Por Luiz Tosi
Fotos: Roberto Sant’Anna
Uma noite para ser lembrada. Dá para resumir assim o último sábado (8). Também, convenhamos, juntar Hammerfall e Helloween e mais oito mil fãs ensandecidos, o resultado não poderia ser outro. A apresentação, que aconteceu no Espaço Unimed (SP) fez parte da “United Forces Tour”, que, como o próprio nome entrega, celebra a união de forças entre as duas bandas, para uma das parcerias mais bem sacadas dos últimos tempos no mundo do metal. Os dois grupos ainda voltariam a se apresentar no mesmo local no dia seguinte, fechando a curta passagem pelo Brasil, que ainda teve um show em Ribeirão Preto (SP) na quinta-feira anterior (6).
O grande mérito da “United Forces” foi unir as duas bandas em excelente fase, ambas esbanjando confiança com lançamentos recentes muito bem recebidos pelo público – Helloween (2021) e Hammer of Dawn (2022) –, aumentando ainda mais a expectativa dos apaixonados fãs brasileiros.
O público lotou a casa cedo para prestigiar o Hammerfall, que apesar de ser anunciado como “Special Guest”, na prática recebeu tratamento de banda de abertura. Contando com palco menor, set de 60 minutos, nenhuma produção (apenas um backdrop por trás da bateria do Helloween) e um som consideravelmente mais baixo do que o da atração principal, os suecos, com seus quase trinta anos de estrada, entregaram um show espetacular. A banda subiu no palco às 20h30 – meia hora atrasado em relação ao horário divulgado pela produção -, e o que se viu a partir dali foi um show de carisma, entrega e competência, algo que fez com que rapidamente o grupo conquistasse até os que estavam ali apenas pelo Helloween.
O setlist ajudou muito, com um mix inteligente de novidades e clássicos de todas as fases. A abertura veio com Brotherhood, do novo álbum Hammer of Dawn, seguida de Any Means Necessary, de No Sacrifice, No Victory (2009). Ambas foram muito bem recebidas, apesar do som péssimo, que só foi corrigido a partir da terceira música, a clássica e rápida The Metal Age, do álbum de estreia Glory to the Brave, de 1997. Hammer of Dawn, ótima faixa-título do novo disco, não chegou a empolgar tanto. A dobradinha seguinte com as sensacionais Renegade e Last Man Standing, não deixou o clima cair.
A performance da banda foi impecável. Os membros originais do primeiro álbum, Joacim Cains (vocais), Oscar Dronjak (guitarra) e Fredrik Larsson (baixo) estão muito bem acompanhados pelo excelente baterista David Wallin e pelo extraordinário Pontus Norgren (guitarra – The Poodles, Talisman, Humanimal, Jeff Scott Soto), membro desde 2008.
A sequência veio com um medley de quatro músicas em comemoração aos 20 anos do álbum Crimson Thunder (2002): Hero’s Return, On the Edge of Honour, Riders of the Storm e a faixa-título. Acertaram em cheio, já que esse é um disco muito celebrado pelos fãs. Brincando com o nome da banda, Joacim Cans perguntou quem estava assistindo ao Hammerfall pela primeira vez e pediu para que os veteranos ajudassem os novatos a completarem a frase “Let the Hammer… Fall”, anunciando, para a empolgação geral, Let the Hammer Fall, possivelmente o maior hino da banda. A próxima foi (We Make) Sweden Rock, que, com seu acento hard rock, funciona muito ao vivo e encerrou o set regular. Sem deixar o palco, o “bis” veio com Hammer High em que o destaque foi a “guitarra-martelo” de Oscar Dronjak.
Cans então pediu aplausos para o Helloween dizendo que sem eles não existiria Hammerfall. A festa se encerrou com Hearts on Fire, deixando um “gostinho de quero mais” no público. Se o Hammerfall não vinha ao Brasil há cinco anos, esse show certamente serviu para reconectar ainda mais os fãs e a banda. Não duvido eles voltarem num intervalo de tempo bem menor, para uma apresentação completa.
O intervalo de 30 minutos para troca de palco só aumentou a expectativa do público. O caso de amor do Helloween com o Brasil é longo e intenso. Desde a estreia por aqui, no longínquo “Monster of Rock” de 1996, já foram mais de 30 apresentações no país, incluído presença em duas edições do “Rock in Rio” e dois shows registrados em São Paulo para lançamentos oficiais. Mas foi em 2017, quando a banda anunciou o retorno de Michael Kiske (vocais) e Kai Hansen (guitarra e vocais) que essa relação ganhou outras proporções. Uma turnê comemorativa evoluiu para um single, para uma segunda turnê, para um álbum completo e cinco anos depois o Helloween está mais forte do que nunca.
