fbpx

LACRIMOSA

Uma noite que tinha tudo para dar errado, e de certa forma pode-se dizer que realmente deu. Mas, até que se chegue a essa conclusão, um show aconteceu entre dois pontos: o anúncio do evento e sua concretização. Quando a quinta vinda do Lacrimosa, ícone do Gothic Metal, foi anunciada, o país já estava enfiado até o pescoço em sua maior crise econômica dos últimos anos, para não dizer últimas décadas. Isso já levantou questões acerca do público interessado na apresentação. Não só a esse, mas como a todos os shows anunciados para o período. Paralelo a isso, a data apontava para uma terça-feira, que definitivamente não é o dia mais fácil para locomoção numa cidade como São Paulo. Não bastando, o horário um tanto avançado para o dia indicado, 21h30, também gerou reclamações. Afinal, o grupo alemão sempre se caracterizou por sets lists extensos, que permeiam toda a discografia. Nessa turnê, nada mudava nesse sentido: entre vinte e vinte e duas músicas por apresentação, o que facilmente colocaria o término desse show muito próximo do horário de encerramento dos transportes públicos na cidade. E, para fechar essa análise inicial dos pontos negativos pré-evento, ainda nos deparamos com uma divulgação muito tímida feita pela FreePass (produtora responsável), o que fez com que pessoas se manifestassem não cientes da realização do show. Ou seja, um pacote considerável para levantar dúvidas sobre o êxito do citado.

Porém, como a base de fãs do Lacrimosa é extremamente fiel (pequena, mas de amor inabalável), a porta do Carioca Club, local escolhido para sua realização, bem antes de sua abertura já contava com alguns presentes. Infelizmente, esse número não cresceu muito conforme os minutos passavam. A casa estava tomada pelo melhor clima de balada gótica de alguns anos atrás pela cidade: fumaça para todos os lados e pouca luz. A trilha sonora da espera não condizia exatamente com o público ali (rolava o álbum “We’re Here Because We’re Here”, dos ingleses do Anathema, ícone do Doom), mas também não despertava reações contrárias. O fã-clube nacional do Lacrimosa havia levado uma faixa de saudações, que estava colocada na grade, à vista dos integrantes. Assim como também bexigas (os famosos balões de ar) brancas e vermelhas, com o logotipo da banda. O palco estava tomado por panos brancos, cuidadosamente colocados para que criassem um clima visual clássico. Numa primeira olhada, remeteu aos bons e velhos cenários de mansões abandonadas e por muitas vezes assombradas. E, dado o horário anunciado para apresentação ter seu início, a casa não contava com mais de trezentas pessoas.

E, para surpresa de muitos, naquele momento os últimos ajustes instrumentais começaram a ser feitos. Uma espécie de passagem de som de última hora, já nos limites do início, faziam temores quanto ao horário surgirem na mente dos que não estavam contaminados pelo clima de paixão. O público ali variava seus gritos, chamando a banda com o óbvio “Lacrimosa! Lacrimosa”, mesclando com uma homenagem a si, gritando “Lacrimaníacos! Lacrimaníacos!”. Os minutos passavam, as bexigas voavam, os chamados do público não cessavam, mas a banda não aparecia. E eis que, às 21h50, com vinte minutos de atraso, o tema instrumental sempre usado em suas apresentações se fez finalmente ouvir. “Lacrimosa Theme” trazia aos palcos paulistas toda a mística dos alemães, que um a um foram entrando no palco. Yenz Leonhardt no baixo e Jay P. na guitarra se deslocaram para o lado esquerdo do palco, Henrik Flyman na outra guitarra no lado direito, e Julien Schmidt na bateria, formando a competente banda de apoio que acompanham os grandes astros e a cara da banda, Anne Nurmi nos teclados e vocais, e o grande mentor, Tilo Wolff. Assim que surgiu no palco, Tilo chamou a atenção dos presentes menos avisados, pois caminhava com a ajuda de duas muletas e trazia em seu pé esquerdo uma bota ortopédica. A explicação: no último dia 10 de novembro, ele e o diretor de sua gravadora (Hall of Sermon), Dominik Regner, sofreram um acidente. Regner está afastado temporariamente do trabalho e Tilo comunicou que nem mesmo esse imprevisto o tiraria dos palcos e não o atrapalharia de cumprir as datas agendadas. E, após uma breve saudação, sempre muito elegante, característica básica do músico, se dirigiu para uma cadeira colocada a frente do palco, local onde permaneceu por quase a totalidade do show.

