O primeiro sonho dos fãs foi realizado em 2016. Michael Kiske e Kai Hansen estavam oficialmente de volta ao Helloween, ao lado de Michael Weikath e Markus Grosskopf, e numa reunião além das expectativas: Andi Deris, Sascha Gerstner e Dani Löble continuavam em seus postos. Era o Helloween do passado com o do presente, e o futuro está no novo disco, acertadamente intitulado apenas Helloween. É como se o pai do power metal melódico estendesse a mão para os filhos pedirem a bênção, e ainda se trata de um trabalho para levar os fãs às lágrimas. De novo.
Em um papo franco e bem-humorado de duas e horas e meia com Weikath e Kiske, viajamos da turnê Pumpkins United até agora, com desvios pela vida do grupo em ótimas histórias. E o que você confere aqui é exatamente o que não entrou nas páginas da ed. #261 da ROADIE CREW, mas de uma maneira diferente. Com a revista em mãos – e lá tem um QR Code para acessar esta página web –, você tem uma imersão completa no material. O conteúdo é interativo: as perguntas e as respostas estão exatamente na mesma ordem em que aconteceram, então leia o conteúdo impresso ao mesmo tempo em que acompanha o on-line, pois os dois se complementam. Compre a ed. #261 da ROADIE CREW clicando aqui! Você não vai se arrepender. Acredite.
Essa é uma pergunta que tenho feito bastante…
Michael Kiske: leia a pergunta e a resposta na ed. #261 da ROADIE CREW.
Michael Weikath: leia a pergunta e a resposta na ed. #261 da ROADIE CREW.
E como foi trabalhar no novo álbum, do processo de composição ao de gravação, e agora com o lançamento, durante o que estamos vivendo?
Kiske: Nós gravamos o disco antes da pandemia, e a finalização é que bateu com o início de toda essa crise. Eu, por exemplo, voltei de Tenerife no início de abril de 2020, numa época em que ainda podíamos voar (N.R.: Helloween foi gravado na cidade espanhola, no Mi Sueño Studio, de propriedade de Andi Deris). No geral, não nos afetou tão fortemente.
Weikath: Charlie Bauerfeind, nosso produtor, foi quem ficou no estúdio para a gravação de todas as guitarras, e eu eventualmente tinha de estar lá, o que ficou mais difícil com a pandemia. Em uma das vezes, o taxista que me levaria para casa foi impedido de deixar a cidade onde ele morava porque a polícia havia fechado ruas e estradas, então eu tive de dormir uma noite no estúdio. Felizmente, foi a única coisa ruim que me aconteceu naquele período, e já tínhamos boa parte do material pronto. Claro, o lockdown foi horrível e pegou todo mundo de surpresa, e ninguém sabia o que fazer ou como fazer diante de tantas barreiras nas ruas. Ainda havia alguns vocais para gravar com Deris e Kiske, além de algumas guitarras, mas fizemos e finalizamos tudo da melhor maneira que pudemos.
Weiki, você compôs Out for the Glory…
Weikath: leia a pergunta e a resposta na ed. #261 da ROADIE CREW.
De fato, Out for the Glory tem a…
Kiske: leia a pergunta e a resposta na ed. #261 da ROADIE CREW.
A respeito do sentimento…
Weikath: leia a pergunta e a resposta na ed. #261 da ROADIE CREW.
Sem dúvida, mas neste caso seria…
Weikath: leia a pergunta e a resposta na ed. #261 da ROADIE CREW.
Sim, está tudo no DNA musical, e acredito que essa relação com o próprio passado trouxe boas lembranças de volta.
Kiske: Com certeza! Claro que o Helloween é uma banda diferente hoje em dia, porque tem uma longa história. Andi esteve por muito mais tempo na banda do que eu, então todos os rostos do grupo precisam estar ali em algum lugar. No geral, acho apenas que o Kai deveria ter escrito mais umas duas músicas, mas ele é preguiçoso demais. (risos)
A propósito, fiquei surpreso com o fato…
Kiske: leia a pergunta e a resposta na ed. #261 da ROADIE CREW.
