Esta seção foi criada para que as bandas comentem suas próprias discografias, uma seção inovadora que já existe na revista impressa por alguns anos e que estamos trazendo até você no formato digital. Agora convidamos o nosso amigo Sergio Baloff para participar comentando toda discografia do HEADHUNTER D.C. Com certeza você ficará surpreso com todas as curiosidades e informações aqui escritas. Boa Leitura!
Nome: Sérgio “Baloff” Borges”
Ano de Nascimento: 1971
Bandas que Integrou: Thrash Massacre (1989), Exodus Attack (Bonded By Blood Tribute – Atualmente)
“Hell is Here” – Demo 1989 (Death/Wild Rags):
As músicas da demo “Hell is Here”, na verdade, foram extraídas do advance tape de um 12″ EP intitulado “Noise” com 6 faixas que jamais fora lançado por problemas com a empresa contratada para seu lançamento na época, que simplesmente sumiu com a fita master e com o dinheiro pago pela banda. A princípio se trataria de um split 12″ LP com nossa banda-irmã ThrashMassacre, mas como esta não gravou a sua parte os caras decidiram lançar como material individual. “Hell is Here”, a demo, já trazia um Headhunter D.C. bastante evoluído tecnicamente se comparado com os ensaios gravados e espalhados na cena anteriormente, resultado de 2 anos de intensos e freqüentes ensaios e um número bem razoável de shows numa cena local que ainda estava engatinhando. Essa evolução já era notada através da grande performance do baterista Iaçanã (que, por sinal, tinha a metranca mais rápida entre as bandas do Brasil na época) e do guitarrista/fundador Paulo Lisboa, basta ouvir algumas intrincadas convenções do baterista e as ultra velozes palhetadas e solos do guitarrista ao longo da demo, que davam brutalidade e ao mesmo tempo uma variedade ainda pouco ouvida entre as bandas do estilo naquele período. As influências de Grindcore trazidas por Eduardo “Falsão”, que à época já ouvia muito Napalm Death, Unseen Terror, E.N.T. e Atavistic, eram bem nítidas. “Headhunter D.C.” e a faixa-título são as minhas preferidas. Talvez se o produtor do estúdio fosse mais familiarizado com Metal (algo impossível por aqui naquele tempo) o resultado tivesse sido melhor, com mais peso nas guitarras, por exemplo, mas ainda acho que o resultado final foi bem satisfatório para a época. É relevante mencionar que a demo teve algumas cópias distribuídas nos EUA na época pela Wild Rags Records, um grande feito para uma banda brasileira naqueles tempos, e que já mostrava a preocupação da banda em espalhar seu trabalho fora do país. Um clássico em se tratando de demos de Death Metal no Brasil, sem dúvida! Apesar dos vocais terem sido gravados por Eduardo “Falsão” Dantas (também conhecido na época como “Metal Killer”), meu nome já constava no lineup da banda na capinha da demo, já que eu já havia entrado em seu lugar quando do seu lançamento. Em tempo: existem duas versões da demo “Hell is Here” espalhadas na cena, uma com a faixa “Open Your Eyes” e outra com “Prepare to Die” no lugar desta.
