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GOJIRA – FORTITUDE [9,5/10]

O Gojira é uma banda única. Talvez porque as letras de suas músicas lidam diretamente com a vida em suas variadas formas e com o meio ambiente que nos cerca. Talvez seja o curioso timbre das guitarras de Joe Duplantier e Christian Andreau, reconhecíveis logo nos primeiros acordes de qualquer canção do quarteto francês.

Ou, pensando bem, a singularidade vem da união entre a brutalidade das composições e a abordagem de temas como crianças selvagens integradas à civilização (“L’Enfant Sauvage”), aquecimento global (“Global Warming”) e poluição dos oceanos (“Toxic Garbage Island”).

Portanto, olhando a trajetória da banda em retrospectiva, podemos dizer que é esperado o Gojira buscar um direcionamento mais inovador a cada álbum lançado.

Se “Magma”, de 2016, foi muito enfático na ruptura com o som característico do grupo (progressive/technical death metal), “Fortitude”, o 7º disco de estúdio, aperfeiçoou os detalhes e conseguiu criar músicas pesadas e técnicas, porém, mais melodiosas, às vezes encorpadas com coros de Joe Duplantier (“Hold on” e “Another World”), e outras com refrões empoderadores (“Into the Storm”, por exemplo). Pasme, houve inclusive espaço para solos de guitarra em “The Chant”. E, se você acompanha a carreira do grupo, sabe o quanto estes são raros em meio às paredes sonoras intrincadas e quase intransponíveis que eles criam desde “Terra Incognita” (2001).

Para contextualizar o leitor, encare “Fortitude” como um meio termo entre “L’Enfant Sauvage” (2012) e o já mencionado “Magma”. Nem tão agressivo, nem tão experimental e introspectivo. Na medida certa.

O cartão de visitas para o novo trabalho veio em agosto de 2020, quando a banda inesperadamente lançou o single “Another World”, uma música cadenciada, com ótimas linhas de baixo de Jean-Michel Labadie e que já mostrava um trabalho mais focado no ritmo e melodia. Prova disso é o coro cantado por Joe Duplantier após o segundo refrão.

Esta música é boa, isso é inegável, mas, após ouvir o álbum todo, é fácil perceber que ela não dá a dimensão da originalidade e qualidade de “Fortitude”.

O próximo single, agora em 2021, ficou a cargo de “Born for One Thing”, faixa que abre o disco. As guitarras em cacofonia logo dão lugar a uma música pesada, com Mario Duplantier fazendo miséria na bateria, enquanto seu irmão alterna entre vocais rasgados e guturais. Fica nítido que a banda está bem confiante, pois a música é forte e intensa. Não há mais espaço para o clima melancólico (melhor dizendo, de luto) que encobria praticamente todas as faixas de “Magma”.

Na verdade, as palavras mais adequadas para descrever o novo álbum são “força” (obviamente relacionada ao título escolhido) e “resiliência” para as adversidades atuais. Um exemplo disso é a bela capa do álbum que, como sempre, ficou a cargo de Joe Duplantier. O altivo guerreiro indígena está aparamentado para a guerra e pronto para “dominar o maior medo de todos”, como cantado no refrão da faixa de abertura.

Há outras pérolas escondidas no trabalho que complementam ainda mais a experiência sonora/visual. A ideia de força para sobreviver aos tempos difíceis fica muito clara em “Hold On”, faixa com o início mais diferente e que contém uma pequena passagem de vocal gutural que lembra a época de “Wisdom Comes” (“The Link” – 2003). Por sua vez, “Into the Storm”, com ritmo muito semelhante a “Explosia”, do álbum “L’Enfant Sauvage” (2012), traz um ótimo refrão que encoraja e empodera qualquer um quando Joe canta: “Put your fist in the air/ You were hiding/ Now you throw yourself/ Into the storm” (algo como: Coloque seu punho para cima/ Você estava se escondendo/ Agora você se joga para dentro da tempestade).

E o que dizer das duas músicas que roubaram todo o holofote do álbum? Talvez seja um pouco cedo para especular, mas tudo indica que “Amazonia” e “The Chant” entrarão para a história do grupo, justamente porque elas sintetizam essa fase de composições melódicas e diretas, sem perder, por óbvio, a agressividade.

Os acordes hipnóticos de “Amazonia” logo transportam o ouvinte para esse ecossistema repleto de vida, misticismo e de rituais indígenas. A sensação é a mesma de quando se ouve qualquer faixa do Sepultura em “Roots”, pois você se imagina cercado pela floresta. A música tem uma toada mais simples (para o “padrão Gojira”) e o que mais chama a atenção é o groove quase visceral e a competente condução de Mario na bateria. A letra da canção fala por si só: “The greatest miracle/ Is burning to the ground” (em tradução literal: “O grande milagre/ está queimando”).

Por sua vez, “The Chant” é o ápice da experimentação da banda e pode causar incômodo a alguns. Nem mesmo o fã que gostou do rumo tomado em “Low Lands” no álbum anterior (e eu me incluo nessa turma) imaginaria o que viria agora. O grupo se aventurou em uma típica canção de rock que, além de ser embalada pelos coros de Joe Duplantier, entoados quase como um mantra, também trouxe solos de guitarra (já comentei anteriormente o quão raros eles são). E, como se não bastasse, Mario Duplantier usou cowbell, algo um tanto quanto inesperado.

É muita informação para ser assimilada logo na primeira audição, porém, quanto mais você ouve, mais você percebe: o Gojira sabe muito bem o que faz, e não tem medo de inovar.

Mas não se engane, “Fortitude” não se resume a essas duas faixas. É interessante comentar que “Sphinx” reflete muito bem a versão atual da banda: pesada, com técnica afinada e vocal rasgado/gutural, mas que traz também momentos melódicos no refrão. Por sua vez, a calma e inspirada “The Trails” parece ter sido composta durante as gravações de “Magma”, pois se assemelha muito a “Low Lands”, especialmente nas passagens em que Joe canta quase sussurrando.

Apesar dos novos caminhos explorados pelo grupo francês, o álbum encerra retomando a brutalidade com “Grind”, faixa repleta de peso. Os destaques dessa música ficam por conta do incansável Mario Duplantier e sua bateria, e do baixista Jean-Michel, que encorpa a inesperada mudança de ritmo ao final.

Em linhas gerais, “Fortitude” contém tudo o que consagrou os 20 anos de carreira do Gojira. O grupo continua produzindo músicas pesadas e complexas e se preocupando com grandes questões, como a preservação ambiental e a profunda empatia com a vida, algo que sempre esteve presente nas músicas do grupo.

Além disso, o álbum vai mais longe, pois mostrou a inquietação pela mudança e a necessidade de criar canções fortes (às vezes no som, mas sempre nas letras) que se adaptam aos tempos atuais. “Fortitude” preserva as raízes do death metal enquanto impulsiona o grupo para caminhos mais melódicos ou acessíveis, o que, sem dúvida, atrairá uma nova gama de fãs. E o melhor de tudo é que a banda parece muito confortável com esse novo rumo.

 

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