Muitos dizem que o projeto Hail! não passa de uma banda cover de luxo, com figuras carimbadas do meio Heavy Metal, enquanto outros erroneamente os taxam como oportunistas e, por fim, há os que curtem e entendem que a banda não passa de diversão para os músicos que, por ventura, já passaram por ela. Basicamente é uma celebração ao que melhor há dentro do Heavy Metal e Classic Rock. Desde Mike Portnoy (bateria), Jimmy DeGrasso (bateria), Roy Mayorga (bateria), Dave Ellefson (baixo), Glen Drover (guitarra) entre muitos outros, mas sempre mantendo o embrião inicial com Tim “Ripper” Owens (vocal) e Andreas Kisser (guitarra). Algumas vezes ambos não puderam participar devido a compromissos com suas bandas principais ou projetos mais atuantes, mas rapidamente foram escalados substitutos à altura para as suas posições, sempre mantendo o espírito de diversão que a banda prega.
Atualmente, o Hail! é formado pelos já citados “Ripper” Owens, Andreas Kisser e pelos exímios músicos Paul Bostaph (bateria) e James Lomenzo (baixo), mostrando uma de suas formações mais fortes dentre todas as outras apresentadas. Desnecessário citar o currículo de cada músico, porque já passaram, simplesmente, por Megadeth, Slayer, Sepultura, Judas Priest, Iced Earth, Forbidden, Testament, Exodus e etc. – então, categoria eles têm de sobra.
Chegando ao Blackmore Rock Bar, mesmo sendo um domingo, notamos que uma fila enorme se aglomerava na porta, o que contrariou todas as expectativas, já que a divulgação do evento foi pequena e, até mesmo, uma mudança de local às vésperas do show pegou todos de surpresa.
Com casa beirando sua lotação máxima, aproximadamente às 21h o Hail! faz sua estreia na capital paulista, com muita euforia dos presentes que gritavam os nomes dos músicos a todo instante. James Lomenzo começou o ataque com as primeiras levadas de baixo em Ace Of Spades e a casa quase veio abaixo. Mesmo com o intenso calor que castigava os presentes, nada tirou o brilho do show e da agitação do público.
Com um excelente som e uma atmosfera totalmente intimista, junto com grandes ícones do Rock, impossível não demonstrar um sorriso de orelha a orelha a cada música apresentada. Rapidamente emendaram com Territory, e a versatilidade e potência do vocal de Ripper Owens mostrou, mais uma vez, que o cara sabe o que faz e soube colocar agressividade no vocal mais grave de forma brilhante.
Na sequência, como o intuito da banda é celebrar o que existe de melhor no Rock, nada mais óbvia do que Stand Up And Shout, do saudoso mestre Ronnie James Dio, o que vem sempre a calhar na voz de Ripper, já que esse leva outro projeto chamado Dio Disciples junto com os ex-parceiros de Dio. Destaque total para Paul Bostaph, que durante o show todo massacrou sem dó sua bateria, provando ser um dos melhores bateristas na atualidade, e isso só ficou mais evidente em Symphony Of Destruction e no clássico, e porquê não surpresa, Children Of The Damned.
Andreas, como de costume, agitou muito e conversava com o público. Um ‘medley’ do Judas Priest com Burn In Hell e Desert Plains foi um dos pontos altos da apresentação, pena não serem executados em sua totalidade. Mas quem acompanhou esse show jamais reclamaria do repertório e dos convidados. O primeiro convidado foi o filho de Andreas, Yohan Kisser, de apenas quatorze anos, chamado pelo pai para mandar uma ótima versão de Seek And Destroy. Tirando alguns pequenos problemas em sua guitarra no começo, mostrou-se ser um bom guitarrista e quem sabe poderá seguir os passos do pai orgulhoso.
Ao final, Ripper cedeu lugar a João Luiz (King Bird, Electric Funeral) para uma esplêndida versão de The Mob Rules. Cabe aqui um parêntese, é impressionante a similaridade da voz de João com Dio… Chega a arrepiar! Depois do precioso descanso, Ripper voltou ao seu posto e convidou Ricardo Junior, que estava na plateia, para uma versão inesperada de Get Back, já que Ricardo é integrante de uma das melhoras bandas covers de Beatles que o Brasil possui. Muitos risos e improvisos, mas valeu pela brincadeira. Para terminá-la, tocaram um pequeno trecho de Smoke On The Water, que poderia fazer parte do set list por ser uma música emblemática do Classic Rock. Por falar nisso, o que dizer de Blitzkrieg Bobdos saudosos Ramones numa versão pra lá de agressiva? Completamente apoteótica!
