Havia uma certeza quando nos deslocamos à Macapá, capital do Estado do Amapá, para efetuar a cobertura do “Festival Quebramar”, enfrentaríamos o inclemente calor equatorial que assola por aquelas latitudes. No entanto, diferentemente de outras capitais da região Norte, Macapá é abençoada por uma constante brisa que sopra do Rio Amazonas, tornando as noites muito mais agradáveis. Realizado pelo Coletivo Palafita, com apoio do Ministério da Cultura, Governo do Amapá e Petrobrás, o evento chegou a sua quarta edição consolidando-se como um dos maiores propulsores da cultura no Estado do Amapá. Foram seis dias dedicados à música, teatro, fotografia, dentre outras vertentes culturais.
Um dos grandes destaques do festival a se ressaltar é sua localização, à beira do Rio Amazonas, no anfiteatro da Fortaleza se São José de Macapá. Esta que é uma das maiores e mais belas fortificações do nosso país – foi construída no século XVIII pelos portugueses a fim de proteger as terras amazônicas. Contudo, felizmente, nunca fora utilizada para fins belicistas e atualmente é utilizada apenas para fins turísticos, servindo como belo “pano de fundo” para um dos melhores e mais promissores festivais do Norte do Brasil.
O cast é bem diversificado, abrangendo diversas vertentes musicais, desde o Marabaixo – dança típica do Amapá – até o Heavy Metal. Com o sábado totalmente dedicado ao Heavy Metal, os paulistanos do Torture Squad se apresentaram juntamente com bandas locais. Com o maior público do festival, a noite do Metal, também conhecida como Pólvora, teve início com a banda Novos e Usados, vencedora da seletiva do “Festival Quebramar”. Em pouco mais de 20 minutos a banda apresentou seu competente Rock’n’Roll com letras de cunho sensual.
Na sequência, Matinta Perera, banda que tem seu nome inspirado em uma lenda do norte, apresentou seu Grind/Deathcore com algumas passagens interessantes, incluindo elementos de batuques de marabaixo, o já citado estilo local. Os macapaenses do Prolepse foram os próximos a se apresentar. Com influências de Offspring, Dead Fish e Bad Religion, mostrou seu Hardcore melódico ao público que a essa hora começava a chegar em peso. Outra banda de Hardcore veio a seguir, Radiovoxx, mantendo público aquecido. Paralelamente às apresentações musicais, a artista Roberta Carvalho apresentava seu projeto Symbiosis, onde arte e natureza se unem, criando uma escultura viva na copa de árvores, através de projeções de luz.
Uma das grandes surpresas da noite foi a Amatribo. Formada há aproximadamente nove anos, a banda surpreendeu pelo seu Thrash Metal influenciado por Sepultura e Overdose (fase Progress Of Decadence). Com músicas bem trabalhadas e cantadas em português, o grupo apresentou um set coeso, gerando uma ótima resposta do público presente, haja vista a experiência que têm na cena local. Ótimo show!
A seguir, outro grande representante do Thrash Metal amapaense, Profetika. Com momentos em que éramos remetidos aos alemães do Destruction e outros sob forte influência de Slayer, a banda apresentou ótimas composições de seu EP Serial Killer. Outro grande nome da cena amapaense, Amaurose, apresentou seu Death/Metalcore levando o público agitar constantemente durante o set. Restou evidente o respeito que o público do Amapá nutre por essa formação. Por momentos a sonoridade lembrava o saudoso Massacre.
Fechando a participação das bandas locais, o Marttyrium subiu ao palco e apresentou seu Death Metal com as composições de seu recente EP, Bloodbath. Uma das únicas locais a cantar em inglês, demonstrou o porquê de ser uma das melhores bandas do Amapá. Com um set enérgico o Marttyrium cumpriu muito bem seu papel de destaque antes dos headliners.
Após um curto intervalo e com o público devidamente aquecido e sedento por ouvir um dos maiores nomes da cena nacional, o Torture Squad sobe ao palco com Generation Dead, do mais recente álbum, Aequilibrium. Na sequência, mesmo com alguns problemas técnicos na guitarra de André Evaristo, o Torture mostrou toda sua experiência adquirida ao longo de quase 19 anos de estrada. Enquanto o problema técnico não era resolvido, Amilcar Christófaro chamou a “responsabilidade” para si, deixando o público boquiaberto com um estrondoso solo de bateria.
Problemas resolvidos, público ensandecido com a sequência de Living For The Kill, Unholy Spell e Raise Your Horns. A seguir, Vitor Rodrigues anuncia a próxima música e o mais recente videoclipe da banda, Holiday In Abu Ghraib. Era impossível ficar incólume à sequência apresentada. Chegara a hora da apresentação do novo integrante, o guitarrista André Evaristo. Após o anúncio, Storms e Black Sun foram as próximas a ser executadas. Com a promessa de regressarem ao Amapá, a banda ainda tocou Pandemonium e, para finalizar, anunciando o caos que se instalara no público, Chaos Corporation.
O Amapá nunca mais será o mesmo depois desta brilhante apresentação de Vitor Rodrigues, Castor, Amilcar Christófaro e André Evaristo! No dia seguinte, ainda houve oportunidade para alguns momentos de interação com os fãs e músicos da cena local. Em um dos prédios históricos localizados dentro da Fortaleza de São José de Macapá, houve um debate sobre os rumos do Metal, onde participei ao lado de Vera Kikuti (empresária do Torture Squad) e do baterista Amilcar Christófaro.
Após o divertido debate, ainda houve tempo para uma ‘Rodada de Negócios’, onde integrantes das bandas locais aproveitaram para esclarecer dúvidas e entregar material. Para finalizar o dia, o Torture Squad aproveitou o cenário espetacular da Fortaleza à beira do Rio Amazonas e realizou uma sessão fotográfica. Excelente festival com as bandas locais despontando, finalizado com uma verdadeira aula de simplicidade, simpatia e técnica do Torture Squad!