FOREIGNER – SÃO PAULO (SP)

10 de maio de 2025 - Espaço Unimed

Por Luiz Tosi

Fotos: Belmilson dos Santos (*exceto onde indicado)

O AOR (Album-Oriented Rock), carinhosamente chamado pelos brasileiros de “aór” e também conhecido como Corporate Rock, Soft Rock ou Stadium Rock, nasceu nos anos 70 e dominou o mundo na década seguinte com seu som polido, emocional e feito sob medida para tocar no rádio e em grandes arenas. Trata-se de uma mistura de refrãos grandiosos, melodias grudentas e letras sobre amor, estrada e superação, que cativa tanto fãs de rock e heavy metal — por seu peso (ainda que moderado), técnica, musicalidade e visual — quantos casais refinados e dentistas proprietários de sedãs, que convivem diariamente com esse estilo em rádios como a Alfa FM e Antena 1. Alguns expoentes do gênero são Journey, Boston, REO Speedwagon, Toto, Styx, Kansas e, claro, Foreigner.

Essa diversidade de público estava bem representada entre os que compareceram em bom número para ver a banda no Espaço Unimed (SP), em um sábado chuvoso. Gente de camiseta preta e senhores de paletó dividiam espaço com tranquilidade. A casa, inclusive, foi organizada de forma estratégica: uma pista próxima ao palco para quem quisesse curtir de pé, com uma cerveja na mão, e, mais ao fundo, uma área com mesas e cadeiras — perfeita para quem preferia assistir confortavelmente, com uma garrafa de vinho e uma tábua de frios.

Antes da atração principal, o público foi brindado com um encontro de gigantes: Eric Martin, vocalista do recém-encerrado Mr. Big, e Jeff Scott Soto, figura carimbada no Brasil, subiram ao palco com o suporte da sempre competente banda Spektra — formada por BJ, Edu Cominato, Leo Mancini e Henrique “Baboom” Canale.

Eric Martin abriu os trabalhos e soube jogar para a galera. Começou com Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song), a mais acelerada do set, e depois mergulhou de vez nas baladas e rocks midtempo que construíram a fama do Mr. Big, agradando em cheio tanto o público mais rocker quanto os dentistas e casais que dançavam abraçados.

Foto: Gustavo Diakov

Vieram Take Cover, Wild World (Cat Stevens), Shine e Green-Tinted Sixties Mind, todas recebidas com coros animados e celulares no alto. O vocal já não é o mesmo dos anos 90, mas o carisma e a entrega de Martin seguem intactos. A performance foi bastante competente, apesar de alguns desencontros aqui e ali – claramente por falta de ensaios. Edu passou boa parte do show gesticulando para alguém, possivelmente da equipe técnica, parecendo incomodado com algo. Mas nada que comprometesse a performance, a entrega ou a energia. Falando em Edu, na hora de apresentar a banda, Martin se referiu a ele como membro do Mr. Big.

Foto: Gustavo Diakov

Jeff Scott Soto assumiu a segunda metade com a pegada e o entrosamento de quem já dividiu o palco diversas vezes com a Spektra, que se mostrou mais relaxada e segura. Entregando um set que mesclou faixas mais hard ‘n heavy, como This House is on Fire (W.E.T.), tocada em mashup com I’ll Be Waiting (Talisman), e um medley de Warrior com Fool Fool (Axel Rudi Pell), com clássicos mais radiofônicos, como Crazy (Seal) e Separate Ways (Worlds Apart) (Journey), Soto conseguiu, assim como Martin, cativar os diferentes públicos.

Foto: Gustavo Diakov

Houve uma derrapada quando Jeff anunciou Alive, do Sons of Apollo. Após duas tentativas frustradas, o cantor desistiu, dizendo que não conseguiam encontrar a afinação correta para a faixa. O gran finale veio com Martin e Soto dividindo os vocais em Livin’ the Life, trilha do filme Rock Star, originalmente com Jeff Pilson — hoje no Foreigner — no baixo. E, claro, To Be With You, mais uma balada mega hit do Mr. Big, cantada em partes iguais por Eric, Jeff e o público. Um final perfeito para um show de abertura que, por si só, já valeria o ingresso.

Foto: Gustavo Diakov

Então, veio o Foreigner. A história da banda tem mais personagens que uma novela de Manoel Carlos. Desde sua formação, em 1976, até hoje, já passaram mais de 40 músicos pelo grupo, entre membros fixos e de turnê. Salvo encontros esporádicos, o Foreigner já não conta com nenhum integrante original ativo há alguns anos e, nas duas últimas décadas, vem sendo capitaneado pelo vocalista (desde 2005) Kelly Hansen (ex-Hurricane) e pelo baixista (desde 2004) Jeff Pilson (ex-Dokken e DIO). Nessa fase, o grupo gravou discos, rodou o mundo e manteve intacto o legado de uma banda com mais de 80 milhões de álbuns vendidos.

