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IRON SAVIOR: DE VOLTA PARA A LUZ

Foto: Thomas Sprenger

Por Valtemir Amler

Para muitos dos ávidos fãs espalhados ao redor de todo o mundo, falar de power metal (do speed ao melódico) é o mesmo que falar da Alemanha. Afinal de contas, desde os anos 80 são muitas as bandas alemãs que não apenas abraçaram o estilo, mas remodelaram, redefiniram e expandiram os seus limites com destreza absurda ao longo dos anos. Embora seja praticamente impossível encontrar todos os pontos em comum entre todos aqueles nomes seminais, uma pessoa aparece ligado a maior parte desses atos: o vocalista, tecladista, guitarrista, produtor e engenheiro de som alemão Piet Sielck. Ativo no cenário do metal germânico há cerca de quatro décadas, Sielck já havia trabalhado com Kai Hansen (Helloween, Gamma Ray) nos anos 80, com sua antiga banda Gentry, além de ter tido a companhia de Ingo Schwichtenberg (lendário baterista do Helloween, falecido em 1995) e Markus Grosskopf (baixo, Helloween) no mesmo projeto. Expandindo seus horizontes, Sielck se tornou produtor, e assim trabalhou ao lado de nomes como Grave Digger, Blind Guardian, Gamma Ray e muitos outros, mostrando mais uma vez que ele entende do assunto. Porém, foi na segunda metade dos anos 90, ao fundar o Iron Savior que ele deu sua maior contribuição para a história do metal. Criada originalmente ao lado do velho parceiro Kai Hansen e do baterista Thomen Stauch (então integrante do Blind Guardian), a banda apostava no power metal e em letras profundamente marcadas pela ficção-científica, gênero favorito do nosso entrevistado. Confira o que o experiente músico alemão nos contou sobre suas preferências e caminhos ao longo dos últimos quarenta anos.

Você tem uma história de mais de quarenta anos dedicados a música pesada, e toda essa história começou com o Gentry, certo?

Piet Sielck: Isso mesmo. Era 1978, e aquela foi a primeira fagulha de criatividade que eu e Kai tivemos, foi ali onde tudo realmente começou para nós. Não teve uma grande história de revelação, pois naquela época as coisas ainda não eram assim, não havia toda uma mítica em torno desse tipo de música por aqui, então tivemos um começo bem comum e bem humilde, acho que bem parecido a todas as outras bandas alemãs da época.

E como foi isso?

Piet: Bem, eu e ele frequentávamos a mesma escola, e durante as férias de inverno resolvemos nos reunir, já que tínhamos interesses musicais bem parecidos. Você sabe, ambos gostávamos de Deep Purple, Sweet e bandas assim, e éramos os únicos que tinham interesse em música pesada, então foi bem natural que nos conectássemos naquela época. Bom, no fim das contas descobrimos que ambos tocávamos guitarra, e então resolvemos que tínhamos o que era preciso para montar uma banda.

Mas é claro que não tinham.

Piet: Não mesmo (risos). Chamávamos aquilo de banda, mas éramos dois guitarristas e um baixista, quer dizer, não tínhamos um baterista. Aí me vem uma pergunta, como fazer heavy metal sem bateria? Trabalho há décadas com esse tipo de música, e ainda não achei a resposta, mas de alguma maneira, naquela época achei que daria certo (risos gerais).

Bem, vocês tinham que começar de algum lugar.

Piet: Exatamente, foi isso mesmo que pensamos. Não poderíamos simplesmente sentar e esperar que um baterista surgisse do nada pronto para nos transformar no Deep Purple (risos), então começamos a trabalhar com as ideias e o material humano que tínhamos em mãos, simples assim. Bom, tínhamos cinco músicas razoavelmente prontas, e após alguns meses de ensaios, estávamos inscritos em um torneio de bandas local. Aquilo foi meio que um impulso, pois sabíamos que não poderíamos tocar ao vivo sem um baterista. Ao mesmo tempo, não estávamos satisfeitos com os vocais, então corremos atrás de um baterista que era de uma série acima da nossa na escola, e de um vocalista, também mais velho que nós. Com essa formação, conseguimos vencer a batalha de bandas, e aquilo realmente foi algo grande para nós. Quer dizer, com aquele resultado ficamos convencidos de que queríamos ser estrelas do rock, e que talvez tivéssemos o que era preciso para isso. Bem, não sei sobre ser uma estrela do rock, mas 45 anos depois estamos aqui, falando sobre a minha jornada na música, então acho que fizemos algumas apostas certas. E aquela banda, aquele momento com o Gentry, aquilo foi o início de tudo.

No fim das contas, foi uma boa história de origem.

Piet: É, não foi tão fraca e comum quanto eu pensei que seria (risos gerais).

E em uma época interessante, quando Scorpions e Accept eram as coisas mais pesadas no cenário alemão.