Está explicado, mas preciso dizer que We Got the Right (N.R.: de Keeper of the Seven Keys Part II) e até mesmo Let’s Be Heroes, do Supared, são bons modelos para o Helloween de hoje.
Kiske: Ah, obrigado! É apenas uma questão de as minhas sugestões de músicas serem compreendidas por todos e de alguma forma. Quando compus We Got the Right, ela já tinha a estrutura que está no disco, ou seja, estrofe, ponte e refrão, mas havia muitas partes, o que a deixava bastante complicada, então nós a encurtamos. E no que diz respeito aos arranjos de guitarra, especialmente nas estrofes, tudo veio do Kai. Foi ele quem a transformou numa música do Helloween enquanto estávamos ensaiando, elaborando o material no estúdio, algo que sempre tem de acontecer, porque saber se todos entenderão a música faz parte da dificuldade do processo. Nós envelhecemos e ficamos preguiçosos, sabe? Temos uma ideia e pensamos que vai dar numa ótima música, mas a pergunta é se todos terão vontade de brincar com essa ideia e extrair algo dela. Tenho certeza de que quando eu tiver uma ideia que sirva à banda, provavelmente sentarei com Sascha ou Andi para tentarmos construir algo com ela, mais do que apenas sugerir algo na sala de ensaio, como era nos anos 1980. Naquela época, fazíamos tudo no estúdio… Aliás, toda a história da minha entrada no Helloween se deu por causa do que acontecia no estúdio de ensaio. O Markus apareceu no local onde eu estava ensaiando com a minha banda de colégio, muito antes de eu gravar qualquer disco, e disse para mim: ‘Precisamos de um vocalista como você, porque o nosso não está conseguindo dar conta. Faz dois ou três shows e perde a voz’. Então, ele me deu uma cópia do Walls of Jericho (1985), que não era a minha onda, o meu tipo de música. Eu gostava mais de bandas como Iron Maiden e Judas Priest, então, como eu não gostei do álbum, não telefonei de volta para ele. Algumas semanas depois, Weiki ligou e disse: ‘Sei que pode não ser o seu tipo de música, mas precisamos de alguém como você. Queremos progredir, tentar coisas novas. Você não se juntaria a nós no ensaio para mostrarmos outras coisas que compusemos para a sua voz?’. Hoje eu não lembro quais eram as músicas, mas eram algumas das que entraram nos dois Keeper of the Seven Keys e que haviam mesmo sido feitas para a minha voz. Assim que começamos a ensaiar, eu me apaixonei e, mesmo sem termos falado a respeito, já estava na banda. Foi uma decisão não falada. Era tipo carma ou algo assim, porque sabíamos que aconteceria. Mas foi necessária ter aquela experiência em estúdio, com as músicas, para tomar essa decisão.
Ainda sobre passado e presente juntos, Dani usou o antigo kit do saudoso Ingo Schwichtenberg para gravar o álbum. De quem foi a ideia?
Weikath: Acho que o Roland Grapow tinha o kit branco do Ingo e o vendeu para um fã que era amigo do Ingo. Essa fã guardou o kit, e nós compramos de volta dele. É a bateria que o Ingo usou nas gravações do Keeper of the Seven Keys Part II e, também, na fase de pré-produção que fizemos em Hamburgo, no estúdio Château Du Pape, que agora se chama H.O.M.E.-Studios porque alguém o comprou (N.R.: o local mudou de nome em 1998, ao ser adquirido pelo produtor alemão Franz Plaza, e a sigla significa House of Music & Entertainment). Esse kit, branco, ficou lá até depois das gravações do Chamaleon (1993), quando foi vendido e substituído por um de mogno. Não lembro se também o usamos nas gravações do Keeper of the Seven Keys Part I, mas certamente na segunda parte. Aliás, neste disco nós sampleamos o som da bateria antiga do Ingo, então tem uma mistura no álbum. Ah, em I Want Out há samplers da bateria que o (produtor) Mutt Lange usou com o Def Leppard… Bom, desviei do assunto, mas acho que o Michi se lembra da história melhor do que eu (risos).
