Vinte e cinco anos após ter lançado Gottverlassen, o The Mist está compondo um novo álbum. A informação foi dada em primeira mão para a ROADIE CREW pelo vocalista Vladimir Korg, poucas horas depois que Edu Megale foi confirmado como o substituto do lendário Jairo Guedz na guitarra. Em entrevista exclusiva, Korg trouxe a notícia que, em meio à pandemia que paralisou os shows e colocou em xeque a carreira de inúmeros músicos, produtores e técnicos, pode vir a ser considerada a principal da cena brasileira em 2020. Conversamos também com o novo guitarrista, único atleticano ao lado de três cruzeirenses, para saber mais detalhes da sua entrada em um dos maiores nomes do metal brasileiro em atividade. Tem tudo para dar certo, basta olhar a primeira imagem oficial da nova formação, feita em frente ao estádio Mineirão.O quarteto deixa claro que o amor pela música é muito maior do que rivalidades do futebol.
Por Alessandro Bonassoli
Ficou claro que a saída do Jairo foi totalmente amigável. Mas foi uma surpresa ou vocês já estavam avisados?
Vladimir Korg: A saída do Jairo foi se construindo, porque a banda dele, o The Troops Of Doom, começou a ter um trabalho muito interessante de divulgação, as músicas são muito legais. É um estilo que eu gosto, achei o conceito da banda muito bom. Achei muito inteligente o caminho deles e o empenho do Jairo em fazer isso acontecer. Esse encontro com o passado dele, era importante para ele. E eu já fui meio me preparando para esse tipo de coisa. Pois, a partir do momento em que Jairo começou a falar que não era um projeto, mas uma banda, eu vi que se tornaria impossível. Quem sabe um pouco de física, sabe que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço.
Então eu fui me preparando e começando a olhar em volta. Pois estamos numa pandemia, todo mundo em casa. Se a gente esperar a pandemia para as coisas acontecerem depois, vamos entrar em uma outra pandemia, que é ficar estagnado procurando guitarrista para, quando achar um, passar as músicas. Dá um trabalho que a gente já pode ter agora. Achei mais inteligente esse tipo de coisa.
A gente conversou com ele [Jairo] e ele entendeu. Não teve aquela coisa “você está fora”, não existe isso. O Jairo faz parte da história da banda. Ele participou de um disco que é considerado clássico [The Hangman Tree, de 1991] e oThe Mist é como uma família. Temos esse tipo de conexão. E outra, pelo próprio trabalho da banda dele, a gente viu que é uma coisa legal para o Jairo. Conversamos e foi de boa demais, estamos de boa. Deixamos isso bem claro no vídeo, [divulgado pelos membros remanescentes informando a saída do guitarrista e desejando boa sorte na nova etapa da carreira dele] para não começar a surgir intrigas.
Vamos sentir saudades, a banda vai rir um pouco menos, pois ele é um cara que, quando está com a gente, eleva o astral, está sempre rindo, fazendo piada. Mas ele faz parte da história do The Mist e isso não tem como dizer não. E uma história muito importante, porque além dele participar de um disco clássico, ainda esteve demais dois outros, e também participou da volta do The Mist. Não tinha como brigar. A maturidade serve para isso. Se fosse só para ganhar cabelo branco, aí não valeria a pena.
Sobre o Edu Magale? Como foi o processo de escolha?
Vladimir Korg: Eu já estava meio de olho no novo guitarrista. É um cara que eu conheci e até fiz brincadeira que ele que poderia vir aser o segundo guitarrista do The Mist. Eu queria fazer alguma coisa, um projeto com o Edu, um trabalho conceitual com ele. É um cara que nasceu no ano que nós gravamos o Phantasmagoria [1989]. Então eu falei “quando você nasceu, a gente estava montando a banda para você entrar. Então você tem muita responsabilidade nisso”. E é um cara bacana, simples, educado, inteligente. Acho que está se entranhando dentro do The Mist e acho que já se sente em casa. Está tirando as músicas, está indo bem. Em termos de astral, acho que já pegou a coisa.
Nos nossos planos as engrenagens estão se encaixando uma na outra e a gente vai se conhecer mais nos ensaios, em termos de composição. Acho que o método de composição vai funcionar redondo. Está todo mundo meio ansioso para a gente já estar no palco, para as músicas já estarem ok. É um cara que, sinceramente, acho que os fãs do The Mist vão se surpreender com os nossos novos trabalhos.
Desde a volta do The Mist vocês, em momento algum, falaram sobre novas composições. Mas também nunca negaram que isso pudesse acontecer. A banda chegou a compor algo com o Jairo durante essa fase de retorno aos palcos? Ou o grupo continuará no mesmo estágio, de fazer shows?
Vladimir Korg: Nós fizemos alguns rabiscos, mas não completamos nada. Eu já tenho duas letras, já tenho linha vocal e já tenho o conceito do próximo álbum sim. Nós já começamos a conversar sobre isso e temos ideias para começar a fazer essas duas músicas. Vamos fazer alguma coisa para esquentar. E depois vamos parar para fazer o novo álbum do The Mist. E já tenho até o nome, mas isso é um pouquinho mais para frente.
O que você pode nos adiantar sobre as novas composições? Seria uma continuação do que vocês criaram no The Hangman Tree? Ou terá elementos da álbuns posteriores, quando você não estava mais na banda? Um pouco disso tudo? Ou é algo totalmente diferente?
