Enquanto as autoridades da Saúde continuam indicando o isolamento social como medida para conter o avanço do Coronavírus, seguimos na nossa tarefa de indicar algumas boas audições para esse período complicado das nossas vidas. Ao passo que aguardamos o lançamento de mais alguns álbuns, decidimos criar uma lista especial de indicações para vocês nesta semana: Desta vez, a lista é formada apenas por álbuns que completam 40 anos durante esse período de quarentena. Para simplificar a ação (alguns desses álbuns contam com datas diferentes em diferentes territórios, ou apenas o mês foi indicado), consideramos como período de abrangência os meses de março e abril de 1980, e acredite, ainda assim foi um trabalho árduo selecionar apenas dez discos. Com a tarefa cumprida, apresentamos aqui alguns grandes clássicos, velhos conhecidos, e talvez até algo novo ou que você já desejava revisitar. Vamos então para a nossa segunda lista:
SCORPIONS – Animal Magnetism
Em sua longa e intensa jornada musical, os alemães conviveram com todas aquelas coisas que interferem na carreira da maioria das bandas: turnês extenuantes, problemas com gravadoras, alterações da formação, discos razoáveis… Porém, quando falamos das décadas de 1970 e 1980, fica até complicado encontrar algum álbum que não venha com o selo de clássico. Acredite, existe uma ótima razão para isso. Este Animal Magnetism, sétimo álbum completo de estúdio do Scorpions, foi lançado no último dia de março de 1980, e vinha com a tarefa de suceder Lovedrive, um disco que trazia músicas como Holiday, Love You Sunday Morning e Always Somewhere. Tarefa complicada, especialmente que eles já não contavam mais (de novo) com Michael Schenker. Mesmo assim, Animal Magnetism tem um repertório forte o suficiente para melhorar a posição anterior da banda na Billboard 200, onde abocanhou a posição 52.
JOURNEY – Departure
Já que terminamos o texto anterior falando em Billboard 200, vamos agora começar relembrando que este Departure alcançou a posição 8 nesta mesma parada, e ressaltar ainda o fato dele ter ultrapassado a marca das 3 milhões de cópias vendidas (platina tripla) em 1994, provando que este álbum tem (muita) lenha para queimar ao longo das décadas. Pois bem, o quarentão do Journey superou facilmente a vigésima posição do seu antecessor (Evolution, 1979) na Billboard, contou com músicas ótimas (com destaque para os singles Any Way You Want It e Walks Like A Lady) e se tornou membro honorário nas listas de favoritos dos fãs de longa data. E, se Departure não é tão lembrado assim pelo público em geral, muito se deve ao fato de que, no ano seguinte, eles lançariam uma obra-prima intitulada Escape, que alcançaria o topo da Billboard e seria certificado nove vezes com disco de platina.
10CC – Look Hear?
Formado em 1972 na Inglaterra, o 10cc é um daqueles grupos que sempre flertaram com o sucesso, conseguiram colocar vários singles nas paradas, mas que hoje são quase que completamente esquecidos no cenário. Como pode? Nem imagino, especialmente se você contar que eles possuem um ótimo nível de composição, e que criatividade nunca foi algo que faltou aos britânicos. Fato é que, em março de 1980 eles chegavam ao seu sétimo álbum completo, gravado logo após um longo hiato causado por um acidente de carro que o vocalista/guitarrista Eric Stewart sofreu em 1979. Talvez até por conta do processo de composição ter coincidido com a recuperação de Stewart, Look Hear? não contou com o mesmo apuro dos seus antecessores, e falhou em alcançar os charts, exceto na Noruega, onde o single One Two Five alcançou a posição 9. Aliás, confira as ótimas linhas de guitarra nessa música, enquanto passeia por How’m I Ever Gonna Say Goodbye, It Doesn’t Matter At All e todo o restante. Um álbum perfeito para desligar do mundo e simplesmente relaxar.
VAN HALEN – Women And Children First
Convenhamos, estamos falando de um dos principais nomes da história da música pesada, e de uma banda que vinha em franca ascensão desde o lançamento de seu primeiro álbum. Na verdade, Van Halen (1978) e Van Halen II (1979) escreveram capítulos à parte na história da música, e ajudaram a cimentar toda uma nova abordagem da guitarra na música pesada, então é realmente difícil fazer frente a isso. Será por isso que sempre tive a impressão que muito mais pessoas ouviram falar de Women And Children First do que realmente ouviram esse álbum? Seja como for, o terceiro álbum completo do Van Halen tem tudo aquilo que os velhos fãs amam: guitarras inspiradas, linhas de baixo e baterias seguras e com um ‘groove’ único, ótimas composições (que ‘riffão’ louco em Loss Of Control, não?), e os vocais característicos de David Lee Roth. Se não conhece, dê uma chance. Se conhece, aproveite para revisitar!
THE CURE – SEVENTEEN SECONDS
Nascido em 1978 na Inglaterra, o The Cure rapidamente começou a chamar atenção e ganhar seu espaço entre os fãs do post-punk, que começava a dar as caras na época. Depois de lançar o primeiro álbum, Three Imaginary Boys, em 1979 e de sair em turnê com o Siouxsie And The Banshees, eles começaram a sentir a pressão típica de uma banda na estrada, o que resultou na saída do baixista Michael Dempsey. Com nova formação, o agora quarteto mergulhou de vez no gothic rock, e criou uma obra de memorável bom gosto. Se você ouviu muito rádio, perceberá o tamanho da influência que esse álbum teve no rock brasileiro dos anos 80 (talvez em especial no Legião Urbana, confira o início de Play For Today). Mas talvez nada irá superar a beleza de A Forest, uma canção que já se mostrou à prova do tempo.
