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GLENN HUGHES: A SAIDEIRA PÚRPURA

De volta ao Brasil para celebrar os clássicos com os fãs, ‘The Voice of Rock’ resume sua história no Deep Purple e atualiza o momento atual da carreira

Seis anos depois de apresentar ao Brasil algumas das joias lapidas em seus três discos com o Deep Purple – “Burn” (1974), “Stormbringer” (1974) e “Come Taste the Band (1975)” –, Glenn Hughes está de volta neste mês de novembro para uma nova celebração com os fãs que já passou por Brasília (4), Belo Horizonte (5) e Porto Alegre (7) e que agora vai desembarcar em Curitiba (8), Rio de Janeiro (10) e São Paulo (11). Em novo bate-papo com a ROADIE CREW, o sempre gentil baixista e vocalista falou sobre a atual turnê, seus anos na veterana banda inglesa, The Dead Daisies, Ronnie James Dio e muito mais. Aumente o som, leia a entrevista e se prepare para os shows.

Como está a nova turnê até agora?
Glenn Hughes: Está fantástica! Começamos no início de maio, na Escandinávia, e fizemos 20 shows na Europa. Em seguida, foram 23 shows nos Estados Unidos, num giro que terminou recentemente. Além disso, eu estive no Brasil no início de outubro com o Kings of Chaos, e foi absolutamente fantástico! (N.R.: capitaneada por Matt Sorum, a banda veio ao pais com Hughes, Robin Zander, Lzzy Hale, Steve Stevens, Gilby Clarke, Joe Hottinger e Carmine Rojas para um show privado). Pude rever alguns amigos e fiz questão de que eles soubessem que eu voltaria em breve!

E qual é a diferença entre o que está sendo apresentado agora com o que foi feito na turnê celebrando o Deep Purple em 2017?
Glenn: É um pouco semelhante. Quero dizer, as músicas são clássicas, mas estou fazendo essa nova turnê para divulgar o 50º aniversário do “Burn”. Aqueles shows no Brasil foram muito bem-sucedidos, por isso estou trazendo-a de volta, e é importante dizer que quando terminar essa turnê de comemoração, no ano que vem, eu provavelmente não tocarei e cantarei mais todas essas músicas novamente, então esta é a última vez que vocês poderão conferir todas elas num único show. Assim, minha mensagem aos fãs brasileiros é a seguinte: sou o último cara a cantar esses clássicos. Vocês jamais ouvirão isso de novo ao vivo, porque sou mesmo o último músico a fazer um show com todas elas no repertório. Se você é fã do Deep Purple, especificamente da época em que estive na banda, ou mesmo admira meu trabalho como um todo e quer ouvir essas músicas icônicas, recomendo que você vá ao show, porque será espetacular!

E “Burn” é parte importante da história do Deep Purple, da sua história e da história da música, também. Quais são as suas lembranças daquela época?
Glenn: Éramos apenas cinco caras num castelo no interior da Inglaterra, criando música, e éramos como uma nova família! Afinal, havia dois caras novos entrando numa banda que já era bem-sucedida e famosa. E posso lhe dizer uma coisa, Daniel: não havia nenhuma pressão sobre mim ou sobre o David (Coverdale), estávamos naquela sala rindo, curtindo o fato de que havia uma amizade verdadeira. Aquelas músicas surgiram de muito trabalho, sem dúvida, mas também de muita diversão. Não à toa se tornaram clássicos atemporais, porque foi muito divertido fazer o “Burn”.

Do Trapeze para o Deep Purple, foi uma grande mudança. Você estava substituindo Roger Glover e Ian Gillan ao mesmo tempo, e tinha o David na equação Foi uma combinação interessante para manter a banda relevante, não?
Glenn: Acredito que Ritchie (Blackmore), Jon (Lord) e Ian (Paice) queriam dois caras novos que cantassem e que fossem mais influenciados pelo blues do que Gillan e Glover, então é isso mesmo. Eles queriam que o Deep Purple continuasse classic rock, é claro, mas com uma mudança de perfil, de energia, de opinião musical, da forma como as novas músicas fossem ser cantadas. Quando David e eu entramos, nós trouxemos nosso próprio nível e abrimos novos caminhos para o Deep Purple.

Você e David funcionaram muito bem juntos. Apesar da sua participação em “Slip of the Tongue” (N.R.: na música “Now You’re Gone”, do álbum do Whitesnake lançado em 1989) e de dois terem feito algumas coisas ao vivo ao longo dos anos, eu sempre esperei que um dia gravassem um disco juntos.
Glenn: Vou lhe contar uma coisa, Daniel: nós conversamos sobre compormos e gravarmos um álbum juntos, sim, mas há um limite de vezes em que posso conversar com alguém sobre fazer qualquer coisa. David sempre esteve bastante ocupado, e agora está se recuperando do problema de sinusite e da infecção na traqueia. Enquanto isso, eu estou trabalhando bastante, tocando ao vivo, fazendo música com Joe (Bonamassa), Jason (Bonham) e Derek (Sherinian) no Black Country Communion e, também, prestes a começar o processo de um novo disco solo. Honestamente, acredito que o tempo para David e eu fazermos algo juntos passou, ficou mesmo para trás. Nós falamos a respeito há alguns anos, e mais de uma vez, só que nunca andou para frente, realmente.