Kiske: E se não me engano, pegamos a bateria de volta quando conheci aquele fã em Hamburgo, há uns dois ou três anos. Eu estava fazendo compras num shopping na cidade quando ele me abordou, dizendo que tinha a bateria do Ingo e gostaria que nós autografássemos a caixa para ele. Nós não conseguimos nos reunir para autografar quando tocamos em Hamburgo, mas o Dani teve a ideia de comprar o kit de volta, e aí pensamos que seria sensacional usar a bateria do Ingo para que, de alguma forma, ele fizesse parte de tudo isso. E os kits de bateria dos anos 1980 têm uma sonoridade diferente, o que deu ao disco todo um som especial.
E ter o Ingo no novo álbum, representado por uma bateria que é parte da história, diz muito sobre o ótimo lugar em que o Helloween se encontra hoje. Então, acredito que a letra de Best Time tem a ver com isso, não?
Kiske: E quem a escreveu foi o Sascha, um cara bastante positivo. Ele tem momentos melancólicos e tristes, também, mas é dono de algo muito natural e livre de espiritualidade, sem se importar muito com religiões. Assim como eu, porque sou cristão e não acredito no que a religião se transformou, o exato oposto daquilo a que se propõe e ao que entendo por espiritualidade. Amo todos os caras da banda, mas tenho uma conexão especial com o Sascha, num nível espiritual e mental. É quase como se fôssemos irmãos. Às vezes, conhecemos uma pessoa com a qual nos entendemos imediatamente. Dá um clique. Tenho o mesmo sentimento pelo Joacim Cans, do Hammerfall, porque nos demos bem logo de cara quando nos conhecemos, em 2013. Se você perguntar ao Joacim, ele dirá a mesma coisa. Bom, eu e Sascha somos do mesmo tipo, e as suas letras também são muito sinceras. Se há algo que o preocupa ou no qual esteja interessado, ele coloca na letra. Além disso, Sascha é multitalentoso, um monstro criativo, e merece muito mais crédito. Creio que agora, depois de todos esses anos, os fãs estão finalmente descobrindo sua singularidade, o quão importante ele é para o Helloween.
Weikath: Best Time é, também, a interação da banda com esse cara que toca guitarra, participa e tem ideias que é o Sascha, um músico capaz de fazer tantas coisas diferentes! Ele canta, também toca teclado e baixo e tem muita energia, até porque é o mais novo do Helloween ao lado do Dani (risos). Sascha é multitalentoso, realmente, e não há quase nada que não possa fazer. Ele e Andi compuseram a música no hotel, durante a pré-produção, e fizeram isso rapidamente porque se entendem perfeitamente. Best Time é bem Billy Idol, e o mesmo pode ser dito sobre I Want Out ou Future world, que é basicamente Rebel Yell. Trata-se de uma canção que retrata a interação entre I Want Out e o Helloween de hoje que entrou nas ondas cerebrais do Sascha e do Deris. Isso deu vida a uma música dançante e comercial, e gostei de eles terem feito isso porque ninguém mais havia tentado desta vez. Eu mesmo já compus faixas mais comerciais quando achei necessário, mas agora eu queria fazer o clássico heavy metal do Helloween.
Gostaria de falar da capa, cuja arte do Eliran Kantor é incrível, com várias referências à obra do Helloween. De quem é o conceito?
Weikath: Honestamente, não sei (risos), mas Sascha insistiu para que o Kantor criasse a capa. Recebemos algumas provas de outros artistas, mas ficou claro também para mim que ele teve a melhor inspiração para o disco. Nunca tinha ouvido falar do Kantor, mas soube que ele é bastante famoso pelo trabalho com outras bandas (N.R.: Testament, My Dying Bride, Heaven Shall Burn, entre várias outras) então acredito que tenha sido sugestão do pessoal da Nuclear Blast.
