HARD ‘N HEAVY PARTY: TED POLEY | CHEZ KANE | MIDNITE CITY – SÃO PAULO (SP)

22 de março de 2025 - Manifesto Bar

Por Leandro Nogueira Coppi

Fotos: Roberto Sant’Anna

Em 2024, após 17 anos de hiato, a lendária “Hard ‘n Heavy Party” teve uma nova edição. Produzida pela DNA Rock Events, a festa – criada em junho de 2000 por Carlos Chiaroni, proprietário da loja Animal Records – reuniu quatro grandes vocalistas no Manifesto Bar, em São Paulo (SP): o irlandês Robin McAuley (Black Swan, McAuley Schenker Group, Grand Prix, Survivor, GMT e Far Corporation), o sueco Erik Mårtensson (W.E.T., Nordic Union e Eclipse), a inglesa Chez Kane e, em um set acústico, o americano John Corabi (The Dead Daisies, ex-Mötley Crüe, Ratt, Union, The Scream, Angora, ESP, Twenty 4 Seven, Voodooland, Zen Lunatic, Brides of Destruction e Angel City Outlaws).

Menos de um ano depois, a “Hard ‘n Heavy Party” retornou ao Manifesto Bar no último dia 22 de março, trazendo de volta Chez Kane, promovendo a estreia da banda inglesa Midnite City e marcando o aguardado retorno de Ted Poley (Danger Danger, Tokyo Motor Fist, Bone Machine, Melodica e outros), que há muito tempo não se apresentava no Brasil. Foi um dos últimos eventos que têm acontecido no atual endereço do Manifesto Bar, que, desde sua inauguração em 1994, está localizado na nobre região do Itaim Bibi. 

Um bom público compareceu ao local, mas foi surpreendido por uma alteração no cronograma sem prévio aviso: às 21h, quem abriu a noite foi o Midnite City, e não Chez Kane, como havia sido anunciado pela organização. A inversão até faz sentido, considerando que a cantora seria acompanhada pelos mesmos músicos que voltariam ao palco em seguida com Ted Poley – o que evitaria uma correria e perda de tempo desnecessárias na troca de equipamentos. Ainda assim, essa mudança poderia (e deveria) ter sido planejada e comunicada corretamente desde o início. Como os shows no Manifesto costumam não começar no horário, muita gente que esteve na edição anterior e queria assistir à estreia do Midnite City reclamava por ter perdido o início da apresentação da banda, que, ao contrário do habitual da casa, iniciou o evento no horário informado.

A escolha do Midnite City como uma das bandas de abertura para Ted Poley foi certeira – parecia até ter sido feita a dedo. O som da banda traz claras influências do Danger Danger, e os integrantes são assumidamente fãs da banda americana, especialmente dois deles. O vocalista Rob Wylde tem como suas três bandas favoritas Danger Danger, KISS e Poison (que trinca!) – inclusive, as pulseiras coloridas que ele usa são adereços que Poley também costumava ostentar no passado. Miles Meakin, o guitarrista, concidentemente (ou não) subiu ao palco usando uma camiseta do Sonic. Para quem conhece a carreira de Ted Poley, sabe que ele tem uma conexão nostálgica com o universo do Sonic the Hedgehog. Ele participou da trilha sonora do jogo Sonic Adventure, lançado em 1998 para o Sega Dreamcast, cantando It Doesn’t Matter, o tema oficial do próprio Sonic. A parceria deu tão certo que Poley voltou em Sonic Adventure 2 (2001) com uma nova versão da música.

Os músicos do Midnite City estavam com sangue nos olhos para tocar para o público brasileiro. Assim como Chez Kane, o som dos caras não tem compromisso com inovações nem com invenções que mudarão o hard rock ou nem sequer a busca por uma personalidade própria. O único compromisso é saudar aqueles que, assim como eles, festejam o som dos anos 80.

Após a introdução Outbreak, Wylde, Miles, Josh ‘Tabbie’ Williams (baixo), Ryan Briggs (bateria) e Shawn Charvette (teclado) deram início à festa com a contagiante Ready to Go, faixa que abre o quarto e mais recente álbum de estúdio do Midnite City, In at the Deep End (2023), mixado pelo produtor vencedor do Grammy Chris Laney (Europe, Crashdïet, Crazy Lixx).