Studio Reh. – Promo 1990 (self released):
Meu primeiro registro como vocalista do Headhunter D.C., essa promo foi gravada a pedido da Cogumelo para uma avaliação do novo material e da nova formação antes de assinarmos contrato com o selo. Datada de 27/05/1990 e gravada ao vivo em um pequeno estúdio de ensaios no subúrbio de Salvador, a promo conta com 4 faixas, sendo uma nova versão para “Hell is Here”, “Death Vomit” e duas músicas inéditas: “Am I Crazy?” (a última assinada por Eduardo “Falsão”) e “Why Wars?”, as quais mostram uma pegada ainda mais brutal e deathmetalizada da banda, com vocais mais podres e vomitados. Uma estória engraçada sobre essa promo é que na noite anterior à sua gravação eu enchi a cara como se não houvesse amanhã, dormi literalmente na sarjeta e acordei passando mal de tanta ressaca. Como ainda levaria anos até que o celular fosse inventado e chegasse ao Brasil, fui me arrastando e vomitando no ônibus até o estúdio com o intuito de informar aos caras que eu não tinha a mínima condição de gravar naquele dia. Chegando lá, vi que os caras já haviam montado tudo para a gravação e me disseram que eu gravaria naquele dia nem que fosse deitado no chão. 1 litro de Coca-Cola e 20 minutos largado no chão do estúdio depois, lá estava eu berrando feito um condenado com a cabeça doendo a ponto de ter um AVC! Tal situação inflenciou bastante e de forma positiva no resultado da voz na gravação: extremamente podre! Hahahahahahaaa!!!!!!
“Born…Suffer…Die” – LP 1991 (Cogumelo):
Em 3 de maio de 91 abrimos o show do Sepultura em sua “Arise World Tour” na Concha Acústica do Teatro Castro Alves para um público de aproximadamente 2.000 pessoas – meu terceiro ou quarto show com o Headhunter D.C. -, e logo no dia seguinte rumávamos para Belo Horizonte para a gravação de nosso primeiro álbum pelo maior selo de Metal Underground da América do Sul à época e no mesmo estúdio onde o próprio Sepultura e bandas como Sarcófago, Mutilator, Chakal, Holocausto e SexTrash também gravaram… nada mal para uma banda baiana no início dos anos 90 que acabara de completar 4 anos de existência, né? (risos) “Born…Suffer…Die” foi a prova definitiva de que não estávamos pra brincadeira e que éramos capazes de representar o Metal do Nordeste perante o Brasil com muita competência e sangue nos olhos, fazendo os preconceituosos do Sul e Sudeste engolir a seco o seu discurso de que não havia Metal fudido do lado de cá do país! Reproduzirei aqui uma parte do texto escrito para a reedição comemorativa de 25 anos do álbum: ““Born…Suffer…Die” foi gravado em 16 canais no estúdio JG (João Guimarães) sob a produção e engenharia de som do renomado Gauguin, que ali mesmo já havia sido responsável por gravações de algumas gemas do Death Metal brasileiro, como “I.N.R.I.”, “Abominable Anno Domini” e “Sexual Carnage”, e traz dez faixas e uma intro de puro Brutal Death Metal brasileiro, cru, extremo, caótico, mas muito bem executado, com alguns toques de raging Thrash. Bandas como Possessed, Death, Slayer, Sodom, Kreator, Dark Angel e ainda Morbid Angel e Napalm Death podem ser lembradas no decorrer das músicas, influências essas que unidas a um vocal extremamente característico, alternando grunhidos guturais com berros rasgados infernais no melhor estilo Quorthon/Angelripper/Mille Petrozza, guitarras com palhetadas à velocidade da luz, riffs alucinantes e solos muito bem sacados, baixo marcante e vigoroso e uma bateria capaz de fazer rachar os céus, fazem deste um álbum único. Desde um dos eternos hinos da banda, a faixa de abertura “Am I Crazy?”, cuja letra nada mais é do que uma visão ao avesso do mundo em que vivemos, passando pelas grandes regravações de “Hell is Here”, “Headhunter D.C.” “Suicidal Soldier” e “Prepare to Die”, as grindcore “Death Vomit” e “Disunited” e as inéditas “Decomposed”, “Beneath the Hate” e “Winds of Death”, as quais já mostravam uma maior evolução dentro do conceito da banda de se fazer Brutal Death Metal, até o genial petardo Deathrash “Why Wars?”, uma música não pacifista, mas inteligentemente consciente sobre os males que a inconseqüente ambição humana pode gerar, o que se ouve é um desfile do mais puro e genuíno Metal da Morte