Kiske: Markus Staiger (N.R.: fundador da Nuclear Blast) ama nossa banda e está sempre nos dando apoio e recursos. É maravilhoso ter alguém assim ao nosso lado, apaixonado pelo Helloween, mas ele não gostou da capa. Durante semanas, atormentou as pessoas para ter outras opções de capa, e nós não gostamos de nenhuma delas. Eram muito bem feitas, mas sempre criadas digitalmente. Quando nos reunimos para fazer o videoclipe de Skyfall, ele novamente sugeriu outra capa e nos mostrou a última ideia que teve. Todos nós odiamos! (risos). Foi aí que eu disse algo que o Markus enfim compreendeu: não podemos ter uma capa com a qual não nos identificamos. A banda, os empresários, todos gostaram de cara da capa que temos hoje, e é uma pintura real, não foi criada digitalmente. Eu, por exemplo, quero um pôster dela para pendurar em casa (risos). Somos uma banda de opiniões fortes e não fazemos nada que não concordamos.
Então aqui vai uma rápida história: um amigo me perguntou sobre as impressões que tive do novo álbum depois de sucessivas audições, e disse a ele que achei brilhante, para colocar um enorme sorriso no rosto dos fãs. A resposta dele foi: ‘Juntos, esses caras não têm como errar’. A expectativa é muito alta…
Kiske: Todo mundo pode errar, mas o que acontece conosco, quando se tem uma relação cármica… Por exemplo, como eu e o Kai. Ele é tudo o que representa o rock’n’roll, porque curte a vida e 100% o estilo que toca, enquanto eu sou o completo oposto disso. Sei me divertir, é claro, mas gosto do sentido da vida, eu me importo com coisas espirituais, quero aprender algo sobre o porquê de estarmos aqui, qual o sentido por trás disso. Kai tinha isso mais forte quando era mais novo, é só reparar as letras dele nos dois Keeper of the Seven Keys, porque eram espiritualizadas, como March of Time e Twilight of the Gods, mas o lado rock’n’roll falou mais alto. Somos muito diferentes sobre como vemos e vivemos a vida, mas, por outro lado, há sempre uma espécie de mágica quando nos juntamos. Isso ficou claro para nós dois quando fizemos o Unisonic e saímos em turnê de divulgação pela Europa, encontrando com a imprensa em muitas cidades, aparecendo em programas de rádio ou de TV. Eu sempre levava meu Ukelele, para tocar e cantar umas músicas do Elvis Presley enquanto estávamos fora, exceto nos dias em que o Kai estivesse azedo ou de ressaca (risos), e havia essa energia entre nós no ar, de entendimento, o que é indescritível. Agora, com sete integrantes, e todos de opiniões firmes, isso é ainda mais forte. Mesmo que não sejamos mais aquela banda dos anos 1980, em certo nível estamos muito melhores, temos muito mais a oferecer, porque as experiências que vivenciamos nos amadureceram. A única coisa que importa é manter esse espírito, e a essência disso é termos respeito uns pelos outros, nos amarmos e sempre tentarmos criar algo além do ego. De todos nós, Kai é o que tem mais dificuldade em compreender o que é estar numa banda, mas ele está lentamente entrando na onda, entendendo aos poucos que as coisas no Helloween são diferentes das no Gama Ray. E foi por isso que Kai me surpreendeu com algo que disse numa entrevista, que o novo disco seria muito diferente se tivesse sido feito da forma como ele imaginou, e o mesmo aconteceria com cada um de nós, porque uma banda não pode fazer tudo que um único integrante quer, mas como todos querem. Mantendo essa unidade, criamos algo muito maior do que egos individuais.