Com uma bagagem de turnês pelo Reino Unido, Europa, Japão e Austrália, o grupo parecia completamente à vontade no palco. Com muita energia e domínio de cena – especialmente dos integrantes da linha de frente, Wylde, Meakin e Tabbie, e suas interações entre si e com o público -, o quinteto animou os fãs (chamados pela banda de seu “Midnite Army”) que aguardavam ansiosamente por esse primeiro encontro, e conquistou aqueles que ainda não conheciam a banda.

Dando sequência ao show, o Midnite City apresentou uma (e única) música do álbum anterior, Itch You Can’t Scratch (2021): Atomic. Com seu riff marcante, baixo pulsante e um trecho da bateria com efeito, foi inevitável lembrar do Def Leppard, outra grande inspiração para o grupo – aliás, Hysteria (1987), do Leppard, é o disco da vida de Rob Wylde! Para os mais atentos, há ainda uma conexão curiosa no próprio título Atomic, que remete ao Atomic Mass, grupo formado em 1977 por Rick Savage (baixo), Pete Willis (guitarra) e Tony Kenning (bateria), que daria origem ao Def Leppard.

Sobre o novo álbum In at the Deep End, Rob Wylde já declarou: “Não é sempre que podemos sentar depois que um álbum está pronto, e dizer que estamos 100% felizes com ele. Mas, neste caso, podemos afirmar de todo o coração que sim. Este é o álbum por excelência do Midnite City”. E prova de que a banda realmente acredita na força do disco é que várias músicas dele estavam garantidas no repertório. A sequência do set, por exemplo, trouxe os três singles do álbum: as viciantes Girls Gone WildSomeday e a belíssima Hardest Heart to Break. Antes de tocar esta última – dedicada à sua mãe -, Wylde fez um pedido ao público: “Vamos sem celulares nessa. Vamos fazer parecer um show de rock dos anos 80 aqui esta noite, vocês podem fazer isso por mim?” – e quem entendeu o recado, atendeu ao pedido.

De modo geral, os quatro álbuns de estúdio do Midnite City são acima da média e reúnem tudo o que os fãs de hard rock/hair metal esperam: boas melodias, refrãos grudentos, riffs pegajosos, camadas envolventes de teclado e uma cozinha pulsante. O meu favorito é o primeiro, o homônimo lançado em 2017, e a primeira dele no show foi logo Summer of Our Lives, uma das melhores do disco e da carreira do Midnite City – que refrão legal para cantar ao vivo! Ao apresentá-la, Wylde comentou que essa foi a primeira música de trabalho e também o primeiro videoclipe do álbum Midnite City.

Com o perdão dos trocadilhos a seguir, com a “levanta-defunto” Raise the Dead — mais uma de In at the Deep End — o Midnite City incorporou uma atmosfera reminiscentemente gótica, ao melhor estilo The 69 Eyes, para esse trecho do show. Nessa música, as linhas de teclado de Charvette soavam como trilha sonora de animação dark ou filmes de terror, criando um clima perfeito para os fãs de Tim Burton e John Carpenter (como eu).

Em Can’t Wait for the Nights, foi legal a interação da banda com os fãs. E os músicos não escondiam a felicidade ao ouvirem o nome do Midnite City sendo ovacionado com o nosso tradicional coro, “Olê, olê, olê, olê, Midnight ‘Cirê’!” Também partiu de um fã – que curtia o show na pista – o presente que Rob Wylde recebeu: uma camisa da seleção brasileira, que combinou perfeitamente com o telão ao fundo do palco, onde o logotipo do Midnite City aparecia sobre a bandeira do Brasil.

Mantendo o clima em alta com seus novos e antigos fãs, Wylde anunciou que, em breve, viriam os shows de Chez Kane e do “poderoso” Ted Poley”. Ele também agradeceu aos organizadores do evento, Carlos Chiaroni e Vanessa Rodrigues, e conquistou de vez o público ao declarar: “Honestamente, isso é como um sonho se tornando realidade para nós. Acabamos de voltar do Monsters of Rock Cruise, nos Estados Unidos, e devo dizer que vocês são muito melhores!”. Não bastasse um elogio desses, a banda ainda presenteou a plateia com mais uma pérola de seu catálogo: All Fall Down.