brasileiro executado por uma banda já dona de uma identidade bastante própria, apesar de seus então apenas 4 anos de atividades. O título do álbum, idéia do vocalista Baloff, foi tirado do refrão da música “Hell is Here”, e retrata muito bem o ciclo da sofrida existência humana nos dias atuais, e a capa, um trabalho magnífico assinado por Kelson Frost, que entre outras fez as fantásticas capas do “The Hangman Tree” do The Mist e “Rotting” do Sarcófago, juntamente com a clássica “foto do portão” da contra-capa, completam a obra com muito bom gosto. O álbum, que pode ser considerado como o primeiro registro vinílico de puro Death Metal do Norte/Nordeste, é aclamado pela mídia especializada Underground do país e pelos deathbangers brasileiros, logo tornando-se uma referência desse tipo de música no Brasil. Fora do país, algumas resenhas em zines e magazines estrangeiros já apontavam a banda como uma grande revelação do Death Metal sulamericano, e o álbum, uma verdadeira jóia do estilo. O zine belga Final Holocaust, por exemplo, publicou em uma de suas edições da época: “Realmente inacreditável a brutalidade contida neste álbum! Todas as 11 faixas são simplesmente de um excelente Death Metal com vocais extremos e doentios. Sem dúvida um dos melhores lançamentos vindos da América do Sul”. Ouvindo o álbum com a devida atenção, não há como duvidar disso” (por Luiz “Angelkiller” Jr.).
“Punishment At Dawn” – LP 1993 (Cogumelo/Black Water):
“Punishment At Dawn” surgiu como um contraponto ao que se fazia na América do Sul naquela época em se tratando de Death Metal, e mais uma vez estávamos remando contra a maré das tendências metálico-musicais que reinavam na cena. Era a época do Grunge, do Pantera e do Black Metal escandinavo, e nós, em meio a todo esse cenário instável no Metal Underground, continuávamos nos mantendo fiéis ao Death Metal e desenvolvendo uma música cada vez mais brutal e mórbida, com bastante influência do Death Metal europeu via Morgoth, Dismember, Carcass, Unleashed, Sinister, Merciless, Entombed, mas ainda com a sempre presente inspiração nos mestres Possessed e seus discípulos Death, Morbid Angel e Immolation. Também recorrerei a parte do texto da reedição do álbum em CD para abordar mais detalhes sobre o mesmo: “Com material novo em mãos a banda entra, em Maio de 1993, no 108 Studio para dar início às gravações do novo opus. Gravado e mixado por Tarso Senra (“Bestial Devastation”, “Warfare Noise”, “Schizophrenia”, “I.N.R.I.”, “Immortal Force”), “Punishment At Dawn” vê a luz do dia (ou a escuridão da noite, como queiram…) três meses mais tarde, e traz oito faixas de um Death Metal forte e poderoso feito com altíssima classe (ainda que sujo, furioso e violento como deve ser), algo ainda pouco visto/ouvido na América do Sul àquela época, quando as bandas eram mais influenciadas pela sonoridade primitiva e caótica de bandas como Sarcófago do início, Expulser e Sextrash. Temas como a altamente convidativa ao total headbanging faixa de abertura “Forgotten Existence” (até hoje obrigatória nos shows da banda), “Hallucinations”, “Bloodbath”, “Searching For Rottenness” e “Terrible Illusion” eram os novos hinos dos caçadores de cabeça em prol da causa do verdadeiro Metal da Morte Underground pelo qual empunham a bandeira com muita luta e dedicação. As letras, em sua grande maioria escritas pelo baixista Ualson Martins, lidam com alucinações, paranóia, insanidade e demais problemas que a doente mente humana é capaz de desencadear, como suicídio e assassinatos em série, além de retratarem através de contos mórbidos os sonhos de uma geração perdida. Já em “Deadly Sins Of The Soul”, uma obra-prima de Doomy Death Metal, e a faixa-título, a banda dá mostras daquilo que viria a ser sua incessante luta contra os dogmas ilusórios do cristianismo” (por Luiz” Angelkiller” Jr.). “Punishment At Dawn” foi como um prelúdio para como o Headhunter D.C. soaria dali pra frente e creio que moldou a personalidade da banda rumo a uma postura cada vez mais fincada nas raízes do Death Metal, musical e ideologicamente falando. A propósito, aguardem a sua edição comemorativa de 25 anos em CD/DVD vindo ainda nesse segundo semestre de 2018!
