Os fãs do metal lavaram a alma no último sábado (9) durante o esperado Guaru Metal Fest. Cheio de surpresas e novidades, desde as bandas que compuseram o lineup à escolha do local do evento, que este ano aconteceu no Internacional Eventos, na antiga Phillips, o Extreme Day surpreendeu aqueles que acompanham o Festival desde as primeiras edições. Krisiun, Nunslaughter, Sextrash, Malefactor, Empire of Souls, Imperious Malevolence, Justabeli, Jailor, Imperador Belial, Creptum, Ragnarok, Spiritual Hate e Gestos Grosseiros foram os nomes que deram peso e potência ao primeiro dia do Festival.
De acordo com Andressa Castelhano, a Deca, produtora do GMF, a edição de 2017 superou todas as expectativas e trouxe como novidade a distinção de gostos e preferências. No Extreme Day, por exemplo, o foco foram bandas do segmento Death/Thrash e Black Metal. Deca esclarece que a segmentação possibilitou atender aquilo que o exigente fã do metal está a fim de ouvir: “Todo Guaru tem um diferencial e separar as bandas entre Extreme e Heavy Day nos permitiu dar mais atenção ao público, uma sacada muito positiva. Até agora, o evento tem sido espetacular, ficamos todos bastante satisfeitos com a organização das equipes e com o envolvimento do público, que prestigiou as bandas do começo ao fim.”
Para Deca, a 6ª edição foi uma ousadia. O Extreme Day movimentou cerca de 600 pessoas num local que, por ser ainda desconhecido da equipe, demandou mais trabalho, sobretudo com a montagem do palco: “O GMF conta com uma equipe de produção que fez um trabalho excelente, numa sintonia muito positiva que só colaborou com o sucesso desse grande evento.”
Fiéis e leais seguidores do Metal
O controlador de qualidade Vagner Ferreira, de 42 anos, se autodenomina um “feroz defensor do metal nacional”. Ele conta que acompanha o GMF desde a realização da 1ª edição, em 2012, quando o Festival aconteceu no Clube Recreativo. Para ele, a estrutura física e a localização fizeram desta edição uma das melhores. “Não vi a necessidade de separar as bandas de heavy metal das de metal e extremo, acho que a possibilidade dos fãs conhecerem outras bandas se perdeu com essa separação. Os shows que mais gostei foram das bandas Spiritual Hate, Malefactor, Krisiun, Sextrash e Gestos Grosseiros. As gringas também fizeram ótimos shows, mas as nacionais se destacaram muito mais pela presença de palco e interação com o público”, enfatizou Vagner.
O Extreme Day começou com pouco mais de 30 minutos depois do horário previsto, o que acabou atrasando todo o cronograma geral do evento. A primeira banda a inaugurar o palco com honra foi o Spiritual Hate, exibindo som pesado e sinistro, mostrando que os caras realmente não estavam de brincadeira. “Levamos dois meses de trabalho árduo com foco no Guaru Metal Fest. Estar ao lado desses monstros para nós foi uma realização pessoal, uma noite para reencontrar os amigos, conhecer novas pessoas e fazer o que mais gostamos, tocar e ouvir metal”, declararam os músicos do Spiritual Hate em sua página do Facebook.
Foram muitos os momentos marcantes do GMF. O destaque vai para o da banda santista de Black Metal, Empire Of Souls, que literalmente levou o público do Fest à loucura com uma pegada nervosa, vocal sujo e levadas magistrais, mas, sobretudo pelo ritual de crucificação realizado durante a sequência das músicas “O Opositor” e “Impure Desire”. Impactante, a cena não teve a intenção de expor a nudez feminina, mas denunciar uma falsa moral, presente em sistemas ideológicos que se tornam tão fundamentalistas quanto as religiões.
Completando 20 anos de existência, o Imperious Malevolence mostrou sua devoção ao Death Metal, num show repleto de riffs poderosos e ferozes, o que fez com que a galera finalmente se acomodasse junto ao palco para curtir o show. No palco, a interação entre os curitibanos e a troca com os headbangers foram elementos essenciais para garantir uma apresentação à altura do Fest. A apresentação marcou ainda a realização da turnê Decades of Death e a apresentação de “Ominous Ritual”, faixa do novo álbum, som brutal e de qualidade extrema.
Black Metal cru, riffs simples, letras diretas e muito horror, num cenário aterrorizante. A apresentação da banda Creptum surpreendeu o público do Fest, muito mais pela sonoridade ao mesmo tempo primitiva e cheia de técnica que a banda faz do que pelo visual sinistro que os músicos exibem em suas performances.
O show do Krisiun é, sempre, um espetáculo à parte. Alegres, carismáticos, profissionais e extremamente comprometidos, a banda se destaca pela verdade e lealdade ao metal. É assim que os músicos definem o prazer em difundir composições. “Kings of Killing”, “Blood of Lions” e “Dogma of Submission” traduzem a inquietação de seus fãs, sedentos pela originalidade que só o Death Metal pode lhes proporcionar. Na voz dos fãs, o sucesso e o espetacular show que o Krisiun faz a cada apresentação não enfatiza apenas sua brilhante carreira, mas também a de muitos outros nomes de peso, bandas cuja trajetória e garra estão enraizadas na valorização e fortalecimento do Metal: “Não há muito a dizer, essa é uma das melhores bandas do metal brasileiro, eles já influenciaram muitas outras bandas, são humildade em pessoa, é sempre um prazer ver um show desses gaúchos”, comemora a professora de inglês Roberta Cini Delgado, de 30 anos.