DEF LEPPARD – ON THROUGH THE NIGHT
Eles ainda estavam a alguns anos de hits como Foolin’, Photograph e Love Bites, e, se para alguns isso pode soar como uma espécie de demérito, eu considero esse um dos grandes charmes de On Through The Night, que já começa esfregando a sua cara no chão com a ótima Rock Brigade. Dos grandes destaques do álbum, um é inquestionável e repetido em todos os momentos desse grande álbum: as linhas de guitarra de Steve Clark e Pete Willis são absolutamente soberbas, confira na ótima dinâmica de Sorrow Is A Woman ou no ritmo avassalador de Hello America. Aliás, fazer elogios pela performance individual de uma banda que ainda tem Joe Elliott (voz), Rick Savage (baixo) e Rick Allen (bateria) já quer dizer alguma coisa, então, que tal ouvir esse álbum com a sua guitarra à mão?
STIFF LITTLE FINGERS – Nobody’s Heroes
Nascido em Belfast em 1977, o Stiff Little Fingers se tornou o principal nome do punk rock na Irlanda do Norte, e quase foi uma banda de hard rock clássico com fortes referências no Deep Purple (conta-se que a banda chegou até a atender pelo nome Highway Star em seus primórdios), mas foi no punk que eles encontraram sua expressão musical. Ainda bem, já que o debut Inflammable Material (1979) trazia um bocado de boas composições, e o seu sucessor, o aqui mencionado Nobody’s Heroes repetia a dose. Fato é que, com o novo contrato com a gigante Chrysalis Records, eles conseguiram uma exposição muito maior na mídia, e embora o álbum não tenha alcançado as principais paradas ao redor do globo, é nítida a influência que músicas como Wait And See e a faixa-título tiveram no cenário, colocando o Stiff Little Fingers lado a lado com o Social Distortion entre os mais influentes para o pop-punk e o ska-punk.
BLACK SABBATH – Heaven And Hell
Embora o Venom ainda não tivesse um álbum pronto para ser lançado em 1980, já tinha gente pensando forte em engrossar o caldo do capeta no caldeirão do inferno, e o Black Sabbath, precursor de todo o cenário metal tinha uma ótima surpresa para os seus seguidores em abril de 1980. Com o novo vocalista Ronnie James Dio estreando ao lado de Bill Ward (bateria), Geezer Butler (baixo) e Tony Iommi (guitarra), o Black Sabbath reinventava a sua fórmula de sucesso, trazia um apelo mais acessível ao seu som, mas não abandonava o peso, como você confere no riff icônico da faixa-título, ou ainda nas absurdamente perfeitas Children Of The Sea, Wishing Well, Die Young e Neon Knights. Histórico e lendário, Heaven And Hell também foi um reinício para o Black Sabbath, e uma mostra que eles ainda teriam muito para oferecer, mesmo sem Ozzy Osbourne.
JUDAS PRIEST – British Steel
Quando se fala em uma das bandas mais importantes da história de um estilo, é comum topar com um monte de álbuns clássicos pelo caminho. No caso do Judas Priest, qual seria o melhor disco? Confesso, não tenho como responder a essa pergunta sem alguns meses de meditação profunda em um retiro espiritual entre os monges tibetanos, e, como isso não é possível em tempos de quarentena, digamos simplesmente que British Steel, o sexto álbum completo dos ingleses é um dos favoritos nessa competição. Marcado por performances instrumentais inspiradíssimas, vocais cativantes e estruturas musicais muito bem trabalhadas, este álbum destaca alguns dos maiores sucessos da carreira da banda. Afinal, quem nunca ouviu Living After Midnight e Breaking The Law? Porém, é em Metal Gods, Grinder, Rapid Fire e Steeler que coloco a minha preferência, pois são composições que nenhuma outra banda na época poderia ter alcançado.
IRON MAIDEN – Iron Maiden
O primeiro passo de uma das discografias mais sólidas e célebres de toda a história do metal, o álbum de estreia do Iron Maiden foi lançado em 14 de abril de 1980, no mesmo dia que saiu o álbum que você acabou de ler antes, do Judas Priest. Ou seja, em 1980 era bom ir para as lojas de discos com o dobro do dinheiro na carteira, mas não é isso que interessa. O que interessa é Prowler. É Remember Tomorrow. É Running Free que interessa. Se quer saber, o que realmente interessa é a longa e épica Phantom Of The Opera… Acho que você já pegou a ideia. Nada neste álbum é descartável, nada é menor, nada é menos importante, pois tudo aqui soa perfeito e no lugar certo. E digo isso como um fã que conheceu o Iron Maiden já com Bruce Dickinson nos vocais, e que levou muito tempo para assimilar os trabalhos com Paul Di’Anno. Porém, não há como negar a qualidade das composições, o talento cru e visceral do antigo vocalista, e nem as referências à máquina que essa banda se tornaria no futuro. Sim, você já pode parar de ler esse texto e concentrar toda a sua atenção nessa obra-prima do metal. Voltaremos em breve com outra lista, e um novo tema.