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HELENA NAGAGATA: A JORNADA CÓSMICA DE STARLUST E O FUTURO DO METAL

Por Daniel Agapito

 

Doutoranda em música pela UFRJ, a jovem guitarrista Helena Nagagata tem ganhado reconhecimento como um dos próximos grandes nomes da guitarra. Fora sua carreira solo, ela atualmente integra o Shamangra, projeto de Luís Mariutti que reúne ex-membros do Angra e do Shaman para executar os maiores hits de ambas as bandas ao vivo. Helena também já fez parte da Sinaya, primeira banda completamente feminina de deathcore do mundo. Agora, ela visa abrir um pouco mais seu leque de influências e mostrar todas as suas habilidades com seu primeiro EP solo, Starlust, lançado em outubro deste ano. Conseguimos trocar algumas palavras com ela, que dissecou o EP e, por extensão, sua carreira. Confira.

 

Você comentou que seu primeiro EP, Starlust, reflete não só seu trabalho como guitarrista, mas também sua paixão por trilhas sonoras, músicas orquestrais e música progressiva. Como você mesclou todos estes seus lados no disco?

Helena Nagagata: Quando comecei a escrever Starlust, eu queria que ele fosse focado no meu trabalho como guitarrista, a guitarra precisava ser protagonista. Mas quanto às composições e arranjos como um todo, eu escuto muita trilha sonora, muito prog desde criança, a ponto de que não teria como isso não me influenciar no processo. Então basicamente é um EP de guitarra, mas com roupagem, harmonias e arranjos que têm influências diversas de tudo isso, prog, orquestra, trilhas sonoras. Basicamente, tem guitarra dialogando com harpa, tocando modulações estilo trilhas da Disney, Ennio Morricone e também Debussy, por exemplo. Mas também tem o meu lado mais forte que é influenciado pelo metal, então a guitarra tem distorção quase o tempo todo, afinações mais graves em 7 cordas, breakdowns.

De modo geral, as faixas de Starlust abordam temas cósmicos e de autoconhecimento, com o próprio título sendo um trocadilho de ‘stardust’ (poeira cósmica) e ‘lust’ (desejo, luxúria). Como diria que suas composições conseguem passar estas mensagens? De que forma elas dialogam com os temas?

Helena: Como todas as faixas são instrumentais, a interpretação das pessoas acaba sendo muito livre, mas o que eu quis com os títulos foi tentar evocar o que eu sinto com cada uma delas. Eu sou apaixonada por astronomia e qualquer coisa que envolva cosmos e ciência, Carl Sagan é um dos meus ídolos. E uma das suas falas mais famosas define a Terra como sendo o ‘pálido ponto azul’ e que todos os nossos problemas ou tudo que importa estão ali, naquela pequenez. E Starlust é sobre isso, ela tem momentos ‘épicos’, rápidos, mas também a vulnerabilidade do refrão, um tema melódico que surge com orquestra. E o título é sobre isso, sobre o nosso desejo incansável, nossa busca por um brilho, algo além de nós mesmos; mas mesmo tendo surgido de material de estrelas, nós ainda somos poeira cósmica.

 

Dreamlike Vision, que você compôs originalmente em 2021, passou por uma ‘nova roupagem’ para entrar no EP. O que exatamente foi essa versão ‘mais madura e contemporânea’?

Helena: Dreamlike Vision foi minha primeira música 100% solo, eu nunca tinha escrito para valer uma música centrada no meu trabalho como guitarrista. Então, na época eu ainda não tinha tanta maturidade musical ou até experiência me gravando e me produzindo no meu home studio. E agora, para esta versão, eu senti que foi um processo diferente, mais profundo, de saber como me gravar melhor, desde mão mesmo, pegada, até como me timbrar melhor também. Alguns detalhes de arranjo que antes eu não tinha pensado foram surgindo, como na parte acústica; acrescentei algumas camadas de violão de nylon que senti que trouxeram mais maturidade pro arranjo, também incluí umas partes no solo principal, tirei algumas coisas que pareciam demais. É realmente uma chance de revisitar e repaginar seu trabalho com outra cabeça, mas tentando entender aonde você queria chegar com o original pra também não perder a essência, senão se tornaria uma música nova.

Com isso em mente, de modo mais geral, como você descreveria sua evolução musical desde que começou a compor músicas autorais?

Helena: O Shamangra em muitos aspectos foi pra mim um divisor de águas e influenciou diretamente a forma como eu entendo arranjos, composição e também a guitarra. Minha relação com o instrumento ficou mais profunda depois que eu passei por um processo tão imersivo assim, de tocar mais de 20 músicas de uma banda, de um guitarrista. Foi a experiência que mais me marcou em um curto período de tempo, foi quando eu mais senti um crescimento em mim não só como guitarrista, mas também como musicista como um todo. Starlust foi escrito antes do convite pro projeto, então um próximo trabalho solo agora com certeza vai ser composto com uma nova mentalidade.

 

Fora o Shamangra, você também faz parte de outros projetos, como o duo de metal progressivo Curi & Nagagata (com o baterista Alex Curi) e também a banda de metal extremo Sinaya. Como diria que a influência destes seus outros projetos aparece no seu trabalho solo?