“Promo Tape ’96” – Promo 1996 (self released):
Gravamos essa promo com o intuito de mostrar à cena algo de nosso mais novo material à epoca, durante um longo período de quase 7 anos sem lançarmos um álbum de inéditas e de um impasse quase interminável com a Cogumelo. Nesse período a cena estava mais pra lá do que pra cá, e pouquíssimas bandas ainda tinham “bolas” pra continuar se assumindo como Death Metal e nós, orgulhosamente, fazíamos parte desse raro grupo de bravos deathbangers. Desse novo material, as 3 primeiras músicas a serem escritas foram “…And the Sky Turns to Black…”, “Contemplation (to the fire)” (que viria a fazer parte do “God’s Spreading Cancer…”) e “Falling in Perdition”, as quais foram gravadas para fazerem parte da promo. Pela primeira vez estávamos tocando com a afinação em Dó (2 tons abaixo), o que nos trouxe um peso maior para as cordas e consequentemente um vocal mais grave e mais gutural. A promo foi gravada ao vivo no Mutti Studio em Salvador em Dezembro de 95, e apesar de se tratar de um estúdio de ensaios de pequeno/médio porte sua qualidade de gravação nos agradou bastante. Gravamos 3 takes de cada música e escolhemos os melhores para fazerem parte do tracklist. Espalhamos bastante cópias da fita na época, e, de bônus, costumávamos incluir nossa versão para “Álcool” do Dorsal Atlântica, com a qual participamos do tributo à banda intitulado “Omnisciens” no mesmo ano. Todas as 3 músicas foram compostas por Paulo Lisboa e as letras, com exceção de “Contemplation…”, também de Paulo, são assinadas por mim, marcando o início de uma era em que eu assinaria todos os textos desde então. Essa promo tape dava uma ideia de como viria o Headhunter D.C. em seu próximo trabalho.
“…And the Sky Turns to Black… (the dark age has come)” – LP/CD 2000 (Mutilation/Mercenary Musik/WW3):
“ATSTTB”, na verdade, começou a ser gerado ainda entre 1994 e 1995, quando as primeiras músicas começaram a ser escritas. Depois veio a promo 96, que também serviu como uma espécie de pré-produção do álbum, a sessão de fotos do mesmo, realizada em 97 e o álbum em si finalmente vindo a ser gravado em 1998 para só em 2000 ser lançado oficialmente pela Mutilation Records (ex-Millennium Records). Isso mostra que, apesar do grande hiato entre “PAD” e este, nós nos mantivemos extremamente ativos em termos de composição do novo material, além dos frequentes shows por todo o país. Já contando com 3 novos membros, entre eles o baterista Thiago Nogueira (ex-Scrupulous), cuja carreira de músico profissional deu um grande salto desde então, o álbum foi gravado e mixado no Periferia Studio (o mesmo onde foi gravado o “The World is So Good…” do Mystifier) em Salvador entre Agosto e Setembro de 1998, e trata-se de um verdadeiro divisor de águas na carreira da banda e também na própria cena Death Metal brasileira e sulamericana. Foi o disco que catapultou o nome do Headhunter D.C. para o cenário mundial, e boa parte disso deve-se ao lançamento oficial do álbum nos EUA via Mercenary Musik/WW3 Records. Musicalmente falando, “ATSTTB” marca, de fato, uma nova era nas composições da banda, trazendo um Headhunter D.C. ainda mais brutal, pesado, mórbido, obscuro e profano, abusando de estruturas decadentes, mesclando passagens extremamente velozes graças aos blasts explosivos com um bumbo só (influência de Pete Sandoval, diferente da atual