Tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. Havia pouco mais de dois meses que o Helloween dera o ar da graça no Rio de Janeiro, mas para um show mais enxuto no Rock in Rio. A última passagem solo, digamos assim, do quinteto alemão pela cidade outrora maravilhosa acontecera mais de cinco anos antes, em abril de 2008. Coincidentemente, à época também acompanhado pelo Gamma Ray, na primeira edição da Hellish World Tour. E se na Cidade do Rock as abóboras brilharam mais forte num abarrotado Palco Sunset, não seria diferente na noite em que eram as principais estrelas. Dito e feito.
A chuvosa noite de sábado chegou a assustar, e o público não era dos melhores momentos antes do horário oficial do show – no fim, os cerca de 1.600 presentes foram um número bem razoável diante das circunstâncias. Com meia hora de atraso, Kai Hansen (vocal e guitarra), Henjo Richter (guitarra), Dirk Schlächter (baixo) e Michael Ehré (bateria) subiram ao palco contando com uma garantida boa vontade do público, afinal, o combo era um daqueles ideais para os fãs de Power Metal e Metal Melódico. Mas apenas nome não ganha jogo, e o Gamma Ray acabou garantindo o resultado com uma apresentação que só não foi burocrática porque a banda teve lampejos de craque aqui e acolá.
O começo com “Anywhere in the Galaxy” causou aquela empolgação natural dos primeiros minutos de um show, mas não demorou para o negócio ficar morno. “Men, Martians and Machines” e “The Spirit” fizeram alguns fãs se agitarem, enquanto outros se mantinham impassíveis. Mas com ares de respeito, diga-se. Antes de “Master of Confusion”, faixa-título do EP lançado no início deste ano, Kai Hansen – com um cabelo à la peruca do Mark Boals – lembrou do lamentável incidente no seu Hammer Studios, em Hamburgo, com otimismo em relação ao local destruído por um incêndio em 18 de novembro último. Por tabela, ressaltou que o novo álbum, “Empire Of The Undead”, previsto para março de 2014, segue firme e forte nos trilhos.
Não que precisasse de alguma simpatia, mas foi aplaudido pelos fãs, que fizeram festa para “Rebellion in Dreamland” e a companhia de “Dethrone Tyranny” num medley. Ainda assim, o clima só esquentou mesmo com “Future World”, recebida com enorme entusiasmo, mas também com um ponto de interrogação – sim, teve gente que temeu pelo fato de não rolar uma participação especial no show do Helloween. E como a esperança é sempre a última que morre, bola para frente. “To the Metal” (um “rip off” de “Metal Gods” que deve ser encarado como um tributo ao Judas Priest) e “Send Me a Sign” encerraram um show apenas correto. Não mais do que isso.
O show no Rock in Rio foi um belíssimo aperitivo, e era a hora de o Helloween servir aos fãs cariocas o prato principal. Se o set list – obviamente maior – não fugiu muito do que foi apresentado no fim de setembro, por outro lado mostrou a aposta em privilegiar o material da fase com Andi Deris. Ponto para a banda. A abertura com o clássico “Eagle Fly Free” colocou a casa abaixo, como se o quinteto marcasse um gol de placa logo no primeiro lance e dissesse “eu estou aqui”. Sim, quem nasceu para rei nunca perde a majestade. Estranhos no ninho, “I’m Alive” e “Dr. Stein” acabaram servindo para provar a relevância de um grupo que resistiu a várias trocas de integrantes, algumas traumáticas, e a discos abaixo da crítica. Isso porque mostraram que “Power” e “Where the Rain Grows” – esta, não à toa escolhida pelos fãs em votação na internet – também entraram para o rol dos clássicos.
“Straight Out of Hell”, o excelente último disco, teve quatro representantes: a faixa-título, a épica “Nabatea”, “Waiting for the Thunder” e “Live Now!”, na qual Deris fez o “estúpido jogo”, segundo palavras do próprio, de dividir a plateia em lado direito e lado esquerdo e colocá-los para cantar o refrão. Estúpido? Eu diria extremamente funcional, mas muito em parte graças ao imenso carisma do vocalista – podem espernear, viúvas do Michael Kiske. Deris nunca foi, não é e nunca será melhor cantor que Kiske, uma das vozes mais privilegiadas da história do Heavy Metal. Mas ele salvou o Helloween quando foi preciso, há quase 20 anos. E é um músico inegavelmente muito talentoso.
Como negar a qualidade de “Where the Sinners Go”, If I Could Fly” e “Are You Metal? (que música! Que grande sacada!)”? E a sensacional “Where the Rain Grows”? Tudo isso fica ainda muito melhor com o clima que passava do palco para a pista. Deris, Michael Weikath, Sascha Gerstner, Markus Grosskopf (uma presença de palco invejável) e Dani Löble (arrasador) se divertem tocando juntos. Mais do que tecnicamente entrosados, mostram que os oito anos fizeram surgir muito mais do que uma apresentação apenas profissional.
E se a ideia básica é se divertir, que o temor dos fãs fosse dissipado. Hansen subiu ao palco para um medley não menos que espetacular com “Halloween”, “How Many Tears” e “Heavy Metal (Is the Law)”. O sorriso no rosto dos fãs já estava estampado, e “I Want Out” (com participação também de Henjo Richter) provou apenas que uma coisa é tocá-la com o Gamma Ray, uma outra, bem melhor, é apresentá-la sob as asas do Helloween. Com todo respeito, mais uma vez, quem nasceu para rei nunca perde a majestade. E a chuva de sábado à noite no Rio de Janeiro foi devidamente ignorada por aquela turma de camisa preta na volta para casa.
Set list Helloween
1. Eagle Fly Free
2. Nabataea
3. Straight Out of Hell
4. Where the Sinners Go
5. Waiting for the Thunder
6. Hell Was Made in Heaven
7. I’m Alive
8. Where the Rain Grows
9. Live Now!
10. If I Could Fly
11. Power
Bis #1
12. Are You Metal?
13. Dr. Stein
Bis #2
14. Halloween/How Many Tears/Heavy Metal (Is the Law)
15. I Want Out
Set list Gamma Ray
1. Anywhere in the Galaxy
2. Men, Martians and Machines
3. The Spirit
4. Master of Confusion
5. Rebellion in Dreamland/Dethrone Tyranny
6. Empathy
7. Rise
8. Future World
9. To the Metal
10. Send Me a Sign
