INCANTATION, CRYPTA, PODRIDÃO & ECHOES OF DEATH – Fortaleza (CE)

Leandro Coppi
31/05/2023

Por Leonardo M. Brauna / Fotos: Rubens Rodrigues

Fortaleza é uma capital brasileira acostumada a receber grandes nomes do metal extremo. O histórico de sua cena é tão recheado de acontecimentos no circuito de shows, que hoje a maioria das turnês do gênero passa por aqui. O exemplo da noite de domingo, 14 de maio, que mostraremos nesta resenha corroborou pra isso. Nos bastidores deste evento, a Underground Produções e a Xaninho Discos fizeram o já conhecido trabalho de qualidade para promoverem um concerto de death metal inesquecível. Confira nos próximos parágrafos.

Às 18h00, todos esperavam a Echoes of Death que, sem muita cerimônia, mostrou porque estava entre os nomes deste festival. O quarteto cearense que em 2018 lançou o álbum “…In the Cemetery”, se destacou pela performance e qualidade de execução. “Abyss of Death” abriu a noite como cartão de visitas com seu estilo cadenciado e riffs pesados. A princípio, comparações a Aphyx, Dismember e outros se confirmaram, mas ao vivo a banda exala autenticidade que vai além das suas influências. O entrosamento e intimidade com o público foram aliados na hora de tocar “Give me Your Soul”, “I Surrender to the Abyss” e “Falling Into the Void”, canções que não estão no CD, mas que o grande público conhecerá em um EP que a banda prepara. Não foi um set longo, mas a energia que ele deixou na festa foi responsável por muita empolgação. Quem conhece já sabe, quem não conhecia ficou impressionado.

O segundo momento do festival aconteceu com a subida do Podridão ao palco. A banda de Itaquaquecetuba/SP excursiona pelo Brasil para cumprir quarenta dias da “Cadaveric Impregnation Tour 2023”. Esta vinda à Fortaleza representa o 18º dia. Antes de qualquer coisa, é importante citar a participação de Paulo Paixão (GS Truds) nos últimos três shows da banda. O guitarrista reside em Fortaleza e foi peça importante no suporte ao trio paulista nos últimos três shows. Doravante, o desfile de músicas imersas no tema gore foi satisfatório com visitações aos seus três álbuns. Ao passo que, canções como “Abduction Nightmare” do álbum autointitulado de 2017, “Disfigurated In the Womb” de “Revering the Unearthed Corpse” (2020) e “Verminosis Faecalis” do atual “Cadaveric Impregnation” (2023) surgiam no repertório, o público retribuía com a troca de energia. A densidade sonora que a banda gera em seus riffs é um dos pratos principais neste cardápio de “purulência”. Temos também que parabenizar o vocalista e baixista Junior “Putrid Dick” de Andrade, que algumas vezes teve a voz ofuscada pelo volume das guitarras e da bateria, mas soube lidar com essa dificuldade provando ter um alcance vocal poderoso.

Faltando apenas sete dias para um ano desde a última visita, a Crypta chega à Fortaleza e faz bonito. Antecipadamente, Luana Dametto apareceu para arrumar a bateria com o seu técnico. Em seguida, alguns fãs tentaram chamar a sua atenção ecoando “Luana! Luana!” em coro. Não adiantou, a baterista e co-fundadora da banda estava muito empenhada no preparo de seu instrumento. Logo depois, as demais aparecem, conversam com a equipe, fazem seus últimos ajustes e, depois de parecer tudo pronto, iniciam a festa com a intro do álbum “Echoes of the Soul” (2021), “Awakening”. Em “Possessed”, o pessoal que assistia estava mais que acordado, diferente do microfone de Fernanda Lira que apresentou falha ainda em “Death Arcana”. Mas não pense que ela se intimidou, a banda continuou a tocar enquanto a baixista e vocalista fazia a sua parte, esperando os técnicos fazerem o mesmo. Depois de tudo arrumado, o set prosseguiu tranquilamente com “Kali”. A participação dos fãs em cada canção foi tão presente quanto a própria banda. A resposta da pista era imediata quando as meninas do palco faziam alguma condução. O show prosseguiu com muita energia das guitarristas Tainá Bergamaschi e Jéssica Falchi, com as habituais caras e bocas de Fernanda e Luana mostrando quem manda na pegada.

Já são três vezes que o guitarrista e vocalista John McEntee vem à Fortaleza e, agora, com uma turnê comemorativa de trinta anos. Completado por Luke Shively (guitarra), Chuck Sherwood (baixo) e Kyle Severn (bateria) o Incantation cumpriu majestosamente o seu dever. No Brasil, a “Tricennial of Blasphemy Latin America Tour 2023” ganhou oito datas ao lado da Crypta. O início do show no Casarão do Benfica foi colossal com a densa “Carrion Prophecy” de “Dirges of Elysium” (2014) abrindo após a introdução. O set list não teve a sua ordem cronológica cumprida, pois “Pest Savagery” de “Tricennial of Blasphemy” (2022), seria a primeira na execução. Aqui, ela antecedeu a “Entrails of the Hag Queen” do último álbum “Sect of Vile Divinities” (2020). Outras quatro músicas também trocaram seus lugares na fila de execução. Nem a ameaça de chuva inibiu os headbangers que receberam dos PAs clássicos como “Desecration (of the Heavenly Graceful)” de “Diabolical Conquest” (1998) e “The Ibex Moon” de “Mortal Throne of Nazarene” (1994). Incantation, que entre canções soturnas e outras mais brutais, conseguiu gerar até circle pits em músicas como “Profanation” de “Onward to Golgotha” (1992). Por mais que a postura de palco de McEntee seja de um músico concentrado, a banda se sentiu à vontade, pois esta noite já era a quarta data da turnê pelo Brasil. Entre uma música e outra, o vocalista citava momentos da última visita do Incantation ao Ceará, em 2003. Além disso, John também visitou Fortaleza em 2014 com a banda Funerus. Então, se resume que o Incantation é como se já fosse da casa. Por aqui, sem chuva e com muita satisfação no coração do headbanger, o quarteto norte-americano fecha com “Siege Hive”, que também finaliza o álbum de 2020.