O Ghost Iris já está criando uma tradição em tão pouco tempo de banda: de dois em dois anos, os dinamarqueses lançam um álbum. Acompanhe a cronologia: depois de aparecer como uma das revelações do cenário prog/metalcore com seu ótimo debut Anecdotes of Science & Soul (2015), o grupo consolidou seu nome com Blind World (2017) e Apple of Discord (2019) e emerge novamente com mais um disco relevante. E a grande sacada em Comatose (2021) é a forma como a banda – formada por Jesper Vicencio Gün (vocais e guitarra), Sebastian Linnet (bateria), Nicklas Grønlund Thomsen (guitarra e baixo) e Daniel Leszkowicz (guitarra e baixo) – consegue explorar mitologia e temas sociais atuais, sob a égide do metal. O líder Jesper nos coloca a par de tudo o que vem acontecendo com o Ghost Iris.
Como você está? Como vem sendo esse período de pandemia? Espero que esteja bem, obviamente.
Jesper Vicencio Gün: Olá. Estou ótimo, obrigado. Espero que você esteja também.
Mencionei a pandemia por uma questão óbvia, já que ela, além de todo o caos e o número de mortes em todo o mundo, impediu as bandas de fazer turnê. Mas acho que a situação está melhorando, e espero ver o Ghost Iris em breve.
Jesper: Sim, parece que a situação está finalmente melhorando, o que é absolutamente incrível. E obrigado! Esperamos passar por isso e tocar o máximo possível. Temos duas turnês em novembro e dezembro (de 2021) com Skywalker e InVisions. Então as coisas já estão planejadas.
Falando em boas lembranças das turnês, Apple of Discord (2019) proporcionou ótimos shows e turnês a vocês. Como foi aquele período e como foi para o Ghost Iris tocar, ao longo de sua carreira, com bandas como Soen, Jinjer, Dream Theater, entre outras?
Jesper: Acho que posso falar por todos os membros do Ghost Iris quando digo que 2019 foi muito marcante. Fizemos cerca de 50 shows por toda a Europa e no Japão. Foi uma honra absoluta tocar com essas bandas. Isso realmente abriu nossas possibilidades e nos apresentou a uma cena diferente e a pessoas diferentes. Foram ótimos momentos!
Aliás, tem algum momento que você considera mais marcante nessas turnês? Ou algum fato que realmente chamou sua atenção com relação à recepção do público?
Jesper: Não existe um momento em particular, mas o fato de em todas as noites, na turnê com o Soen, poder ver pessoas que podem não ouvir nosso estilo de música com frequência, mas que estavam ali e absorvendo nossa energia. E a expressão sincera de felicidade que exalamos quando tocamos. Acho que as pessoas podem realmente respeitar esse tipo de música, mesmo que essa música esteja fora de sua “zona de conforto”.
Apple of Discord impactou a cena do metal e colocou a banda ainda mais em evidência. A repercussão foi o que você esperava? Eu pergunto isso porque a banda tem crescido muito desde o primeiro álbum.
Jesper: Apple of Discord foi definitivamente um grande passo para nós, tanto musicalmente, como também em termos de números. Nós definitivamente esperávamos algo, mas nada perto do que conseguimos. O ciclo de Apple of Discord foi incrível, o que também é comprovado pelos 50 shows que fizemos no ano em que o lançamos (risos).
E depois dele temos o mais recente Comatose, que já chama atenção pelo título e pela capa. O que a capa representa e o quanto ela se relaciona com o título e as composições do álbum em geral?
Jesper: Kali é chefe dos Mahavidyas, um grupo de dez deusas tântricas, cada uma com um aspecto diferente da deusa mãe Parvati no hinduísmo. Ela destrói o mal para proteger os inocentes. Escolhemos esta obra de arte, principalmente, devido às associações ferozes a ela conectadas, mas na verdade ela acabou se amarrando bem ao conteúdo lírico de Comatose, de maneira que o conteúdo é muito sobre o mundo estar adormecido e, portanto, ser pisoteado pelos poderes que seja. O mundo precisa acordar e se deixar salvar por Kali, a destruidora da injustiça, protegendo os puros de coração.
Particularmente achei todo o conceito envolvendo música, letras, capa e título muito interessante. E gostaria de saber de onde veio a inspiração para os temas. Vi você citando certa vez, por exemplo, “pessoas que acreditam em algo e lutam pelo que acreditam” como uma das inspirações.
