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KOOL METAL FEST – São Paulo (SP)

Por Marcelo Gomes

Fotos: Bemilson dos Santos

A edição de 20 anos do “Kool Metal Fest”, realizada no último domingo (12) no Carioca Club, em São Paulo, trouxe várias atrações especiais. Dentre elas, o D.R.I., Ratos de Porão, Violator, Facada, Trovão e Vermenoise. Apesar da chuva, o público paulistano compareceu em peso.

Com a casa ainda vazia, a primeira banda do festival foi o Vermenoise, trio sorocabano de grindcore formado por Chris Justtino nos vocais, Victor Costa na guitarra e Rafaela Bega na bateria, que subiram ao palco e mostraram sons do seu EP, O Outro (2020), entre outras musicas da carreira. A banda conseguiu preencher os espaços do palco numa apresentação poderosa, que teve rodas na pista logo de início. Um show curto mas intenso e barulhento.

Em seguida foi a vez do Trovão, banda paulista de metal/hard que baseou seu set em músicas do debut, Prisioneiro do Rock N Roll, lançado no ano passado. Gustavo Trovão (vocal), Alexandre Gatti e Igor Senna (guitarras), Lucas Chuluc (baixo), Alexandre Vasiliev (teclado) e Alan Caçador (bateria) iniciou o set com Linha de Frente e O Brilho, mostrando um resgate daquela sonoridade dos anos 80 na linha do Saxon, com guitarras bem trabalhadas, teclados fazendo ambientações e vocais em português. O vocalista Gustavo Trovão faz um brinde e distribui doses de vodka para a fila do gargarejo antes de tocar a faixa Distante. Seguem com Princesa do Fogo, Furacão e finalizam com Prisioneiros do Rock N Roll. A banda encarna a estética oitentista em seu figuro e sua performance arrebatadora. O guitarrista Igor Senna é um show a parte, uma performance quase teatral que resgata o espírito rebelde e transgressor que por décadas fez parte da cena hard/metal. Mesmo com um estilo que destoou um pouco do resto do line-up do festival, fizeram um show que agradou bastante o público.

Já o show do Facada foi brutal, pois a banda de grindcore de Fortaleza (CE) formada por James (vocal e baixo), Danyel Noir (guitarra) e Wilker Dangelo (bateria) começou a desgraceira assim que subiu no palco. O som não estava bem equalizado, mas o público nem ligou. Tendo seu nome gritado nos primeiros minutos, a recepção que a banda teve durante toda a apresentação foi calorosa. Seu som caótico, rápido e visceral deixou atordoado até os fãs acostumados com a música extrema. Durante os quase 40 minutos de show, o trio fez um setlist que passeou pelos seis álbuns de sua discografia e, ainda, apresentou uma faixa nova que traz críticas a quem usa uma certa rede social. Foi um show destruidor, parecia o fim do mundo!

O Violator subiu ao palco e enfrentou problemas com a correia do baixo de Pedro. Levaram uns 5 minutos para resolver tudo e, enfim, começaram o show que, tranquilamente, foi o que o público mais agitou no festival. A banda de Brasília (DF), formada por Pedro Arcanjo (vocal e baixo), Pedro Augusto (guitarra), David Araya (bateria) e Felipe Nizuma (guitarra), iniciu o set com Ordered To Thrash. Já de início, o vocalista Pedro Arcanjo fez um stage diving com o baixo e tudo – as rodas estavam insanas e o público começou a subir no palco. A banda mandou Atomic Nightmare e aí alguém surgiu com uma prancha de body board e subiu ao palco, se jogou na galera e fez um crowd surfing. Como alguém conseguiu entrar com um negócio desses no show? Entre críticas ao ex-presidente Bolsonaro, o show seguiu com Respect Existence e False Messiah. Surge então mais uma prancha no público no meio das rodas insanas. Pedro Arcanjo então disse que aquela era uma noite muito especial, porque o Felipe Nizuma fazia sua estreia com o Violator em São Paulo. O vocalista disse que queria, para a próxima música, a maior roda da noite e aí tocam Toxic Death. Claro que ele foi atendido. O caos continuou com Futurephobia, Endless Tyrannies e Destined To Die. No encerramento, com United For Thrash, cerca de 30 fãs estavam em cima do palco. O show foi insano, pancadaria do início ao fim, e minha dúvida foi se o público teria pique para aguentar o RDP e DRI, que viriam na sequência.

O Ratos de Porão vem fazendo shows para promover o álbum Necropolítica (2022). A festa que estava rolando até então, com o público subindo no palco, fazendo stage diving, entre outras ações, foi interrompida com a presença de seguranças no palco. As cortinas se abriram e, com João Gordo (vocal), Jão (guitarra), Juninho (baixo) e Boka (bateria) no palco, e o massacre sonoro começou com Alerta Antifascista e Aglomeração. Bastou dois sons para a banda já ter seu nome gritado pelos presentes. O show seguiu com Amazônia Nunca Mais e Farsa Nacionalista. Gordo, então, aproveitou para agradecer os presentes e falar sobre a influência do DRI antes de tocar Ignorância.