Pontualmente às 22h, o telão projetou um vídeo inspirado nas artes dos álbuns Keeper of the Seven Keys Part I (1987) e Helloween (2021), ao som de Orbit, faixa instrumental extraída do último álbum. A dimensão que a banda ganhou nesses anos se mostrou no capricho, além do cuidado com a produção, que ficou sensacional. O palco com uma abóbora gigante e telões de alta definição criou um cenário especial; a iluminação foi um show à parte, e ainda houve chuva de papéis picados e serpentinas, ao melhor estilo KISS.
Skyfall foi uma ótima escolha para a abertura. O épico de doze minutos, que foi o primeiro single do novo lançamento, é Helloween puro e conta com Andy Deris, Michael Kiske e Kai Hansen juntos nos vocais, criando uma atmosfera única. Já virou clássico! A segunda da noite foi Eagle Fly Free, e aqui já deu para perceber a grande mudança em relação aos shows anteriores com essa nova formação: a alternância entre os vocalistas na primeira metade show ao invés de duetos em todas as músicas. Eu preferi muito mais assim. Essa dinâmica tornou as músicas mais fortes e diretas, ao serem reproduzidas como foram concebidas. Ver Michael Kiske fazendo Eagle Fly Freesozinho com a banda foi emocionante. Ainda hoje me pego incrédulo com os quatro membros vivos da era Keepers juntos no palco. A alternância continuou com Mass Pollution, mais uma do novo disco com Deris nos vocais, e uma sequência de enfartar qualquer um: Future World (com Kiske cantando), Power (Deris) e Save Us (Kiske). Falar de Kiske é chover no molhado, mas vale o destaque para Deris, que está cantando muito, talvez até ajudado pelos descansos entre músicas que essa dinâmica de show proporciona.
Andi Deris apresenta Kai Hansen como “o homem que começou tudo em 1983”. Kai assumiu o microfone (sem guitarra) para o seu já tradicional medley do álbum Walls of Jericho, de 1985. A sequência da vez foi com Metal Invaders, Victim of Fate, Gorgar, Ride the Sky e Heavy Metal (Is the Law). De chorar! Depois do peso thrash-speed do medley, veio o momento mais intimista do show e primeiro dueto desde Skyfall: Forever and One (Neverland), interpretada por Andi Deris e Michael Kiske juntos, reencenando, a pedido de Kiske, a performance da mesma música no mesmo Espaço Unimed, em 2018, quando a banda gravou o DVD United Alive(2019).
Em seguida, o guitarrista Sascha Gerstner assume os holofotes para um solo curto, mas bem eficiente. Aqui vale ressaltar a importância que ele assumiu na banda nesses quase 20 anos desde a sua entrada. Sasha é a força técnica e musical do Helloween, peça que mantém a engrenagem apertada e azeitada. É aquele meio-de-campo que organiza o time, distribui a bola e sabe a hora de aparecer, como poucos, dando liberdade para os craques veteranos do time brilharem. E melhor que um ótimo meio-de-campo é contar com uma dupla para o setor. E não tem companheiro melhor que Dani Löble para segurar o time. Que batera!
Os três vocalistas voltaram ao palco para Best Time, mais uma do novo álbum e muito bem recebida pelos fãs, seguida dos hinos absolutos Dr. Stein e How Many Tears, para explodir de vez com tudo. Podia acabar aqui que estava bom, mas ainda tinha mais, e a primeira do bis foi Perfect Gentleman, com Andi de cartola, bengala e paletó. A dobradinha final não poderia ser mais perfeita, com a épica Keeper of the Seven Keys (para mim, sempre o momento alto dos shows) e I Want Out – maior hit da banda -, ambas interpretadas pela dupla Kiske–Deris.
Helloween e Hammerfall fizeram shows tecnicamente irretocáveis, mas, acima de tudo, divertidos, leves e descontraídos, nos lembrando que Heavy Metal ainda pode ser divertido, leve e descontraído, com o poder de te fazer voltar para casa com um sorriso enorme no rosto, pronto para encarar os problemas do dia-a-dia. E foi assim que o público saiu do Espaço Unimed.
Setlist Hammerfall
Brotherhood
Any Means Necessary
The Metal Age
Hammer Of Dawn
Renegade
Last Man Standing
Crimson Thunder Medley: Hero’s Return / On The Edge Of Honor / Riders Of The Storm / Crimson Thunder
Let The Hammer Fall
(We Make) Sweden Rock
Hammer High
Hearts On Fire
Setlist Helloween
Skyfall
Eagle Fly Free
Mass Pollution
Future World
Power
Save Us
Medley: Metal Invaders / Victim of Fate / Gorgar / Ride the Sky / Heavy Metal (Is the Law)
Forever and One (Neverland)
Best Time
Dr. Stein
How Many Tears
Perfect Gentleman
Keeper of the Seven Keys
I Want Out
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