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LAMB OF GOD – Complexo nas músicas, simples nas palavras

Em pouco mais de um ano, muito coisa mudou. Bom, ao menos no campo do Lamb of God, uma vez que a entrevista que você confere na agora, realizada no dia 2 de abril de 2020, mostrava uma banda obviamente sem saber como lidar com a promoção de seu novo disco, autointitulado e que ainda seria lançado – Lamb of God chegou às lojas em 19 de junho daquele ano. O mundo todo vivia de fato as primeiras semanas da pandemia da Covid-19, e Randy Blythe (vocal), Mark Morton e Willie Adler (guitarras), John Campbell (baixo) e Art Cruz (bateria) tinham, assim como muitos outros, a esperança de que não demoraria tanto para que tudo voltasse ao normal. Demorou e está demorando, então a íntegra do papo com Campbell mostra o até mesmo o quinteto não considerando um show via streaming, o que acabou acontecendo com vídeos de quarentena e, também, uma apresentação em 18 de setembro que virou o CD/DVD Live in Richmond, VA (2021). Então, voltemos um pouco no tempo com as palavras do baixista – ao contrário dos porta-vozes Blythe e Morton, um entrevistado de poucas palavras.

Vamos falar um pouco da situação atual por causa do novo coronavírus, até porque a turnê pela Europa foi cancelada e nos Estados Unidos, com o Megadeth, deve seguir pelo mesmo caminho. Com um novo disco a caminho, como você estão lidando com esse novo cenário?
John Campbell: Sim, a turnê europeia foi cancelada, assim como os festivais, mas não havíamos anunciado mais nada que não fosse isso e a turnê com o Megadeth. Nosso governador (N.R.: Ralph Northam, do Partido Democrata) emitiu recentemente um novo pedido para que fiquemos em casa, então está tudo muito incerto. Não sabemos como serão as coisas. Eu tenho ficado em casa com a minha família e restringi a minha interação com o mundo lá fora. É uma loucura, mas acredito que o melhor que podemos fazer agora é ficar em casa e manter a calma.

De qualquer maneira, algumas bandas já estão fazendo shows em seus próprios estúdios e transmitindo na internet, e isso é uma maneira de manter a engrenagem funcionando, fazer dinheiro com merchandising… Vocês já pensaram nisso?
Campbell: Seria difícil, mas com a tecnologia… Bom, nós não falamos sobre isso exatamente porque temos um disco a caminho, com mais singles a serem lançados, e eles vão me matar por ter falado isso para você (risos). Estamos focando nisso, então veremos o que vai acontecer com as próximas turnês e como isso afetará as coisas, mas não conversamos sobre fazer algo on-line.

Sobre o novo álbum, depois de ter trabalhado com Gene Freeman e Devin Townsend, por exemplo, me parece que a banda achou em Josh Wilbur seu membro honorário…
Campbell: Ele definitivamente se tornou uma grande parte do processo. Josh é incrivelmente talentoso e um excelente ser humano (N.R.: o produtor está com o Lamb of God desde Wrath, lançado em 2009).

E Lamb of God foi gravado no Studio 606, do Dave Grohl (Foo Fighters), que comprou a mesa de som do Sound City quando este legendário estúdio fechou as portas. Creio que foi algo especial, porque todos dizem que o equipamento tem uma mística própria…
Campbell: Cara, foi incrível! Foi quase como gravar num museu, só que podíamos tocar nas coisas, mantendo o respeito a tudo que estava lá. Foi uma experiência sensacional estar ali, mas, no fim das contas, era só o estúdio onde estávamos gravando, algo que poderíamos ter feito de qualquer lugar do mundo por causa das tecnologias disponíveis. No entanto, tocar com um equipamento histórico foi muito bacana.

E por que o novo álbum leva somente o nome da banda?
Campbell: Porque é uma declaração de quem nós somos. E nós somos o Lamb of God.

Como houve uma importante mudança na formação da banda, com a saída de Chris Adler, imaginei que fosse o que muitas bandas fazem: lançar um disco homônimo para marcar um novo começo…
Campbell: Ah, não! É uma declaração. O álbum é excelente, e já lançamos como single duas músicas (N.R.: Checkmate e Memento Mori) que acredito serem do nosso melhor trabalho até hoje. Por isso, foi o momento ideal para batizar o disco como Lamb of God.

Dito isso, Lamb of God vem cinco anos depois de VII: Sturm und Drang (2015). Considerando o que aconteceu desde então, houve alguma mudança real na dinâmica da banda?
Campbell: Nós passamos por um bocado… Bom, na verdade, tivemos mudanças na dinâmica da banda desde o início, mas nada realmente drástico.

Recentemente, Chris Adler disse que não foi dele a decisão de largar o trabalho de toda uma vida. O que houve de fato para acontecer a separação?
Campbell: Não há nada que eu possa dizer. Hoje, meu interesse é falar sobre como o Lamb of God está agora e seguir em frente (N.R.: Adler se afastou em julho de 2018 para se recuperar de lesões sofridas num acidente de moto, e abanda anunciou, um ano depois, que ele estava definitivamente fora da banda).