Piet: Ah sim, é verdade. Eles eram ótimos, eu lembro especialmente quando o Scorpions lançou o ao vivo Tokyo Tapes (1978), aquilo foi um achado e tanto para mim. Quer dizer, era uma banda alemã realmente boa, e que estava se dando bem fora da Alemanha, o que nos dava esperança. Víamos todas aquelas bandas britânicas e americanas como heróis, e era bom ter alguns heróis mais próximos de nós, do nosso país. Foi um exemplo importante para o nosso início, ninguém jamais deveria menosprezar algo assim. Bem, eles ajudaram a definir a maneira como víamos o heavy metal, e teve uma outra experiência bem importante que eu e Kai vivemos na época, e que sei que teve tanto impacto para mim quanto para ele.

E o que foi?

Piet: Bem, você lembra a sensação que é quando você está descobrindo o metal, aquela coisa de encontrar a sua nova banda favorita a cada nova audição, certo?

Claro.

Piet: Pois é, nós amávamos música pesada e estávamos descobrindo mais e mais a cada dia, e então tivemos a chance de assistir alguns shows incríveis que meio que formaram o nosso caráter. Lembro especialmente daquela noite, fomos ver o AC/DC, a última turnê deles com o Bon Scott (N.R: vocalista falecido em 1980). A banda de abertura era o Judas Priest. Imagine como foi aquela noite para nós!

Definitivamente, eu posso imaginar.

Piet: Aquilo foi absolutamente incrível, minha mente estava explodindo a cada momento! O Judas Priest foi a coisa mais sensacional que já tínhamos visto, eles pareciam a definição mais precisa de tudo o que era heavy metal. Ainda penso isso, ainda acho que eles são a banda perfeita de heavy metal, a música, a performance, a imagem, tudo! Amei o show do AC/DC naquela noite, mas o Judas Priest abriu nossos olhos para o que realmente poderia ser feito com o heavy metal como plataforma.

Sim, eles estavam em um nível completamente diferente de qualquer outra banda naquela época, e realmente devia ser algo incrível para garotos que almejavam uma vida na música presenciar aquilo.

Piet: Você nem faz ideia, eu lembro e ainda sinto um formigamento nas mãos (N.R: Piet fica com os olhos cheios de lágrimas, visivelmente emocionado). Você nem pode imaginar o quanto aquilo foi importante para nós, uau. Eu ainda tenho essa imagem nítida na minha cabeça, do Rob Halford com aquela moto gigante, Glenn Tipton e K. K. Downing fazendo todos aqueles trejeitos com suas guitarras, tudo que pensávamos era ‘é isso, é exatamente assim que uma banda tem que ser no palco’. E eles tocaram o set completo que você ouve no Unleashed In The East (1979), então você sabe, não havia nada menos do que perfeição ali! Eles tocaram Exciter, cara! Sabe, eles tocaram Exciter e nós já estávamos convencidos que aquilo nunca sairia das nossas mentes, e de fato, nunca saiu. Ainda acho que Exciter foi a primeira música, aquela que definiu as bases do speed metal. Veja, eu trabalho com música pesada há mais de quarenta anos, já fiz e assisti milhares de shows, trabalhei com inúmeras bandas ótimas no estúdio, e ainda fico assombrado com o Judas Priest naquela noite!

Você estava indo muito bem, mas acabou deixando os palcos por muito tempo.

Piet: Sim. Começamos como Gentry e tudo estava indo bem, viramos Second Hell, depois por algumas semanas fomos Cronos, e por fim a banda se chamava Iron Fist, e a verdade é que mudar o nome não adiantava, eu me sentia esgotado. Eu estava frustrado, pois depois de um bom início, parecia que não havia mais nenhuma evolução para nós. Eu não estava mais tendo prazer com aquilo, então resolvi dar um tempo e fazer outras coisas.

Eventualmente você voltou para a música, mas primeiro como produtor. Por quê?

Piet: Acho que quando você realmente ama música, não consegue ficar longe por muito tempo. Mas, quando resolvi voltar, percebi que a Alemanha tinha muito mais músicos excelentes do que produtores excelentes. Eu estava trabalhando em estúdios com mixagens e engenharia de gravação, e aprendendo mais a cada dia. Sentia-me muito bem com aquilo, e ajudava as pessoas a fazer as músicas que amávamos, então, foi uma escolha bem fácil naqueles tempos. Virei um nerd dos consoles de gravação, mas acabei voltando para a guitarra poucos anos mais tarde.

Sim, o Iron Savior nasceu em 1996, e desde então tem estado ativo. E sinto que você deixou transparecer outra paixão com essa banda.

Piet: Sim, chegou um dia que senti vontade de ao menos tentar algo de novo. Não tinha noção se daria certo, mas não queria um dia acordar, quando fosse tarde demais, pensando que eu deveria ao menos ter tentado. Tentei, e felizmente a Noise gostou o suficiente para assinar conosco. Sou feliz de a banda estar ativa até hoje, e ter onde colocar as minhas histórias de ficção científica (risos gerais). Então, sim, acho que você está certo quanto a revelar uma outra paixão (risos).

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