Por Fernando Queiroz
Fotos: Belmilson Santos
Pela primeira vez no Brasil após mais de vinte anos de carreira e muitos pedidos incansáveis em redes sociais – os famosos “come to Brazil” –, finalmente, no fim de 2024, o Insomnium, uma das maiores bandas de death metal da Finlândia, veio ao país. O show, único no Brasil, foi anunciado ainda no meio do ano, o que nos deu bastante tempo para nos preparar, certo? Certo, tirando o fato de o show ter sido marcado exatamente para a mesma data da apresentação do Iron Maiden na cidade. Por conta disso, quem chegava antes ou depois de as portas da casa abrirem já tinha noção de que não encontraria um show lotado. Assim foi. Porém, há de se dizer que, mesmo com essa adversidade, o público compareceu, sim! E fez barulho, pois decepção é uma palavra longe do vocabulário de quem lá estava.
Como quase todos os shows da produtora Overload, pontualmente às 19h (sinceramente, até um pouco antes!), os portões da casa foram abertos, e quem estava na fila foi entrando tranquilamente. Parte do público ainda ficou do lado de fora, terminando suas bebidas, e sem pressa de entrar. A noite realmente estava tranquila, além de muito quente, perfeito para quem gosta de tomar uma cerveja gelada ao ar livre.
Dentro do Carioca Club, ainda havia pouco público. Compreensível, já que o show começaria apenas às 21h apenas. A banca de merch tinha uma boa concentração de pessoas comprando, e era nítido o porquê: os preços estavam em conta: camisetas a R$ 140, moletons por R$ 280+ e CDs autografados saindo por R$ 60. Levando em conta os preços recentes de shows, geralmente bem mais altos, não demorou até quase todos os artigos ficarem esgotados, em especial as vestimentas, todas com estampas muito bonitas. Pouco a pouco, a casa ia enchendo, embora, no fim, longe de sua capacidade máxima.
Exatos dez minutos antes do horário previsto do show quem compareceu ao evento teve a oportunidade de ver algo único, jamais visto em nenhum show da banda e possivelmente nenhum show na América do Sul: às 20h50 as luzes se apagam, a bandeira da Finlândia é mostrada em todas as telas da casa e uma música “diferente” é tocada nos PAs. Era o Hino Nacional da Finlândia. No momento, ninguém sabia o porquê daquilo, mas logo descobriríamos.
Novamente com pontualidade, às 21h, a banda entra no palco, tocando a faixa de abertura de seu último álbum, Anno 1696, a quase autointitulada 1696. Foi emendada com o clássico do álbum Heart Like a Grave, o hit e um dos preferidos dos fãs, Valediction. O som impecável, uma boa iluminação e uma montagem muito inteligente de palco ajudavam a performance. Niilo Sevänen, vocalista e baixista, mesmo tocando e cantando simultaneamente, tinha uma bela presença de palco e agitava do começo ao fim de cada música. O guitarrista e vocalista convidado Tomy Laisto – que faz as vozes limpas e a segunda guitarra, substituindo Ville Friman, que não faz turnês com a banda por conta de seu trabalho como professor universitário de microbiologia – superou as desconfianças e fez ótima apresentação, mostrando uma bela voz.
Logo após, Niilo saudou a plateia, agradeceu a todos e disse que era um momento especial, pois esperaram muitos anos para finalmente tocar aqui, para delírio do público. Explicou também o motivo de o hino finlandês ser tocado no começo da apresentação: no dia do show, 6 de dezembro, é comemorada a Independência da Finlândia da então recém formada União Soviética. Aplausos de todos presentes!
Continuando o show, tivemos outra música do último álbum, White Christ, que na gravação apresenta os vocais do convidado especial de Sakis Tolis da banda grega Rotting Christ. Ao vivo, as partes com o convidado são feitas tanto por Niilo quanto pela plateia, que não se intimidou e cantou junto os versos de Sakis. Seguiram com um dos maiores hits da banda, a clássica Ephemeral, do álbum que impulsionou a banda ao sucesso, Shadows of the Dying Sun.
