Por Fernando Queiroz
Fotos: Roberto Sant’Anna
Shows em teatro, com todos sentados, têm seu charme, embora muitos possam torcer o nariz para esse formato. Em especial no power metal, às vezes chamado de metal melódico no Brasil, isso parece até mais condizente, dada a atmosfera desse tipo de som – e quando você inclui uma orquestra com cordas, metais e coral na dança, aí sim temos o ambiente perfeito. E foi assim que o vocalista italiano mais brasileiro que existe, ao lado de sua “nova” banda, Fabio Lione’s Dawn Of Victory se apresentou em uma agradável noite paulistana, com ingressos esgotados e finalizando uma turnê muito bem sucedida, em que tocou o álbum Symphony of Enchanted Lands na íntegra, além de clássicos de sua antiga banda, o Rhapsody, em um momento que, claramente, o cantor fica muito mais à vontade e tem uma performance bem acima do que temos visto no Angra recentemente, a banda brasileira da qual é membro.
Abrindo a noite pontualmente às 18h30, as “freiras encapetadas” do Dogma, uma das grandes sensações do metal atual, em especial na América Latina, subiram ao palco com seu “culto profano”. Apenas elas, sem a orquestra no palco, destoando um pouco do ambiente, pois, como se trata de um show de metal mais tradicional, seria mais condizente com uma casa de shows comum. Mas sem crise! Elas fizeram bonito seu papel e o público estava com elas. De luzes apagadas, uma introdução começou nas caixas de som do local. Logo, teve início a apresentação. Anônimas, nunca divulgando suas identidades, as meninas entraram, como vêm fazendo a turnê toda, ao som de Forbidden Zone de seu, até agora, único álbum completo e autointitulado, e embora muitos não soubessem exatamente o que esperar delas ali, conquistaram o público com sua performance sensual e ‘ritualística’. Bem, há de se dizer que elas tinham, também, seu próprio público presente. Algumas meninas no público, usando as maquiagens inspiradas nas integrantes e com vestes de freiras, claramente tinham elas como a atração principal a ser vista.
Um ponto complicado foi a iluminação. Entendo que a proposta é ser algo escuro, para dar o clima, mas em alguns momentos era escuro até demais, ficando difícil ver direito as músicas, talvez muito por conta da capacidade de iluminação do próprio teatro que, de qualquer forma, por melhor que seja, não é uma casa propriamente para shows de rock. Nada que não pudesse ser superado, e musicalmente o show divertiu até mesmo quem não as conhecia. Destaque, principalmente, para as ótimas Make Us Proud e a versão muito interessante de Like a Prayer de Madonna. Destaque grande, igualmente, para a baixista Nix, que desceu do palco para tocar andando pela galera em Pleasure from Pain. Após o show, a guitarrista Rusalka saiu para atender o público. Diga-se de passagem, ela realmente interpreta perfeitamente a personagem proposta, até mesmo fora dos palcos.
Rapidamente, e com a mesma pontualidade, todos voltaram a seus lugares na plateia, e às 19h40, Fabio subiu ao palco com sua banda de apoio, aqui composta por brasileiros selecionados por ele: Thiago Maranduba e Vitor Lopes nas guitarras, Fernando Poy no baixo, Flavio Sallin no teclado e Adailton Rodrigues na bateria – a banda, na Europa, sob a alcunha de Dawn of Victory, é composta por ex-membros do Rhapsody, mas não foi assim aqui. Ao lado deles estava a orquestra sinfônica, com metais, conjunto de cordas e um coral, numa estrutura muito bem montada no palco.
O show, talvez, possa ser dividido em duas partes. A primeira, foi o álbum Symphony of Enchanted Lands tocado do começo ao fim. Com a orquestra no palco, a introdução sinfônica Epicus Furor acendeu as luzes para a banda entrar já com o maior clássico do Rhapsody, Emerald Sword. Claro, o momento mais festejado pelo público foi quando Fabio, de cabelo amarrado e em suas vestes comuns, sem alegorias, apareceu em nossa frente cantando perfeitamente a canção.
