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EXTREME / RICHIE KOTZEN

Um hit apenas não é o suficiente para lotar um espaço com capacidade para cinco mil pessoas. O disco que tem este hit – e algumas outras músicas realmente boas e melhores – não necessariamente tem cancha para ser tocado na íntegra. Este pode ser o resumo da passagem do Extreme pelo Rio de Janeiro, na comemoração dos 25 anos de seu segundo trabalho, “Pornograffitti”. Mas seria uma maneira pobre de contar o que rolou na noite de domingo na Fundição Progresso, o tal espaço que ficou grande demais para o público que resolver dar as caras. Uma noite que teve mais do que o quarteto de Boston. Teve também Richie Kotzen, que já transformou o Brasil numa extensão da própria casa.

Às 20h, Kotzen e sua banda – Dylan Wilson (baixo) e Mike Bennett (bateria) – subiram ao palco para uma hora de show de reações mistas por parte da plateia. Houve quem não desse atenção exatamente porque não sabia do que se tratava (em qualquer situação, uma decisão nada inteligente); houve quem torcesse o nariz por causa do repertório (menos) e dos improvisos (mais), quando é fato que fazer concessões nunca foi o forte do guitarrista; e houve quem, sabendo exatamente o que teria pela frente, assistiu a uma apresentação fabulosa.

Sim, Kotzen falou pouco com a plateia. Um “obrigado” aqui, um “está quente para cacete” ali – e ele tinha razão. Parece que a Fundição Progresso anda brigada com o ar-condicionado. Enfim, o lance era a música, então, ele tocou como sempre e cantou como nunca. “War Paint” aqueceu o que não precisava mais de calor, “Love Is Blind” e “Bad Reputation” mostraram seus refrãos e ‘grooves’ irrepreensíveis, e “Fear” arrancou aplausos até mesmo dos turrões depois de uma magistral sequência de solos. Porque por mais que saibamos trata-se de um dos melhores guitarristas do mundo, é impossível não se impressionar como que esse sujeito faz.

Aliás, é justamente aí que cresce a discussão. Ainda há quem veja apenas o Richie Kotzen guitarrista virtuoso da geração Shrapnel Records. No entanto, essa persona há muito deixou de existir. A que existe é muito mais do que isso. É também um compositor versátil e de raro talento. E é também um vocalista soberbo, vide o que ele fez em “Doin’ What The Devil Says To Do”, uma das mais belas músicas de sua carreira. Foi uma interpretação que ultrapassou o limite da técnica apurada, porque brilhante mesmo foi a emoção com que interpretou a própria canção – sim, interpretou, porque aquilo foi muito mais do que apenas cantar.

Se há algo realmente a se lamentar no fato de a casa estar com um público meia-boca foi a exatamente chance desperdiçada de se apresentar para algumas milhares de pessoas – porque, sejamos sinceros, era um evento para o Circo Voador, ali mesmo a pouquíssimos metros. Fico imaginando se fosse a noite em que Slash lotou a Fundição Progresso. Era uma boa chance de o talento de Kotzen alcançar um público que, no máximo e apenas no máximo, poderia lembrar-se dele como aquele cara que um dia tocou no Poison. Um público que poderia se render a uma contagiante “Help Me”, a uma versão descompromissada (no bom sentido) de “Go Faster” e, principalmente, ao ‘feeling’extremo de “Remember”. No entanto, umas mil pessoas (três dígitos com boa vontade, diga-se) apenas viram a apresentação de um artista simplesmente genial.

Atração principal da noite, o Extreme é um dos nomes que se sobressaíam em meio à avalanche do Hard Rock americano no fim dos anos 80. A pegada ‘funkeada’ era um diferencial porque era muito bem executada por uma banda liderada por um guitarrista fora de série (e não são apenas os solos, mas também os riffs), um excelente (porém pouco reconhecido) baixista e um vocalista mais do que competente que, por acaso, também é um ótimo ‘frontman’. Mas independentemente da curta discografia, graças a um longo hiato, o repertório pesou contra na hora de a banda cair na estrada para festejar o multiplatinado “Pornograffitti”, disco que a fez estourar, mas que não se sustenta do início ao fim. Senão, vejamos.

