GREAT VAST FOREST – 25 anos de História revistos em três capítulos

Costuma-se dizer que no metal extremo as coisas nunca são fáceis. Ainda bem que é assim. Quando iniciou suas atividades – em 1995, em Lages – a Great Vast Forest era mais uma banda a integrar o crescente cenário do metal extremo catarinense, uma cena então pouco observada, e que hoje é considerada uma das mais respeitadas e prolíficas do nosso país. Com seu black metal épico, forjado no calor da batalha, o Great Vast Forest foi construindo sua história aos poucos, e nesses vinte e cinco anos de jornada lançou dois álbuns completos de estúdio muito aclamados, além de uma coletânea de demos que revisita os primeiros passos da horda. Para contar todos os detalhes de toda essa história, conversamos com o vocalista, Surgath.

Vamos começar pelo início: Como se deu o início do Great Vast Forest, e como foi ter uma banda de black metal na Serra Catarinense?

Surgath: Saudações Valtemir Amler e a todos os leitores da Roadie Crew. Primeiramente, quero agradecer em nome da banda Great Vast Forest, a você Valtemir pelo convite para uma entrevista e pela oportunidade em divulgar e comentar os álbuns lançados pela Great Vast Forest, no site da Roadie Crew Mag. O início das atividades da banda Great Vast Forest se deu no inverno do ano de 1995, na pequena e fria cidade de Lages – Santa Catarina, sob fortes influências do ‘Old Black Metal’ dos anos 80, em bandas como: Bathory, Venom, Celtic Frost, Hellhammer, Vulcano e Sarcófago, além do Black Metal do início dos anos 90 (nos primeiros lançamentos das bandas Mayhem, Satyricon e Darkthrone). Neste sentido, com o ideal de tocar e compor músicas próprias dentro do estilo musical e ideológico do Black Metal, iniciamos os ensaios e logo vieram os primeiros riffs. Conforme as ideias para as composições próprias foram surgindo, foram deixando a banda com uma característica original e interessante, e então passamos a trabalhar nestas músicas para um lançamento oficial da Great Vast Forest. Naquela época, ter uma banda de Black Metal na Serra Catarinense era muito underground, ou seja, era sigiloso, restrito a um pequeno grupo de apreciadores do Metal Extremo e radical. Então, resolvemos investir em projetar a banda para outros Estados do Brasil e também divulgar em outros países onde a cena Black Metal estava tomando uma maior evidência e chamando atenção de gravadoras, zines e revistas. Foi então que conseguimos fortes contatos, aliados, novos membros e oportunidades para divulgar as músicas da banda em shows, participando dos festivais de Metal Extremo. Atualmente a banda encontra-se residindo na cidade de Curitiba, Estado do Paraná, tendo em vista que a maioria dos membros da banda residem em Curitiba, o que facilita os ensaios constantes e também é onde encontra-se um dos melhores estúdios do Brasil, O Beco Estúdio (onde foi produzido o nosso novo álbum, From the Dark Times to the Black Metal Legions) do grande produtor Ivan Pellicciotti, o qual escolhemos para trabalhar com a banda pela seriedade e principalmente, pela competência profissional para produzir álbuns de Metal Extremo.

Fotos: Estela Zardo

Antes de chegar ao debut, o Great Vast Forest passou por todo aquele usual ciclo de demos. Você acredita que mais do que apenas divulgar a banda aquelas demos serviram para ‘afiar’ a banda, garantir uma certa experiência para uma então banda iniciante?

Surgath: Com absoluta certeza, as Demos são extremamente importantes, pois é o primeiro material de impacto, é a primeira impressão que a banda dará ao público, e o meio pelo qual terá uma primeira resposta do seu trabalho – sendo bem aceito ou não pelo público, o que de uma forma ou outra, trará experiência para a banda produzir o seu próximo lançamento. No Metal Underground temos muitos exemplos de Demos que são clássicas e muito procuradas até hoje, pela capacidade de ter captado toda a energia, essência ou originalidade de uma banda na época que foram gravadas ao meu ver, isso torna as Demos muito importantes e necessárias. E foi pensando na importância das Demos, que resolvemos fazer uma compilação das Demo Tapes da Great Vast Forest e lançar em um formato CD Digipak, para que todos os apreciadores da banda pudessem ter acesso aquele material que tinha ficado restrito somente as Demo Tapes lançadas lá nos anos 90. Então, lançamos The Years of Cold Winter and Darkness (Tapes Compilation) em 2015, e juntamente com estas Demos, colocamos no encarte do CD várias fotos, flyers, cartazes de show da época, etc… Ou seja, coisas do arquivo histórico da banda, para ser dividido com os colecionadores também.

