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HELL’O’RIZONTE MOSH FEST – Belo Horizonte (MG)

Por Écio Souza Diniz Ramon da Silva Teixeira

Fotos: Écio Souza Diniz, Ramon Teixeira e Rodrigo Teixeira

Mais um evento de peso passou pela capital mineira no último dia 12 de maio. Estamos falando do Hell’O’rizonte Mosh Fest organizado pela Mosh Productions e que trouxe como atrações principais nessa edição de 2023 os estadunidenses do Incantantion e a lendária banda carioca Dorsal Atlântica. O evento ainda trouxe outras três ótimas bandas: Mortifer Rage, a veterana e clássica Mutilator e a Crypta.

Chegamos por volta das 18:30 horas no Mister Rock, local do evento que representa uma casa importante para a cena underground mineira que vem recebendo ótimos shows nacionais e internacionais em Belo Horizonte. Uma tímida fila já começava a se formar pouco antes dos portões se abrirem. No local já era possível notar um clima de confraternização, com personalidades carimbadas da cena heavy metal belo horizontina como Valério “Exterminator” do Holocausto War Metal e Cláudio David e Bozó do Overdose, em meio ao público que ia chegando e começava a ocupar a casa. Um ponto positivo do evento foi o fato de os organizadores não terem separado a pista por setores. Pista liberada para o público curtir de onde melhor entendesse. O local não ficou completamente abarrotado, embora ainda com um público de tamanho considerável, o que tornou a circulação pelo local muito confortável. Os mais aficionados pelas bandas podiam colar na grade com facilidade.

Pouco após as 19:30 horas, o início da noite ficou a cargo do Mortifer Rage, banda conceituada, formada em 1999 em Santa Luzia, na região metropolitana da grande Belo Horizonte. Com os álbuns “Legacy of Obsessions” (2001) e “Murderous Ritual” (2008), a banda se firmou como uma das novas caras do underground mineiro. As bases diretas, ríspidas e pesadas típicas da sonoridade da banda juntamente com o vocal poderoso e baixo pulsante de Carlos Pira ecoaram pela casa em faixas como “Genocide of Minds”, “Obscure Chains” e “Hate My Offer”. Com isso, a banda fez a alegria de seus vários fãs e também arrancou boas reações dos demais presentes no show.

Na sequência entrava em cena a veterana Mutilator, um dos nomes clássicos da cena extrema oitentista de Belo Horizonte. Atualmente a banda traz Ricardo Neves (baixo), único membro original e um dos fundadores da banda, Pedro Ladeira (vocal), Igor “Podrão” Arruda (guitarra), César Pessoa (guitarra; ex-Pathologic Noise) e André Marcio (bateria; ex-Eminence, ex-Overdose). Com energia de sobra, a banda descambou uma avalanche de riffs cortantes e bases rápidas e fulminantes típicas de seu thrash/death. Os adeptos dessa sonoridade orgânica, agressiva e visceral não tiveram folga no bate-cabeça para petardos do eterno clássico “Immortal Force” (1987) do qual tocaram a faíxa título, “Memorial Stone Without a Name”, “Blood Storm”, “Tormented Soul”, “Mutilator” e “Brigade of Hate” Essas pérolas soaram ainda mais poderosas devido à sincronia e interação que os membros dessa formação mostraram ter. Ainda sim cada um se destacou em seu papel. Ricardo tem bases de baixo poderosas e salientes que combinam bem com a batera de André Marcio, enquanto Igor e César se complementam na alternância de solos e execução precisa dos riffs. O vocal de Pedro também se destaca por sua potência e alcance, fazendo jus a interpretação dos clássicos mencionados. Engrossando um pouco mais a pancadaria, a banda ainda executou as arrasadoras “Evil Conspiracy” da demo “Bloodstorm” (1986) e “Nuclear Holocaust” e “Believers of Hell” que sairam na clássica compilação “Warfare Noise” (1986), lançada pela Cogumelo Records e da qual também participaram Chakal, Holocausto e Sarcófago. Um ótimo show, que inclusive fez as rodas de mosh engrenarem de vez.

