostrou toda a sua generosidade ao permitir que o Spektra executasse uma música autoral, Overload, do álbum homônimo lançado em 2021. BJ aproveitou o espaço para mostrar a que veio, o trabalho da banda é excelente e deixou uma ótima impressão. O show estava cheio de surpresas e a banda preparou um medley especial com quatro faixas dos quatro discos do projeto W.E.T., executando trechos de Big Boys Don’t Cry, Watch the Fire, Learn To Live Again e One Love. Quem reclamou do tributo ao Queen, ganhou um presentão… Ninguém pôde reclamar.
Não sei se alguém notou, mas faltou uma balada no show do Eric Martin – sim, é aquela mesma que você está pensando. Então, Jeff convidou o colega para tocarem juntos Wild World, do Mr. Big, para delírio de todos. Uma noite para ninguém colocar defeito. Para fechar a parte do Queen, escolheram Under Pressure, Radio Gaga e para encerrar de maneira épica mandaram Bohemian Rhapsody.
Depois de tudo isso, será que tinham mais alguma carta na manga? É, eles tinham… Um teclado de fundo e Leo Mancini iniciou um solo bem ao estilo Malmsteen, que fez todo mundo pensar; ‘Será?’ Apesar das últimas polêmicas entre o vocalista e o guitarrista sueco, Jeff presenteou os fãs com duas de sua fase com Yngwie Malmsteen: I Am A Viking e I’ll See The Light Tonight. Leo Mancini se mostra gigante interpretando o guitarrista sueco de maneira impecável. O mesmo pode se dizer do Soto, que resgatou sons de quase 40 anos atrás e cantou muito bem. Se o show acabasse aqui, já seria demais, mas não poderia faltar mais uma do Talisman. Claro, mandaram a clássica I’ll Be Waiting, que ainda teve um medley de Living On A Prayer do Bon Jovi e Don’t Stop Believin do Journey, que BJ cantou divinamente. Um final apoteótico para essa noite espetacular de hard rock!
Eric e Jeff estão muito bem, esbanjam energia, simpatia e mais que isso, entregaram uma grande noite de rock com camaradagem e sem vaidades. Tanto o Rolls Rock como o Spektra foram fantásticos e, o melhor de tudo, foi ao vivo, coisa rara hoje dia. É aquele tipo de noite que faz tudo valer à pena.
Eric Martin – Set list:
01) Daddy, Brother, Lover, Little Boy
02) Alive & Kickin
03) Superfantastic
04) Fragile
05) Temperamental
06) Gotta Love The Ride
07) Take A Walk
08) Rock & Roll Over
09) Promise Her The Moon
10) Take Cover
11) Shine
12) Electrified
13) To Be With You
14) Addicted To Rush
15) Just Take My Heart
16) Colorado Bulldog
Jeff Scott Soto – Set list:
01) One Vision (Queen)
02) Another One Bites The Dust (Queen)
03) I Want To Break Free (Queen)
04) Livin’ The Life (Steel Dragon)
05) Mysterious (Talisman)
06) Crazy Little Thing Called Love (Queen)
07) Fat Bottomed Girls (Queen)
08) Last To Know (JSS)
09) 21st Century (JSS)
10) Drowning (JSS)
11) I Want It All (Queen)
12) Stone Cold Crazy (Queen)
13) Overload (Spektra)
14) WET Medley
15) Wild World (Eric Martin)
16) Under Pressure (Queen)
17) Radio Gaga (Queen)
18) Bohemian Rhapsody (Queen)
19) I Am A Viking (Yngwie Malmsteen)
20) I’ll See The Light Tonight (Yngwie Malmsteen)
21) I’ll Be Waiting (Talisman)
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