Não se trata tão somente de uma “reunião de família”. Encabeçado pelo vocalista (e baixista) Biff Byford (Saxon) e seu filho e guitarrista Seb Byford (Naked Six), o Heavy Water é um projeto de alto nível, com ótimas composições e que não se restringe a um estilo musical, transitando pelo hard rock, o rock’n’roll, o heavy metal, o blues e outras sonoridades, seja com uma cara mais “moderna”, seja acenando para os anos 70 e 80. Além das várias camadas inseridas no play, o debut Red Brick City (2021) chama atenção pelos duetos vocais dos dois ‘Byfords’, por podermos ouvir Biff mandar ver também no baixo, pela precisão e pelo arsenal de riffs de Seb e pela contribuição de peso do baterista Tom Witts e do tecladista e saxofonista Dave Kemp. Conversamos com os mentores do Heavy Water a respeito desses primeiros passos do projeto, da parceria pai/filho e do que virá pela frente.
Poderiam nos contar sobre a escolha do nome Heavy Water? O quanto esse nome impactou o projeto e o quanto se conecta com essa relação pai/filho?
Biff Byford: Foi uma ideia minha, na verdade. Eu estava sugerindo nomes para Seb apenas por diversão. E quando esse projeto surgiu, achei que seria bem apropriado. Não é heavy metal, é apenas um gênero diferente. Seb gostou, e nós fomos com esse nome.
E é interessante porque o nome parece, na minha opinião, reverenciar as duas gerações. Quer dizer, posso estar errado, mas também soa como uma analogia, de mostrar essa “eletricidade” intrínseca em cada um de vocês e no resultado dessa combinação.
Biff: Talvez. É definitivamente um nome que achamos que se encaixa bem em nós e na música que estamos tocando.
Vocês ressaltam não se tratar de um disco de heavy metal. E eu realmente acho que o metal é apenas uma parte do projeto, que também tem rock’n’roll, hard rock, grunge e blues. Quão maravilhoso foi para vocês, como pai e filho, mas também como músicos, gravar este álbum, sem estarem presos a gravadoras?
Biff: Foi muito divertido, na realidade. Tivemos tempo durante o lockdown para compor e experimentar. Fizemos a bateria em um estúdio diferente (Reel Recording Studio), que tinha uma configuração melhor para gravar bateria ao vivo. Mas todo o restante foi feito em nosso próprio estúdio (Big Silver Barn), então tivemos muita liberdade na composição para não ficarmos restritos a algum gênero musical específico.
E como foi o processo de composição de Red Brick City, de uma forma geral, durante a pandemia?
Seb Byford: Tudo ocorreu muito bem. Algumas músicas foram escritas antes da Covid-19. E quando a pandemia surgiu, eu voltei para casa por um período, então meu pai e eu tivemos tempo para escrever juntos, trocar ideias e tentar coisas diferentes.
Parece que as composições carregam uma sensação de esperança para as pessoas durante um momento tão difícil que o mundo tem enfrentado.
Seb: Muito do que escrevemos vem de experiências e sentimentos pessoais. Não importa o quão horríveis as coisas se tornem, temos que permanecer positivos.
O quanto cada um aprendeu com o outro musicalmente falando? Quero dizer, obviamente Seb conhece a carreira de seu pai e foi criado em um ambiente musical, mas o quanto ele absorveu de Biff em termos musicais? E, por outro lado, o quanto e o que Biff aprendeu com seu filho?
Seb: Trabalhar com meu pai no estúdio é uma experiência incrível, ele sabe o que fazer. Sua paciência e sua atenção aos detalhes são verdadeiramente inspiradoras, ele se esforça para a grandeza das músicas. E realmente traz o melhor de você. Ele não tem medo de experimentar e pensar fora da caixa, uma verdadeira lenda.
Biff, de alguma forma, você ficou surpreso com o talento de Seb, capaz de cantar e tocar vários instrumentos?
Biff: Nós tocamos juntos há um tempo, e Seb também gravou meu álbum solo, School of Hard Knocks (2020), então não é uma surpresa. Seb é um grande compositor e cantor.