Hoje é muito normal, por questões da tecnologia e da própria internet, que as bandas pulem essa etapa das demos, e já comecem a jornada com um EP ou até mesmo um álbum completo. Na sua opinião, quais são as vantagens e as desvantagens de optar por não disponibilizar demos?

Surgath: A vantagem é que hoje em dia, com estas plataformas digitais e redes sociais, a divulgação para as novas bandas ficou ultra rápido e disponível ao mundo todo em tempo real, porém, sem aquela atmosfera e nostalgia “underground” de antes. Somente formatos físicos em Demo Tapes e compactos de vinil (7″ EP) conseguem manter está característica até hoje. Na minha opinião, as Demos Tapes tem tiragem limitada, o que já agrega valor ao lançamento, acaba ficando restrito ao underground e vira uma raridade, item de colecionador, então Demo Tape é sempre foda. Material ‘cult’.

Battletales and Songs of Steel (2002)

O álbum de estreia do Great Vast Forest, Battletales and Songs of Steel, foi lançado em 2002, e de cara recebeu forte acolhida, dispondo hoje inclusive do status de clássico do gênero. Vocês esperavam essa boa recepção?

Surgath: Tendo em vista a ótima aceitação pelo público do lançamento da nossa Demo Tape, com a repercussão da mesma no Brasil e no exterior (pois muitas foram distribuídas no exterior e por este motivo, passamos a receber contatos de fora) e os constantes pedidos pelo primeiro álbum, começamos a perceber que este álbum teria uma boa aceitação, porém, nunca pensamos que se tornaria um clássico do gênero Black Metal no Brasil, isso foi uma grande surpresa e um orgulho para banda. O mesmo vem acontecendo agora com o novo álbum (From the Dark Times to the Black Metal Legions) o qual tem recebido ótimas críticas no Brasil e principalmente no exterior e vem sendo apontado como o melhor trabalho já lançado pela Great Vast Forest, sendo reconhecido como “o novo clássico da banda”. Mais uma vez, ficamos gratos ao público pela ótima recepção de mais um álbum da Great Vast Forest.

Battletales… chamou atenção logo de cara por conta da belíssima capa, que se traduzia em músicas que pareciam forjadas na batalha, e acompanhadas de letras que retratavam essa impressão. Como trabalharam isso na época?

Surgath: Exatamente, lembro que a Revista Roadie Crew, em sua edição número 48, de janeiro de 2003 (página 11), elegeu o Battletales and Songs of Steel, como melhor capa de álbum do ano de 2002 (por Richard Navarro, da equipe Roadie Crew), e isso foi bem impactante, pois percebemos que fizemos a coisa certa na escolha das ideias para capa do álbum. Neste lançamento, a ideia era compor letras e músicas que juntas tivessem um sentido de Black Metal Bárbaro aliado a uma atmosfera pagã e sombria, nos ensaios eram encaixados os riffs e letras, e ainda, era incluído partes que desenvolvemos na hora, em meio a espontaneidade da energia e atmosfera do momento, e assim foram compostas as músicas que fazem parte deste primeiro álbum.

O quanto do sucesso do debut se converteu em coisas boas para a banda? Houve um retorno em shows, venda de discos e merchandise? Como foi o retorno de Battletales… para vocês?