técnica de alternância de dois bumbos entre as batidas de caixa) com mudanças bruscas de ritmos caindo para andamentos mais cadenciados e soturnos. Os solos alavancados de Paulo, assim como os profundamente sentimentais de Fábio Nosferatus (meu primo, por sinal) também ajudam a desencadear essa variação entre a brutalidade inteligente e os climas densos gerando uma atmosfera assombrosa ímpar, característica do álbum. Já os textos, a partir daí assumem definitivamente uma natureza ateísta, niilista e anticristã que viriam a caracterizar de vez o lado ideológico do Headhunter D.C. (vide a faixa título – a minha preferida -, “Eternal Hatred” e “Beyond the Deepest Lie”), enquanto que “The Glory” traz uma espécie de louvor e contemplação à morte através de um texto poetizado, talvez dando aí, e de fato, início ao “Culto da Morte” propriamente dito, lírica e conceitualmente falando. Impossível falar do álbum e não mencionar a ‘doomy & gloomy’ “Conflicts of the Dark and Light”, que se tornou desde então uma das músicas preferidas pelo público e uma das mais pedidas nos shows, realmente uma excelente e inspirada composição de Mr. Lisboa. Fatos estranhos e trágicos rondaram as sessões de gravação do álbum, entre eles uma crise de epilepsia brutal de um dos funcionários do estúdio, um acidente de carro com morte na rua do estúdio e 6 (seis!) máquinas de ADAT queimadas em sequência, o que fez o engenheiro de som e dono do estúdio parar com as gravações do dia por “alguma coisa estranha estar acontecendo ali”… Tenso! (risos!) Enfim, mais um disco do qual temos um orgulho enorme em tê-lo lançado por tudo o que o permeou, por tudo o que ele significou para a sua época e continua significando para nós e para a cena brasileira, um grande “fuck off and die” para todos os posers, wimps e trendies que insistiam em dizer que o Death Metal estava morto e enterrado! Uma nova edição do álbum em gatefold black vinyl está a caminho via Crypts of Eternity Records do Perú. Aguardem!
“Brazilian Deathkult Live Violence… 14 Years of Brutality!” – Live Tape 2002 (Eternal Fire Live Tapes Series):
Trata-se da gravação de um show histórico realizado em Itabuna/BA no dia 09/06/1995 ainda durante a turnê do segundo álbum, quando tocamos com o Mordeth de São Paulo e a local Scrupulous abrindo a noite. Essa gravação já vinha sendo espalhada via tapetrading há algum tempo, até que surgiu a proposta do Karnage do Eternal Fire zine da França de lançá-la em cassete através de sua Eternal Fire Live Tapes Series. O show foi gravado direto da mesa de som e tem uma qualidade bem razoável para os recursos da época, mostrando a crueza e energia da banda ‘on stage’, sem mencionar a participação do público, agitando e berrando o tempo todo. Saudades do tempo em que se colocava 500 pagantes em um show de Metal Extremo – imagine sendo no interior do estado, como foi esse! O setlist é baseado nos dois primeiros álbuns e conta também com um cover de “Buried Alive” do Venom. Em 2013 teve uma versão em CD lançada pela Eternal Hatred Records com o seu áudio masterizado e disponibilizado na íntegra com duas faixas a mais que na versão em tape: “Am I Crazy? (cut off)” e um solo de bateria que não estava na programação do show e que teve de ser improvisado pelo então baterista André Moysés enquanto eu vomitava horrores atrás do palco. Maionese fudida! Hahahahaaa!!!