Mesmo com o calor castigando todos, já que os ventiladores (sim, nada de ar condicionado) não davam conta de tanta gente, o jeito era pedir água até para os músicos, que jogavam garrafas para os primeiros da fila a todo instante. Na música seguinte, Andreas convidou o baterista Edu Garcia (Threat, Unscarred/Pantera Cover) para dar um alívio a Paul Bostaph, que suava em bicas, para executar uma versão meio sem graça de Walk do Pantera. A timbragem da guitarra de Andreas nessa hora realmente deixou a desejar mas, mesmo assim, não comprometeu e, logicamente, também foi ovacionada. Com seu término, Ripper Owens, que conversava e brincava muito com a plateia, achou seu grande amigo no meio do público, e tocaram um pequeno trecho de Johnny B. Goode, já que esse amigo é este que vos escreve. Infelizmente, Andreas, mesmo iniciando os primeiros acordes da música, não deu a importância que poderia ter dado para a ocasião, sabendo de quem se tratava.
Voltando ao show, claro que algo dos monstros australianos do AC/DC seria lembrado, e nada mais nada menos que For Those About To Rock emendada com a visceral e violenta Fucking Hostile do Pantera, simplesmente arrancou lágrimas na primeira e sangue na sequência. Junção bem atípica, mas funcionou muito bem, diga-se. James Lomenzo, sempre foi um baixista mais contido, mas não é o que vimos aqui. Agitando e brincando muito, mostrou realmente que estava curtindo o momento e, na minha modesta opinião acho que ele jamais deveria sair do projeto.
O último convidado da noite foi Sílvio Golfetti (ex-Korzus), que foi aclamado e bastante elogiado por Andreas ao entrar em cena para a execução de Living After Midnight e na cacetada South Of Heaven. Não sei e não entendo como ainda existam pessoas que criticam a voz de Ripper Owens em clássicos do Judas Priest, o tempo em que esteve na banda gravou dois ótimos álbuns de estúdio e dois ao vivos onde nesses mostrou que é tão brilhante quanto Rob Halford nos clássicos. Essas pessoas deveriam consultar um otorrinolaringologista ou se internarem com xiitismo agudo e crônico.
Um pequeno trecho de Madhouse do Anthrax, lembrando que Andreas substituiu Scott Ian em vários shows pelos Estados Unidos há alguns meses no festival Big Four, mas abruptamente é interrompida para a execução dos clássicos Creeping Death, Peace Sells… But Who’s Buying e Balls To The Wall. Um longo discurso de Ripper Owens enaltecendo Ronnie James Dio foi a deixa para uma emocionante versão de Heaven And Hell, com direito aos altos coros cantados pelo público. A malandra T.N.T. encerrou a primeira parte do show deixando um gostinho de quero mais em todos presentes. Muitos pedidos de Painkiller fizeram com que voltassem rapidamente ao palco e, com Ripper Owens perguntou: “Quem conseguiria cantar Painkiller depois de um set de quase vinte musicas? Eu, Ripper Owens.” Não precisa dizer que a casa veio abaixo, numa perfeita execução desse outro emblemático clássico.
Fechando a noite com chave de ouro uma violenta execução de Refuse/Resist, com destaque para toda a banda, que a executou de forma coesa e com muita pegada. Enfim, uma noite para ficar guardada na memória de todos aqueles citados no começo do texto e uma certeza fica em pauta: por que essa banda não tenta criar algo próprio? Não seria um desperdício de tanto talento ficar somente na celebração de algo grandioso já criado?
Set list:
Ace of Spades (Motörhead)
Territory (Sepultura)
Stand Up and Shout (Dio)
Symphony of Destruction (Megadeth)
Children of the Damned (Iron Maiden)
Burn in Hell / Desert Plains (Judas Priest)
Seek And Destroy (Metallica)
Mob Rules (Black Sabbath)
Get Back (The Beatlles)
Smoke on the Water (Deep Purple)
Blitzkrieg Bop (Ramones)
Walk (Pantera)
Johnny Be Good (Chucky Berry)
For Those About to Rock (AC/DC)
Fucking Hostile (Pantera)
Living After Midnight (Judas Priest)
Madhouse (Anthrax)
South of Heaven (Slayer)
Creeping Death (Metallica)
Peace Sells (Megadeth)
Balls to the Wall (Accept)
Heaven and Hell (Black Sabbath)
T.N.T (AC/DC)
Painkiller (Judas Priest)
Refuse/Resist (Sepultura)