O ano era 1997. Um marco para a música pesada católica nacional. Cena que possuía em seus pilares grupos como Cristoatividade, Anjos de Resgate e Rosa de Saron, mas que ainda não tinha grupos engajados em conquistar a galera secular. Aspecto que mudou com o lançamento do álbum Shema Israel, do então trio Eterna. A bolachinha contém músicas que unem a malícia do hard e o virtuosismo do heavy tradicional, com temas longos, riffs bem sacados e dois vocalistas muito acima da média que juntos construíram temas definitivos como I Have the Key, Piedade e The Word. O tempo passou, lançaram outros trabalhos e paralelamente sofriam com as intermináveis mudanças de formação. Após o lançamento do álbum “Spiritus Dei” (2014) houve mais uma debandada de músicos na conta e um breve hiato. Silêncio interrompido por uma notícia que pegou até os mais devotos fãs do grupo de surpresa. Uma turnê de dezoito anos de lançamento do álbum Shema Israel, com a formação clássica, composta por Alexandre Soul (baixo/voz), Paulo Frade (guitarra) e Danilo Lopes (bateria/voz).
Batizada de “Eighteen Tour 2015/2016”, a banda escolheu o Carioca Club, tradicional casa da região paulista como o palco da primeira e aguardada apresentação desta formação, que não atuava junto há mais de uma década. Evento comemorado na véspera do Dia Mundial do Rock, que além dos anfitriões, teve a participação dos grupos Ceremonya e Lirios do Vale, que iniciou as apresentações às 17h.
Apesar de não ser um grupo de heavy metal, o sexteto formado por Rodrigo “Bira” (voz), Deivid Willian (guitarra e voz), Marcelo Tchello (guitarra e beat box), Beto Marques (baixo), Gerson Reyes (bateria, ex-Eterna) e Leandro (teclado), além um violinista de apoio, mostrou um pop/rock com passagens mais pesadas e que agradou muito os presentes. Principalmente graças a canções como as excelentes Recomeçar e Marcas. Talvez a escolha não tenha sido a ideal, mas a banda soube passar o recado muito bem.
Depois de alguns ajustes no palco, e uma breve oração conduzida por Danilo Lopes, às 18h20 o Ceremonya deu as caras. Unindo uma sonoridade mais atual com o hard/heavy, o quinteto conta hoje além de Danilo Lopes (voz e bateria), Gustavo Dübbern (guitarra), Eduardo Zanchi (guitarra) e Régis Costa. O início do set contou com as músicas “Faço Nova Todas As Coisas” e “Ceremonya”, esta última com direito até a chuva de papel picado.
Era apenas o começo. O primeiro álbum, “Sacramento da Cura” foi lembrado com os hards de “Abraço Amigo” e “Dois Pedaços de Amor”. Outra referência ao estilo que consagrou grupos como Whitesnake e Guns and Roses ficou por conta de Dream of Forever. O set ainda contou com as participações de Alexandre Soul no louvor Sonda-Me e J. Milene em Igreja é o Lugar da Mulekada. A inédita Maluko (Mulekada II), foi outro ponto alto do show, que terminou com a bela Na Língua dos Anjos.
Era possível ver a ansiedade em cada um dos presentes, momento que foi quebrado às 20h30, quando o Eterna iniciou sua apresentação. “Fiat Voluntas Tua” e “I Have the Key” mostraram que musicalmente as coisas continuam em sintonia, com guitarras bem timbradas e as vozes, ora melódicas, ora agressivas combinam harmoniosamente. “Stay” serviu para acalmar os ânimos momentaneamente, pois a seguinte, “Holy Shadow”, colocou fogo nos presentes. Uma das surpresas da noite foi a participação do ex-tecladista do grupo, Douglas Codonho, que junto com o trio mandou “Da Pacem Domine” e a belíssima “The War Is Over”, ambas do segundo álbum, “Papyrus”, de 1999. Apesar dos problemas dos teclados nestas canções, nada tirou a emoção de ver esses caras juntos novamente.
Ainda tinha tempo pra mais. “Em Piedade”, Danilo chama ao palco o baterista Juninho Freire e Douglas Pardini (Estação 4), numa versão mais descontraída. Que foi a deixa para a “The Word”, que contou com membros e ex-integrantes de grupos como Via 33, União, além dos músicos das bandas de abertura, cujo encerramento celebrou esta bela festa da música pesada!
Nossas expectativas ficam por conta de que os shows não fiquem restritos a este. Que com as coisas em harmonia abram caminhos para um novo trabalho desta banda, que passo a passo, sem passar por cima de ninguém e como aquele centroavante que responde as provocações com gols, mostrou (e ainda mostra) música de qualidade para todos os ouvidos famintos por rock e metal.