Deep Purple
A MK III do Deep Purple (1973-1975): Glenn Hughes, Ritchie Blackmore, Ian Paice, Jon Lord e David Coverdale (Foto: Divulgação)

Voltando ao Deep Purple, em “Stormbringer” a sua contribuição é ainda mais clara, porque o álbum tem elementos de soul, funk e groove. E foi aí que começaram os problemas com Ritchie Blackmore, certo?
Glenn: (rindo) Quando começamos a compor o “Stormbringer”, Ritchie trouxe apenas duas músicas, “Stormbringer” e “Soldier of Fortune”. Então, vamos colocar da seguinte maneira: fomos Jon, David e eu que compusemos as outras músicas, por isso havia uma energia diferente no som da banda. Nós, incluindo o Ian, não queríamos repetir o que fizemos no “Burn”. Desde o começo já queríamos fazer algo diferente, e eu amo esse disco! “Stormbringer” é muito melódico, tem bastante groove e foi uma ótima sequência para o “Burn”.

E chegamos a “Come Taste the Band”, um disco para o qual as pessoas passaram a dar o devido respeito. Como você ainda deixa portas abertas, não seria um álbum que merece uma turnê especial?
Glenn: Boa pergunta, mas eu realmente não sei, Daniel. Hoje, acredito mesmo que voltarei a ser apenas Glenn Hughes quando terminar essa turnê. Tenho 17 discos solo, como você sabe, e o Black Country Communion vai lançar seu quinto álbum, então há muitas outras coisas acontecendo ao meu redor. O “BCC 5” sai no início do ano que vem, então 2024 será um ano bem agitado para mim. Ainda assim, como o legado das músicas do Deep Purple estará presente até o fim do próximo ano, quem sabe?

E como foi substituir Ritchie por Tommy Bolin? Porque foram duas grandes mudanças em pouco tempo no Deep Purple, mas que resultaram na obra-prima que também é o “Come Taste the Band”.
Glenn: Nós fizemos a audição do Tommy em Los Angeles, e ele foi morar na minha casa por um tempo. Éramos muito amigos, como você sabe. É muito difícil substituir um guitarrista como Blackmore, ou como Jimmy Page, Jeff Beck e Tony Iommi, então não procurávamos uma cópia do Ritchie. Não queríamos alguém que o imitasse, então Tommy foi o cara certo porque trouxe um sabor diferente para o Deep Purple. Ele tinha um estilo diferente de tocar guitarra, e com isso nos tornamos uma banda que progredia para outra direção. Ainda era rock’n’roll, só que de um ângulo diferente. Na época, algumas pessoas nos perguntaram por que não buscamos alguém que se parecesse com o Ritchie, e respondíamos que não achávamos que era a coisa certa a se fazer. Quando ouvimos Tommy tocar no disco do Billy Cobham (N.R.: “Spectrum”, de 1973), nós quatro decidimos dar uma chance a ele. Tommy nos encontrou no estúdio, tocamos juntos e nos demos conta de que tínhamos o cara novo no Purple. Era diferente e seria uma aposta alta, mas em seguida fizemos esse disco aí, chamado “Come Taste the band”, que é um trabalho espetacular! Ou seja, apostamos certo.

Deep Purple
A MK IV (1975-1976) do Deep Purple: David Coverdale, Ian Paice, Jon Lord, Tommy Bolin e Glenn Hughes

Você mencionou um novo disco solo, então realmente teremos o sucessor de “Resonate” (2016)?
Glenn: Sim! Sabe, Daniel, creio que no próximo verão europeu eu entrarei em estúdio para gravar meu novo álbum. Será o primeiro em oito anos, então estou bastante animado!

Da última vez que conversamos, você estava animado com “Radiance” (2022) e o futuro do The Dead Daisies. Não muito depois, rolou a separação. O que aconteceu?
Glenn: A verdade é que eles queriam dar uma pausa de seis a nove meses, e eu não tinha intenção de ficar parado. Como eu já queria fazer um novo disco com Black Country Communion, decidi também que iria reativar a minha própria banda e gravar com outras pessoas. Era o que eu queria a partir daquele momento e é o que tenho feito desde então. Só tenho amor e respeito pelo Dead Daisies, amo cada um deles, mas não estava pronto para desacelerar (risos). Eu tinha de continuar, precisava voltar ao Brasil com a minha própria música, com o meu legado no Deep Purple, e tocar para fãs incríveis, porque os fãs brasileiros são os melhores fãs de rock do mundo!