O set teve início com “Der Kelch der Hoffnung”, faixa de seu último trabalho, “Hoffnung”, alvo da atual turnê. E este álbum claramente foi o foco principal na montagem do set list, respondendo por quase um terço de todas as músicas executadas. Para quem já viu alguma apresentação anterior da banda, sabe bem que a performance de Tilo é um dos pontos que seguram o show. E dessa vez essa foi totalmente comprometida por sua condição. Mas, mesmo preso a sua cadeira, em momento algum o maestro deixou de fazer, ao menos com gesticulações entre suas mãos e braços, suas danças clássicas. Tilo é uma figura cativante até para quem não é fã da banda. Mesmo com poucas interações entre ele, banda e público, o músico consegue, com sua classe e elegância, criar uma aura sobre si. Aura esta que faz contraponto perfeito com a total sobriedade de Anne, o outro 50% oficial da banda. Nurmi, quase sempre atrás de seu teclado, todo coberto por panos, quase não se faz perceber durante as execuções das músicas. Porém, a todo intervalo, ela nunca se nega a sorrir e olhar para o público de forma carinhosa. Em seus momentos solos, sempre faz referência a banda como um todo, quando em todos os momentos o coro de “Anne! Anne!” se fez ouvir. Na primeira vez que isso aconteceu, ela inclusive foi ao microfone e pediu que todos gritassem “Lacrimosa” ao invés de seu nome. Uma atitude muito simpática.

O set list decorreu por onze álbuns, trazendo um pouco de tudo o que a banda já produziu. A reação do público presente, que era nitidamente, como mesmo se chamavam, ‘Lacrimaníacos’, era a mesma para todas as músicas: muita vibração ao anúncio das faixas, muita dança ao melhor estilo Gothic, alguns cabelos balançando para os lados, e coros nos refrãos. Se você filmasse a apresentação e areação a qualquer uma das músicas e a reproduzisse por vinte vezes, facilmente passaria a ideia exata do que foi essa apresentação. Momentos de destaque vieram para os clássicos “Schakal”, “Alleine zu zweit”, “Lichtgestalt” e “Feuer”, com Tilo comandando o já tradicional acenar de braços da plateia como um todo na ponte antes do refrão. Por dezessete músicas, o que se viu no palco foi uma iluminação perfeita na criação ambiental das músicas, unida a imagens no telão ao fundo. Visualmente, o show foi muito bonito. E, ao fim dessas dezessete canções, a banda se retirou do palco.

Cinco minutos de espera e lá estavam de volta, para executarem “Irgendein Arsch Ist Immer Unterwegs” e “Keiner Schatten mehr”, e novamente se despedindo dos presentes. Um pouco menos de cinco minutos, entre muitos e muitos pedidos em uníssono de “Copycat! Copycat!” (talvez o maior clássico da banda em nossas terras, oriundo do álbum “Inferno”) novamente retornaram, dessa vez para executar um de seus maiores clássicos, “Ich Bin Der Brennende Komet”, uma música realmente espetacular! E encerrar definitivamente a apresentação, não atendendo ao pedido dos fãs.

O relógio apontava nesse momento 23h50. Algumas pessoas já tinham ido embora quando se iniciou o primeiro bis e outros tantos saíram durante a sua execução. O horário realmente matou muito da apresentação, pois certamente a pedida “Copycat” não foi executada. Em suma, o show foi excelente. Banda coesa e redonda como lhe é habitual. Anne participando bem mais do show, cantando quatro músicas solo. Tilo segurando o público, mesmo impossibilitado de se mover. Porém, todas as outras falhas na produção ofuscaram um pouco o resultado final. Talvez o Lacrimosa mereça uma data melhor (segunda vez consecutiva que tocam numa terça-feira), assim como um horário mais apropriado para a realidade da cidade. Quanto ao resto, nenhuma ressalva. E, pela reação vista nos presentes, nada disso tudo citado fez com que a noite fosse menos inesquecível.

Set List:
Lacrimosa Theme
Der Kelch der Hoffnung
Kaleidoskop
Schakal
StolzesHerz
Apart
Crucifixio
Alleinezuzweit
Lichtgestalt
I Lost My Star in Krasnodar
Flammeim Wind
Die unbekannte Farbe
If the World Stood Still a Day
Feuer
Unterwelt
Thunder and Lightning
Apeiron – Der Freie Fall, Part 2.
Encore 1:
Irgendein Arsch Ist Immer Unterwegs
Keiner Schatten mehr
Encore 2:
Ich Bin Der Brennende Komet
Compartilhe:
Follow by Email
Facebook
Twitter
Youtube
Youtube
Instagram
Whatsapp
LinkedIn
Telegram

MATÉRIAS RELACIONADAS

EXCLUSIVAS

ROADIE CREW #283
Novembro/Dezembro

SIGA-NOS

49,9k

57k

17,2k

980

23,5k

Escute todos os PodCats no

PODCAST

Cadastre-se em nossa NewsLetter

Receba nossas novidades e promoções no seu e-mail

Copyright 2025 © All rights Reserved. Design by Diego Lopes

plugins premium WordPress