Por Daniel Agapito
Um dos grandes nomes da música progressiva atual, o norueguês Leprous tem se destacando como um grupo que constantemente se redefine, passando por diversas metamorfoses sonoras e criando um catálogo com algo para todo tipo de fã. Aqui por terras tupiniquins, têm se tornado queridinhos dos fãs paulistanos, contando com duas passagens pela cidade, uma em 2019 e uma em 2023, ambas reconhecidas pelas apresentações impressionantes. Após menos de dois anos de sua última performance na nação verde-amarela, retornam ao país, agora para três apresentações, promovendo seu oitavo álbum de estúdio, Melodies of Atonement, lançado em agosto do ano passado. Antes de começarem os preparativos da turnê, a ROADIE CREW teve a chance de conversar com o carismático baterista Baard Kolstad, que, de maneira completamente tranquila e descontraída, revelou detalhes não só de como serão os shows de março, mas também declarou seu amor ao país. Confira tudo isso e mais a seguir.
Vocês já passaram pelo Brasil duas vezes, uma promovendo o disco Malina em 2019 e mais recentemente em 2023 promovendo Aphelion. Agora, com Melodies of Atonement lançado, podemos esperar que ele seja o foco do repertório?
Baard Kolstad: Vamos variar com coisas de todos os discos. Mesmo assim, vai rolar uma boa dose das melhores de Melodies, uma boa mistura de tudo. Com certeza, vai ser o melhor show do Leprous que você já viu na vida!
No geral, o que os fãs podem esperar do show como um todo?
Baard: Espere uma experiência única, especialmente em São Paulo, que vai ser o show ‘grandão’, mas Curitiba e Belo Horizonte serão um espetáculo também. Não é sempre que o Leprous toca nessas cidades mais ‘raras’, sabe? Espere um show de uma banda que está 100% em forma para tocar.
Em relação ao show de 2019, o último contou com muito mais fãs, e dessa vez vão tocar em uma casa bem maior. Qual seria o segredo para conquistar os fãs brasileiros?
Baard: Ah, não tenho certeza… Acho que tem a ver com tocar por aí com frequência]. Tocamos em São Paulo já duas vezes, estive aí com o Borknagar também (em março de 2017). Não faço ideia, para falar a verdade. O país de vocês é gigantesco, vamos chegar aí e fazer bons shows. Dessa vez, tocaremos em mais cidades, Belo Horizonte e Curitiba, e estamos bastante ansiosos para fazer esses shows, nenhum de nós esteve lá, então vai ser uma primeira vez bem interessante.
Com isso, como foram suas experiências prévias com o Brasil?
Baard: Incríveis! Adoramos a América Latina, especialmente o Brasil! Os fãs aí são muito dedicados, cantam alto, amamos isso!
Isso me lembra o que o Ian Anderson, do Jethro Tull, falou esses dias: ele disse que acha os fãs brasileiros ‘rudes’ por cantarem alto. O que acha disso?
Baard: Acho que, no geral, você tem que tomar cuidado ao fazer uma declaração generalizada como essa, jogar todo mundo no mesmo grupo desse jeito. Obviamente, existe uma grande diferença cultural (entre os públicos). O público médio aí no Brasil faz muito barulho, e no geral, expressa mais a felicidade de forma oral, entende? Muito mais do que o norueguês médio, isso é fato. Se o cara aí do Jethro Tull teve uma experiência ruim em algum show no Brasil, coloque a culpa naqueles que fizeram o show ser ruim, não na cultura de shows do país inteiro. Ele está falando merda, com certeza. Nós do Leprous estamos com vocês, brasileiros.
A recepção do novo disco tem sido um tanto mista, com alguns fãs dizendo que as influências mais latentes do pop e o maior uso dos sintetizadores de certa forma diluíram sonoridade. O objetivo deste álbum foi possivelmente criar um som de maior apelo?
Baard: Não, não ficamos pensando: ‘Ah, dessa música aqueles vão gostar, dessa outra são aqueles outros que vão curtir.’ Sempre tentamos fazer o melhor com o que temos. Se sai um disco pesado, saiu um disco pesado; se sai um disco mais tranquilo, saiu um disco mais tranquilo. O próprio Einar (Solberg, vocalista) lançou um álbum novo com sonoridades mais orquestrais, mas diria que não houve um impacto direto por conta dele. O Leprous muda em cada álbum. Sempre foi assim, desde os dias de The Congregation. Se pegar para ouvir, Coal é bem diferente de The Congregation, que é diferente de Malina, de Pitfalls e, certamente, de Atonement. Há um pequeno mal entendido: ‘Agora fizeram algo bem diferente.’ Nós sempre tentamos fazer algo bem diferente! É exatamente por isso que nossos shows são tão dinâmicos.
Einar comentou em uma entrevista que desta vez as músicas estão mais focadas, direto ao ponto.
Baard: Com certeza. Do ponto de vista da bateria, ele é menos superproduzido. Em Pitfalls, queria que cada batida tivesse seu próprio significado, mas desta vez, fiquei mais livre, toquei mais solto.