Novamente Niilo fala com o público, pedindo desculpas por demorarem tanto para vir ao país, dizendo que deviam ter vindo muito antes, e fala que vão tocar uma pesada, incitando todos a fazer um mosh pit. Em seguida, anuncia o primeiro single do último álbum, Lilian, e seu pedido foi prontamente atendido. Em meio à plateia, uma grande roda de bate-cabeça se abre enquanto tocavam a música. As luzes diminuíram, e era hora de uma música um pouco mais “lenta”. Veio outro hit do álbum Heart Like a Grave, And Bells They Toll, novamente com destaque os vocais limpos de Tomy. Nesta faixa, aliás, o público, em uníssono, cantou o riff principal da música.
Niilo, então, apresenta o guitarrista convidado ao público, que agradece imensamente, e fala aquele clássico “c*ralho”, para novo delírio da plateia, que de cerca de quinhentas pessoas presentes pareciam milhares de tanto que gritavam. Perguntam, então, se querem algo antigo e é isso que temos: o clássico Unsung, do álbum One for Sorrow, do já longínquo ano de 2012. Mais uma música de Anno 1696 se seguiu, uma das mais queridas desse pelo público, Witch Hunter, também um dos primeiros singles a sair do disco em 2023.
Mais uma antiga, então, foi tocada. E essa realmente antiga: Mortal Share, é de 2006, do álbum Above the Weeping World, um dos primeiros da banda. Após mais um enorme mosh pit na plateia e novo agradecimento de Niilo, tocam a longa Song of the Dusk, faixa-título do último EP, com seus quase dez minutos. Apesar de longa, a presença de palco da banda não dava espaço para tédio e monotonia. Em especial, o guitarrista Markus Vanhala ia de um lado a outro no palco, subindo nos retornos e nas pequenas plataformas de apoio no palco, colocadas especialmente para isso, e mostrava sua Jackson Flying V signature do falecido Alexi Laiho da banda Children of Bodom. A banda, então sai do palco ovacionada sob gritos de “Insomnium” em uníssono.
Claro, faltavam músicas, e então o baterista Markus Hirvonen retorna ao palco, com o resto da banda vindo logo depois. É tocada então a primeira faixa de Shadows of the Dying Sun, The Primeval Dark, e logo emendam a música mais icônica e maior sucesso da banda, While We Sleep. Neste momento nem sequer houve tempo para mosh pits: era momento de emoção, pois esse tema foi que introduziu a maior parte das pessoas à banda. Após mais um agradecimento da banda, tocam sua saideira, Heart Like a Grave, faixa-título do álbum de 2019.
Finalmente, o show acabou, com cerca de uma hora e meia de duração, mas que pareceu durar apenas alguns minutos. Foi um show icônico, cheio de clássicos e com as músicas preferidas do público. Apesar da competição desleal do outro show bem maior da noite no Allianz Parque, o Insomnium entregou uma apresentação muito acima da média, de uma banda que conhece seu público, sabe o que ele quer ouvir e joga seguro, em especial por ser a primeira vez dela no país – esperamos que de muitas. Quem foi ao show sem dúvida saiu satisfeito e de alma lavada ao ver um grupo que demorou tanto para vir e que entregou tudo e mais um pouco. Não havia uma pessoa sequer após o show que criticasse. Conversasse com dez pessoas, as dez teriam elogiado como um grande show, com uma escolha certeira de treze músicas preferidas dos fãs. Claro, há quem falasse que queria ouvir a música tal não tocada, outra falaria o mesmo sobre outra música. Mas fã é assim. E, de qualquer forma, é apenas mais um motivo para voltarem aqui e tocarem outras músicas! Mas, há de se dizer, nós brasileiros fomos realmente privilegiados com uma banda finlandesa homenageando seu país aqui com a exibição de seu hino nacional no dia de sua independência. Algo que dificilmente será novamente visto.
Setlist
Hino Nacional da Finlândia
1696
Valediction
White Christ
Ephemeral
Lilian
And Bells They Toll
Unsung
The Witch Hunter
Mortal Share
Song of the Dusk
Bis
The Primeval Dark
While We Sleep
Heart Like a Grave