Após pouco tempo de intervalo surge no palco Carlos “Vândalo” Lopes, líder e fundador da lendária Dorsal Atlântica, exercendo a função de seu próprio ‘roadie’, cuidando da afinação de seu instrumento e arranjos dos pedais de efeito. Se faz desnecessário explicar o porquê esse era um dos shows mais aguardados da noite, visto a história e grande importância da banda no cenário underground brasileiro. Afinal de contas, a Dorsal, formada no início dos anos 80 por Carlos juntamente com seu irmão Claudio foi responsável por discos que se tornaram pilares do nosso som pesado brazuca, destacando o “Antes do Fim” (1986), que representou o marco zero do crossover brasileiro. Além desse, a banda ainda produziu os incontestáveis “Dividir e Conquistar” (1988) e a tríade que constituiu a primeira Opera Thrash metal do mundo constituída por “Searching for the Light” (1990), “Musical Guide from Stellium” (1992) e “Alea Jact Est” (1994). Ainda teve também “Straight” (1996), trabalho mais pesado da banda, um verdadeiro soco no estômago, com algumas passagens quase grindcore. Após o retorno da banda produzindo álbuns de estúdio, o que se iniciou com o álbum “2012” (2012), seguido por “Imperium” (2014) e os altamente originais “Canudos” (2017) e “Pandemia” (2021), muita expectativa se criou sobre a banda retornar aos palcos, o que felizmente começou a engatar a partir de 2022.

Especialmente em “Canudos” e “Pandemia”, Carlos vem se dedicando a explorar acentos sonoros tipicamente brasileiros nos riffs, com foco em acentos da música nordestina. Nesse show, como Carlos já vem fazendo, ele trouxe sua guitarra baiana Flying-V, mostrando aos presentes o poderio desse instrumento criado e produzido inteiramente no Brasil. Acompanhado por Braulio Drumond (bateria; Avec Tristesse, Seventh Seal) e Alexandre Castellan (baixo e backing vocal), Carlos reafirmou sua presença de palco sólida na capital mineira, firmada há tempos em apresentações históricas como a ocorrida no clube Ginástico em 1986. Crítico, polêmico, incisivo e sem língua presa, Carlos embalou o peso das músicas, mostrando que ele ainda está em boa forma e performance de palco, interlacando as músicas do setlist com discursos pró-igualdade, anti-fascismo e anti-alienação, que arrancaram a euforia do público.

A formação atual da Dorsal se mostrou eficiente e bem entrosada na execução de faixas mais pesadas da discografia mais recente da banda como a excelente “Belo Monte” do álbum “Canudos” e “Burro” do álbum “Pandemia”. Da discografia da banda após seu retorno, ainda se destacaram as execuções de duas faixas de 2012: a excelente “Stalingrado” e a marcante “Meu Filho Me Vingará”, esta última cantada alta pelo público. Para terminar de elevar a adrenalina do público, Carlos, Braulio e Alexandre deram o golpe de misericórdia com dois clássicos absolutos: “Tortura” de “Dividir e Conquistar” e “Guerrilha” de “Antes do Fim”. Em “Guerrilha”, Carlos convidou para dividir os vocais o músico e produtor Mark Hellway (Hellway Train), encerrando com primor esse show, histórico inclusive para as novas gerações que antes não puderam assistir a banda. Aliás, isso foi uma das coisas mais legais desse show: o encontro de gerações, representado por fãs veteranos e mais novos da banda.