Por sinal, é muito legal ouvir as vozes de vocês dois, essa diversidade, as melodias bem encaixadas e o sentimento. Claro que há trabalho duro, mas tudo soa tão natural, parece que fizeram isso no primeiro take. Foi fácil a chegar a esses vocais?
Biff: De fato, demorou muito durante o ‘ir e vir’ no estúdio. Nós conhecemos os vocais um do outro muito bem. Então, nós dois forçamos os limites um do outro; pressionamos para tentar coisas diferentes, mesmo quando um de nós não achava que funcionaria. Você tem que confiar na pessoa com quem está trabalhando para trocar ideias, é muito importante.
E como foi trabalhar ao lado de Tom Witts e Dave Kemp?
Seb: Eu toco com Tom há muito tempo, somos amigos de escola e fundamos o Naked Six juntos. Ele é um grande baterista. Foi importante para mim ter alguém com quem me sentisse confortável tocando. Dave é ótimo, ele ouve a faixa e “lá vai ele”; o resultado é ótimo.
Falando em algumas músicas, uma das minhas favoritas é Tree in the Wind, que tem um lyric video e uma letra linda. Há uma analogia nas letras, certo? Gostaria que nos falassem sobre o processo de criação da música e o significado de ser uma canção de esperança.
Seb: A canção está se referindo diretamente aos tempos difíceis que a humanidade teve que enfrentar e que ainda está enfrentando nos dias de hoje. É sobre a sobrevivência em tempos difíceis e exorta as pessoas a nunca perderem a esperança.
Turn to Black é outra que chama atenção, por abordar um assunto importante de ser falado. Como foi colocar o tema às letras e dar à música um ar mais moderno?
Biff: Com relação às letras, estamos realmente focando no que elas significam e no que estamos tentando dizer. O tema principal, neste caso, tende a girar em torno de nossa busca como humanos por redenção, liberdade e paz, os altos e baixos e a aceitação da mudança.
Já Follow this Moment nos leva de volta aos anos 70, mas ainda soando com uma cara atual.
Biff: Essa música tem uma sensação um pouco mais “ensolarada” do que outras faixas do álbum. Suas harmonias lembram um pouco os Beach Boys. Definitivamente tem uma vibe anos 70.
Quem ainda não ouviu Naked Six pode não saber que Seb é um riffman, apesar da abordagem diferente em cada banda. Essa quantidade de riffs de alto nível tornou o processo de composição ainda mais fácil?
Biff: Sim, isso tornou as coisas muito mais fáceis e rápidas. Conseguimos fazer tudo em menos de um mês, o que é muito bom!
Também ouvimos um saxofone no álbum, instrumento que enaltece ainda mais as composições. De quem veio essa ideia e o que você achou do resultado?
Seb: Achamos que seria ótimo ter Dave tocando um sax no álbum. Trabalhamos bastante com Dave ao longo dos anos, ele mora muito perto de nós, então o conhecemos bem. Dave também tocou em School of Hard Knocks, álbum solo de meu pai, e no álbum de estreia do Naked Six.
Como anda o processo de composição e gravação de um segundo álbum? Aparentemente, pode ser lançado em 2022, certo?
Biff: Temos algumas ideias e material em produção, mas nada está finalizado ou planejado ainda.
Em relação a outros projetos… No caso de Biff, o que você pode nos dizer sobre os próximos passos do Saxon e sua carreira solo. E Seb, o que você poderia nos dizer sobre o Naked Six e outros projetos que você está preparando?
Biff: O novo álbum do Saxon vai sair no início de 2022 (N.R.: a entrevista foi realizada no fim de 2021, e o novo álbum do Saxon, Carpe Diem, foi lançado em 4 de fevereiro de 2022) e esperamos voltar à estrada. Mais datas serão anunciadas muito em breve.
Seb: O Naked Six está em um hiato no momento; estou trabalhando em outras coisas. Meu novo projeto se chama Sun King; mais detalhes estarão sendo anunciados em breve.
Obrigado pela entrevista. Deixem uma mensagem para os fãs brasileiros.
Biff: Esperamos poder voltar ao Brasil em breve! Tenham fé!
Heavy Water – Revolution (videoclipe):
Documentário:
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