“Decadence Dance”, primeira faixa do álbum e que começou a apresentação, é empolgante, daquelas de colocar fogo no show. Ótima abertura que não conseguiu ser bem acompanhada por “Li’l Jack Horny” e “When I’m President”, canções que, não duvide, voltarão a ser guardadas na gaveta. “Get The Funk Out” é uma daquelas obrigatórias, mas porque é realmente excelente, ao contrário do “More Than Words”, o hit definitivo do Extreme. Definitivo pelo enorme sucesso alcançado no início da década de 90, quando uma Praça da Apoteose lotada (pelo menos 35 mil pessoas) a cantou de cabo a rabo em 1993. Desta vez, das vozes presentes na Fundição Progresso a separação era clara: basicamente, apenas as mulheres cantaram.

Daí para frente, a empolgante “It (‘s A Monster)”, com um dos muitos solos espetaculares de Nuno Bettencourt, foi o que sobressaiu. A banda, no entanto, fez valer cada centavo. Gary Cherone é incansável, e a voz continua  numa boa, obrigado – goste-se ou não, ele canta para caramba (vide “When I First Kissed You”); Pat Badger é outro que, entre ótimas linhas de baixo e vocais de apoio que mais pareciam ‘playback’ de tão perfeitos, não para quieto; e Kevin Figueiredo é um batera competente (não é um Mike Mangini, claro, mas é melhor que Paul Geary). O domínio de palco era absoluto. Deu gosto de ver.

A íntegra de “Pornograffitti” chegou ao fim com “Hole Hearted”, que foi quase uma “More Than Words” (e é muito melhor), por isso muito bem recebida pelo público, apesar de a maioria ter pagado um baita mico ao mostrar que não conhecia “Crazy Little Thing Called Love”, clássico do Queen cujo refrão foi inserido nos momentos finais. Hora do bis, e aí residiu o problema. Havia mais quatro discos a explorar, consequentemente muita coisa ficaria fora. Coisa boa. O começo foi animador, com as excelentes “Warheads” e “Rest In Peace”, ambas de “III Sides To Every Story” (1992), mas o preço a ser pago foi alto.

O ótimo “Saudades De Rock”, disco da volta, lançado em 2008, cedeu apenas “Take Us Alive” (com uma citação bacana de “That’s Alright, Mama”, de Elvis Presley). Uma pena, porque pelo menos “Stars” e “King Of The Ladies” teriam espaço no lugar de várias músicas de “Pornograffitti”; “Am I Ever Gonna Change”, outra de “III Sides To Every Story”, mereceu seu lugar ao provar que envelheceu muito bem; “Midnight Express” não foi apenas desnecessária, foi mesmo um baita de um vacilo. Com tanta coisa boa no subestimado “Waiting For The Punchline” (1995), é inconcebível que a faixa pinçada seja na prática um solo de violão; “Play With Me” acompanhou o erro, pois há coisas melhores no autointitulado trabalho de estreia, de 1989, como “Little Girls”.

Mas para não dizer que este que vos escreve chupou limão antes de começar a escrever a resenha, vamos fazer de conta que a redenção veio com a excepcional “Cupid’s Dead”, a melhor canção de “III Sides To Every Story” (sim, mais uma do terceiro álbum do quarteto). O instrumental irresistível, com destaque para o “duelo”da dupla Bettencourt e Badger, torna tudo mais fácil de aceitar. Mesmo assim, o Extreme deixa o Rio de Janeiro (e talvez o Brasil) com uma dívida. Foram 23 anos para voltar, então, que uma terceira vez aconteça logo, mas com um set normal. São apenas cinco títulos na discografia, mas suficientes para fazer um bom barulho. Desde que nenhum compareça na íntegra.

Setlist Extreme
1.Decadence Dance
2. Li’l Jack Horny
3. When I’m President
4. Get The Funk Out
5. More Than Words
6. Money (In God We Trust)
7. It (‘s A Monster)
8. Pornograffitti
9. When I First Kissed You
10. Suzi (Wants Her All Day What?)
11. He-Man Woman Hater
12. Song For Love
13. Hole Hearted
Bis
14. Warheads
15. Rest In Peace
16. Take Us Alive
17. Am I Ever Gonna Change
18. Midnight Express
19. Play With Me
20. Cupid’s Dead?

Setlist Richie Kotzen
1.War Paint
2. Love Is Blind
3. Bad Situation
4. Fear
5. Doin’ What The Devil Says To Do
6. Help Me
7. Go Faster
8. Remember

 

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