Vladimir Korg: Olha, é difícil falar sobre o próximo álbum agora. Com certeza, ele pode ter algum link de linguagem com os anteriores, mas eu não vou fazer uma continuação. É uma outra epopeia. Acredito que estão saindo bem as coisas, as ideias estão bem originais. Estou tentando fugir de tudo o que está rolando, principalmente papo de pandemia, que está todo mundo centrado nesse tipo de coisa. Nada contra, mas o meu caminho é outro. Mas ainda é cedo. Eu estou focado em pegar as músicas [anteriores] como guitarrista novo e a gente começar a compor. Creio que vai tudo vai correr bem rápido.
A pandemia infelizmente continua e até o momento ainda não se pode afirmar muita coisa, mesmo com uma discreta interrupção na escalada de infecção e mortes. Porém, na Europa está começando uma “segunda onda”, apesar de em outros países vários festivais e turnês já estão sendo agendadas para 2021. É inevitável pensar que um novo crescimento da COVID-19 possa ocorrer no Brasil. O The Mist tem algum compromisso previsto para o próximo ano?
Vladimir Korg: Realmente, a pandemia deu uma travada em todo mundo. Igualou todos dentro de casa. O The Mist tem um show [confirmado] para Manaus, outro aqui em Belo Horizonte e mais um aqui para confirmar. Mas temos convites que vamos ter que retomar. Temos um para um festival no Sul, mas agora vamos ter que realinhar nossa agenda, voltar a falar com os produtores. É bem provável que a gente corra atrás de produção para olhar isso. Pois se a gente vai sentar-se para fazer um álbum, continuar nesse tipo de trampo, de correr atrás de show, é inviável.
Edu Megale
Qual foi a sensação de ser convidado para ingressar no The Mist?
Edu Megale: A sensação foi surreal, eu não esperava mesmo. Eu estava compenetrado nos meus projetos, em querer produzir coisas, pois sou louco por trabalho, gosto sempre de estar tocando, produzindo. E quando veio convite… é uma honra, pois é uma banda que tem uma história. E todo mundo ali tem uma caminhada muito mais longa do que a minha no meio musical. Sou o mais novo da banda, então a confiança que eles estão depositando em mim é uma coisa sensacional! Me senti parte de uma família, a todo momento a gente conversa bastante, sempre me passam confiança. Então, para mim, está sendo maravilhoso, uma honra, um aprendizado todo dia. E um desafio, não posso pensar de outra forma. Um desafio muito grande.
Você vai substituir Jairo Guedz, um dos ícones do metal nacional. Como é essa responsabilidade?
Edu Megale:
Já é um desafio muito grande você fazer parte da banda, representar tudo aquilo que o The Mist tem de história. E aí você vai entrar no lugar de um cara que… não tem o que falar dele. Eu, por exemplo, nasci e cresci em Santa Tereza, que é o famoso bairro do Sepultura. Você já cresce com isso muito enraizado. O Jairo é um cara que eu valorizo muito. Tive pouco contato com ele, só vi uma vez, mas é um cara que eu respeito demais. A história dele, o que ele representa. O Jairo faz parte daquela galera que desbravou terrenos que hoje a gente tá aproveitando. São caras com o ele que animam a atual geração de continuar lutando pelos ideais, pelo sonho de tocar. É uma grande responsabilidade para mim e, ao mesmo tempo, um desafio que instiga para estudar mais e dar o melhor.
Você e Jairo já tocaram juntos?
Edu Megale: Nunca tocamos juntos, infelizmente. Seria uma honra para mim. Quem sabe aí no futuro?
Sua entrada no The Mist marca uma nova fase não só em termos de formação, mas de composição para um novo álbum. Você já tem ideias para apresentar aos demais integrantes?
Edu Megale:
Sim, com certeza, uma nova fase. E eu sou louco por música, vivo isso, respiro isso, 24 horas por dia. Então nós já estamos alinhando várias coisas, até para entender a ideia um do outro, para podermos trabalhar de forma muito unida. Acho que pelo que já se conversou, todo mundo está com o mesmo foco, mesmo objetivo. Acho que o que está por vir vai ser muito interessante. Eu estou muito animado, estudando muito mais do que eu já estudava antes, ouvindo as músicas, estudando a banda, as composições do The Mist para fazer um trabalho que a galera vai se orgulhar e a gente vai se orgulhar também.
Você integra o D.A.M. e tem uma carreira solo. Como ficam esses trabalhos em paralelo ao The Mist?
Edu Megale: O D.A.M. está parado por tempo indeterminado. Não tem show nem ensaio programado. Durante a pandemia os membros estão focados nas coisas pessoais e nas coisas profissionais fora da música. Então a banda estacionou mesmo e não terá por um bom tempo. Na minha carreira solo eu estou fazendo um single, que devo lançar em breve, nas pausas com o The Mist. Sobre o Loss [projeto conjunto com Marcelo Loss (Concreto) e Teddy (ex-Witchhammer)], a gente acabou de lançar um clipe nesse mês e no dia 6 vamos lançar um single, mas é uma banda que tem uma proposta diferente. A gente decidiu montar para gravar, quando der, sem cobrança. É uma banda que a gente vai fazer as coisas no nosso tempo, de acordo com a agenda de cada integrante. A prioridade, o meu foco mesmo, é do The Mist.
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