Helena: Quando você divide um projeto com outras pessoas, faz parte de uma banda ou até mesmo toca coisas que não são suas originalmente, existe um lado coletivo muito forte, o de ouvir o outro, seja para compor, seja ouvindo o que o compositor fez no original para tentar captar o mais fiel possível. Agora, quando você faz algo 100% solo, pode ser ao mesmo tempo solitário e libertador, porque só depende de você. Se você empaca em uma parte, só depende de você mesma para achar uma solução; mas você também não precisa fazer concessões, a sua palavra é final. Já meu trabalho com Alex no projeto Curi & Nagagata é diferente do meu trabalho solo porque ele não é exatamente música de guitarra. Tem guitarra, tem bateria e é instrumental, mas a nossa composição é focada na música como um todo, é mais holístico musicalmente do que o que aconteceu em Starlust, em que eu coloquei a guitarra na frente de tudo como ponto de partida.

Você teve a chance de estudar com algumas de suas maiores influências, grandes nomes da guitarra, como Tosin Abasi (Animals as Leaders), John Petrucci (Dream Theater), Guthrie Govan, Andy James (Five Finger Death Punch) e Jason Richardson (All that Remains), dentre muitos outros. Qual foi a sensação de poder aprender diretamente de alguns de seus ídolos?

Helena: É uma sensação surreal porque você tem uma relação distante com seus ídolos vendo eles no YouTube, nas redes sociais e em shows. E aí de repente eles estão na sua frente, compartilhando com você o conhecimento que eles têm, os caminhos que eles percorreram até chegar ali e não tem como você não se inspirar profundamente. Guthrie, por exemplo, é uma pessoa cujas aulas vão além de técnica, ele ensina filosofia de vida. A sensação de passar por uma experiência assim é que você quer voltar pro seu quarto e ficar horas e horas tocando, estudando sem parar porque é de tirar o ar você ver músicos tão absurdamente bons tocando na sua frente. Eu falo que eu fiquei mal acostumada porque eu tenho tanta, mas tanta sorte de nos últimos anos ter me cercado dos melhores músicos do mundo, primeiro tendo aula com meus ídolos e agora tocando com Luis e Hugo Mariutti, Aquiles Priester. O nível deles é altíssimo, eu sempre quis me cercar de gente muito, muito boa assim porque você não tem escolha a não ser melhorar cada vez mais, e pra mim a busca eterna é essa, ser uma musicista cada vez melhor, nunca parar de estudar e me aprimorar.

 

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Há alguma dica, algo que algum deles passou para você que você gostaria de repassar para os novos guitarristas que podem estar lendo?

Helena: Uma coisa que é praticamente um consenso é que todos eles sempre falam da importância de uma vida dedicada à excelência e ao estudo, de abdicar de certas coisas em prol dos seus sonhos. Para alcançar o nível desses caras, você precisa fazer coisas extraordinárias. Não adianta seguir o caminho fácil e achar que vai dar certo. Você precisa treinar e estudar muito pra atingir seus sonhos, horas e horas sem fim. Petrucci tocava seis horas por dia pelo menos, Steve Vai, dez. E eles não me parecem satisfeitos, sempre buscam se aprimorar cada vez mais, seja tecnicamente, como compositores, nos seus timbres etc. E isso foi a maior lição que eu aprendi com esses músicos e com o prog: a disciplina que é necessária para você buscar a excelência no seu instrumento.

 

Apesar de ser relativamente nova na música, você já é reconhecida internacionalmente, sendo mencionada em uma lista de ‘30 Heroínas da Guitarra’ da renomada Guitar World, certo?

Helena: Isso foi surreal, eu leio a Guitar World desde que comecei a tocar, tenho revistas, matérias, as aulas que eles lançavam, tudo guardado ainda e ter sido mencionada na revista algumas vezes, especialmente essa dos Guitar Heroes foi realmente um sonho realizado. Essa matéria tem um motivo mais legal ainda por trás, porque foi quando eu participei de uma collab online em prol da caridade There With Care, uma instituição que ajuda crianças com doenças graves e suas famílias, então essa collab teve um motivo bem nobre para ser realizada.

 

Pulando rapidamente para o Shamangra: há alguma possibilidade de gravação de material autoral ou o foco é fazer shows?

Helena: Eu adoraria que nós compuséssemos e lançássemos algo juntos, seria a continuidade desse sonho lindo que eu tenho vivido com o Shamangra. Por enquanto, nós temos focado nesses shows grandes, o próximo agora é revivendo Ritualive na íntegra com convidados super especiais, como Edu Falaschi, Fernanda Lira e Sascha Paeth na Audio. Então, em termos de show podemos dizer que temos bastante trabalho pela frente (risos). Mas com certeza ter a chance de compor algo autoral com eles seria a epítome desse sonho.

 

Você também comentou que está disposta a explorar outros caminhos criativos, como violão e piano. Então, o que vem pela frente?

Helena: Como eu comentei antes, eu queria que esse primeiro EP fosse muito centrado na guitarra. Agora, para um próximo passo em 2025, sinto que o caminho é escrever e lançar um álbum completo. Mas agora por já não ser meu primeiro trabalho, e também pela quantidade maior de músicas (diferentemente de um EP), acredito que o caminho natural seja explorar outras coisas. Sempre gostei de compor no piano e no violão e acho que eles dialogam muito bem com a guitarra. Então, acredito que esse é o caminho natural que vocês podem esperar para um próximo trabalho.

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