“…In Deathmetallic Brotherhood” Split 10″ – EP 2007 (Legion of Death):
Mais uma parceria com nossos irmãos franceses Karnage e Shaxul do Eternal Fire zine, dessa vez pelo seu selo Legion of Death Rekordz. Trata-se de um split em vinil com nossos velhos parceiros potiguares do Sanctifier, inspirado no split Pentacle/Desaster “…In League With…” no qual cada banda participava tocando um cover da outra mais uma música inédita. Em nosso caso, nós adicionamos uma faixa ao vivo e o Sanctifier gravou duas faixas inéditas para o lançamento. Compus “Hymn to Babylon” (com letra em parceria com meu irmão Luiz “Angelkiller” Borges Jr.) exclusivamente pra esse split, e o cover do Sanctifier escolhido foi “Cycle of the Entity”, enquanto que eles gravaram um cover de “Am I Crazy?. Gosto muito da gravação desse split (realizada no estúdio Casa das Máquinas, em Salvador, entre final de Novembro e inicio de Dezembro de 2005), uma das melhores que já fizemos, com bateria e guitarras super pesadas e na cara. A faixa inédita é puro Headhunter Death Cult Metal, 666% fincada nas raízes do gênero! Gosto muito de sua letra, cheia de luxúria, perdição, blasfêmia e exaltação aos prazeres mundanos da carne, um verdadeiro hino à velha Babilônia: “Lembremos da Babilônia, o paraíso terreno, uma nova era de luxúria está para surgir / Retribua amor com amor, combata fogo com fogo, somos filhos da Babilónia, não precisamos de nenhum Messias…”. Recentemente o Apokalyptic Raids a gravou para o segundo volume do tributo ao Headhunter D.C. e ficou foda, a cara deles! Em tempo: as mãos da capa são dos meus primos Fábio Nosferatus (ex-Headhunter D.C.) e Léo Lima, que por sinal são irmãos. Nada mais condizente com o título do split!
“God’s Spreading Cancer…” – LP/CD 2007 (Dying Music/Obscure Domain/Evil Spell/Deathcult):
Acompanhando as comemorações dos 20 anos da banda, “GSC” foi gravado, mixado e masterizado entre Fevereiro e Março de 2006 no estúdio Casa das Máquinas em Salvador e produzido por Thiago Nogueira, que também gravou todas as sessões de bateria, apesar de não fazer mais parte da banda àquele periodo. Mais uma vez vínhamos de um longo espaço de tempo desde o último trabalho, mas como foi dito no texto que acompanha o álbum escrito por mim, muitas foram as razões para mais essa demora em oferecermos um novo disco de estúdio à cena, entre elas todas as dificuldades enfrentadas por uma banda do Nordeste brasileiro que optou pela honestidade e sinceridade em seu trabalho, sem mencionar a fidelidade aos seus princípios, ao invés de se deixar levar pelas tendências de ocasião que levaram tantas bandas de nossa época à decadência – ainda que em vida -, caso contrário estaríamos com um belo contrato assinado há bem mais tempo e lançando álbuns com muito mais freqüência. Outro aspecto relevante que cito no texto é a nossa necessidade de um tempo especial para a inspiração certa no tempo certo, o que vale até hoje, afinal não fazemos música efêmera e descartável como muito vemos (e ouvimos) por aí. Não sei bem como começar a falar do álbum em si, mas a primeira palavra que me vem à cabeça é “violento”! Violento em suas músicas, com sua abordagem extremamente brutal e ‘in your face’ (“Stillborn Messiah”, “Celebrate the Chaos”, “Inner Demons Rise!”); violento em suas letras, um verdadeiro assalto contra tudo o que é hipocritamente chamado “sagrado” (“Disgrace to the corpse of God, buried and forgotten in a decrepit tomb…” – “God is Dead”); violento em sua capa, uma grande obra de manipulação digital assinada por Alcides Burn, que conseguiu, com extrema maestria, dar forma visual através de sua arte a um sonho blasfemo que eu tive durante o processo de composição do álbum. Brutal Unholy Death Metal ‘to the bone’, pesado, rápido e mórbido como deve ser! Talvez eu deixasse as guitarras um pouco mais na cara se eu tivesse a oportunidade de remixá-lo algum dia, mas num geral sou muito satisfeito com a sonoridade do mesmo. Pouca gente sabe, mas o título do álbum foi tirado da letra de “Love is Magick” de Raul Seixas, cujo trecho original teve que ser mudado por exigência da Censura Federal da época, acusando-o de apologia ao anticristianismo ou algo idiota assim. O trecho original diz: “Love is the answer, I am God’s spreading cancer, under will Love is the law”. Achei isso fantástico e “roubei” para nós! (risos!) Meus destaques vão para “God is Dead”, “Long Live the Death Cult” (dedicada ao Possessed), a faixa-título, “Stillborn Messiah”, “Inner Demons Rise!”… bem, vou parar senão vou acabar citando todas as faixas do álbum… hahahahaaa!!!