Na sequência, Wylde comentou que todos ali pareciam incríveis e perguntou aos fãs se eles queriam voltar com ele para a Inglaterra. Mas logo olhou para seu guitarrista e disse, em tom bem-humorado: “Na verdade, eu decidi, Miles. Eu vou ficar aqui, tudo bem?” Em seguida, apresentou a moça responsável pelo merchandise do Midnite City e pediu à plateia que a saudasse com um animado “olá”. Foi então que ele sentenciou: “Bem, vou dizer algo: é sábado à noite em São Paulo. Alguém está bebendo? Alguém está festejando esta noite? Depois de encerrarmos aqui, vamos beber! Então vamos festejar bastante. Vamos ter uma ótima noite juntos, o que acham? Apenas um aviso: é oficialmente hora da festa!” – e foi com essa animação que a banda deu início à Can’t Wait for the Nights, mais uma do primeiro álbum.

Emocionado com mais um coro efusivo do público – que novamente bradava “Olê, olê, olê, olêeee….” –, Rob Wylde retribuiu com outro grande elogio: “Estamos nessa há oito anos. Juro por Deus que tocamos por toda a Europa, América, Austrália… e ninguém supera o Brasil. O Brasil é o número um!” Mas ainda faltava uma do segundo álbum, There Goes the Neighbourhood (2018), e, sob gritos histéricos da plateia arrepiada com a rasgação de seda, o frontman anunciou Give Me Love.

Era chegada a hora da despedida: “São Paulo, não podemos agradecer o suficiente por vocês terem vindo esta noite”, disse Rob Wylde, que estava realmente feliz com essa primeira vinda ao Brasil. “Queríamos ficar aqui e tocar a noite toda, mas temos (apenas) mais uma para vocês, infelizmente. Temos Chez Kane a seguir;, temos o ‘poderoso’ Poley, então não vá a lugar nenhum.” E completou: “Honestamente, realizamos nossos sonhos esta noite, Brasil. Muito obrigado!”

Como um último agradecimento, o cantor dedicou ao público brasileiro a música que abre o primeiro álbum do Midnite City: We Belong. A estreia do Midnite City não poderia ter sido melhor. Com um show impecável e repleto de interação com o público, o grupo matou a ansiedade dos fãs e conquistou de vez aqueles que ainda não os conheciam. Os amantes do hard rock ficaram para lá de empolgados com o que presenciaram. E olha que a noite só estava começando…

A expectativa para o show de Chez Kane era grande – tanto por parte dos fãs que já haviam assistido à cantora galesa ao vivo na edição anterior da Hard ‘n Heavy Party, quanto daqueles que perderam a apresentação e ouviram falar do show memorável que ela fez na ocasião. Para anunciá-la, o mestre de cerimônias Carlos Chiaroni surgiu ao palco. Antes, porém, falou sobre sua relação com o Manifesto e informou que a próxima edição da Hard ‘n Heavy Party acontecerá no novo endereço, com inauguração marcada para 8 de maio de 2025. Ele também contou como foi feito e aceito o novo convite para o retorno de Chez Kane ao Brasil. Em seguida, apresentou a artista, que foi ovacionada pelo público.

No palco, ela já era aguardada por Bruno Luiz (guitarra), Bento Mello (baixo), Gabriel Haddad (bateria) e Flavio Sallin (teclado). Tão animada quanto em sua visita anterior, a carismática cantora desceu as escadas laterais em direção ao palco, com um sorriso estampado no rosto – claramente feliz por estar de volta à cidade que tão bem a acolheu em 2024. Nesse clima alto astral, Chez Kane deu início ao show com a ‘mid-tempo’ I Just Want You, música que abre seu segundo e mais recente álbum, Powerzone, lançado em 2022.

Após uma década à frente da banda Kane’d, ao lado de suas irmãs Steph e Stacey, Chez Kane viu sua carreira ganhar um novo impulso a partir de 2019. Naquele ano, as três atuaram como backing vocals no DVD ao vivo We’ve Got Tomorrow, We’ve Got Tonight, da banda americana Tyketto. Posteriormente, Danny Rexon, vocalista da banda sueca Crazy Lixx, a descobriu no YouTube e, interessado em produzir novos talentos, começou a compor para ela as músicas de seu álbum solo de estreia, Chez Kane, lançado em 2021 pela gravadora italiana Frontiers.

E foi justamente desse álbum que veio a próxima música do show: a ‘hardona’ Too Late for Love. Era impossível não se contagiar com a performance de Chez, que soltava sua bela voz sem medo de ser feliz. Suas músicas possuem refrãos em regiões vocais elevadas e, ao vivo, sua entrega é tão impecável quanto em estúdio. Além de seu talento como cantora e performer, Chez Kane contou novamente com o apoio e o conforto de uma banda super entrosada e profissional. 

