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Extreme Hate Fest 5 – NARGAROTH, BELPHEGOR – São Paulo/SP, 04/03/18

O dia 4 de março foi especial na Capital Paulista. Após um longo tempo de espera, um dos mais interessantes e impactantes festivais de música extrema que já tomaram solo na cidade, o Extreme Hate Fest, estava de volta para a sua quinta edição, que prometia ser muito especial. Primeiramente, o foco voltado ao black metal já parecia atrativo o suficiente. Segundo, a bom equilíbrio entre atrações nacionais e internacionais parecia justo. Terceiro: BELPHEGOR e NARGAROTH juntos? Sério? Dava para perder isso?

Aparentemente não. Chegando cedo na casa de shows, via se um público animado (e ansioso), que só se fazia aumentar conforme as horas passavam. Parecia indiscutível que o NARGAROTH seria a favorita da noite para a maior parte do público, mas quem achou que isso deixaria mornas as apresentações que antecediam a entrada da banda alemã ao palco, muito se enganou, e mais: subestimou a união e o amor que os fãs de metal extremo dedicam para as bandas que lutam diariamente por seu lugar na cena. Assim, com o público firme e fiel bem disposto, o paulista JUSTABELI foi o primeiro a atingir o palco, com o costumeiro impacto de um canhão Pak 40, se o bom leitor me entende. O trio esbanjou fogo e fúria em uma apresentação coesa e bruta, que cada vez mais os credencia a ocupar o alto escalão do black metal nacional. Seguindo em frente com a divulgação de seu ótimo EP Blast the Defector, o trio promete um novo disco completo que, ansiamos, deverá ser lançado ainda em 2018.

O segundo grupo a tomar o palco foi o tradicional LUXÚRIA DE LILLITH, que já conta com quatro discos completos de estúdio, além de uma interessante série de outros materiais que merecem atenção dos fãs de black metal. Provando ser um dos favoritos do público, o trio formado por Drakkar (bateria e voz), Arkana (baixo e backing vocals) e o guitarrista Set apostou em uma bela fusão de suas músicas mais importantes, que ganhavam maior impacto com a postura firme e ríspida dos instrumentistas. Foi interessante perceber a forma como Drakkar mesclou de forma eficiente – e totalmente angustiante – poesia gótica e música extrema, com pensamentos que intermeavam cada canção, explicando o pensamento contido nas letras. Uma banda que fez uma apresentação tão fenomenal, que só poderia terminar com o ‘stage diving’ de Drakkar ao final, amparado e devolvido ao palco em segurança por um séquito gigante que a banda conquista e reconquista a cada vez que sua música ecoa em São Paulo.

O POWER FROM HELL encerrava as atrações brasileiras da noite, e também encerrava a sequência de ‘power trios’ que se apresentariam nesta edição do Extreme Hate. O som é aquele que você conhece e certamente deve amar, se está lendo este artigo: black/speed metal na veia dos anos 80, encardido, rápido, feio e mal encarado. Música densa, que mostrou a razão de vermos tantas camisetas com a logo da banda circulando de um lado para o outro durante todo o festival. No meio de tanta porradaria sonora, claro que precisávamos de um momento mais engraçado, que foi fornecido (claro) por um fã: enquanto a banda tocava um fiel cover para o clássico Massacre, do BATHORY (que o vocalista e baixista Sodomic anunciou corretamente como um dos pilares de todo o cenário black metal), um fã subiu ao palco, saldou a banda, e absolutamente alucinado, partiu para o ‘stage diving’. Faltou combinar com a galera. Enquanto realizava a proeza, a galera da frente ‘deu licença’ para ele descer, e o resultado, o bom leitor certamente já imaginou.

Depois de tudo isso, era chegada a hora de conferir de perto os alemães do NARGAROTH. Com um clima absolutamente tétrico (garantido pelo silêncio absorto que tomou conta do palco e da plateia), e uma atmosfera gelada (garantida pela fumaça cênica que deixou todo o ambiente com a cara de uma floresta nórdica ao pôr do sol), René “Ash” Wagner e seus asseclas começaram o ataque com a emblemática The Agony of a Dying Phoenix, quinta faixa do disco mais recente da banda, Era of Threnody, que foi lançado em maio do ano passado, via Inter Arma Productions. Whither Goest Thou, segunda do novo disco, foi também a segunda do setlist, que ganhou reforço mais do que especial com Black Metal Ist Krieg, faixa que dá nome ao segundo álbum dos alemães, Black Metal Ist Krieg (A Dedication Monument), de 2001, considerado um clássico do gênero pelos seus fãs. A todo momento, Ash mostrava empolgação diante de um público grande e empolgado, que se não abarrotou o Carioca Club, ao menos lotou a casa, que a essa altura já queimava com as labaredas de metal negro que vinham do palco.

Embora causasse preocupação, em nenhum momento o guitarrista Beliath acertou a própria testa com um cuspe, embora ele tenha passado quase o show inteiro tentando a proeza, com disparos de ‘fluido gástrico’ sendo disparados para cima em intervalos regulares. Uma atração à parte, em um show que beirou a perfeição, e que os paulistas já anseiam em ver de novo.

E então, o BELPHEGOR. Após passagem por São Paulo no ano passado (leia resenha aqui), os austríacos voltaram para arrasar nossas terras com uma nova praga, o novo álbum Totenritual, lançado em setembro de 2017, e que ganhou uma versão nacional pela Nuclear Blast/Shinigami. Comandados sempre pelo guitarrista/vocalista e membro fundador Helmuth Lehner pesou logo de cara nos ouvidos dos fãs com a sequência da intro Sanctus Diaboli Confidimus / Totenkult – Exegesis of Deterioration, que garantiram rodas gigantescas e muito bate-cabeça entre os fãs que haviam guardado parte do fôlego para esta última apresentação do festival. Pouco existe para ser dito a respeito da performance de Lehner e seus comparsas, já que a banda mantém um mesmo compromisso e uma mesma atitude diante de seu público em todas as apresentações, desde os tempos em que a banda era ainda um pequeno nome surgido na longínqua Áustria. Mas, é preciso dizer que a banda merecia esse show, após aquela performance avassaladora no ano passado no Manifesto Bar, em que infelizmente, apenas um pequeno público compareceu. Desta vez, as coisas pareceram voltar ao normal, um público grande e intenso foi brindado pela banda com um verdadeiro ritual negro, digno de uma das maiores bandas do cenário em todo o mundo. Prova de que, com o ambiente certo, a popularidade das bandas extremas no Brasil continua crescente, a despeito do que muitos erroneamente pensam. Esperamos que o mesmo trabalho seja feito em favor do NILE, que ano passado também não viveu seu melhor momento por aqui. Enquanto a apresentação encerrava, já começávamos a nos perguntar sobre a próxima edição do festival. Quando vai rolar? Quem virá? Bem, para cada pergunta, uma resposta no tempo adequado. Por enquanto, apenas nos resta a certeza de que assistimos cinco belos shows de metal extremo.

Fotos: Leandro Cherutti

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