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KATATONIA – SÃO PAULO (SP)

15 de novembro de 2024 – Carioca Club

 

Por Rogério SM

Fotos: Belmilson Santos

Algumas bandas têm o dom raro de transcender rótulos e se tornarem verdadeiras entidades musicais. O Katatonia, com seus mais de 30 anos de trajetória, é uma delas. O grupo sueco, que começou como um dos pilares do doom metal, embarcou em uma jornada de evolução artística que os levou a criar um som único, em que melancolia, peso e melodia coexistem em perfeita harmonia. Para quem não acompanhava a banda há algum tempo, isso pode ser até uma surpresa. Mas mesmo os fãs mais fervorosos foram surpreendidos nesta volta do grupo a terras brasileiras.

Para começar, assim que a introdução terminou, vimos subir ao palco quatro membros, ao invés de cinco. O Carioca Club, que estava lotado, ficou em um misto de apreensão e excitação. Porém, assim que os primeiros acordes de Austerity, do álbum mais recente, Sky Void of Stars, soou pelos PAs, a atmosfera da casa foi inundada pelo peso e pela técnica dos suecos. A música, carregada de energia e densidade, foi a abertura perfeita para estabelecer o tom que dominaria a noite. A banda rapidamente emendou com Colossal Shade, outra do novo disco, demonstrando que sua música atual ainda carrega a mesma intensidade que os fãs mais antigos aprenderam a amar.

Enquanto o vocalista Jonas Renkse conduzia o público com sua voz sombria e melódica, os olhos da plateia se voltavam frequentemente para o guitarrista Sebastian Svalland, único representante da noite nas seis cordas. Sua execução precisa e emotiva, especialmente em músicas como Lethean (Dead End Kings), foi um espetáculo à parte. Ainda que todos os presentes estivessem com um pouco de receio pela falta de Roger Öjersson, a resposta da plateia era alta e empolgada, com gritos frequentes e punhos para o alto.

Ainda que o setlist privilegiasse a fase mais atual do Katatonia, alguns clássicos, como Forsaker (Night Is the New Day), estavam presentes. Aliás, foi apenas aqui que descobrimos o motivo da ausência de Svalland, que precisou se ausentar por motivos pessoais. Renkse, porém, fez questão de prometer ao público (e ao próprio guitarrista) que ele estaria no palco na volta da banda ao país. Entretanto, a essa altura, o quarteto já tinha conquistado o coração dos presentes e, ainda que uma segunda guitarra pudesse dar mais peso e corpo para o som, o Katatonia se precaveu com um uso inteligente e elegante de samplers, especialmente nos arranjos de teclado. Outro destaque foi a bateria de Daniel Moilanen, com uma precisão quase hipnótica, mesmo tendo os graves do bumbo um pouco mais altos do que deveria durante as primeiras músicas. Sua execução em sons como For My Demons (Tonight’s Decision) arrancou lágrimas discretas de alguns presentes. E isso foi o máximo que o grupo se permitiu voltar ao passado em sua discografia, o que não deixa de ser uma pena.

Só que nada disso impediu o público de continuar cantando todos os refrãos a plenos pulmões, como em Leaders (The Great Cold Distance). O baixo de Niklas Sandin, pulsante e grave, deu um peso especial a músicas como Onward into Battle, do álbum Night Is the New Day, lembrando a todos do porquê ele ser parte essencial do som característico da banda. Jonas Renkse perguntava a todo instante se os presentes estavam se divertindo, e a resposta era sempre positiva. Inclusive, houve momentos de explosão do público, como em Soil’s Song, outra de The Great Cold Distance.

Em seguida, a suavidade introspectiva de Opaline trouxe um pouco mais de melancolia e melodia, algo que permeou a apresentação, mesmo em momentos em que o peso reinava. Quando Birds foi tocada, o público foi transportado para um lugar especial, acompanhando cada verso em uníssono com Jonas e provando como o álbum Sky Void Of Stars tem tudo para se tornar um dos favoritos dos fãs.

Old Heart Falls e Criminals vieram na sequência, mas foi com My Twin que a interação entre público e banda atingiu seu ápice, com Renkse pedindo para que todos completassem o coro do refrão. Antes do bis, mais uma de Sky Void Of Stars: Atrium. Porém, um show do Katatonia não estaria completo sem Evidence. E claro que ela veio. Após voltarem ao palco com July, o clássico do álbum Viva Empitness fechou uma noite de muita técnica e emoção. A plateia, que até então parecia hipnotizada pela densidade emocional da apresentação, explodiu em aplausos, evidenciando a conexão quase mística que Katatonia cria com seus fãs.

O show foi mais do que um espetáculo musical, com ares quase de um ritual coletivo de catarse e introspecção. Que a volta do grupo não demore e que, dessa vez, possamos rever o som técnico e melódico dos suecos como um quinteto (quem sabe com a volta do fundador Anders Nyström na guitarra?). Ah, também não custa sonhar que o grupo volte a tocar alguns clássicos mais antigos. Os fãs fervorosos iriam agradecer. E muito.

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