“The Darkest Archives… From The Death Cult (1987 – 2007)” – Double CD 2010 (Crypts of Eternity):
Esse é um CD duplo comemorativo dos 20 anos da banda contendo diversos materiais raros dos meus arquivos pessoais, incluindo aí demos, promos, ensaios, lives, takes inéditos de estúdio, cortes de programas de rádio e demais “achados arqueológicos”. Aliás, foi uma verdadeira busca arqueológica mesmo para pesquisar, reunir e compilar todo esse material, o que rendeu um atraso de 3 anos em seu lançamento – bem, em se tratando de Headhunter D.C. um atrasozinho desse não é nenhuma novidade, não é mesmo? (risos!) Muitos desses materiais eram até então inéditos em lançamentos nossos, e alguns só eram conhecidos pelas mais antigas gerações que viveram o circuito do tapetrading do final dos 80s/inicio dos 90s, mas num geral foi uma ótima oportunidade a todos os fãs e admiradores da banda para conhecer mais da longa trajetória da banda e acompanhar, através de um único lançamento, a evoluçao do Headhunter D.C. desde os seus primórdios em 87 até 2007. Além de tudo isso, o CD duplo vem com um excelente ‘memorabilia’ da banda em seu booklet, com fotos raras de época e do decorrer dos anos, flyers e cartazes de shows, letras de quatro de nossas primeiríssimas músicas, “Evil Followers”, “Miserable Priests”, “Fuck Off the False” e “Terrorists” (que também fazem parte da compilação via gravaçoes de ensaios de 87 e 89) e fotos do show comemorativo de 20 anos da banda aqui em Salvador, entre outras imagens raras. Um belíssimo trabalho do selo peruano Crypts of Erernity, um dos nossos grandes aliados na cena atual. Foram apenas 500 cópias disponíveis e rapidamente se tornou ‘sold out’. Seria ótimo tê-lo lançado em vinil triplo ou quádruplo… quem sabe algum dia em um box especial de 35 anos da banda?
