Por Nelson Sousa Lima
Fotos: Roberto Sant’Anna
Foi um verdadeiro festival o Conexões Inspiradoras Buena Onda. Mais que isso, o evento teve a bela iniciativa de reunir nomes de várias regiões do país. Assim, subiram ao palco do Vip Station os paraenses Molho Negro, Elder Effe e DJ Damasound, a potiguar Camarones Orquestra e as paulistas Bike, Space Grease e Hammerhead Blues, mostrando o quanto o rock psicodélico/brasileiro/autoral/independente é forte e não se dobra a movimentos passageiros e modinhas. E esses nomes se uniram a dois headliners, da noite, o canadense Danko Jones e o sueco Graveyard.
Danko Jones é o vocalista e guitarrista que lidera o power trio que leva seu nome. Ele não apenas empunha a guita como canta visceralmente, além de mandar muito bem nas letras. Ladeando Jones estão o baixista John Calabrese e o batera Rich Knox. Prestes a completar 30 anos de trajetória, Jones e seus parças fizeram show irretocável, com tudo o que pede o manual roqueiro: riffs, solos, refrãos grudentos, mãos pra cima e muitos “ei, ei, ei “.
Antes de chegar ao Brasil, Danko Jones e Graveyard passaram por México, Chile e Argentina. Em nosso país, tiveram um final de semana agitado, tocando no Rio de Janeiro (14), São Paulo (15) e Belo Horizonte (16). Apesar de se apresentar no Brasil por três noites seguidas, o “The Mango Kid” no palco é uma usina movida a puro rock and roll. Faz caras, bocas e é verborrágico pra caramba. Sem se importar se a galera está entendendo ou não, fala pelos cotovelos: tirou barato de quem tava usando camiseta de banda, agradeceu a presença do público, que foi de razoável a bom, e disse adorar andar por São Paulo pois vê pessoas iguais a ele. Ponto pro cara. Danko Jones abriu o set com duas do recente Eletric Sounds, de 2023, Guess Who’s Back e Get High. Com drive na voz, o cara disse que nos tornamos escravos das mídias sociais, mas pediu para postarem vídeos e fotos de sua apresentação na internet.
Com onze discos de estúdio, o canadense tem muitos hits na manga, porém o álbum que mais contribuiu para o repertório foi Wild Cat, de 2017, com as eletrizantes I Got Rock, You Are My Woman e My Little RnR, que encerrou a apresentação. As grudentas First Date, do disco Sleep Is the Enemy, de 2006, e Good Time, mais uma de Eletric Sounds, levaram o público às alturas com refrãos cantados aos berros – ele chamou a galera pra cantar o refrão dessa música como um maestro regendo uma orquestra. Aliás, que refrão louco esse: “We are here to fuck shit up and have a good time”. Nesse momento, o VIP Station entrou em erupção. O riff é como lava vulcânica e o baixista John Calabrese vai junto com os fãs, cantando e agitando demais. Danko Jones está muito bem assessorado, além de deixar evidente que é rock and roll em estado bruto. Show irretocável.
O mesmo não dá pra falar do Graveyard. Os suecos fizeram uma apresentação protocolar, apenas pra cumprir tabela. Tipo vamos tocar, encerrar este festival e pular fora. Ao contrário de Danko Jones, o quarteto formado por Joakim Nilsson (vocais e guitarra), Jonatan Ramm (guitarra), Truls Mörck (baixo) e Oskar Bergenheim (bateria) interagiu pouco com o público, com poucas palavras de agradecimento e saudação aos presentes. Não sei se isto é próprio da banda ou não estavam muito empolgados, mas senti distância entre banda e fãs. E pra piorar, uma interferência sonora na guitarra de Joakim rolou o show todo.
Divulgando o novo trabalho 6, lançado em 2023, que contribuiu apenas com duas canções, Twice, que abriu o set, e Rampant Fields, os suecos mandaram treze músicas em pouco mais de uma hora de show. As influências heavy setentistas, “sabbáthicas” e “zeppelineanas” com molho psicodélico, mostram que funcionam ao vivo pois os músicos são bastante técnicos. As letras do Graveyard abordam temas que vão de relacionamentos complexos, desesperança na raça humana e contra governos tirânicos e falsos líderes. Por exemplo, An Industry of Murder, de Lights Out, de 2012, é uma das letras mais emblemáticas e pesadas dos suecos, por mostrar os horrores em que o mundo mergulhou nas últimas décadas, além de uma crítica direta aos EUA.
Os álbuns Graveyard, de 2007, e Innocence & Decadence, de 2015, não contribuíram com nenhuma música. Porém, Hisigen Blues, lançado em 2011, um dos mais bem-sucedidos da discografia do quarteto, cedeu cinco: a faixa-título, Uncomfortably Numb, No Good, Mr. Holden, Ain’t Fit to Live Here e The Siren, que fechou a apresentação pontualmente às 22h15.
Não dá para dizer que foi desastroso ou trágico. No entanto, ficou aquele gosto de comida sem sal na boca. E isso estava estampado na cara da galera ao final do show, meio sem saber onde ir. Quem sabe na próxima vez seja melhor.
Setlist Danko Jones
Guess Who’s Back
Get High?
I’m in a Band
I Gotta Rock
Lipstick City
First Date
Good Time
You Are My Woman
Flaunt it
Full of Regret
Had Enough
Lovercall
Invisible
My Little RnR
Setlist Graveyard
Twice
Bird of Paradise
Cold Love
An Industry of Murder
Hisingen Blues
Goliath
Rampant Fields
Please Don’t
Uncomfortably Numb
Bis
Walk On
No Good, Mr. Holden
Ain’t Fit to Live Here
The Siren
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