Por Thiago Rahal Mauro
Fotos: Belmilson Santos
Desde que deixou o Megadeth, Kiko Loureiro tem revelado em entrevistas e podcasts que sempre teve o desejo de seguir os passos de ícones como Joe Satriani e Steve Vai, tornando-se um guitarrista solo de renome internacional. Mesmo durante sua trajetória no Angra, Loureiro já se destacava como artista solo, lançando álbuns instrumentais de grande relevância e conquistando uma base crescente de fãs. Agora, livre dos compromissos com uma banda fixa, ele tem a oportunidade de se dedicar inteiramente à sua carreira solo e consolidar seu nome como uma referência mundial na guitarra.
Um ponto que vale a pena esclarecer é a confusão que alguns fizeram sobre a saída de Kiko Loureiro do Megadeth. Ele realmente mencionou que queria evitar longas turnês para ficar mais próximo de sua família e, é verdade, esse foi um dos motivos. No entanto, algumas pessoas questionaram: “Como ele sai por isso e agora faz turnê solo?” É importante entender que as turnês do Megadeth são extensas, muitas vezes durando de três a seis meses e percorrendo diversos países. Agora, Kiko está realizando uma turnê de poucas semanas no Brasil, onde sua família pode acompanhá-lo. São circunstâncias completamente diferentes. Com isso esclarecido, vamos à apresentação em si.
Este show fez parte da “Kiko Loureiro Tour 2024”, celebração dos 35 anos de carreira do guitarrista, que revisita momentos marcantes de sua trajetória solo, além de sucessos do Angra e do Megadeth. Com essa proposta, a apresentação foi pensada para ser especial. Como é de se esperar em um evento focado em guitarristas, as aberturas também foram realizadas por nomes importantes do gênero. Desta vez, os escolhidos foram Luiz Toffoli e Gustavo Di Padua. Luiz Toffoli teve a honra de iniciar a noite, subindo ao palco pontualmente às 20h com Human, faixa do álbum Enigma Garden, lançado em 2023. A performance de Toffoli foi uma demonstração impressionante de habilidade técnica e energia. Com claras influências de Dream Theater e Symphony X, a banda composta por Cassio Marcos (vocal), Leo Carvalho (teclado), Marcos Janowitz (baixo) e Pedro Tinello (bateria) trouxe uma energia interessante e uma presença de palco cativante. I’m Alive mostrou a versatilidade do grupo, com riffs intrincados e vocais poderosos que mantiveram a audiência envolvida.
O ponto alto da noite foi a execução de As I Am, cover de Dream Theater que não só fez jus à complexidade da música original, mas também trouxe um toque pessoal que agradou tanto aos fãs de prog metal quanto aos novos ouvintes. Both Worlds, com sua fusão de melodia e peso, foi outro destaque, mostrando a capacidade de Toffoli e sua banda de transitar entre diferentes estilos com facilidade. A combinação de técnica, emoção e entrega da banda criou um clima eletrizante, deixando o público preparado para a sequência com Gustavo Di Padua e Kiko Loureiro.
Com dez minutos adiantado em relação ao horário inicial marcado, Gustavo Di Padua, acompanhado por uma formação de peso com Marcus Filipe (guitarra), Thiago Fernandes (baixo) e Gabriel Triani (bateria), entregou uma performance intensa e com muito virtuosismo. O setlist, cuidadosamente escolhido, apresentou faixas do álbum The Stairs, como Second Floor, Insight, The Stairs e Spiritual Lesson, que mostraram a habilidade da banda em criar atmosferas densas e cativantes. Os covers instrumentais de Paranoid e Wasted Years foram das partes mais empolgantes do show, demonstrando a versatilidade e o domínio técnico do guitarrista em clássicos do rock. Gustavo também aproveitou para mostrar duas faixas inéditas de seu próximo álbum Elephant: a faixa-título e Welcome to the Next Stage. Essas novas músicas indicam uma evolução na sonoridade, com nuances mais complexas e maduras. O show se encerrou com 2008, reforçando a conexão emocional com o público.
Muito esperado pelo público, Kiko Loureiro proporcionou uma noite inesquecível no Tokio Marine Hall, em São Paulo, com um show que destacou sua versatilidade como guitarrista e compositor, além de mostrar muito bom humor com os fãs. A sólida banda de apoio, composta por Luiz Rodrigues (guitarra), Thiago Baumgarten (baixo) e Luigi Paraventi (bateria), foi uma surpresa, pois todos esperavam Bruno Valverde e Felipe Andreoli, que estão na turnê, mas que por compromissos com o Angra, não puderam fazer esse show. Kiko iniciou a apresentação com Overflow, uma abertura poderosa e que demonstrou a habilidade técnica e a energia que permeou todo o espetáculo. A sequência com Pau-de-Arara e Reflective trouxe uma mistura de influências brasileiras e progressivas, refletindo a fusão de estilos que caracteriza o trabalho solo do guitarrista.