“…In Unholy Mourning…” – LP/CD 2012 (Mutilation/Evil Spell):
Nosso último album de estúdio, “…IUM…” foi talvez o maior desafio enfrentado por mim até aqui desde que entrei para a banda no final de 1989, pois além de não apenas gravá-lo e produzi-lo, tive que compor todas as canções do álbum. Apesar de também ter assinado algumas músicas no “GSC” e também a faixa inédita do split com o Sanctifier, ainda não me considerava como um compositor de músicas de Death Metal como o Paulo tão magistralmente o foi para a banda, e logicamente senti o peso dessa responsabilidade, mas encarei o desafio com a força que o Death Metal me provém e fui à luta! Dessa vez a maldição dos 7 anos foi quebrada, mas mesmo assim levamos 5 anos desde o último trabalho, muito pela indisponibilidade do Paulo para se dedicar a escrever os novos sons devido à grande carga de trabalho em seu emprego como professor em Jacobina/BA. Naturalmente as novas músicas soavam com uma atmosfera ainda mais carregada e profana e foi essa característica que também deu a “IUM” a cara e a sonoridade que ele tem. Antes de entrarmos em estúdio para gravarmos o disco, fizemos uma pré-produção do álbum num estúdio de ensaios na Cidade Baixa onde gravamos todas as faixas ao vivo, algumas ainda sendo arranjadas e com suas letras ainda a serem finalizadas, mas no final alcançamos o nosso objetivo que era o de justamente termos as músicas registradas antes de sua gravação definitiva para que pudéssemos moldá-las conforme as idéias fossem surgindo. Essa gravação foi recentemente disponibilizada num box em cassete duplo limitado pelo selo boliviano RawBlackult Prods. O álbum, que marcou a estréia do guitarrista George Lessa (God Funeral, ex-Keter), foi gravado, mixado e masterizado por Jera Cravo no Studio 60 entre Fevereiro e Maio de 2011, desta vez sem acontecimentos trágicos relevantes… haha! Um fato marcante a ser mencionado foi a participação de cerca de 30 pessoas, entre membros de bandas, editores de zines e demais irmãos e irmãs de nossa cena local gravando um coro (chamado por mim de “Choir of the Damned”) em “Hail the Metal of Death!”, o famoso (ou “infame”, de preferência…) “SALVE!!!” sempre berrado pelo público presente nos shows. Memorável e impagável, algo que definitivamente entrou para a história de nossa cena baiana. Enfim, o que se ouve no álbum é puro Unholy Death Metal (se eu usasse aqui o termo “old school” seria chover no molhado, então dispenso…), com características de todos os nossos trabalhos anteriores, mas com uma carga de morbidez e obscuridade ainda maior e maiores níveis de brutalidade profana. Gosto muito de “Cursed be Thou”, “Deny the Light” (que possui um riff de 87!), “A Dream of Blasphemy” e “Lightless…”, essa última lenta, fúnebre, obscura, niilista em sua essência. Quanto às letras, tive a ideia de disponibilizar as suas traduções em português em um booklet extra em sua primeira versão em digipack de luxo via Mutilation, onde todos aqui no Brasil poderiam ter uma percepção mais aprofundada de nosso lado ideológico, o qual sempre foi tão priorizado por nós quanto à nossa própria música. Posso até dizer que se trata de nosso melhor álbum até o momento, porém um novo capítulo do Culto da Morte está para ser escrito, portanto aguardem…
“Death Kurwa! Live in Warsaw 2013” – Live CD 2016 (Necroscope zine/Bestial Invasion):
Outro lançamento não programado e feito meio que por acaso. Surgiu após o convite de nosso parceiro, irmão e velho apoiador da banda Adam Stasiak do tradicional zine polonês Necroscope para participarmos de sua edição de jubileu #30 com um CD acompanhando o zine. Coincidentemente tínhamos essa gravação do show de Varsóvia em 2013 captada por uma câmera de vídeo que sequer captou o show todo, mas como tinha um áudio bem razoável, ambas as partes concordaram em usá-lo. Para completar a pareceria, surgiu o selo Bestial Invasion Records do Reino Unido que se propôs a prensar o CD de forma oficial e disponibilizá-lo também de forma avulsa através de seu catálogo. Apesar de todo o “acaso” em seu lançamento, trata-se de um registro importante e histórico de nossa primeira tour européia. O que se ouve ali é um verdadeiro show de Death Metal, sujo e cru, sem máscaras nem retoques, sujeito a todos os defeitos e imperfeições de um real evento subterrâneo, do Underground para o Underground! Destaque para a participação insana dos mais loucos maníacos poloneses gritando “kurwa!” o tempo todo, o que para nós seria como o nosso “fudido!” e coisas do gênero. De bônus incluímos “Forgotten Existence”, gravada ao vivo em Jacobina em 2008.