Surgath: Eu posso dizer que o álbum Battletales and Songs of Steel teve uma boa divulgação, o que nos rendeu um maior reconhecimento da banda, tendo como resultado os convites para shows e também, vendas de discos com uma grande distribuição de exemplares a nível nacional e a nível de exterior, digo exterior, devido a este álbum ter sido relançado na Rússia pela gravadora CD-Maximum em 2003 (este foi lançado com layout diferenciado, e tinha na capa um selo em russo, com o dizer: banda revelação do “Brazilian Black Metal”) e  também foi relançado na Suécia pela gravadora Mordor Records em 2008, ambas as tiragens no exterior tiveram suas vendas esgotadas (destes dois relançamentos destas duas gravadoras do exterior, eu tenho apenas um exemplar de cada edição em minha coleção pessoal). Como no Brasil houve somente uma única tiragem no formato CD acrílico deste álbum naquela época, em 2016 a Gravadora Mutilation Records em parceria com a banda, resolveu relançar este álbum no formato LP (vinil) para os apreciadores e colecionadores deste formato Cult, o qual ficou com uma edição matadora e foi muito bem aceito. E ultimamente tenho recebido muitos pedidos deste álbum no formato CD Digipak, pelos colecionadores, pois os outros dois recentes lançamentos da banda, saíram neste formato, e quem não conseguiu adquirir lá na época em que foi lançado, quer adquirir agora para incluir em sua coleção de lançamentos da banda. Referente a essa questão, este relançamento estará saindo agora neste mês pela Gravadora Covil Records em formato CD Digipack. Aliás, a Covil Records está produzindo um ótimo trabalho neste lançamento da Great Vast Fores com uma tiragem em edição especial (box de madeira, com camiseta, adesivo, pôsters…), material matador para colecionadores.

Logo depois de Battletales… a banda passou por uma série de transformações no line-up. De alguma forma isso desestabilizou a banda, ou melhor dizendo, tirou um pouco o foco de um crescimento que parecia evidente? Como você vê essa questão, e o que fizeram para superar esse problema?

Surgath: Encaramos isso de uma forma natural, sem perder o foco de crescimento da banda, pois alterações em line-up é algo normal e bem comum entre as bandas do mundo inteiro. Por exemplo, veja a banda Marduk, já passou por várias alterações na formação e se mantém forte e na ativa, ou ainda o Dark Funeral, com várias mudanças de line-up, e muitas outras bandas do gênero. Então, ao meu ver, as vezes este tipo de mudança na formação é até necessário para uma banda progredir e continuar na ativa. Foi o caso da Great Vast Forest na época, após o lançamento do primeiro álbum se fez necessário alterações no line-up da banda para a mesma continuar a progredir e seguir dentro do objetivo. A prova que estas alterações foram a decisão certa, é o lançamento do novo álbum da banda, From the Dark Times to the Black Metal Legions, o qual evidencia uma maior evolução técnica e musical, sem se desviar do objetivo original da banda. Isso é resultado de um novo line-up forte e focado, se comparado ao álbum anterior. E hoje seguimos fazendo shows com a formação atual, sendo o seguinte line-up: Surgath (vocais e letras), Sallos (guitarra), D. Katharsis (guitarra), Amaymon (baixo), Draugr (bateria), e Nahtaivel (teclados).

From the Dark Times to the Black Metal Legions (2017)

Quando começou o processo de composição para o segundo álbum, From the Dark Times to the Black Metal Legions? Quais foram os primeiros frutos desse processo?

Surgath: Começamos a compor From the Dark Times to the Black Metal Legions há vários anos atrás, depois do lançamento do EP Blood of Wolves, não recordo a data exata. Não nos importamos com o tempo, mas sim, com o resultado final do álbum, para apresentar um trabalho satisfatório e respeitável. O processo de composição foi o mesmo utilizado no primeiro álbum, porém, com um diferencial, na medida em que as novas composições ficavam prontas, estas já eram adicionadas ao set list de shows para ser tocadas ao vivo, com a intenção de saber qual seria a reação do público ante as novas músicas apresentadas. Percebemos que foram muito bem aceitas, com ótimas críticas e um grande impacto pelo público, assim tivemos os primeiros frutos destas novas composições e a certeza que o novo álbum estava ficando foda. E quando divulgamos a capa de From the Dark Times to the Black Metal Legions, a qual ficou perfeita também, imediatamente recebemos elogios pela arte da capa e muitas encomendas deste novo disco.

Manter a identidade conquistada em Battletales… parece ter sido algo importante para vocês, certo? O quanto a História influencia o processo de composição do Great Vast Forest? Onde costumam buscar por inspiração?