Kiko revisitou momentos icônicos de sua carreira solo, como em No Gravity e Vital Signs, que exibiram sua destreza em composições intrincadas e melodias cativantes. O medley do Angra foi um dos pontos altos, levando o público a uma viagem nostálgica através de clássicos como Carry On, Nova Era e Speed. A recepção calorosa do público evidenciou o impacto duradouro dessas músicas, que continuam a ressoar entre os fãs, mesmo anos após seu lançamento. Mesmo tocando apenas riffs e solos dessas músicas, os fãs cantaram trechos, ajudando Kiko Loureiro neste medley.
Durante o show, o humor de Kiko Loureiro brilhou de forma espontânea e contagiante, especialmente quando fãs na plateia o chamaram de “tesouro”, um apelido carinhoso que gerou risos e uma troca divertida entre o músico e a audiência. Em um momento particularmente descontraído, Kiko recebeu um desenho de um fã, retratando-o de maneira humorística segurando uma guitarra quadrada. Ele riu e agradeceu, aproveitando a oportunidade para interagir ainda mais com o público, mostrando sua humildade e a conexão genuína que mantém com seus admiradores. Essa leveza trouxe um toque especial ao show, reforçando a simpatia e o carisma do guitarrista.
Kiko também surpreendeu ao chamar Lobão para apresentar Mais uma Vez, faixa de autoria do convidado, que, meio deslocado do estilo de Kiko, recebeu elogios do guitarrista, mas teve recepção um pouco fria da plateia, sedenta por sons mais com solos intrincados. Outras músicas muito esperadas pelos fãs foram Conquer or Die!, do Megadeth, uma instrumental supervalorizada pelo seu tempo na banda e que mostrou sua capacidade de adaptar-se a diferentes gêneros e estilos. Em Killing Time, Kiko assumiu os vocais, oferecendo uma performance cativante e íntima, mostrando sua evolução não apenas como guitarrista, mas também como frontman. Vale falar que ele tem tido aulas de canto com Alirio Netto, que fez uma participação especial no show.
Um dos momentos mais emocionantes foi a participação de um fã chamado Felipe em uma jam. Ele foi escolhido aleatoriamente no público, subiu ao palco e fez solos interessantes, sendo elogiado pelo guitarrista. Em seguida, uma performance poderosa de Rebirth, com a presença de Alirio Netto. “Essa turnê tem sido muito especial. É chover no molhado falar sobre a importância do Kiko Loureiro pra música brasileira. Fiquei amigo dele nos últimos anos, pois estou dando aula de canto para ele. Os shows estão cheios, os fãs nos recebem muito bem e estou muito feliz com essa parceria”, disse Alirio. O reencontro com Luís Mariutti em Nothing to Say foi outro destaque, reforçando os laços com o legado do Angra. Segundo Kiko, ele não se apresenta com Luis no palco há mais de 20 anos.
A noite também contou com a participação especial de Ron “Bumblefoot” Thal em Escaping, momento em que a química entre os dois guitarristas foi evidente. O encerramento com Stormbringer, do Deep Purple, com Kiko nos vocais e todos os convidados no palco, foi um final épico que deixou a plateia em êxtase, celebrando uma noite de música virtuosa e performances memoráveis.
O show no Tokio Marine Hall reafirmou Kiko Loureiro como uma das figuras mais proeminentes da guitarra no cenário internacional, destacando sua capacidade de inovar, emocionar e entreter; ao mesmo tempo em que presta homenagem às suas raízes, ele colabora com músicos talentosos. Foi uma celebração não só da carreira de Kiko, mas também da música em si, em suas mais diversas formas e expressões.
Setlist Luiz Toffoli
01 – Grand Opening
02 – Human
03 – I’m Alive
04 – Both Worlds
05 – As I Am (Dream Theater)
Setlist Gustavo Di Pádua
01 – Intro
02 – Second Floor
03 – Insight
04 – The Stairs
05 – Spiritual Lesson
06 – Paranoid (Black Sabbath)
07 – Wasted Years (Iron Maiden)
08 – Welcome to the Next Stage
09 – Elephant
10 – 2008
Setlist Kiko Loureiro
01 – Overflow
02 – Pau-de-Arara
03 – Reflective
04 – No Gravity
05 – Vital Signs
06 – Angra medley: Carry On/Spread Your Fire/Nova Era/Morning Star/Evil Warning/Speed
07 – Du Monde
08 – Mais uma Vez (Lobão)
09 – Conquer or Die! (Megadeth)
10 – Killing Time (Megadeth)
11 – Dreamlike
12 – Jam (fã Felipe)
13 – Rebirth (Angra)
14 – Dilemma
15 – Nothing to Say (Angra)
16 – Enfermo
17 – Escaping
18 – Stormbringer (Deep Purple)
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