Na primeira pausa, Chez comentou como estava sendo bom estar de volta e recebeu o carinho dos fãs ao dizer: “Vocês sabem o quanto eu amo todos vocês”. Ela elogiou e agradeceu ao público, e ainda brincou dizendo o quanto estava suada por causa do calor. E, de fato, a temperatura estava difícil de aguentar, com quase nenhuma ventilação em um bar pequeno e bastante gente dentro. Em seguida, Gabriel Haddad puxou a batida à la We Will Rock You (Queen), que dá início à instigante All of It. No decorrer dessa música, houve um momento em que ficou apenas a batera e o público em sintonia, cantando o refrão e acompanhando com palmas – um momento bem bacana de interação. 

Depois de uma das mais músicas mais legais de sua ainda curta, mas promissora, carreira – Nationwide -, a cantora brincou mais uma vez com o calor que estava sentindo: “É uma coisa engraçada no rock and roll. Você chega, faz sua primeira música e você parece perfeita… e agora me vejo toda suada.” Sobre a próxima música, Kane contou: “Acho que falei com vocês sobre isso da última vez, mas, sem esta música, minha jornada solo não teria acontecido. Ela foi enviada para um cara chamado Danny Rexon, do Crazy Lixx. Acho que vocês conhecem o Crazy Lixx, certo? Bem, Danny me perguntou se eu queria fazer este projeto. Eu dei esta música, me apaixonei por ela: Better Than Love!”. Nessa, o músico multiinstrumentista Bruno Sá (Geoff Tate, Heljarmadr, Diaspora Mundi, Anamglas, Allegro) surgiu no palco fazendo um solo de saxofone. 

Para a acelerada Love Gone Wild, de Powerzone, Chez Kane não apenas contou novamente com Bruno Sá, como também convidou uma garota, de nome Mariana, que estava comemorando aniversário a subir ao palco para dançar. Na sequência, a cantora apresentou seus músicos e ressaltou o quanto eles haviam trabalhado duro para estarem ali novamente, enquanto ela mesma teve tempo para apenas um único ensaio. Na próxima música, Ball and Chain (que tem um riff de guitarra muito parecido com o de Livin’ On A Prayer, do Bon Jovi), assim como no ano passado, Chez desceu do palco e foi para a pista se divertir, misturando-se ao público. Por ali, cantou, dançou, abraçou e beijou algumas pessoas – um momento ímpar no evento, repleto de carisma e proximidade.

Antes de Get it On, rolou um momento divertido: os fãs começaram a ensaiar o clássico coro “Olê, olê, olê, olê, Chez Kane, Chez Kane!”, mas não deu tempo de ir adiante, já que a banda rapidamente emendou a música. Tudo bem, porque antes de Rock You up o coro finalmente aconteceu, e a cantora ficou visivelmente feliz com a energia dos fãs. Em retribuição, ela agradeceu à plateia e aproveitou para mencionar Vanessa, Carlos e Rodrigo Scelza, agradecendo por terem possibilitado seu retorno ao Brasil. Após os agradecimentos, Chez prosseguiu tocando mais algumas músicas de seus dois álbuns, incluindo a ótima Rocket on the Radio.

Já se aproximando do final do show, a cantora surpreendeu a todos encerrando com dois covers. Dessa vez, Mary On A Cross, do Ghost – que, aliás, havia sido tocada ao vivo pela primeira vez justamente no Brasil – ficou de fora. A primeira das últimas foi simplesmente o clássico Dream Warriors, lançado pelo Dokken no álbum Back for the Attack, de 1987, e que integrou a trilha sonora do filme A Nightmare on Elm Street 3: Dream Warriors (no Brasil, A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos), da icônica franquia Freddy Krueger. Foi emocionante ver o público inteiro – especialmente as mulheres -, cantando em uníssono uma música do Dokken, ainda mais essa, que representa um dos encontros mais marcantes entre o metal e o cinema de terror. Declaradamente fã da música e do cinema dos anos 80, Chez Kane se despediu com No Easy Way Out, de Robert Tepper, faixa que ganhou fama mundial ao integrar a trilha sonora do filme Rocky IV (1985), estrelado por Sylvester Stallone. 