Outro headliner do GMF e lenda do Devil Metal norte-americano, o Nunslaughter presenteou o público do Guaru Metal Fest com um show histórico, inesquecível para muitos, sobretudo porque, segundo os fãs, eles representaram a verdadeira essência do headbanger, um estado de espírito, atitude, sem demagogia ou controvérsias com o gênero, pessoas extremamente do bem. Em sua página nas redes sociais, a banda declarou que traria o inferno, metaforicamente é claro, para a turnê latino americana, e que estavam ansiosos por tocar no Brasil.
Desabafo de quem não engole hipocrisia
Os músicos da banda Gestos Grosseiros observaram que, muito embora tenham ficado invisíveis aos olhos do público, alguns acontecimentos merecem ser destacados, pois denotam atitudes positivas, e outras desejáveis, das bandas participantes. “O evento em si foi muito bacana, teve um público considerável, à altura das bandas participantes, todos curtiram bastante, ficaram a vontade, mas nós ficamos muito decepcionados com o problema que aconteceu com o cronograma de apresentação das bandas”, observa o guitarrista Kleber Horas. O problema ao qual Kleber se refere aconteceu por uma série de fatores, dentre os quais o atraso na passagem de som da banda norueguesa Ragnarok, a chegada tardia ao local do evento pela banda Imperador Belial, que deveria ter sido encaixada no final do evento, e não na sequência do lineup ao longo do show, e à insistência do Ragnarok em não fechar o Festival, como estava previsto no cronograma dos shows.
Para os músicos faltou, acima de tudo, respeito entre as bandas, e mão firme da produção para não ceder aos apelos de caras descompromissados. De acordo com o vocalista e batera, Andy Souza, a confusão não foi maior porque duas outras bandas, além da Gestos Grosseiros, colaboraram para a solução do impasse: “os mineiros da Sextrash mostraram que metal não é feito só técnica, tem que ter atitude, e os caras tiveram para não estragar o festival. Outra banda que cedeu lugar para o Ragnarok antecipar sua apresentação foi o Nunslaughter, caras que demonstraram profissionalismo do começo ao fim”, destaca Andy.
Para o músico, conceder ao Ragnarok a possibilidade de antecipação do show fez com que a apresentação da Gestos Grosseiros passasse das 23 horas para um horário após às 3 da manhã, e banda perdeu a oportunidade de apresentar seu trabalho para um público local.
Abatidos e tristes com o acontecimento num festival em sua própria casa, os músicos não perderam o astral e enfatizaram a parceria dos membros de outras bandas, como Jailor, Nunslaughter, Spiritual Hate, Malefactor e Empire of Souls, que junto com um público cativo, ficaram até o final para prestigiar o show da Gestos: “Percebemos que o pessoal que ficou ali até o final fez em consideração à banda de Guarulhos, ensaiamos especialmente para o GMF, contratamos um técnico para cuidar exclusivamente do som, nos preparamos bem, e o que ficou disso tudo, foi justamente a distinção entre quem tem atitude daqueles que não se envolvem com a coisa como um todo”, observa Andy.
Para o baixista Eduardo Viana Ossucco, a produção desconsiderou ainda o cansaço físico do baterista Andy, que também é vocalista, e compôs o time de direção de palco: “Ninguém parou para pensar nisso, que o cara chegou ao local às 9 da manhã, um cansaço psicológico que afetou toda a banda. E foi assim, no visceral mesmo, e a impressão que ficou é daquelas louças e toalha de mesa bonitas que guardamos em casa para quando recebemos visitas, mas que no dia a dia não é usada com os filhos, com quem é de casa”, observa Eduardo.
Para Amilcar Antonio Mesquita Rizk, membro fundador da Associação Cultural Rock Guarulhos, o show realizado pela banda guarulhense Gestos Grosseiros no encerramento do Guaru Metal Fest 2017 fechou o festival com chave de ouro. “De Guarulhos para o mundo e do mundo pra Guarulhos! O bom filho a casa torna e com ele a energia do Metal! Energia, atitude, garra, um som do caralho e uma mensagem direta para calar a boca dos hipócritas, como tem que ser”, comemora Amilcar.
Preparando para o Heavy Day
Outro evento bastante esperado do Guaru Metal Fest é o Heavy Day, que acontece no próximo dia 23 de setembro, a partir das 16 horas, também no Internacional Eventos. Segundo os organizadores, essa etapa do Fest promete movimentar muito mais pessoas que o Extreme Day, um público que vai se esbaldar com grandes nomes do heavy metal, como Anvil (CAN), Tysondog (ING), Dominus Praelii (Paraná), e as paulistanas Vírus, Anthares, Yuri Fulone (Guarulhos/SP), Em Ruínas, Metaltex, Arautos dos Caos (Osasco/SP) e Warsickness (Jandira/SP).
Os ingressos custam R$120 e ainda podem ser adquiridos nas lojas Mutilation, na Galeria do Rock – Cj. 370, no centro de São Paulo, na Cla Rock Wear, que fica na Av. Monteiro Lobato, 84, centro, em Guarulhos, e também disponíveis no site do Ingresso Rápido (https://www.clubedoingresso.com/guarumetalfest-heavyday).
No dia 2 de novembro, acontece a tradicional Ressaca do Guaru Metal Fest, que traz pela primeira vez ao Brasil a banda canadense The Exalted Piledriver, além das bandas Guerreiros Headbangers, Conquistadores & Velho. O Ressaca acontece a partir das 15 horas na VIC, que fica na Rua Marquês de Itu, 284, Vila Buarque, no centro de São Paulo. Até o dia 20/9, o combo Heavy Day + Ressaca sai por R$150.