GLENN HUGHES

O combo Glenn Hughes + Doug Aldrich justifica qualquer esforço. Está fora da sua cidade ou mesmo do país natal? Dê uma olhada no roteiro da turnê e torça para encontrar um show onde você estiver. E a sorte sorriu para este que vos escreve. Se não dava para ver a dupla no Rio de Janeiro, a agenda permitia prestigiá-la em outra data, em outro lugar. E numa noite gelada em Buenos Aires, dirigi-me ao Groove, casa de shows localizada em Palermo, para assistir ao power trio – o ótimo batera Pontus Engborg completa a formação – em sua única apresentação na Argentina (além de seis shows no Brasil, o giro sul-americano passou também por Peru, Chile e Uruguai).

Antes, no entanto, houve um aquecimento com duas bandas locais. Formado por Alejandro Rod (guitarra), Matías Lucietti (baixo) e Juanee Rodriguez (bateria), o trio Trial X agradou com seu autointitulado Jazz Fusion Rock Funk instrumental. Foram quatro músicas de muito bom gosto em quase meia hora, com destaque para Rod, bastante influenciado por Richie Kotzen, inclusive no timbre do instrumento. Bela entrada, mas o nível baixou em seguida.

O Arden – quarteto que conta com Julian Amarillo (vocal), Armando Decoud (guitarra), Juan Domínguez (baixo), Juan Paz (bateria) – fez um show pouco empolgante, com destaque negativo para a voz de Amarillo: cansativa com tantos vibratos e um tom que não combina com o Heavy Metal mais pesado, porém genérico, da banda. Não bastasse isso, foram necessárias quatro músicas para o vocalista largar o pedestal do microfone e dar um passo para o lado.E assim ficou até a última nota.

As entradas haviam chegado ao fim, então era hora do prato principal. Com o Groove lotado – com capacidade de 1.685 pessoas, a casa recebeu até mesmo um ilustre Paul Di’Anno sentado numa cadeira de rodas –, Hughes, Aldrich e Engborg iniciaram os trabalhos com uma versão arrasadora de “Stormbringer”. E bastaram os primeiros acordes do clássico do Deep Purple para os fãs argentinos mostrarem a sua mística: são completamente alucinados, mas com certa ordem no caos formado. Com a intenção de passar a carreira a limpo, já que não há um novo disco para divulgar, em seguida vieram o balanço irresistível de “Orien” – de “Soul Mover” (2005) –, na qual Hughes mostra o excelente baixista que é, e a sensacional “Way Back To The Bone”, a primeira do Trapeze na noite.

Pronto. Já tinha valido a pena. Era a quarta vez que via Glenn Hughes empunhando o baixo e soltando a voz em cima de um palco, mas parecia a primeira vez. Muito graças a Aldrich, que botava peso quando necessário, groove sempre que preciso e solos com as notas na medida certa. Foi assim também em “Sail Away” – que álbum formidável é “Burn”! – e “Touch My Life”, mais uma do Trapeze, com direito a uma ode a Mel Galley, ex-guitarrista da banda e também do Whitesnake falecido em 2008. A ótima “One Last Soul” veio como a “primeira canção que escrevi para o Black Country Communion, a banda que tive com Derek Sherinian, que brilhou no Dream Theater; Jason Bonham, filho do meu grande amigo John Bonham, que Deus o abençoe; e o Blues God Joe Bonamassa.” Desceu tão bem que ficou um gostinho de quero mais, uma vez que “Black Country” saiu do setlist.

Em uma noite retrospectiva, Hughes introduzia as músicas com suas respectivas histórias, e na vez de “Mistreated” lembrou que foi o primeiro a ouvir a ideia de Richie Blackmore para um dos vários clássicos do Deep Purple. Aldrich prestou o devido respeito ao que temperamental guitarrista criou há pouco mais de quatro décadas, mas foi Hughes quem atraiu todos os holofotes. Menos histriônico do que o normal, presenteou os fãs – que se esgoelavam no refrão – com uma performance de arrepiar. Na frieza dos fatos, apenas dois dos grandes vocalistas surgidos nos anos 60 (ou 70) envelheceram realmente bem: o maior de todos, Ronnie James Dio, nos deixou em 2010, mas hoje Hughes mantém a chama acesa.

A importância da parceria com Aldrich pôde ser medida em seguida, com rasgados elogios ao novo companheiro de banda. “Eu e Ronnie Dio éramos muito próximos, e agradeço a ele por ter me apresentado não apenas um dos melhores guitarristas do mundo, mas um dos melhores seres humanos que conheço.” Foi a deixa para “Good To Be Bad”, que ganhou peso extra na pegada de Pontus Engborg e ratificou a besteira que Dee Snider disse – foi mal, xará, mas o cara escreveu e gravou com David Coverdale dois dos melhores discos do Whitesnake. Assunto encerrado.

“Cant’ Stop The Flood”, mais umbelo exemplar da carreira solo de Hughes – de “Building The Machine” (2001) –, antecedeu o longo solo de Engborg. Em seguida, “Soul Mover” colocou a plateia para soltar a voz mais uma vez, como se fosse preciso um ensaio para o que estava por vir no bis. “Burn” terminou de colocar a casa abaixo com seu riff antológico, seu refrão genial e um desempenho irrepreensível de um power trio com sangue nos olhos. O encerramento de uma noite para guardar na memória. Uma noite que ganhou epílogo na manhã do dia seguinte ao encontrar o trio no aeroporto de Ezeiza, na volta para casa – os três rumo a Montevidéu. E que ganhará, segundo os próprios Hughes e Aldrich, um novo capítulo na forma de um disco de inéditas. E nós, que gostamos de música de verdade, agradecemos.

Setlist
1. Stormbringer
2. Orion
3. Way Back To The Bone
4. Sail Away
5. Touch My Life
6. One Last Soul
7. Mistreated
8. Good To Be Bad
9. Can’t Stop The Flood
10. Drum Solo / Soul Mover
11. Burn

 

 

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