Art Cruz ficou um ano excursionando com a banda até se tornar um integrante permanente, e creio que foi o tempo necessário para conhecê-lo pessoalmente muito bem a ponto de facilitar na decisão de mantê-lo, certo?
Campbell: Art se encaixou perfeitamente na banda, e a sua história dele é ótima. Quando começou a tocar bateria, ele idolatrava o Chris Adler, então era o que queria fazer na vida e treinava para isso o tempo todo. Também ajuda o fato de ele ser canhoto tocando num set de destro, no mesmo estilo do Chris e sem perder a batida. E Art já havia tocado conosco antes mesmo de 2018. Ele estava numa outra banda quando o conheci, então sentou à bateria para tocar uma música com o Lamb of God numa passagem de som… Acho que foi isso. Não lembro bem, mas sei que o Art se lembra! (risos) Em algum momento entre turnês, Art estava sem fazer nada e foi a um show nosso, então disse: ‘Fique conosco por alguns dias’, e foi o que ele realmente fez. Passou alguns dias em turnê com a banda, e aí já tivemos a oportunidade de conhecê-lo bem, tanto o profissional quanto o amigo e ser humano.

A influência do Chris no Art é óbvia, apesar de o Chris ser mais detalhista. No entanto, Art trouxe um estilo próprio, incluiu blast beats em On The Hook… Enfim, mudou algo para você, que é o baixista?
Campbell: Essa é uma pergunta difícil para mim… O que posso dizer é que Art tem muita técnica com as mãos, mas toca com toneladas de energia. Parece que a bateria está sempre em chamas.

E perguntei isso porque, honestamente, não acho que o Lamb of God tenha mudado um centímetro em sua sonoridade com a mudança…
Campbell: Exatamente. E sendo bem sincero com você, todas as críticas que li diziam justamente que soamos da mesma forma.

Eu costumo dizer que é uma questão de DNA, e músicas como Checkmate, Bloodshot Eyes, Gears e New Colossal Hate são 100% Lamb of God.
Campbell: Nós operamos nesse processo desde o começo, com Mark e Willie como compositores, e eles têm nuances e talentos que trazem para a banda. São nuances e talentos únicos, realmente singulares e que fazem o som do Lamb of God.

Gostaria de falar do segundo single, Memento Mori, porque, apesar de ter sido composta antes da pandemia, o seu lançamento agora foi uma enorme coincidência…
Campbell: Sim, e de certa forma foi bom estar todo mundo preso em casa, olhando para as telas do celular, do computador, da TV… (N.R.: ‘Memento mori’ é uma antiga expressão estoica que, em tradução livre, significa ‘lembre-se de que você vai morrer’).

E o videoclipe sombrio também representa bem o momento que vivemos.
Campbell: Tivemos muita sorte de ter tudo preparado para o lançamento antes de a pandemia acontecer. São tempos estranhos, e Memento Mori é uma das minhas músicas favoritas no disco, então não posso reclamar porque as pessoas estão prestando atenção.

A propósito, alguém já falou com você que o início de Memento Mori remete a Marian, do Sisters of Mercy? Honestamente, como não curto a banda inglesa, tive de checar, e é isso mesmo…
Campbell: Eu também li esse comentário, mas não fui ouvir a música. Você saiu na frente (risos).

Sobre os convidados, como vocês chegaram a Chuck Billy (Testament) e Jamey Jasta (Hatebreed) para gravar vocais em Routes e Poison Dream, respectivamente?
Campbell: Os dois foram convidados pelo Randy, que organizou tudo com o Josh. Até pouco tempo antes, eu nem sabia que eles iriam participar (risos). Cara, devo dizer que eles soaram muito bem!

Sei que as letras são do Randy, mas preciso perguntar a você sobre o conceito do disco. Segundo o próprio Randy declarou, é bem político, apesar de ele não ter batido em Donald Trump porque não era mais necessário. Qual o seu ponto de vista?
Campbell: Essa é uma pergunta ampla, e acredito que a nossa liderança nacional está paralisada e ainda está falhando com o povo, assim como acontece no Brasil. Mesmo com meses de avisos de que algo podia acontecer, o governo brasileiro também não fez nada a respeito. E agora estamos todos em tempos bem perigosos, quando muitas pessoas vão morrer.

Está respondido, na verdade, porque não é o caso do Slayer, no qual Tom Araya cantava as letras de Kerry King, mas as visões de ambos são completamente opostas.
Campbell: Temos algumas crenças políticas individuais, mas todos na banda concordam em questões básicas.

Aliás, como foi fazer parte da turnê de despedida do Slayer?
Campbell: Incrível! Tocamos com o Slayer muitas vezes ao longo dos anos, e foi uma honra para nós eles terem nos convidado para fazer parte daquela última turnê, dos shows históricos para uma das maiores bandas de heavy metal da história, e para públicos enormes. Foi um sonho realizado.

Última pergunta, John: quais são seus cinco discos favoritos em todos os tempos?
Campbell: É uma pergunta difícil, porque eles sempre mudam. Essa eu não consigo responder.

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