A apresentação do quarteto seguiu passeando por toda sua discografia. Faixas como Lei do Silêncio, Morte Ao Rei, Necropolítica, além de mais clássicos absolutos, como Crucificados pelo Sistema, Descanse em Paz e V.C.D.M.S.A. (Vivendo Cada Dia Mais Sujo e Agressivo). Rolou ainda uns sons do EP Isenton Paunoku, com versões da banda finlandesa Terveet Kadet com as famosas letras ácidas de João Gordo. O set seguiu com Difícil de Entender, Engrenagem, Toma Trouxa, Expresso da Escravidão e Conflito Violento – nessa última, o som começou a ficar mais baixo e oscilar. Por conta do tempo, o RDP fechou o show com Aids, Pop, Repressão, deixando Beber Até Morrer de fora. O show foi impecável, a banda mantém a pegada dos tempos de ouro e é inegável a influência que o RDP tem até hoje. O que falar de João Gordo, que completaria 59 anos de idade um dia depois do festival? Após todos esses anos, sua voz continua excelente e, definitivamente, é um caso a ser estudado.

Chegada a hora da atração principal, a banda texana Dirty Rotten Imbeciles, considerada como “os pais do crossover”, subiu ao palco no horário previsto (20h30) para desfilar toda sua fúria sonora que vem influenciando muitas gerações após quatro décadas. Desfalcado de seu guitarrista original, Spike Cassidy, o D.R.I. trouxe Bryon Ruelas (Attitude Adjustment) para substituí-lo e atuar ao lado de Kurt Brecht (vocal), Gregg Orr (baixo) e Romb Rampy (bateria). O show se iniciou com The Application, seguida por Violent Pacification, já incendiando o público, que abria rodas a todo momento. “Paramos por dois anos por conta da pandemia, mas estamos de volta”, disse o vocalista antes de tocarem a dobradinha Mad Man e Couch Slouch.

A seguinte foi Acid Rain, que não poderia faltar nessa celebração de 40 anos de banda. O som reúne metal, thrash, hardcore numa única faixa, um mix de estilos que consagrou o estilo do grupo. Um dos moshpits mais brutais rolou em Argument the War, que foi emendada com Who Am I. Era impressionante ver como os fãs ainda tinham fôlego depois de tantas horas de festival. Kurt então comentou que “é sempre muito bom fazer shows na América do Sul” e seguiram com Slumlord, Dead in a Ditch e Suit and Tie Guy.

O poderoso riff de guitarra anuncia Manifest Destiny, de 4 A Kind (1988), e o público, que ainda estava agitando, começou a demonstrar o cansaço das longas horas durante o festival. Bryon mostrou um bom trabalho tanto nos riffs quanto nos solos, quando necessário. O show quase não teve intervalo e a banda emendou quase que uma canção na outra, não dando tempo para o público respirar. Não foi diferente com Syringes in The Sandbox.

Como o próprio nome diz, em Thrashard o estilo é evidenciado fazendo os bangers baterem cabeça. Kurt parece não se cansar e sua voz continua intacta. O baixo de Gregg Orr dão início a How To Act e, então, o vocalista Kurt perguntou se os presentes sabiam agitar. Sem intervalos, mandaram Commuter Man. Não precisa nem dizer a reação dos fãs, que não deixavam a peteca cair,

Então chegou a hora do baterista Rob Rampy fazer a introdução inconfundível de Nursing Home Blues. A banda fez uma pequena pausa, mostrando que o show estava perto do fim, mas não sem antes de tocar os hinos Beneath The Wheel, I’d Rather Be Sleeping, I Don’t Need Society e encerrar com The Five Year Plan. Com uma hora de show, o D.R.I, que esteve longe dos palcos por conta da pandemia, apresentou o melhor do estilo que a consagrou e todo mundo saiu satisfeito. A produção do festival está de parabéns, a organização foi impecável, com shows rolando dentro dos horários previstos, com intervalos e espaços para as pessoas irem ao bar e descansar. Enfim, uma ótima estrutura que conseguiu atender a todos. Que venha mais!

Setlist – D.R.I.:

01) The Application

02) Violent Pacification

03) Mad Man

04) Couch Slouch

05) Acid rain

06) Argument the War

07) Who Am I

08) Slumlord

09) Dead in a Ditch

10) Suit And Tie Guy

11) Manifest Destiny

12) Syringes in Sandbox

13) Thrashard

14) How to Act

15) Commuter Man

16) Nursing Home Blues

17) Beneath the Wheel

18) I’d Eather Be Sleeping

19) I Don’t Need Society

20) The Five Year Plan

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