Weikath: E preciso dizer, antes de qualquer coisa, que nos sentimos honrados pela oportunidade de fazer isso. Pode ser talento, encorajamento ou o que for, mas são sete caras na banda! Além disso, Charlie, nosso produtor, estudou acústica em Harvard, Andi era o vocalista no Pink Cream 69, Dennis era baixista no Pink Cream 69 e é capaz de muitas coisas… É um conglomerado de loucos (risos), e todos capazes de fazer tudo! E ainda tem o Dani na bateria, então como algo pode dar errado quando se há ideias? E por sorte, quando começamos a ter ideias para o disco, houve uma avalanche delas, um tsunami! Mesmo o Andi se superou, por exemplo, porque é só pegar o primeiro disco do Pink Cream 69 (N.R.: homônimo e lançado em 1989) e o novo do Helloween para ver o progresso dele enquanto compositor. E o Kai, nem se fala! Assim como o Markus com toda a sua habilidade, e no início ele não sabia compor (risos), tinha umas ideias e ficava balbuciando até dizermos ‘Markus, isso não é uma música’, e ele: ‘Ah, não? Ok, então’ (risos). Desde então, ele melhorou muito, tem Pro Tools em casa, experimenta ideias e produz outras bandas, então é esse monstro no baixo que, de vez em quando, tem ótimas ideias para compor. É possível errar com esse time, sim, mas, por sorte, tivemos grandes ideias. Não sei se é providência divina, mas recebemos as coisas quando precisamos delas.
E essa reunião fez com que a turnê…
Kiske: leia a pergunta e a resposta na ed. #261 da ROADIE CREW.
Weikath: leia a pergunta e a resposta na ed. #261 da ROADIE CREW.
E sobre os fãs chorando…
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E quando eu falei da grandiosidade dessa reunião, é porque há uma piada em que o Iron Maiden chega e diz: ‘Nós temos três guitarristas’, aí o Helloween responde: ‘Segura a minha cerveja…’ (risos gerais).
Kiske: É realmente único fazer o que estamos fazendo. Eu nunca estive numa banda assim. Pegue o Van Halen, por exemplo: David Lee Roth saiu da banda, então veio o Sammy Hagar. Normalmente, um sai, outro entra. Com a Pumpkins United, não fizemos isso. Ninguém iria sair, e seriam mais duas pessoas para somar. Pode ter acontecido com alguma outra banda, mas não me lembro de situação semelhante com vocalistas. Acabou virando um caso de ‘histórias do Helloween’.
Weikath: Antes mesmo do Iron Maiden, o Leatherwolf tinha três guitarras. Tocamos com eles uma vez em Anaheim, numa turnê que contou ainda com o Armored Saint. Subimos ao palco antes deles, que estavam em casa, chegaram com os equipamentos e fizeram um show perfeito. Os caras do Leatherwolf sabiam o que fazer e eram como heróis locais. Sobre a piada, podemos ter seis guitarras se for preciso, mas acho que não (risos), e por enquanto temos apenas um baterista (risos). O Helloween tem três vocalistas, mas o Sascha põe qualquer um deles no bolso se quiser, então temos quatro vocalistas, certo? (risos) E se eu fizer meu vocal ‘punk-disco-gritaria-rock’n’roll’, então serei o quinto vocalista, mas só consigo cantar por dois minutos (risos gerais). Sério agora, o mais legal é que temos um grande vocalista que está na banda há quase 30 anos, o Andi, e poderia ser uma imensa pressão em cima de um único cara, no caso de agora ter Michi e Kai ao lado, se esse cara fosse um egomaníaco.
Tocar novamente com Kai não foi…
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Essa reaproximação tem a ver com o que Kai me falou durante uma entrevista nos bastidores de um Monsters of Rock em São Paulo, em 2015, quando deixou no ar que a reunião estava bem encaminhada.
Kiske: Ele sempre teve isso em mente. Kai queria fazer isso, e o Andi também! Aliás, o Andi era quase como um motor ligado por trás disso tudo, o que é muito interessante, né? Dois ou três anos antes, quando eu nem mesmo tinha tomado decisão alguma nesse sentido, Andi dizia nas entrevistas que ‘haveria uma turnê de reunião do Helloween com Michael Kiske’, e as pessoas ficavam ‘O que esse cara está falando? Isso nunca vai acontecer!’ (risos).