Surgath: A identidade da banda é a mesma que se mantém desde o início das suas atividades em 1995 até hoje, isso está oficialmente registrado desde lá nas primeiras Demo Tapes, passando pelos lançamentos oficiais em CD’s e LP da banda. Eu vejo a importância do primeiro álbum (Battletales and Songs of Steel) como um abridor de caminhos para um maior público, e como uma preparação para o próximo ato triunfante e consagrador para a banda, que veio ser o lançamento do segundo álbum, From the Dark Times to the Black Metal Legions, que elevou a banda ao objetivo desejado. As inspirações para as melodias, os riffs, são as influências do Metal (já citadas acima) e as partes líricas são reflexões de temas e estudos sobre o lado sombrio da História, passando pelo épico, oculto e medieval, mas sempre focado no Black Metal.

Fiz a pergunta anterior porque algumas músicas são quase cinematográficas. Prelude to the Victory on the Battlefield é um grande exemplo disso, ela parece transportar o ouvinte para uma outra época. Essa é uma das grandes vantagens do black metal, certo? Você tinha essa sensação quando ouvia suas bandas favoritas? Como trabalhou para moldar suas referências de acordo com a sonoridade específica do Great Vast Forest?

Surgath: Sim, com certeza, é exatamente está sensação que devemos ter ao ouvir um álbum, este sentimento que já vem idealizado deste a música clássica em obras do grande compositor Richard Wagner, e entre outros compositores, e deve ser explorado e mantido esta vertente dentro do Black Metal, um exemplo disso são os três primeiros álbuns do Limbonic Art, são obras extraordinárias, os trabalhos épicos do grandioso Bathory (o qual em sua genialidade produziu até um clipe cinematográfico para a música One Rode to Asa Bay, perfeito!), também magníficos neste sentido e voltados para esta vertente, entre muitas outras obras que seguem nesta linha, são influências para a Great Vast Forest.

From the Dark Times… acabou lançado em uma edição luxuosa, muito bem trabalhada. Como o aspecto ‘visual’ do produto complementa a música de vocês?

Surgath: Ao meu ver, a parte gráfica, o visual do álbum em geral, deve ser tão bom e importante, quanto as músicas, deve expressar atmosfera captada e a materialização das composições, além de representar um respeito pelo público que irá adquirir a obra, deve ser um trabalho digno para colecionadores apreciarem em mãos no momento em que estiverem ouvindo as músicas do álbum. É uma obra de arte, e tem que ser trabalhando o pensamento neste sentido. Com isso conseguimos provar que é sempre melhor ter o material físico, original (lançado nos formatos CD e LP), do que somente as músicas disponibilizadas em uma plataforma digital da internet sem o efeito de um complementar o outro (músicas e formato físico original). Ainda neste sentido, pretendemos lançar o novo álbum no formato LP (vinil) com uma ótima qualidade gráfica.

Existem planos para um novo álbum? O que podemos esperar do Great Vast Forest em breve?

Surgath: Sim! Já estamos trabalhando em um tema forte para o novo álbum… A ideia é produzir uma obra de impacto. Aguardem… E também pretendemos realizar mais shows com a banda, tocar em outros Estados que ainda não tocamos, tais como: Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Amazonas, Goiás, etc… A alguns anos fizemos o primeiro show de lançamento do novo álbum (From the Dark Times to the Black Metal Legions) na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, onde também abrimos o show da lendária banda Mayhem da Noruega, foi sensacional! Um evento com produção e organização séria e responsável e um público espetacular. Foi muito foda! Um show histórico para a Great Vast Forest. Então pretendemos continuar a trabalhar com a banda neste sentido, ou seja, compor novas músicas, lançar mais discos e fazer shows pelo Brasil, e surgindo oportunidades interessantes, shows no exterior também. Então, mais uma vez, agradeço a você, Valtemir Amler e a Roadie Crew Mag, pelo espaço cedido para divulgar a nossa música.

Encontre mais informações da GREAT VAST FOREST nos canais oficiais da banda:

Facebook: www.facebook.com/surgath.gvf

Bandcamp: https://greatvastforest.bandcamp.com/

YouTube: GREAT VAST FOREST – Official

Mayhem com o Great Vast Forest
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