Fim de mês somado a uma recessão que bate cada vez mais forte à porta do brasileiro – apesar de a entrada para o show ter custado justos R$ 100 (primeiro lote) ou R$ 120 (segundo), incluindo o quilo de alimento não perecível no louvável “ingresso solidário” praticado pelo Circo Voador. Mas rolou também a ausência de Gary Holt, maior guitarrista da história do Thrash Metal. Se ainda adicionarmos a confusão no horário do show ao cenário,dá para explicar por que a tradicional casa recebeu um público consideravelmente menor do que aquele que assistiu à avassaladora apresentação do Exodus em 2014.
Mas foi um público barulhento e participativo. Muito participativo. A ponto de os refrãos de “Black 13” e “Blood In, Blood Out” – do álbum mais recente, o excelente “Blood In, Blood Out” (2014), ignorado na última passagem pelo Brasil – terem sido entoados como se as canções estivessem há tempos no rol de clássicos do quinteto californiano. Foi o ponto de partida do massacre promovido por Steve ‘Zetro’ Souza (vocal), Lee Altus (guitarra), Jack Gibson (baixo), Tom Hunting (bateria) e Kragen Lum, o substituto temporário de Holt – e o cara, parceiro de seis cordas de Altus no Heathen, mandou muito bem, é bom registrar. Tanto na parte técnica como na presença de palco.
Deu até para esquecer os problemas técnicos logo no início, com Gibson e Lum precisando trocar seus instrumentos e, por um momento, deixando “Black 13” apenas com voz, uma guitarra e bateria. E se Holt não estava no palco, ‘Zetro’ estava. Feliz da vida e, bastante comunicativo, rasgando seda para o público. E atrás da bateria estava o magistral Hunting. Como toca esse sujeito! Nunca deixa de ser impressionante. Ao contrário de “And Then There Were None”, na qual já se espera uma explosão na pista. Dito e feito. As rodas não fechavam, e os punhos se faziam presentes no ar durante o coro e o refrão – ou os chifrinhos imortalizados por Ronnie James Dio. “Let me see your horns”, pedia ‘Zetro’ a todo instante.
A ótima “Children Of A Worthless God”, única da fase com Rob Dukes, contou com Hunting cantando o trecho mais limpo (“I you fear, seeing through your lies” / “You I fear, raping of innocent minds”), enquanto “Deranged” provou que não basta estar no fundo do baú para ser saudado com entusiasmo. Extraída de “Pleasures Of The Flesh” (1987), deixou muita gente com aquela cara de “o que está acontecendo?”, ao contrário de “Salt The Wound” e “Body Harvest”, mais bem recebidas – para variar, principalmente nos fortes refrãos. No entanto, “Deranged”, por razões óbvias, fez a alegria da turma do pogo. Óbvio, justificável e justo.
A essa altura, a pista do Circo Voador estava bem mais cheia do que no momento em que soou a introdução de “Black 13”. Como a abertura da casa estava marcada para as 20h, e o início do show, para as 21h, muita gente chegou com a banda já em cima do palco – e foi chegando depois quarta, quinta música. Quem poderia imaginar que o Test, a interessante dupla de Grind/Death Metal formada por João Kombi (vocal e guitarra) e Barata (bateria), subiria ao palco antes das 21h? Ninguém, basicamente, porque mesmo quem chegou antes ou durante do show dos paulistas se disse surpreso. Vida que segue, porque a segunda metade da apresentação do Exodus foi nada menos que enlouquecedora.
“Metal Command” e “Piranha” retomaram “Bonded By Blood” com a proeza de deixar “And Then There Were None” como se tivesse sido apenas um aperitivo da obra-prima lançada em 1985. O negócio esquentou de vez, com rodas simplesmente insanas que seguiram até “A Lesson In Violence”, mas sem tempo para respirar, porque esta última ficou entre outras duas joias, “War Is My Shepherd” e “Blacklist”, de “Tempo Of The Damned” (2004) – pode anotar aí: outra obra-prima do Thrash Metal. Foi bonito de ver a plateia entoando com vontade os refrãos, diga-se.
O túnel do tempo foi um pouco mais explorado com “Impaler”, música pré-Exodus escrita por Holt, Hunting, Paul Baloff e Kirk Hammett, como ‘Zetro’ fez questão de lembrar –na prática, mais uma canção de “Tempo Of The Damned”, onde apareceu oficialmente. Era para ser a deixa do bis, mas o grupo mal saiu do palco. Para que esfriar? Você pode dizer que o fim foi previsível, mas, meu amigo, se o previsível fosse sempre assim… “Bonded By Blood” recomeçou a festa no maior cacete, “The Toxic Waltz” colocou todo mundo para dançar – Ok, se você conhece esta maravilha do “Fabulous Disaster” (1989), então sabe o que quero dizer com “dançar” – e “Strike Of The Beast” foi, de fato, o clímax com seu ‘wall of death’. Com ou sem Gary Holt (no palco), não tempo ruim. O Exodus é uma aula a qual deve-se assistir sempre.
1. Black 13
2. Blood In, Blood Out
3. And Then There Were None
4. Children Of A Worthless God
5. Deranged
6. Salt The Wound
7. Body Harvest
8. Metal Command
9. Piranha
10. War Is My Shepherd
11. A Lesson In Violence
12. Blacklist
13. Impaler
14. Bonded By Blood
15. The Toxic Waltz
16. Strike Of The Beast