Se consolidando como um dos maiores festivais do país, o Kool Metal Fest mostra uma receita que se não prima por ser original, mostra-se vencedora e digna. Unindo bandas consagradas mundialmente a outros nomes emergentes, trouxe uma verdadeira noite de adoração a música pesada, tendo como atrações principais os militantes chicanos do Brujeria e os orgulhos nacionais do Krisiun e Nervosa ao lado das emergentes Surra, Cemitério e Eskröta, que abriu o evento de forma magistral, pontualmente às 16h.
Muito bem recebidas pelo público, que já estava em ótimo número na casa, Yasmin Amaral (guitarra/vocal), Tamy Leopoldo (baixo/vocal) e Miriam Momesso (bateria), retribuiram o carinho com um set visceral e agressivo. Passeando pelo thrash, punk e hardcore, mostraram sons de toda sua (ainda) curta carreira, tendo como foco o excelente EP Eticamente Questionável (2018), onde os destaques foram Crime Hediondo, Executável e a faixa título, que contou com a participação de Jhon França (Cerberus Attack). O set ainda contou com uma versão para Aids, Pop e Repressão (RDP) e Mulheres, que contou com muitas minas no palco.
A segunda banda do dia, o Cemitério pode ser considerada um dos tesouros da música pesada nacional. Bebendo na fonte do death/thrash oitentista e com uma temática baseada em filmes de terror, Hugo Golon (vocal), Henrique (guitarra), Douglas (baixo) e Guilherme (bateria) fizeram muito bem a lição de casa, animando a galera e desfilando sons de seus álbuns, onde os destaques foram A Volta dos Mortos Vivos, Natal Sangrento (dedicada a esposa de um dos presentes) e a já clássica Pague Para Entrar, Reze pra Sair. Se for fã de thrash/death, procure conhecer o som!
Sem muito tempo pro respiro, às 16h15, foi a vez do Surra saciar a sede do público. Chegou a beirar o absurdo a segurança de Leeo Mesquita (guirarra/vocal), Guilherme Elias (baixo/vocal) e Victor Miranda (bateria) no palco. Sem alardes e mimimi, os caras mandaram um set energético, tendo como base o excelente álbum Escorrendo pelo Ralo (2019). Com a galera cantando todas as músicas e rodas a todo instante, não havia outro jeito se não se render ao som dos caras. Bom dia Senhor, Parabéns aos Envolvidos e o groove muito bem sacado de Daqui pra Pior foram algumas amostras do poder de fogo dos caras.
A hora dos headliners teve início às 18h20, com a Nervosa. Fernanda Lira (baixo/vocal), Prika Amaral (guitarra) e Luana Dametto (bateria) buscaram fazer a parte delas, com músicas fortes e carregadas de intensidade. Mas a apresentação das meninas ficou marcada por problemas no som e no microfone da vocalista. Mesmo assim, a banda seguiu e destilou sons de todas suas fases, como Horrordome, Kill the Silence e Raise Your Fist, todas do seu mais recente registro de estúdio, Downfall of Mankind (2018). Mas o set teve espaço para sons mais antigos como Guerra Santa e Into Mosh Pit, que encerrou o show, que apesar dos problemas técnicos, foi muito bom.
Já eram 19h30 quando os gaúchos do Krisiun fazia a despedida dos antagonistas. Taí uma banda que sempre vale a pena sempre assistir. É incrível como o trio formado por Alex Camargo (baixo/vocal), Moysés Kolesne (guitarra) e Max Kolesne (bateria) com o passar dos anos foi moldando sua música para “o som do Krisiun” e fugindo dos padrões do death metal e música extrema. Todo esse cuidado acaba gerando músicas fortes, intensas, agressivas e ( por que não), grudentas. Características presentes nos sons novos como Scourged of the Enthroned e Demonic III, como nas clássicas Combustion Inferno, Blood of Lions e Black Force Domain, que deu números finais ao show dos caras.
Após quase cinquenta minutos de espera, o grande momento da noite teve início. Com a pequena Tina, que assim como no show do ano passado, anunciou a entrada dos guerrilheiros do Brujeria. Os vocalistas Juan Brujo e Sangrón estavam acompanhados de um dream team de respeito. Com El Criminal (Anton Reisenegger, guitarra), Hongo (Shane Embury, baixo) e Hongo Jr. (Nick Barker, bateria), uma rapaziada que se fez/faz presente em grupos como Lock Up e Napalm Death, foram o acompanhamento perfeito para que a noite fervesse ainda mais. Para aqueles que não sacam muito do grupo, vale citar que em tempos que não havia internet e as informações vinham basicamente por meio de revistas e programas de TV, o grupo era todo cercado de mistério, desde o nome dos integrantes, até eram guerrilheiros de fato. E quase três décadas após seu surgimento é nobre que apesar de não haver segredo sobre a identidade dos músicos, os caras mantém todo o clima do início de carreira, proporcionando uma experiência além da música. Numa apresentação que incendiou a todos desde o início com a trinca Cuiden a Los Niños, La Ley de Plomo e American Czar, que mostrava a sintonia de banda e público, com uma banda tocando com vontade, rodas em profusão e duas garotas em especial subindo ao palco a todo instante. La Migra foi um dos apices de um show que não teve música ruim e contou com curiosidades que não se vê em todo espetáculo. Desde jogar camisas para o público até perguntar onde estava a maconha (e ser retribuído com um baseado) e claro, com músicas fortes e pogantes. Brujerismo, Consejos Narcos e No Aceptan Imitaciones incendiaram ainda mais o que já era um fogaréu, cujo momento mais aguardado ficou para o final. Matando Gueros, o grande hit dos caras vamos dizer, seria o final perfeito do Kool Metal Fest. Que ainda contou com Marijuana, versão dos caras para a “clássica” Macarena, que você já deve ter ouvido por aí.
Um evento impecável, desde a organização, horários, escolha das bandas de abertura até o encerramento da festa. Permitindo que todos chegassem em casa no horário. Que mais eventos assim proliferem no underground. O Kool Metal Fest é uma evidência que é possivel. E nós agradecemos.