E é mesmo muito interessante, porque Andi…
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Uma curiosidade minha, Weikath: fui ao Monsters of Cruise em 2016, quando o Helloween esteve no cast, e gostaria de saber como é para você, na perspectiva de músico, um cruzeiro como aquele em comparação a uma turnê regular…
Weikath: Aquilo foi muito bom, até porque também tinha Queensrÿche e Steve Vai, e tudo era muito alto nível. Cara, quando embarquei, ouvi o Uli Jon Roth tocando clássicos do Scorpions! Dá para acreditar? O George Lynch fez um workshop de umas três horas, e conversei com o guitarrista do Kingdom Come (N.R.: Danny Steg) sobre a Fender Sratocaster dele, porque o som era um tanto quanto estranho para o modelo, e ele me disse que o corpo da guitarra era de mogno. Achei uma loucura, porque tenho duas Stratocaster assim e cheguei a gravar o Walls of Jericho e Judas (1986) com uma delas, mas ele disse que as Stratocaster com essa madeira soam completamente diferente umas das outras. Aliás, o Lenny Wolf ainda estava com o Kingdom Come, então lembrei que eras atrás, em Hamburgo, respondi a um anúncio que buscava um guitarrista solo, e era o Lenny que havia publicado. À época, liguei dizendo que era um guitarrista amador, mas que gostaria de fazer parte de uma banda. Ele já era profissional, sabia compor e criar conceitos, e estive algumas vezes na casa dele naquela época de banda local, e Lenny tocava guitarra 20 vezes melhor do que eu (risos). Foi interessante quando soube que ele estava no navio também, então me diverti imensamente! Não tive contato com Uli, mas passei um tempo conversando com o tecladista dele (N.R.: Corvin Bahn), que também havia tocado no Gamma Ray, e a banda ainda tinha dois guitarristas bem jovens que sabiam tudo do Scorpions (N.R.: Niklas Turmann e David Klosinski). Achei impressionante. Ainda pude ver o Queensrÿche e acho que, por causa da maresia do oceano, todos lá estavam cantando maravilhosamente bem (risos). Lembro-me de quando ouvi a banda pela primeira vez e disse ao Kai que deveríamos ter um vocalista como o deles (N.R.: Geoff Tate), então encontramos o Michi. Muito tempo depois, Helloween e Queensrÿche tocaram juntos na Bélgica, e eles abriram para nós com um vocalista diferente (N.R.: Todd La Torre).
Bom, a razão de eu ter feito a pergunta é exatamente Uli Jon Roth, porque vi você curtindo bastante em um dos shows dele no navio. Aliás, nunca havia visto uma concentração tão grande de guitarristas por metro quadrado como na apresentação do Uli (risos)…
Weikath: O mais curioso é que eu estava no navio para tocar e sequer sabia que o Uli estaria lá! Eu estava tão focado na agenda e nos horários do Helloween… Até vi alguns músicos no embarque, então perguntei quem tocaria primeiro. Alguém disse ‘Uli Jon Roth’, e eu só consegui gritar: ‘O quê?! Sério?!’ (risos gerais). Eu tive arrepios assistindo ao show. Nem saí para fumar! (risos)
Sobre esse lance de ter uma banda que foi referência abrindo para o Helloween anos depois, você tem esse mesmo sentimento de conquista?
