fbpx
ArtigosRoadie News

#ClassicTBT 02: IMMOLATION – “Dawn of Possession”

No longínquo ano de 1988, o vocalista e baixista Ross Dolan tinha apenas 18 anos, e seu parceiro, o guitarrista Robert Vigna contava com apenas 17 anos. Foi justamente nesse ano que a dupla se uniu ao guitarrista Tom Wilkinson e ao baterista Neal Boback para formar aquela que é uma das mais importantes bandas da cena nova-iorquina de Death Metal, o lendário IMMOLATION. Como a pouca idade nunca foi um problema para as bandas de Metal, a parceria rapidamente deu frutos, e no mesmo ano o quarteto lançou sua primeira fita demo – intitulada ’88 Demo – apresentando apenas duas faixas (Immolation e Second Comming), em pouco mais de oito minutos de música. Em uma época em que os ‘tape-traders’ espalhavam a música das suas bandas favoritas pelo mundo, a fitinha deu resultado, e no ano seguinte, uma nova demo era gravada – desta vez a famosa fita autointitulada – que acabou rendendo para a banda um Split ao lado do lendário MORTICIAN, e um contrato com a R/C Records. E é justamente aí que a história começava a ficar interessante para o IMMOLATION, pois estava dado oficialmente o pontapé inicial para uma carreira que agora chega aos trinta anos de atividade ininterrupta.

Com a formação levemente alterada (o baterista Neal Boback cederia seu lugar para Craig Smilowski), o quarteto voou para Berlin, Alemanha, para a gravação de seu debut, Dawn Of Possession, no Music Lab Studios, o mesmo estúdio usado pelo GRAVE DIGGER na concepção de seu Heavy Metal Breakdown, pelo KREATOR (Pleasure To Kill) e SODOM (Persecution Mania). Contando com a produção, mixagem e engenharia de som do incansável Harris Johns (ENTHRONED, HELLOWEEN, NIGHT IN GALES, PESTILENCE, RATOS DE PORÃO, SEPULTURA, TANKARD e inúmeros outros), a banda tinha o ambiente propício para forjar um dos maiores clássicos da era de ouro do Death Metal. E a missão foi cumprida com êxito, a despeito da inexperiência dos músicos, que revelaram seu talento em uma obra atemporal. “Como uma banda jovem, nós escrevemos músicas para nos divertirmos e não tínhamos intenções de gravar um álbum, nem estávamos planejando fazer uma carreira de mais de 20 anos”, declarou Dolan. “Todos curtíamos as mesmas músicas, e estávamos tentando criar nossa própria versão disso, apenas melhor e diferente. Eu tinha apenas 18 anos quando a banda se formou em 1988, então de muitas maneiras eu tinha muito a crescer e a fazer, e como nós amadurecemos e nos focamos, assim também fez a banda”. Conscientes ou não do que estavam fazendo, a banda marcou seu nome na história do Death Metal, ao mesmo tempo que pareciam apontar um novo caminho, principalmente no tocante as composições, que ganhavam estruturas mais ricas e complexas do que era ouvido em seus congêneres da época. Mas é claro que tudo isso não poderia ter sido feito da noite para o dia. Como Dolan relembra, o processo de concepção da obra levou anos, até que se chegasse ao seu resultado esperado: “Este álbum em particular foi escrito ao longo de três anos, algumas músicas aqui, algumas ali, até que finalmente estava pronto, e na verdade as duas últimas músicas que escrevemos para esse álbum foram ‘Into Everlasting Fire’ e ‘Those Left Behind’, duas das mais fortes e memoráveis ​​canções do disco na minha opinião”. E realmente as duas faixas citadas se destacam dentro do cataclismo sonoro contido em Dawn Of Possession. A primeira, a qual coube a tarefa de abrir o disco, é uma espécie de resumo da sonoridade da banda naquele momento, com linhas de bateria velozes e intrincadas, quebradas inesperadas e mudanças de ritmo que se perpetuariam na sonoridade do grupo. Os característicos vocais de Dolan, que possui um dos timbres mais facilmente identificáveis do Death Metal, desfilava letras desafiadoras, dotadas de fortes referências à religião, mas que fugiam da blasfêmia pura e gratuita para assumir uma postura questionadora e irritada, que colocava em xeque os dogmas religiosos que permeavam o imaginário cristão desde a Idade Média, como se podia ouvir logo na abertura: “será que o amor de Deus derrama sua graça sobre o lado mal do homem?”, pergunta o vocalista, enquanto o pânico sonoro parece revelar uma resposta macabra para seu questionamento; “a terra frígida desprovida de luz começa a apodrecer e morrer”, brada a voz de Dolan, enquanto uma gigantesca massa de riffs devastadores, com força suficiente para cobrir o planeta de poeira e bloquear a entrada dos raios solares irrompe dos alto-falantes, em um pesadelo Death Metal de proporções inimagináveis.

Todo o cenário apocalíptico das letras e musicalidade da banda ganhavam ainda um reforço de peso com a belíssima arte da capa, mais um belo trabalho do alemão Andreas Marschall (KREATOR, BLIND GUARDIAN, DIMMU BORGIR, OBITUARY, etc), que fazia uma alusão macabra a batalha dos anjos, transmitindo com perfeição o ‘feeling’ mórbido sob o qual foi erigido esse alicerce do Death Metal dos anos noventa.

Em uma época em que o Death Metal se tornava realmente grande, o IMMOLATION mostrava em Dawn Of Possession que ainda haviam inúmeros horizontes sonoros a serem explorados, e a própria banda partiria para uma jornada ainda mais caótica em seu futuro, revelando assim uma das mais desafiadoras e criativas formações do gênero. Aproximando-se mais e mais do Death Metal técnico, aqueles garotos fãs de VOIVOD, IRON MAIDEN e MERCYFUL FATE lançariam, três anos mais tarde o soberbo Here In After, que mais uma vez mostrava uma banda disposta a desbravar limites e impor suas regras. Mas essa é outra história, que nós adoraremos contar nas semanas seguintes! Então, fique de olhos e ouvidos bem abertos, pois ainda há muito por vir…

 

Edições avulsas, assinatura física e digital.

Conheça a nossa Roadie Crew Shop – acesse https://roadiecrew.com.br/roadie-shop

Recomendamos Para Você

Fechar
Fechar