O público brasileiro nem precisou esperar tanto tempo para rever Glenn Hughes, tendo em vista que, mal completou um ano desde a sua última passagem pelo país, e ele já estava de volta aos nossos palcos. Assim como aconteceu em sua visita anterior, a turnê do “The Voice Of Rock” trouxe no repertório músicas de diversas fases de sua carreira – solo, ou de algumas das bandas pelas quais ele tocou –, e novamente passou por diversas cidades do Brasil, respectivamente, Curitiba (PR), Limeira (SP), São Paulo, Belo Horizonte (MG), Rio de Janeiro (RJ) e Florianópolis (SC).
Em São Paulo, nem a forte chuva foi capaz de espantar o público fiel do músico inglês, que compareceu em ótimo número para prestigiá-lo, no mesmo palco do Carioca Club. Com míseros cinco minutos de atraso, Glenn Hughes entrou em cena às 20h35. Novamente acompanhado pelo baterista sueco Pontus Engborg (Eric Martin, Joe Lynn Turner, Graham Bonnet) e pelo estreante guitarrista dinamarquês Soren Andersen (Mike Tramp, Joe Bonamassa, Jason Bonham, Marco Mendoza Trio, Tommy Aldridge, Billy Sheehan e Superfuzz), o trio chegou tocando a empolgante “Way To The Bone”, do Trapeze, enquanto o som ambiente ainda rolava de fundo, improvisando bastante.
Quando a música deu uma “acalmada”, Hughes desceu até o degrau em frente ao palco e mandou um solo de baixo cheio de efeito. Após treze minutos de duração da música de abertura, a banda a emendou com a ‘hardona’ “Muscle And Love”, do projeto Hughes/Thrall, onde, perto do final, Hughes soltou a garganta e começou a exibir um pouco mais dos seus dotes vocais. Só que isso era só o começo…
“Orion”, uma de suas grandes composições solo e presente em “Soul Mover” (2005), foi tocada de maneira direta e reta, assim como a seguinte, “Touch My Life”, que é outra do Trapeze. Na primeira pausa, Hughes aproveitou para agradecer e dizer que sentiu saudades de todos. Sendo calorosamente aplaudido, ele deu início a “First Step Of Love”. O momento seguinte foi especial, ele falou do prazer que sente por um dia ter seu juntado aos seus ex-companheiros de Deep Purple, Ian Gillan, Ian Paice e Roger Glover e pediu que todos ali saudassem os já falecidos Jon Lord e Tommy Bolin. Foi a deixa para clássica “Stormbringer”, na qual, ao final, Hughes mostrou-se surpreso com a participação da plateia: “Que alto! Porra, vocês são loucos demais!”.
Antes do anuncio da próxima, Hughes brincou: “Essa música eu escrevi quando tinha dezessete anos. Em algum momento da minha vida eu já fui um adolescente! Eu tinha um cabelo muito longo, nessa altura (apontando para a sua cintura)”. Hughes se referia à balada “Medusa”, que seria a última do Trapeze a ser tocada, e a qual ele caprichou no início, com belos agudos. Durante a execução, Hughes aparentava estar tendo algum problema técnico e, devido a isso, deixou de executar algumas notas no baixo. Ele tentava se comunicar com um dos assistentes de palco, que, quando o entendeu, foi ajustar o transmissor que ele usava no bolso de trás da calça. Ao final, Hughes brincou e agradeceu o seu assistente: “Eu gostaria de agradecê-lo por ter tocado em minha bunda”. Com todos rindo, ele teceu mais algumas palavras e junto aos seus comparsas mandou ver em outra de suas músicas solo, a pesada “Can’t Stop The Flood”, do álbum “Building The Machine” (2001).
Após “One Last Soul”, do Black Country Communion, enquanto Andersen afinava a sua Fender Stratocaster de cor creme, Hughes aproveitou para dar a notícia de que no próximo dia 4 de novembro lançará o seu novo álbum solo, que “será baseado em Heavy, Rock e Groove” – ou seja, aquilo que os fãs sempre esperam de um disco dele. Glenn também aproveitou para apresentar a banda. Na sequência, falou: “Eu gostaria de dizer que quero fazer uma canção que escrevi junto com David Coverdale, que possivelmente é um dos amigos mais próximos que já tive em toda a minha vida. Eu o amo”, e então anunciou “You Keep On Moving”, do álbum “Come Taste The Band” (1975), do Purple. Nessa, foi acompanhado em uníssono pela plateia, que delirou nos momentos finais da música, quando Glenn deu um show de interpretação vocal, cantando de forma emocional e demorada, antes de emendar com “Soul Mover”, mais uma sua, que finalizou a primeira parte do show. Sob muitos aplausos, o efusivo ‘frontman’ disse: “Meu coração lhes pertence e eu o entrego a todos vocês.”
No bis, Hughes voltou agradecendo e declarando o seu amor ao público e ao Brasil. Ele, o exímio Engborg e o competente Andersen, que apesar do carisma e da boa performance, não tem a pegada e o talento de seu antecessor, Doug Aldrich, voltaram a sacudir o local, dessa vez com “Black Country”, do Black Country Communion. Claro que a emenda foi feita com aquela que todos aguardavam e que não pode faltar nunca no repertório do “The Voice…”: “Burn”. Não preciso nem comentar a histeria que foi causada por essa música, que é um dos grandes hinos da história do Rock mundial… E foi com ela que a banda se despediu. Antes de deixar o palco, Hughes mandou o recado: “Brasil, mantenha-se livre, seja feliz. Saúde, felicidade e Rock’n’Roll, filhos da puta!”, finalizou o vocalista, arrancando gargalhadas gerais e mais aplausos. Saindo do Carioca Club, Glenn Hughes terminou a noite indo comer um lanche no Manifesto Bar. Lá ele saboreou o Stones Burguer e elogiou bastante.
Para os fãs, não tem erro, todos saem felizes cada vez que Glenn Hughes passa pelo Brasil, pois, as apresentações desse veterano incansável do Rock britânico, são sempre impecáveis e altamente energéticas. Sobre a qualidade do som que se ouvia nesse último show, ela só não foi tão boa quanto à do ano passado, porque dessa vez o bom técnico de som, que retornou com Hughes ao país, deixou o baixo soando mais alto do que a guitarra de Soren Andersen (e olha que, no geral, tudo estava bastante alto), mas, ainda assim, foi digno de elogios. Em relação à sua voz, ela continua imbatível e, como eu disse após o show em minhas redes sociais, Glenn Hughes é como aqueles jogadores que, mesmo em fim de carreira, ainda conseguem dar pique, aos 45’ do segundo tempo. Agora, vamos aguardar o que Glenn Hughes aprontará em seu novo álbum, que se chamará “Resonate”, e esperar que ele volte ao país para divulgá-lo.
GLENN HUGHES – Setlist:
Way Back To The Bone (Cover do Trapeze)
Muscle And Blood (Cover do Hughes/Thrall)
Orion
Touch My Life (Cover do Trapeze)
First Step Of Love (Cover do Hughes/Thrall)
Stormbringer (Cover do Deep Purple)
Medusa (Cover do Trapeze)
Can’t Stop The Flood
One Last Soul (Cover do Black Country Communion)
You Keep On Moving (Cover do Deep Purple)
Soul Mover
Bis:
Black Country (Cover do Black Country Communion)
Burn (Cover do Deep Purple)