Na sequência, com um pequeno atraso para a passagem de som e organização do palco, valeu a pena esperar pela quarta apresentação da noite. Belo Horizonte teve o prazer de receber as garotas da Crypta, banda que tem se tornado renomada no segmento do death metal e vem conquistando os palcos dos festivais mundo a fora. Por volta das 20:50 os PAs do palco começaram a reproduzir a intro “Awakening”. Abrindo com a cadenciada “Death Arcana”, Fernanda Lira (vocal e baixo), Tainá Bergamaschi e Jéssica di Falchi (guitarras) e Luana Dametto (bateria) mostraram a que vieram. A casa foi abaixo. Na sequência atropelaram a todos com “Possessed”. Foi ótimo ver Luana, que bate forte e, concentradíssima, executa blast beats impecáveis. Junto com Fernanda ela forma uma cozinha rápida e certeira. Sempre interagindo com o público, Fernanda chama a mulherada da casa e oferece a elas a fúria certeira com a faixa “Kali”. A essa altura os moshs já estavam aumentando na casa, quando vem o anúncio de “Under the Black Wings” que atinge o público com o seu refrão marcante, ideal para que as cabeças se desloquem do pescoço de tanto bater cabeça. Logo após, elas entram com tudo tocando o seu primeiro single, “Starvation”, música que fala da fome no país – anunciada sob os gritos do público de “Fora Bolsonaro” – e que teve o seu refrão cantado a plenos pulmões pelos presentes. Com um aguardado lançamento de mais um álbum para esse ano, seguiu-se o show com a mais nova música da banda, o single recentemente divulgado “I Resign”. Mantendo firme a pega, vieram os poderosos riffs de “Dark Night of The Soul”. Para fechar com primor a apresentação da banda – que manteve um ótimo entrosamento com o público a noite toda, com as caras e bocas de Fernanda, o headbanging sincronizado das três responsáveis pelas cordas – “From the Ashes”. Mantendo a pegada da noite, mais um show visceral!

Após tantos arrastões sonoros era hora de mais um para fechar e coroar a noite, trazendo aos palcos o Incantation. Formado em 1989 por John McEntee e Paul Ledney na cidade de Nova Iorque (embora atualmente sediada na cidade de Johnstown, Pensilvania, EUA), o Incantation é uma das instituições e pilares do death metal brutal e cru da cena estadunidense no início dos anos 90. A contribuição de álbuns como “Onward to Golgotha” (1992), “Mortal Throne of Nazarene” (1994) e “Diabolical Conquest” (1998) para o death metal mundial é incontestável e notória. Já com uma relação de longa data com o público brasileiro e de outras passagens pela capital mineira, John McEntee se sentia em casa no Mister Rock, andando em meio ao público, assistindo os shows das outras bandas, tirando fotos com fãs e conversando com as pessoas, antes e depois do seu show. Mais uma vez a apresentação da banda não decepcionou a quantidade significativa de fãs presentes para assisti-la, mantendo uma performance firme e consistente do início ao fim e sem direito a descanso ou pausas para respirar.

De álbuns mais recentes se destacaram a execução de “Entrails of the Hag Queen” e “Fury’s Manifesto” do álbum “Sect of Vile Divinities” (2020) e “Rites of the Locust” de “Profane Nexus” (2017). Já de seus álbuns clássicos, os melhores momentos ficaram a cargo de “Disciples of Blaphemous Reprisal”, “Impending Diabolical Conquest” e “Desecration (Of the Heavenly Graceful)” de “Diabolical Conquest”, “The Ibex Moon” de “Mortal Throne of Nazarene” e “Profanation” de “Onward to Golgotha”. Além de ótima interação com o público, McEntee e seus comparsas Luke Shively (guitarra), Chuck Sherwood (baixo) e Kyle Severn (bateria) entregaram muito bem o que vieram trazer aos palcos do evento.

Ao final o saldo do Hell’O’Rizonte Mosh Fest foi positivo, expresso tanto na pontualidade quanto na qualidade das apresentações das bandas que passaram pelo palco do Mister Rock naquela noite. Que eventos assim se tornem mais constantes no nosso cenário underground.

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