Praticamente um ano se passou desde que Kiko Loureiro decidiu deixar o Megadeth. Como ele sempre ressalta, sua saída do grupo aconteceu de maneira amigável e o respeito permacene inabalável entre as partes. Ao contrário do que aconteceu com outros músicos que já passaram pelo Megadeth, a relação de Kiko com Dave Mustaine não foi afetada. Em entrevista para a edição #282 da ROADIE CREW (compre aqui), o guitarrista refletiu sobre o que mais vai sentir saudade de sua época na banda.
“Boa pergunta. Deixe-me pensar aqui…”, disse Kiko ao repórter Daniel Dutra. “Ah, tem uma coisa: o Dave é do caralho! (risos) Eu falei com ele por e-mail há pouco tempo, o parabenizei pela turnê e tal. Sempre posso conversar com ele, também com o filho dele (Justis Mustaine). Eu fiquei um bom tempo na banda, né? E tem aquela onda de Nashville, uma cidade legal para caramba, com todo aquele clima americano que vemos de longe, além do Dirk (Verbeureu, baterista) e do James (LoMenzo, baixista), que tocou com um monte de gente e é um cara cheio de história. Cara, eu também falo com o (David) Ellefson de vez em quando por WhatsApp, e é uma galera muito legal, incluindo os próprios técnicos. Houve muito aprendizado, porque são todos profissionais ótimos e dedicados, e acredito que esse relacionamento pessoal é legal demais. É algo que às vezes quem está fora não percebe, porque o que todo mundo vê é o momento em que estamos no palco, mas há as outras 23 horas do dia nas quais, de alguma forma, estamos juntos viajando, almoçando, tomando café, falando sobre qualquer outra coisa. O Dirk escreveu para mim outro dia, para falarmos sobre outro negócio, e disse: ‘Saudade das nossas conversas’, afinal, nós ficávamos mesmo conversando sobre política e outros assuntos. Isso faz falta, mas não é algo que se perdeu. Posso ligar para Dirk agora e perguntar: ‘Vamos conversar sobre política?’ (risos). A diferença é que cada um está fazendo suas coisas agora, mas podemos nos encontrar a qualquer momento. Nada me impede de pegar um voo e ir para Nashville sentir a umidade daquela cidade (risos).
Kiko também analisou como está sendo a vida depois que deixou a banda:
“Até agora eu só vi benefício para mim, porque estou realmente em casa. Vi um monte de coisa, terminei o meu próprio álbum (Theory of Mind, lançado em outubro), fiz coisas que eu queria fazer, e tem a turnê solo, que é muito mais difícil do que uma turnê com Megadeth. Dá muito mais trabalho, afinal, antes eu não fazia nada né? (risos) Só tinha que subir ao palco e tocar as músicas, porque é mais ou menos isso. Agora, é aprova isso, aprova aquilo, uma trabalheira toda que também é legal, porque me sinto mais útil, me sinto fazendo os negócios. é o trabalho de ver as coisas do show, do repertório, tem o clique, a música, a base, os músicos, falar com cada um, quanto vai pagar, quanto vai pagar, aprovar camisa do merchandising, cartaz… É coisa para caramba! Eu fazia um pouco, mas estava tudo certo se eu não fizesse, também. Fiz vários vlogs no canal do Megadeth no YouTube, mas ficava tipo ‘posso fazer? Será que eu mostro isso? Será que não?, ou seja, ficava meio preocupado. Agora, faço o que eu quiser”.
Papo honesto com Dave Mustaine
Em outro ponto da entrevista, Kiko Loureiro se aprofundou mais sobre sua relação com Mustaine e o fato de ter sido um dos poucos músicos que deixaram o Megadeth sem qualquer ressentimento.
“Você vê! Isso é para fazer meu livro de coach! (risos) Desde que eu entrei no Megadeth, apesar de não ser minha banda, eu tinha um pensamento que expressei para o Dave várias vezes: ‘O que é melhor para o Megadeth?’, porque, em tese, às vezes não era bom para ele. Eu dizia ‘acredito que isso é bom para o Megadeth, então consequentemente vai ser bom para você’. Afinal, você faz parte da banda, só que vez ou outra perde um pouco a percepção disso. Eu mantive isso até o fim. O Dave gosta muito de coisa de militar, e um amigo que viajou conosco, um amigo militar muito próximo dele, esteve no Iraque ou Afeganistão. Lembro-me de ele falar que percebia quando o soldado estava pensando muito na casa dele e na esposa, e por isso estava perdendo atenção no campo de batalha. Quando ele percebia isso, mandava o cara de volta. Isso ficou gravado comigo, e usei essa analogia: ‘Dave, é o seguinte: o John, seu amigo militar, me contou essa história uma vez, e eu estou sentindo que sou esse soldado. Sou o soldado, e você é o general, né?’ Eu preciso ir para casa’, e o Dave entendeu isso. Ele perguntou se era isso mesmo, e eu respondi: ‘Eu vou tocar certo, mas eu não estou ali, porque entrarei no palco sabendo que não era para estar, porque eu queria estar em casa’. Fui bem sincero, e o Dave sabia do que eu estava abrindo mão, disse que lá na frente eu poderia me arrepender. Ele tinha interesse em não causar uma disrupção, imaginava que daqui a dez anos eu ainda estaria ao lado dele, mas uma hora teve de falar ‘o Kiko é o soldado que eu tinha que mandar para casa, porque ele vai ficar melhor lá’.
ROADIE CREW 282
A entrevista completa de Kiko Loureiro pode ser lida na nova edição da ROADIE CREW, #282. Para adquirir a revista e recebê-la em casa, acesse nossa loja oficial ou entre em contato pelo fone (11) 96380-2917 (WhatsApp).
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