HEAVEN’S GUARDIAN – SÃO PAULO (SP)

Redacao RC
07/07/2024

28 de junho de 2024 - Teatro Gamaro

Por Silvio César M. Brandespim

Fotos: Rodrigo Fernandes da Silva

Foram precisos quase 22 longos anos para o público paulistano rever a banda goiana Heaven’s Guardian. Fundada em 1997, em 2002 tocou no saudoso Via Funchal com o Blind Guardian. Apesar das tribulações com o baterista original, Thomen “The Omen” Stauch, e outros perrengues na turnê (incluindo cancelamento de última hora do show de Brasília), os alemães comemoravam o aniversário de seu grande vocalista, Hansi Kürsch. Nessa época, o Heaven’s Guardian contava na formação com o batera Alexandre “Kão” e o baixista Murillo Rassi. Com apenas uma alteração em relação ao line-up que gravou o último álbum, Chronos, dessa vez, infelizmente, o baterista Francis Cassol (Scelerata/Rage In My Eyes) não pôde realizar essa nova turnê. Para seu lugar, veio o mais que competente Daniel Moscardini (Dark Avenger/Coral de Espíritos/P.U.S.), que fez um excelente trabalho.

A noite de 28 de junho, início de inverno em São Paulo, no belo Teatro Gamaro, que fica localizado no bairro da Mooca, seria marcada por uma apresentação ímpar. Era a primeira vez no Brasil que uma banda de heavy metal se apresentaria com uma orquestra completa. Sob a regência impecável do maestro Andreyw Antônio Batista, o Heaven’s Guardian contou com a participação da Orquestra Sinfônica Jovem de Goiás, juntamente com o Coro Sinfônico Jovem de Goiás e alguns convidados muito especiais para abrilhantar a mágica noite.

Com as luzes apagadas, os coros femininos e depois os masculinos, membros do Coro Sinfônico Jovem de Goiás adentraram o palco. A casa não estava cheia, mas o público que lá estava se mostrou fiel ao material da banda. Já com toda a orquestra postada e ainda com luzes apagadas, eis que entra o maestro Andreyw. Depois, foi a vez de “O Guardião” – também conhecido como “Father Time” -, aparecer, segurando um cajado iluminado. Desde o álbum D.O.L.L., de 2004, ele estampa as capas do H.G., e, hoje, é a mascote da banda. Uma curiosidade: o ator que interpreta O Guardião é ninguém menos do que o tio dos irmãos Everton e Ericsson Marin, o fotógrafo Júlio Kanedma, que inclusive registrou o nascimento de ambos.

De volta ao espetáculo, após a entrada enigmática com o Guardião, orquestra e coro iniciam a dramática Tempus, introdução do álbum Chronus. Em seguida, a banda entra com tudo com a nova Sirens of the Past, música que foi transformada em videoclipe. De cara, deixaram todos os presentes maravilhados e de queixos caídos com a voz encantadora e performance incrível da musa russa, Natalia Tsarikova, substituta da soprano Olívia Bayer, contrastando com o poderio vocal do vocalista Carlos Zema. Aliás, um parênteses aqui: com certeza esse rapaz simplesmente se tornou um dos mais incríveis e versáteis vocalistas da atualidade. Não é de hoje que ele vem se destacando na função, mas o quanto ele tem evoluído constantemente é simplesmente ridículo mostrando sua versatilidade no canto.

O show segue com General of Peace e Drowning, ambas do último álbum. Então, com uma breve introdução protagonizada por Carlos, eles tocam uma música do excelente D.O.L.L., Screams of 1964, seguida de Valhalla Call, outra do novo álbum. Após essa, começam as performances em conjunto com os convidados especiais. A primeira convidada da noite é a vocalista Vanessa Lockhart (Evanescence Cover), cuja a aparência é assustadoramente semelhante à da líder da banda norte-americana, Amy Lee. Ela se juntou a Zema e Natalia para cantarem a excelente Tristan and Isolde.

A química gerada por esse trio foi simplesmente incrível, mas as surpresas só estavam começando! Ao termino dessa, Vanessa ainda realiza juntamente com os cantores as não menos excelentes Sail Away e Strenght do álbum de 2015, Signs.