Tendo em mente seu estilo mais solto e os temas pesados que Melodies aborda (traumas de infância de Solberg), como diria que equilibram a técnica e a emoção na hora de compor?
Baard: A técnica é só mais uma de muitas ferramentas ao nosso dispor na hora da composição. Técnica, dinâmica, criatividade, são todas ferramentas musicais que podemos usar, mas não podemos abusar. Nunca fizemos nada técnico só por ser técnico. É uma das nossas regras: deixar os ouvidos decidirem o que é mais legal, o que é mais característico – seja isso emocionante, frio etc.
Fazendo parte do Leprous há mais de uma década, como descreveria a evolução da banda desde que chegou?
Baard: Ao vivo, tem sido interessante como crescemos em direção aos novos integrantes. ‘Novos’ (rindo), o Robin e o Simen, as duas adições mais recentes à banda, são muito importantes para a dinâmica ao vivo, talvez até mais do que nós da banda entendemos, pois estamos sempre na nossa bolha, convivendo juntos todos os dias. Para as pessoas que veem um show do Leprous a cada três anos, por exemplo, essa evolução gigantesca fica clara. No geral, estamos bem melhores, evoluindo constantemente.
E no estúdio, como tem sido?
Baard: Todos nós ficamos mais confiantes, mais dispostos a nos arriscar, mas sabendo onde mirar. Pelo menos no meu caso, não tinha muita experiência em estúdio antes de gravar Congregation, então estava muito estressado durante as sessões tanto desse disco como de Malina. Desde então, também conseguimos um orçamento maior, que nos ajudou a gravar ‘direito’.
Quando entrou no Leprous, lá por volta de 2013 ou 2014, você também fazia parte do Borknagar, mas agora só tem o Leprous e o Rendezvous Point. Pessoalmente, como foi a sua evolução, como músico e como pessoa?
Baard: Antes, eu queria sempre ter alguma coisa acontecendo, tentava me envolver com a maior quantidade de projetos possível. Era jovem, não tinha obrigações, queria tocar e queria ter certeza de que estaria recebendo para isso. O Borknagar e o Gaahl’s Wyrld conseguiam me trazer alguma renda, já o Leprous, não (risos). Mas eu queria sempre estar ocupado. Ultimamente, o Leprous tem me deixado mais e mais ocupado, mas ainda tenho outras fontes de renda dentro da música, então não preciso mais estar sempre em turnê. Isso tem sido bom. Tento focar mais nos meus pontos fortes, não quero ser o cara do blast beat medíocre, o baterista de jazz medíocre, quero focar no que sei fazer, nas minhas bandas.
Já que você mencionou a renda fora das turnês, queria saber algumas coisas. Aqui no Brasil, é praticamente impossível viver única e exclusivamente do rock. Como é aí na Noruega?
Baard: Viver da música não é fácil em lugar nenhum, mas tenho certeza de que seja algo mais difícil aí no Brasil, nos Estados Unidos, nos lugares em que você não tem tantas oportunidades e uma ‘tela de proteção’. Aqui é muito simples conseguir fundos públicos para sair em turnê, para cobrir ao menos as viagens. Não é sempre que acontece, mas sei que é bem diferente do que é nos Estados Unidos e creio que seja a mesma coisa aí. Ainda é difícil, mas é mais fácil aqui na Noruega. Conheço poucos bateristas daqui que vivem de tocar bateria, tudo também é mais caro. É difícil.
2025 é um ano bem especial para a banda, pois marca o aniversário de 10 anos de The Congregation, primeiro álbum que você gravou. Como foi esse processo na época.
Baard: Um baita de um estresse! Orçamento baixo, tínhamos que gravar muitas músicas por dia senão não sobrava espaço nem tempo para fazer mais. Estava hiper focado, então consegui oferecer um pouco do meu melhor, mas era como se estivesse em uma prisão. Estava tão focado na qualidade que tinha que entregar que me sentia preso no estúdio.
Podemos esperar algum lançamento especial, alguma série de shows comemorando essa data, ou o foco agora é 100% no Melodies?
Baard: Vamos fazer alguns shows tocando Congregation na íntegra, vão ser quatro shows nos Estados Unidos e um no Canadá. Vai ser em abril, mas mais ninguém comprou esse conceito do disco na íntegra, não faremos mais. No geral, tocamos The Price e Slave sempre, todos os dias, com Third Law e The Flood sempre na rotação também. Para mim, é um álbum bastante nostálgico.
Com a recepção incrível de Live at the Rockefeller, vocês têm planos de lançar mais algum álbum ao vivo?
Baard: Claro! Gravamos um na Holanda agora, há duas semanas (no dia 7 de fevereiro). Estamos ainda finalizando algumas coisas, mas a intenção é lançá-lo ainda este ano, logo após o verão aqui na Europa.
Tem alguma mensagem final para seus fãs brasileiros e para os leitores da ROADIE CREW?
Baard: O Leprous adora o Brasil, adora a América Latina e é sempre uma honra terminar as turnês por aí! Não podemos esperar para pousar aí! Tragam seus amigos!
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