O reconhecimento definitivo veio em 2024, quando o Foreigner finalmente foi consagrado no Rock and Roll Hall of Fame, após mais de duas décadas elegível. A cerimônia marcou um momento emocionante: o reencontro de Lou Gramm, vocalista original que havia deixado a banda em 2003, com seus antigos companheiros. Uma coisa levou à outra, e Lou acabou sendo convidado a se juntar à banda para um giro de oito shows pela América Latina e Canadá, como parte da sua turnê de despedida dos palcos, que vem acontecendo desde 2023.

O anúncio da participação de Lou Gramm causou alvoroço entre os fãs da banda, pois seria uma oportunidade única — e provavelmente a última — de ver uma lenda ao vivo. Porém, a vida dá de um lado e tira do outro: entrou uma aguinha no chope quando anunciaram que o vocalista Kelly Hansen não poderia participar das datas, devido a questões de residência que limitaram suas viagens internacionais. Uma pena não ver os dois juntos.

Além de Pilson, a formação atual é consistente e inclui Chris Frazier (ex-Whitesnake e Steve Vai) na bateria, Michael Bluestein nos teclados, Bruce Watson na guitarra e o versátil Luis Maldonado, que assumiu os vocais de Kelly Hansen com uma voz surpreendentemente parecida — tanto com a de Hansen quanto com a de Lou Gramm. As harmonias vocais foram um destaque à parte, executadas com precisão e emoção, como pede o AOR.


A banda percorreu sua era de ouro, apresentando um setlist composto exclusivamente por faixas dos cinco primeiros álbuns, lançados entre 1977 e 1984. E não desperdiçaram hits: despejando um atrás do outro, sem dó. O show começou com Double Vision, seguida de Head Games e Cold as Ice — e você já se pergunta: quantas bandas têm três cartas dessas na manga pra jogar logo de cara? E aí vem um sucesso ainda maior: Waiting for a Girl Like You trouxe um momento mais romântico ao ambiente, enquanto a sequência seguinte imprimiu um crescendo empolgante, com That Was Yesterday, Dirty White Boy, Feels Like the First Time e Urgent, emendadas uma atrás da outra. Covardia.


Falar da capacidade técnica, da precisão e da musicalidade desse grupo chega a ser desnecessário — o currículo de cada um fala por si só. A banda entregou uma performance irretocável, mas havia uma ansiedade no ar. Então, Maldonado dá a deixa: “Se chamarmos, ele vem”, e conduz o público: “Lou, Lou, Lou…”.

Apresentado como “The Real Juke Box Hero”, Lou Gramm já não tem o vigor vocal de outros tempos — e quem se importa? A voz está ali. Mais fraca, sim, mas afiada, afinada, com o timbre intacto e cheia de personalidade. Emocionante. Long, Long Way from Home veio em seguida e, então, o grande momento: I Want to Know What Love Is, a irresistível balada que se tornou “o guilty pleasure” de muitos metaleiros. Teve gente chorando — e não era só na área dos dentistas e casais. Hot Blooded colocou ponto final em uma apresentação memorável.


Nenhum membro original no palco, a ausência do vocalista atual, eventuais limitações técnicas do vocalista convidado — nada disso parece importar diante da força e da dimensão da obra do Foreigner. As composições se impõem, falam mais alto, resistem ao tempo. E, enquanto houver headbangers nostálgicos, casais apaixonados ou dentistas proprietários de sedã dispostos a cantar juntos esses hinos radiofônicos com os braços erguidos, o legado do Foreigner seguirá vivo, respeitado — e merecidamente celebrado.

Setlist Eric Martin:
Daddy, Brother, Lover, Little Boy (The Electric Drill Song)
Take Cover
Wild World
Shine (Mr. Big)
Green-Tinted Sixties Mind

Foto: Gustavo Diakov

Setlist Jeff Scott Soto:
This House is on Fire / I’ll Be Waiting
Warrior / Fool Fool
Crazy
Separate Ways (Worlds Apart)

Setlist Eric Martin e Jeff Scott Soto:
Livin’ the Life
To Be With You

Foto: Gustavo Diakov

Setlist Foreigner:
Double Vision
Head Games
Cold as Ice
Waiting for a Girl Like You
That Was Yesterday
Dirty White Boy
Feels Like the First Time
Urgent
Solo de teclado
Solo de bateria
Juke Box Hero (com Lou Gramm)
Long, Long Way From Home (com Lou Gramm)
I Want to Know What Love Is (com Lou Gramm)
Hot Blooded (com Lou Gramm)

Clique aqui para receber notícias da ROADIE CREW no WhatsApp.

 

Compartilhe:
Follow by Email
Facebook
Twitter
Youtube
Youtube
Instagram
Whatsapp
LinkedIn
Telegram

MATÉRIAS RELACIONADAS

DESTAQUES

ROADIE CREW #285
Março/Abril

SIGA-NOS

51,1k

57k

17,1k

981

23,7k

Escute todos os PodCats no

PODCAST

Cadastre-se em nossa NewsLetter

Receba nossas novidades e promoções no seu e-mail

Copyright 2025 © All rights Reserved. Design by Diego Lopes

plugins premium WordPress