E eis que mais um convidado especial adentra o recinto, dessa vez para realizar o lindíssimo e inspirado solo de guitarra criado pelo produtor e braço direito de nomes como Rob Halford e Bruce Dickinson. Sim, estou falando do grande Roy Z. É convidado pela banda o também excelente musicista Vandré Nascimento, da banda de power metal Ego Absence, para se juntar ao H.G. na música Home of Time. O trio de guitarristas, Ericsson, Luíz Maurício e Vandré, fez bonito e continuou junto no palco para tocar Wall of Shame.

Então chega a vez de tocarem aquela que considero o hino principal do Heaven’s Guardian. Falo da empolgante Fighter, do excelente (e meu favorito) álbum Strava (2001), de quando eles eram uma banda de power metal emergindo em um cenário mais que propício para o estilo na época. Para a performance magistral desse clássico, eles convidam ao palco o excelente e fã de muitos anos Raphael Dantas (Ego Absense/Gloria Perpetua), que além de rasgar elogios para Zema, deixou bem claro seu amor pelo trabalho como um todo do H.G.. Me surpreendeu bastante sua semelhança física com o saudoso Mário Linhares (Dark Avenger/Harllequin), que mais tarde soube do próprio Raphael ser uma grande influência tanto para ele quanto para o Zema, bem como para este repórter.

Para a próxima música, um monstro é convidado a se juntar ao H.G e a excepcional orquestra: o incrível Victor Emeka, vocalista do Hibria, que se prepara para sua nova turnê japonesa. Emeka aceitou o convite para se juntar aos “goianos comedores de pequis”, como o próprio muito bem-humorado e carismático Carlos Zema citou. E o som escolhido foi Artificial Times de Chronos. Ver Victor e Zema em ação foi literalmente de tirar o fôlego; o que esses dois cantam é simplesmente fora desse planeta. Com todo o respeito para os demais convidados, esse dueto juntamente com Natalia, merece um destaque especial aqui.

Com a apresentação já chegando ao seu final, chegara a hora de outro clássico da banda, Master of Streets, do álbum D.O.L.L.. Desta vez, a convidada foi a atriz Bela Carrijo, também conhecida como Bellatrix Serra, que deu um brilho a mais a essa que já é um hino da banda, afinal, afinal, foi o primeiro videoclipe oficial do H.G.

Prosseguindo a noite espetacular veio a “cereja do bolo”: a performance da excelente versão do cover dos finlandeses do Nightwish, The Phantom of the Opera, magistralmente executado por Zema e Natália, arrancando aplausos efusivos de todos da plateia em pé! Finalmente, o encerramento dessa apresentação incrível se deu com a execução de Neverland, um clássico registrado na primeira demo tape da banda no idos de 1999, quando eram um bando de moleques sonhadores em uma Goiânia tão distante da realidade deles.

No final, todos se reuniram no belo palco do Gamaro para a famosa foto junto à orquestra, ao coro e, claro, ao tímido, porém fiel público paulista. Que noite magistral! Foi a primeira vez que vi um coro de músicos eruditos junto com orquestra e maestro batendo suas cabeças e agitando como se não houvesse amanhã. Uma banda com sangue e garra em cima do palco, uma performance discreta, porém marcante e corretíssima, da cozinha composta por Murilo Ramos e Daniel Moscardini, e um tecladista alucinado e cheio de paixão pelo que faz, chamado Everton Marin. Por sinal, foi exatamente graças aos sonhos gigantes de Everton que esse espetáculo se concretizou.

A interação entre público e banda foi mágica. Quem teve o privilégio de testemunhar esse evento saiu com a certeza de que o Brasil agora tem o seu grande nome no heavy metal sinfônico, e se chama Heaven’s Guardian. Que venham mais histórias incríveis desses “Guardiões” do metal. O público desse estilo só tem a agradecer. E para queles que, por qualquer motivo, não puderam comparecer, não fazem ideia do evento que perderam. Ao Heaven’s Guardian, por favor: não demore mais 22 anos para retornar aos palcos de Sampa. Seus fãs, como eu, agradecem!