Kiske: Somente agora, porque por muito tempo nunca tive esse tipo de pensamento. Mesmo quando nós recomeçamos e trouxemos a ideia da Pumpkins United, eu não tinha uma opinião formada. A principal motivação, para mim, era fazer as pazes. Carreguei aquela raiva comigo por tempo demais, e foi perfeito poder me livrar disso, poder falar com todos. Como sempre acontece com as bandas que possuem um tipo de magia, elas criam seu próprio espírito, que não pode ser falsificado ou diminuído. Ou está lá ou não está. Neste caso, estava lá, e de cara tão logo nos acostumamos novamente uns com os outros, porque, claro, depois de tantos anos, houve certa insegurança no início. Depois que terminamos a primeira turnê, em 2017, foi quando tudo finalmente estava completamente bem. E quando se faz uma turnê como aquela, é possível sentir a energia que vem do público, dos fãs, e é isso que nos dá uma ideia do que o Helloween pode significar para as pessoas. Quando se está sozinho, por conta própria, dificilmente se tem essa percepção, e eu estive realmente isolado por muitos anos no que diz respeito à cena. Eu não tocava ao vivo há anos, até voltar aos palcos com o Avantasia e, depois, com o Unisonic, já no início dos anos 2010. Então, eu não tinha mesmo noção, e a primeira experiência que tive nesse sentido foi com o Avantasia na América do Sul, porque o feedback do público foi incrível. Honestamente, eu não esperava nada parecido. Agora, veja o barulho que estamos fazendo com o single (N.R.: Skyfall), chegando ao primeiro lugar na Inglaterra, o que não é fácil, muitas bandas de metal há anos não têm conseguido isso há. É incrível e mostra que os fãs estão felizes de verdade por estarmos fazendo isso, então mal posso esperar para a merda dessa pandemia acabar e podermos tocar ao vivo novamente.
Em 2003, pude entrevista-lo por ocasião…
Kiske: leia a pergunta e a resposta na ed. #261 da ROADIE CREW.
A volta gradativa ao heavy metal, culminando na reunião com o Helloween, o fez se relacionar novamente com as bandas que curtia quando era mais novo, como Iron Maiden, Dio, Judas Priest e Queensrÿche?
Kiske: Não muito. É aquela coisa: toda banda tem dois ou três discos que definiram suas carreiras, e a partir dos anos 1990 elas começaram a ficar musicalmente entediantes. Houve uma nova leva na música pesada que era interessante, de bandas que eram diferentes e fizeram coisas legais, como Thirty Seconds to Mars e Linkin Park. O Slipknot, por sua vez, não era muito a minha praia. Nada contra os músicos, e entendi o passado do vocalista (N.R.: Corey Taylor) quando assisti a uma entrevista dele. No fim das contas, as bandas que cresci ouvindo gravaram discos que eu não achei melhores do que os antigos. Então, ouço os primeiros do Iron Maiden e do Judas Priest, os três primeiros do Metallica, tudo do Dio, os álbuns do Queensrÿche, e tem o Queen, que é outra história por ser um imenso crossover em várias direções. Como o Muse hoje, uma excelente banda de rock, especialmente seus últimos quatro discos. Mas perdi o interesse naquelas bandas durante os anos 1990, porque, para mim, não havia nada interessante acontecendo. Basicamente, eu só ouvia música clássica, e minha coleção de CDs é quase toda de música erudita. Os anos 2000 precisaram chegar para que eu tivesse interesse no heavy metal novamente, e como hoje estou num Helloween renovado, é quase como algo novo para mim, mais uma vez.
Sobre esse Helloween renovado, Weikath…
Weikath: leia a pergunta e a resposta na ed. #261 da ROADIE CREW.
No seu caso, Kiske, um álbum do Helloween com você 18 anos depois da sua saída. Considerando que neste intervalo de tempo você lançou 13 disco de estúdio, como artista solo e com Supared, Place Vendome, Kiske/Somerville e Unisonic, o que Helloween representa na sua carreira?
Kiske: Em primeiro lugar, é muito importante perceber o que podemos alcançar quando juntamos nossas mentes, e não se pode esquecer que se trata de um grupo muito extremo de pessoas. Um é totalmente diferente do outro, então reunir essas mentes e fazer um disco como esse não foi difícil. Foi trabalhoso, mas aconteceu com naturalidade devido ao talento dos envolvidos, e eu sinceramente penso que, desde que o espírito coletivo não mude, ninguém morra e permaneçamos juntos com o mesmo ânimo, não teremos problemas em gravar mais álbuns. Para mim, Helloween prova muitas coisas: que perdão e paz são possíveis, que é possível ser criativo e juntar sete talentos com egos muito fortes para criar algo incrível. Essa é uma boa mensagem. É a mesma coisa sobre tocar ao vivo. Quando olhamos para a indústria da música, há tanta guerra de egos, e quantas bandas se destruíram por causa de ego? Quantos discos deixaram de ser gravados por causa disso? Estar no palco com sete integrantes do Helloween juntos e animados também passa uma grande mensagem para a cena musical. Foda-se o ego! As bandas não podem destruir algo bonito que construíram por causa dele.