Jesper: Se você não se mantém de pé por nada, você cairá por tudo. Todos nós precisamos de algo pelo que lutar e pelo que viver. A música é a única coisa que confere tudo a mim. Faça o que quiser, mas seja respeitoso e não machuque os outros no processo. A inspiração em Comatose é a escuridão, o pessimismo e o niilismo, mas no canto há um raio de luz. A escuridão não pode existir onde há luz. Essa é minha luta.
Dentro do contexto atual, com tantas questões sociais que acompanhamos no mundo e a pandemia, algum fato, notícia ou obra literária foi decisivo para alguma composição do novo álbum?
Jesper: O processo de composição do álbum começou bem antes da pandemia, então não foi realmente um fator além do fato de que tudo foi uma droga enquanto estávamos gravando (risos). E a gravação ocorreu alguns meses após o início da pandemia.
Com relação às músicas, gostaria de citar Cult como uma de minhas favoritas e parece que também é uma das favoritas dos fãs. Acredito que a letra apresenta uma reflexão muito forte em passagens como “Our leader was a false prophet” (“Nosso líder era um falso profeta”) e “But we will never be in limbo forever” (“Mas nunca ficaremos no limbo para sempre”). O que você poderia nos contar sobre essa composição?
Jesper: Cult é sobre um grupo de pessoas que queria “graduar-se” para o próximo “plano” ou “paraíso”. Esse grupo de pessoas seria conhecido como “culto”. Mas o culto é uma alegoria para algo maior. É um mergulho profundo em como as pessoas podem seguir cegamente uma pessoa, sem pensar nas repercussões ao fazer isso. Ninguém está acima do escrutínio, nem mesmo reis ou rainhas. As pessoas têm que examinar tudo o que ouvem e veem, o que não é algo muito evidente nos dias de hoje.
Instrumentalmente falando, a banda continua pesada e criativa, como nas faixas Paper Tiger e Cold Sweat. Quão importante é o relacionamento dos integrantes ao longo dos anos para criar músicas como essas?
Jesper: Definitivamente, desenvolvemos muito ao longo dos anos, tanto como pessoas, como também como músicos. A vida é uma jornada, não um destino, e acho que isso fica muito evidente na nossa música. Quem sabe onde estaremos sonoramente daqui a cinco anos?
A participação de Mark Hunter (Chimaira) em Desert Dread também é um grande momento em Comatose. Como foi ter no álbum esse que é um dos artistas mais importantes da cena metalcore/groove?
Jesper: Foi ótimo e uma grande honra. Nós todos sempre ouvíamos o Chimaira, então foi completamente insano e um grande “tapinha nas costas” conferir o que ele fez na música.
Voltando ao passado, Anecdotes of Science & Soul está completando seis anos e muitas pessoas já o veem como um clássico apesar de ser um disco não tão antigo. Por ser o ponto de partida da banda e por toda sua repercussão, o que você sente com esse trabalho atualmente?
Jesper: É quase “habitual” que a maioria das bandas não goste de seus trabalhos antigos, principalmente porque estão cansadas disso. Mas eu na verdade ainda estou muito orgulhoso de Anecdotes of Science & Soul. Foi nosso primeiro lançamento, e fizemos um álbum completo de alta qualidade como primeiro trabalho. Eu acho isso muito legal. O álbum ainda se mantém, e eu acredito que continuará assim.
Para encerrar, gostaria de levantar dois tópicos. Em primeiro lugar, a banda tem elementos de metalcore, prog, djent, tech-metal… Existem muitas maneiras de as pessoas rotularem sua música. Como você apresentaria a banda a alguém que ainda não conhece seu som?
Jesper: A música do Ghost Iris pode ser melhor descrita como “cheirar uma linda rosa, enquanto leva um chute no rosto”.
E agora uma curiosidade. Muitas bandas apontam o Sepultura como uma de suas referências. Gostaria de saber se você curte Sepultura, se conhece outras bandas brasileiras e o que pensa delas.
Jesper: Ninguém pode negar o impacto e o sucesso do Sepultura, isso é simplesmente um fato inegável. Porém, eu pessoalmente nunca entrei na deles, mas sou só eu (risos)!
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