De fato, não dá para imaginá-lo sentado no sofá assistindo à TV durante meses…
Glenn: (rindo bastante) De jeito nenhum! Eu jamais ficaria sentado no meu sofá, fazendo nada e esperando o tempo passar, Dan! (risos)

Sobre o Black Country Communion, um supergrupo com quatro ótimos discos, eu sempre esperei que vocês pudessem ir além, fazendo turnês mundiais, afinal, são talentos imbatíveis juntos na mesma banda.
Glenn: E eu concordo com você, Daniel! Cada disco que fizemos deveria ter tido uma grande turnê, mas não aconteceu. Falei com o Joe sobre isso há alguns meses, e esperamos conseguir fazer algumas turnês com o próximo disco, mas isso é algo que não posso prometer. Toda vez que eu falo que vamos fazer alguma coisa e não fazemos, eu sinto como se tivesse feito algo errado. É um prazer para mim tocar com Joe, Derek e Jason, e espero realmente que aconteça de tocarmos em vários lugares, mas não posso dizer que isso vai acontecer.

Você tocou e toca com grandes guitarristas, e a lista tem nomes como Ritchie Blackmore, Tommy Bolin, Tony Iommi, Doug Aldrich, Joe Bonamassa… Sendo você mesmo um grande nome, como é essa relação?
Glenn: Olha, Daniel, eu preciso dizer algo antes de qualquer outra coisa: tenho uma relação muito boa com cada um desses guitarristas que você mencionou. E essa lista também tem Joe Satriani, Pat Thrall, Jerry Cantrell, John Frusciante, Brian May, Steve Lukather… Meu Deus! Está vendo só? (risos) Muitos deles moram perto de mim, em Los Angeles, e são bons amigos, e poder tocar e fazer música com amigos é algo muito especial para mim. Além disso, amo tocar com todos os tipos de grandes músicos!

Glenn Hughes
Quarenta anos depois, Glenn Hughes mantém vivos os clássicos das MKs III e IV do Deep Purple (Foto: Divulgação)

Sobre Tony Iommi, felizmente vocês puderam lançar e gravar aqueles dois álbuns nos anos 2000 (N.R.: “The 1996 DEP Sessions”, em 2004, e “Fused”, em 2005), porque seria uma pena se a parceria tivesse se limitado ao “Seventh Star” (1986). Como foi poder acertar o que começou no Black Sabbath?
Glenn: Foi ótimo, Daniel! Tony é um dos meus melhores amigos, e estamos sempre nos falando. Existe a possibilidade de mais um disco… Bom, não posso falar muito sobre isso. Ainda não tenho certeza de nada, mas eu e Tony temos falado a respeito, então contarei a você quando acontecer (risos). Eu só desejo coisas boas ao Tony, porque quero que ele viva uma vida boa, feliz, bonita e saudável. Os caras do Sabbath são grandes amigos meus, como você bem sabe, e tudo que eu quero agora é viver uma vida boa, feliz e espiritualizada, vivenciando o presente, fazendo músicas novas e tocando ao vivo enquanto eu puder.

É sempre interessante ver como a sua espiritualidade o fez explorar todo o seu potencial e talento, expandindo ainda mais a sua carreira. O que isso representa para você?
Glenn: A música salvou a minha vida, Daniel. Quando mudei meu estilo de vida e fiquei sóbrio, em 1991, comecei a acreditar que eu era um homem bom, tinha uma boa energia e um bom relacionamento com o meu poder superior. Eu falo com Deus, internamente, em cada momento da minha vida, e Ele fala comigo dentro de mim, então eu recebo orientação Dele todos os dias. O que eu quero neste mundo é que as pessoas sejam felizes e livres, que aproveitem as suas vidas no momento presente. Quero levar a mensagem de amor e paz através da minha música, quero criar uma mensagem para todas as pessoas quando elas ouvem minhas palavras e minhas melodias, porque é realmente sobre levar uma mensagem com a minha música. Todas as minhas canções são sobre a condição humana, sobre o amor que sentimos uns pelos outros, o amor pelo Planeta Terra, para nos mantermos num estado livre de consciência.

Rapidamente de volta ao Sabbath, e especificamente sobre o Heaven & Hell, como foi para você, emocionalmente, aquele show em homenagem a Ronnie James Dio? (N.R.: no dia 24 de julho de 2010, pouco mais de dois meses depois da morte de Ronnie, Hughes e Jørn Lande se dividiram nos vocais durante a apresentação no festival inglês High Voltage).
Glenn: Ronnie era um dos meus amigos mais próximos. Nós nos conhecia desde 1974, quando ele estava no Elf e a banda abriu alguns shows do Deep Purple. Na verdade, éramos muito mais do que amigos, porque Ronnie era como um irmão para mim. Durante a vida dele, fomos muito conectados, e foi uma honra ajudar a levar a sua música adiante depois que ele nos deixou. Eu pude cantar para ele no funeral, e cantei sobre paz e amor porque queria que as pessoas soubessem o quanto eu o amava e o quanto ele amava seus fãs. Nunca haverá alguém como Ronnie.

Obrigado por esse novo papo, Glenn, e também pela gentileza de esticar nosso papo em mais alguns minutos. E nos vemos no Rio.
Glenn: É sempre um prazer falar com você, Daniel. E para meus fãs brasileiros, meus irmãos e irmãs, eu amo vocês demais! Vocês sabem disso, sabem o quão importante é, para mim, dizer a vocês que os amo, e estou chegando em novembro para estarmos juntos! Mal posso esperar para estar com todos vocês outra vez!

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