Para terminar, sei que o mundo precisa abrir completamente para o Helloween sair em nova turnê. No entanto, com um disco novo para divulgar, vocês já pensaram como será?
Weikath: Não faço ideia (risos). Talvez toquemos por duas ou duas horas e meia… Sério, eu realmente não faço ideia (risos). Hoje, só quero ver como ficarão as coisas no mundo, se todos estarão bem.
Kiske: Não fosse a pandemia, acredito que já estaríamos numa nova turnê com shows de duas horas e meia a três horas de duração, porque temos material suficiente para fazer dois shows seguidos e tranquilamente trocar as músicas do setlist. No entanto, acho que será melhor sair em turnê a partir de 2022. Observando as pandemias anteriores na história, vemos que elas não costumam passar de dois anos, então há bons motivos para esperar o melhor para o ano que vem. No entanto, ninguém sabe como estará a situação psicológica das pessoas, se elas ainda estarão com medo de ir aos shows, ainda que não devam ter medo porque o risco está na forma de contágio, e estaremos todos vacinados, o que diminui esse risco. Mas acredito que estaremos melhores no próximo ano, e como não se sabe a extensão real da pandemia na indústria musical, ou seja, quantas empresas de aluguel de equipamentos podem ter falido ou quantas pessoas aparecerão nos shows, decidimos nos juntar ao Hammerfall para tornar a turnê ainda mais atraente (N.R.: o primeiro giro pela Europa está marcado para começar em março de 2022). Creio que muitas bandas farão o mesmo, e algumas até já entraram em contato conosco. Temos uma alta procura porque vendemos muitos ingressos, então podemos facilmente fazer uma turnê como banda principal em lugares grandes, mas, em função da pandemia, seremos contidos nos passos. Portanto, o primeiro passo é esse combo com o Hammerfall, e mais adiante veremos como será a turnê como artista principal.
Obrigado pela entrevista, e o espaço final e todo de vocês.
Weikath: Foi um prazer! Quero agradecer aos fãs brasileiros por estarem conosco até hoje. E também quero dizer a vocês que recebemos muitas críticas em todo o mundo, mas depois que gravamos o show de São Paulo junto com o de outros países no DVD (N.R.: Keeper of the Seven Keys – The Legacy World Tour 2005/2006, lançado em 2007), jamais falaram mal de nós novamente, e creio que isso se deve ao público brasileiro, ao que vocês fizeram naquela noite. Aliás, nós ficamos estarrecidos com o público do Brasil já em nosso primeiro show no país, no Monsters of Rock (N.R.: em 2016). Estávamos com uma aparência péssima, porque nossa bagagem atrasou para chegar. Por sorte, tínhamos nosso equipamento, mas eu tive que sair para comprar calças e ainda machuquei meu olho na volta para o hotel, por isso toquei de óculos escuros e sofrendo de dor! Como não sabíamos os números de vendas de discos na América do Sul, não esperávamos tamanho público para nos ver.
Kiske: E por ter sido nosso último show antes da pandemia, ainda tenho o Rock in Rio ecoando na cabeça e mal posso esperar para voltar a tocar na América do Sul. Adoro ter férias e tirar um ano de descanso, mas já está demais! (risos) Tivemos sorte de realizar uma turnê muito bem-sucedida, então podemos ficar mais um tempo em casa, mas muitos artistas e bandas estão em dificuldades por causa da paralisação em todo o mundo. Mas estamos no mesmo barco e sairemos dessa brilhando ainda mais.