Durante toda a apresentação, Fabio comentou sobre muitas músicas que iam ser tocadas adiante, como foi o caso da saideira do álbum, a faixa-título com quatorze minutos de duração ou sobre o fato de Wings of Destiny ter sido a primeira balada composta por eles. Ainda dedicou Riding the Winds of Eternity para o ator Christopher Lee, com quem gravaram algumas vezes – muito legal frisar que, neste momento, o vocalista ficou vários minutos contando, em português, curiosidades sobre o ator e amigo, como o fato de ele falar nove línguas, e, até usando palavrões bem-humorados, que ele detestava ser lembrado como o personagem Drácula. De acordo com ele, “eu tenho mais de duzentos filmes na carreira e toda vez se lembram de mim apenas por esse personagem!”. Claro, todos riram. Ou ainda, que “quando o cara chega em um restaurante na Tchéquia e pede um prato em tcheco, é porque ele é f…”.
Apesar de o álbum ser tocado na íntegra, o show não acabaria ali na última música do disco. Fabio novamente falou com a plateia e pediu para as pessoas se levantarem, fazendo brincadeiras vocais, antes de anunciar uma música “mais pesada”, Knightrider of Doom. Depois, novamente comentou sobre a próxima canção, que foi a primeira que ele gravou com a banda, Land of Immortals. Curioso que, décadas atrás, o cantor dizia não gostar dessa música, algo que já deve ter sido superado.
Novamente uma música longa, The Wizard’s Last Rhymes, foi um pouco cansativa, especialmente por não se tratar de um dos temas mais famosos da banda, e poderia ter sido substituída, por exemplo, por Unholy Warcry, que teria muito mais a ver com a orquestra. A duração grande da música não tão celebrada foi compensada por Lione ter saído no meio do público, cantando e caminhando, cumprimentando as pessoas por entre as fileiras do aconchegante teatro, para delírio dos fãs, claro. O show voltou ao seu auge em Rain of a Thousand Flames, que dá nome ao primeiro EP da banda, lançado em 2001, assim como quando pediu para todos ligarem as lanternas de seus celulares, balançando os braços na canção em italiano Lamento Eroico, que mostra toda sua habilidade como cantor de ópera.
Sempre tem aquela brincadeira de “o show está acabando, só mais uma música”, que sabemos que nunca é. Essa foi a rápida Holy Thunderforce, uma das que mais fizeram sucesso do álbum Dawn of Victory. Agora com o coral inteiro mais à frente do palco, a primeira e única música que não era do Rhapsody, foi dedicada a toda a plateia: We Are the Champions, do Queen, com três vocalistas “principais”, parte do coral.
Para a verdadeira saideira, Lione cometeu uma baita gafe! Chamou ao palco a baixista Nix, do Dogma, mas se referiu a ela por seu nome real – algo que parece ter deixado a produção da banda um pouco desconfortável. Por motivos de privacidade, e para manter a proposta intacta da banda, não divulgaremos aqui o nome dela falado por Fabio. Pois bem, ela, em seu visual freira, tocou a música que dá nome à banda do vocalista, a faixa-título do terceiro álbum do Rhapsody, Dawn of Victory, fechando a apresentação.
Mais de duas horas de show, com uma banda afiada – destaque, inclusive, ao tecladista Flavio Sallin, que não apenas reproduz os solos de teclado com precisão, mas também se junta como um membro de presença de palco com seu “keytar”, o teclado em formato de guitarra, com teclas pretas –, encerrou uma bem-sucedida turnê, de datas com ingressos esgotados, e deixando claro que Fabio, sem as “amarras” do Angra, é um vocalista muito acima da média, e se seguir com essa banda a todo vapor, tem tudo para retomar seu lugar como um dos maiores do power metal mundial sem estar à sombra de ninguém. E esperamos que, em uma próxima aparição, venha com sua banda completa, formada por outros ex-membros do Rhapsody, para ainda mais os fãs relembrarem os tempos áureos da banda.
Dogma setlist
Forbidden Zone
My First Peak
Made Her Mine
Banned
Carnal Liberation
Like a Prayer
Bare to the Bones
Make Us Proud
Pleasure from Pain
Father I Have Sinned
The Dark Messiah
Fabio Lione setlist
Epicus Furor
Emerald Sword
Wisdom of the Kings
Heroes of the Lost Valley
Eternal Glory
Beyond the Gates of Infinity
Wings of Destiny
The Dark Tower of Abyss
Riding the Winds of Eternity
Symphony of Enchanted Lands
In Tenebris
Knightrider of Doom
Land of Immortals
The Wizard’s Last Rhyme
Rain of a Thousand Flames
Lamento Eroico
Holy Thunderforce
We Are the Champions
Dawn of Victory
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