Em sua recente passagem por São Paulo, Chez reafirmou o carinho que tem pelo público brasileiro e mostrou, mais uma vez, por que vem conquistando cada vez mais fãs ao redor do mundo. Entre canções cheias de energia e melodia, covers surpreendentes e momentos de pura conexão com a plateia, a cantora entregou um show vibrante, carismático e inesquecível. Se a estreia já havia sido marcante, essa segunda visita consolidou de vez a relação entre Chez Kane e o Brasil — e deixou a certeza de que seu retorno será sempre aguardado com entusiasmo.

Midnite City e Chez Kane entregaram apresentações de alto nível na abertura da noite, elevando a temperatura e estabelecendo  uma boa dose de pressão sobre o headliner. Mas estamos falando de Ted Poley – um veterano do hard rock, com décadas de estrada e a bagagem de quem viveu o auge do gênero. Antes de alcançar maior projeção, Poley trilhou o caminho do underground com o Prophet, banda em que acumulava as funções de vocalista e baterista. Já com o Danger Danger, experimentou certo sucesso entre o fim dos anos 80 e o início dos 90 – principalmente nos Estados Unidos e no Japão -, período em que o hard rock ainda dominava as paradas e lotava arenas. E, como era de se esperar, ele subiu ao palco – à meia-noite e vinte (que “belo” horário, hein? Só que não!) – pronto para mostrar por que ainda é tão respeitado. Sorridente, se juntou a Bruno Luiz, Bento Mello, Gabriel Haddad e Flavio Sallin, e iniciou sua apresentação com a acelerada Horny S.O.B., música do aclamado segundo álbum do Danger Danger, Screw It! (1991).

Sem perder tempo, Poley e banda surpreenderam o público com uma do Tokyo Motor Fist, grupo que o frontman formou em 2017 ao lado de Steve Brown, guitarrista do Trixter. Com um ritmo mais cadenciado do que a música de abertura, Youngblood – faixa do segundo álbum do TMF, Lions (2020) – já estava na ponta da língua de muitos que acompanham a trajetória de Poley além do Danger Danger. Na sequência, porém, veio a primeira pedrada da noite: o grande hino do D², Monkey Business. Também de Screw it!, a próxima foi Crazy Nites, que agitou a festa com seu refrão chiclete cheio de “uô ô u ô ô uô ôô‘s, fazendo todo mundo pular e cantar como se não houvesse amanhã. Músicas como essa têm riffs e solos grudentos, típicos da era dos guitar heroes do hard rock dos anos 80 – e Bruno Luiz tirou de letra o que o respeitado Andy Timmons criou.

Claramente, a voz, o alcance e o fôlego de Ted Poley já não são mais como os mesmos dos tempos de juventude. Ainda assim, na malandragem do gato, jogou com a experiência: deixava os trechos mais exigentes nas mãos (ou melhor, nas vozes) da plateia e economizava energia para os momentos em que sua voz não era tão demandada. Dessa forma, conduziu o show com dignidade – sem desafinações constrangedoras e longe das polêmicas ‘backing tracks’.

Apesar de Cockroach ser mais lembrando pelos bastidores conturbados que envolveram seu lançamento, Ted Poley escolheu Shot of Love para representar o disco no setlist. Já a primeira do autointitulado álbum de estreia do Danger Danger foi a bonita Feels Like Love, que proporcionou um dos momentos mais emocionantes da noite, com os fãs cantando em uníssono – para visível emoção de Poley.

Antes de interpretá-la, ele se disse honrado por — conforme Carlos Chiaroni já havia destacado no palco — ter sido o primeiro artista internacional a se apresentar no Manifesto Bar e, agora, o último a subir no palco na “Hard ’n Heavy Party” naquele endereço. Aproveitando o momento, declarou que há muito tempo estava ansioso para retornar ao Brasil: “Este é um sonho que se tornou realidade na minha idade. (…) Tenho 63 anos e estou alimentando minha energia com vocês.”

Além disso, Poley pediu uma salva de palmas para os funcionários que estavam trabalhando naquela noite, fez elogios calorosos ao público, agradeceu pelo apoio e ainda prestou homenagem à mencionada aniversariante. Para Don’t Walk Away, outra música do álbum Danger Danger, que contou com a participação de Bruno Sá no saxofone, ele avisou em tom bem-humorado que não puxassem seu cabelo – “tudo tem que ficar no lugar!” -, pois iria descer do palco para cantar junto com a galera. E os fãs novamente deram um show, cantando a canção em alto e bom som, enquanto o cantor ‘sumia’ na pista.

Em seu retorno ao palco, Ted Poley foi ovacionado. A partir daí, empunhou um violão e iniciou um bloco acústico, composto por Love, do álbum de estreia homônimo do Tokyo Motor Fist, e duas do pouco lembrado último trabalho de estúdio do D², Revolve, lançado no distante ano de 2009: F.U.$. That’s What I’m Talking About. Bruno e Gabriel o acompanharam em alguns trechos dessa sessão, seja com sutis arranjos de guitarra, seja com uma simples marcação de bumbo.

Depois desses minutos revitalizantes para o corpo e a voz do cantor – e (no bom sentido) para os ouvidos de todos -, Ted Poley rumou para a parte final de sua apresentação. Os fãs foram arrebatados por uma sequência providencial de hits do Danger Danger. E não houve uma só alma naquele recinto que se contivesse ou poupasse a voz com o que Poley preparou dali por diante: uma série de clássicos dos dois primeiros álbuns de sua ex-banda, começando com as explosivas Bang Bang Beat the Bullet

Depois dessa nova dose de adrenalina no público, Poley chamou Chez Kane para voltar ao palco. Ele elogiou a colega cantora e aproveitou para afirmar seu desejo de voltar ao Brasil – declaração que contrariou o que havia sido divulgado pela produção, de que esta seria a última visita ao país, sua despedida dos palcos brasileiros. Em um belo duo, Poley e Chez Kane emocionaram e foram acompanhados em coro pelos fãs na inesquecível balada I’m Still Think About You.

A festa ganhou contornos ainda mais grandiosos quando, além de Chez Kane, os integrantes do Midnite City também subiram ao palco — junto com Bruno Sá, que assumiu um segundo teclado para fazer dupla com Flavio Sallin. O clima de celebração tomou conta do Manifesto, com todos os músicos sorridentes e o público em pura euforia. Foi então que Bento Mello deu os primeiros acordes no baixo, e bastaram apenas algumas notas para a casa vir abaixo: era impossível não reconhecer a introdução de Naughty Naughty, um dos maiores hinos do Danger Danger e do hard rock oitentista. Esse foi um daqueles momentos que ficarão guardados para sempre na memória de quem esteve nessa edição da “Hard ‘n Heavy Party”.


Assim que Chez Kane, Bruno Sá e o Midnite City liberaram o palco, Ted Poley – que já demonstrava sinais de cansaço, inclusive na voz – mandou ver na última do Danger Danger da noite: a ‘hardona’ Don’t Blame it On Love, de Screw it!. Mas quem pensou que o show terminaria ali, se enganou. Inesperadamente, Poley abandonou o microfone e assumiu uma segunda guitarra. Rapidamente, Jack Fahrer – parceiro de Bento Mello no Nite Stinger – assumiu os vocais. Em uma versão que lembrou um pouco à pegada do The Cult em seu clássico álbum Electric (1987), o agora sexteto deu os números finais ao evento com Born to Be Wild, do Steppenwolf.

Se realmente foi sua última passagem pelo Brasil, como foi divulgado, Ted Poley fez questão de sair pela porta da frente, ovacionado por antigos e novos fãs. Mas, como ele mesmo disse, talvez ainda haja fôlego para mais. E se houver, os fãs brasileiros estarão prontos para recebê-lo com a mesma empolgação. E, se não for pedir demais, seria simplesmente histórico vê-lo desembarcar por aqui acompanhado – pela primeira vez – da formação clássica do Danger Danger: Andy Timmons (guitarra), Bruno Ravel (baixo), Steve West (bateria) e Kasey Smith (teclado). Never say never!

Midnite City – setlist
Outbreak
Ready to Go

Atomic
Girls Gone Wild
Someday
Hardest Heart to Break
Summer of Our Lives
Raise the Dead

They Only Come Out at Night
All Fall Down
Can’t Wait for the Nights
Give Me Love 
We Belong

Chez Kane – setlist
I Just Want You
Too Late For Love
All of it
Nationwide
Better than Love
Love Gone Wild
Ball n Chain
Get it On
Rock You Up
Powerzone
Rocket on the Radio
Dream Warriors (cover do Dokken)
No Easy Way Out

Ted Poley – setlist
Horny S.O.B.

Youngblood
Monkey Business
Crazy Nites
Shot of Love
Feels Like Love
Don’t Walk Away
Love (Tokyo Motor Fist)
F.U.$.
That’s What I’m Talking About
Bang Bang
Beat the Bullet
I’m Still Think About You
Naughty Naughty
Don’t Blame it On Love
Born to Be Wild (cover do Steppenwolf)


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